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Percepções e significados
nas caminhadas ecológicas

   
* Licenciado em educação física
mestre em educação física
doutor em psicologia escolar pelo Instituto de Psicologia da USP e
livre-docente pela Faculdade de Educação Física da UNICAMP.
** Licenciado em educação física
mestrando em ciências do movimento humano
Fisioterapia e Desportos da UDESC.

Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos - CEFID
 
 
João Batista Freire*
mrfreire32@terra.com.br
 
Victor Barreto Costa Pereira**
victorbarreto@zipmail.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 Resumo
     Tendo como perspectiva compreender de forma mais aprofundada os fenômenos que ocorrem nas caminhadas por trilhas em ambientes naturais, principalmente em relação ao desenvolvimento humano, procuramos, neste estudo, identificar as percepções e os significados atribuídos pelos participantes de uma caminhada ecológica, sobre a experiência na trilha. Neste sentido, inicialmente descrevemos a metodologia utilizada que centrou-se na perspectiva qualitativa de um estudo clínico envolvendo nove ecoturistas na Ilha de Santa Catarina. Os instrumentos de coleta de dados foram a observação participante da experiência de ecoturismo, a entrevista semidirigida com os participantes da trilha, além das anotações de campo. As interpretações do estudo foram realizadas através das técnicas de análise de conteúdo das entrevistas, bem como das observações e do referencial bibliográfico. Pudemos identificar que as percepções e significados atribuídos pelos sujeitos sobre a experiência na trilha, apresentaram sintomas do fenômeno lúdico, caracterizadas pela valorização à imaginação, relacinamentos sociais mais espontâneos, o enfrentamento de situações novas e de risco; além da convivência com a natureza, ao invés de um domínio sobre ela. Embora não de modo exclusivo, verificamos que as caminhadas ecológicas proporcionam vivências diferentes daquelas que ocorrem no cotidiano urbano, podendo gerar nas pessoas, valores criativos e transformadores, atributos necessários ao desenvolvimento da cultura humana.
    Unitermos: Educação Física. Lazer. Percepções. Significados. Caminhada ecológica.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 80 - Enero de 2005

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Pressupostos iniciais

    O turismo ecológico, também conhecido como ecoturismo, é um símbolo expressivo da atual relação do homem com a natureza. A busca de uma proximidade maior com o meio ambiente não transformado pelo homem, tem sido associada à vida rotineira, ao stress gerado pelas grandes cidades, bem como ao uso excessivo de tecnologias na vida diária, resultando em um interesse crescente pelas caminhadas ecológicas. Segundo a Embratur (1994), o ecoturismo deverá faturar no Brasil por volta de US$ 5,6 bilhões até o final de 2004. Enquanto isso, deveremos ter, no mesmo período, mais de 500.000 brasileiros praticantes de atividades físicas na natureza.

    A impossibilidade de relações diretas com áreas naturais nas regiões urbanas, onde o meio natural é percebido e vivido apenas em parte, promove em algumas pessoas, a busca de um contato maior, mais significativo e mais sensível com a natureza. Bruhns (2003) considera o ecoturismo como uma visita sensível do corpo à natureza, onde a corporeidade reflete as relações físicas e perceptivas do indivíduo com o meio ambiente. É através das experiências corporais sensíveis que o homem toma consciência do seu papel como parte de um sistema vivo, parte do organismo complexo e auto-regulável que é a natureza, porém, não como dominador, mas como participante dessa "dança" que penetra na alma e alegra o corpo.

    Ao invés de sobrepujar a natureza, o praticante se insere nela em busca de emoções e sensações (observação da fauna e flora, reconhecimento de plantas e pedras, pesca, excursionismo, caminhadas em trilhas...), em vez de procurar por uma performance, tão comum nos assuntos relacionados às áreas do esporte e da educação física tradicionais.

    A cidade de Florianópolis, na sua porção insular, possui um potencial físico-natural invejável e uma grande rede de trilhas historicamente construídas desde cerca de 5.000 anos passados, nos tempos dos "homens dos sambaquis" - povos neolíticos que viviam na região -, o que nos proporciona um ambiente favorável para estudar os diferentes significados que as práticas de caminhadas ecológicas remetem através das percepções atribuídas por seus praticantes.

    A carência de estudos qualitativos que abordem esses fatores no âmbito das ciências do movimento humano, levou-nos a realizar este trabalho, buscando mais subsídios em relação aos valores e significados que as caminhadas por trilhas em ambientes naturais possam trazer para o desenvolvimento do ser humano.


Objetivos

    Nosso objetivo central é investigar as percepções e os significados revelados pelos praticantes de caminhadas por trilhas em ambientes naturais da Ilha de Santa Catarina, a fim de compreender quais os valores atribuídos a essas atividades para o desenvolvimento humano.

    Pretendemos também verificar como as pessoas reagem às caminhadas por trilhas, de que forma relacionam essas atividades com o seu bem-estar físico e mental, além de desvendar os significados de tais práticas nos dias de hoje, na Ilha de Santa Catarina.


Recursos metodológicos

    Para esta pesquisa, optamos pelo método clínico-qualitativo, de acordo com Turato (2003), utilizando como técnicas de coleta de dados a observação participante de uma experiência prática de ecoturismo, as entrevistas semidirigidas com questões abertas feitas em profundidade, além das auto-observações do pesquisador.

    Para o tratamento do material bruto colhido, utilizamos a técnica da análise de conteúdo, visando as características do método clínico-qualitativo, passando pelas etapas das leituras flutuantes e da categorização.

    A realização do trabalho foi subdividida em etapas:

  • Idas de Aculturação: atividades com a finalidade de estabelecer relação direta com pessoas representantes da comunidade de sujeitos a serem estudados, consistindo em promoção e operação de caminhadas por trilhas com diferentes grupos de pessoas, e entrevistas de curso livre.

  • Seleção dos Sujeitos: contando com a opção metodológica de trabalhar com amostragem proposital (TURATO, 2003), definimos os critérios gerais usados para a seleção da amostra nesta pesquisa como: a participação na disciplina "O Jogo e suas implicações pedagógicas" ministrada pelo Prof. Dr. João Batista Freire, no programa de mestrado em Ciências do Movimento Humano do CEFID - UDESC; a concordância em participar da caminhada em trilha de acordo com o convite feito num prazo anterior de duas semanas; disponibilidade para submeter-se à entrevista posterior; o desejo de relatar as experiências vividas; e apresentação mínima de condições intelectuais, emocionais e físicas para expressar-se de modo natural sobre os tópicos da entrevista. Justificamos o modo de construção de nossa amostra por saturação, ou seja, fechamos o grupo quando, após as informações coletadas com um certo número de sujeitos, novas entrevistas passaram a apresentar uma significativa quantidade de repetições em seu conteúdo. Deste modo, entendendo que novas falas passariam a ter acréscimos pouco significativos em vista dos objetivos inicialmente propostos para pesquisa, decidimos encerrar nossa amostragem com nove casos, seis pessoas do sexo masculino e três do feminino.

  • Saída ao Campo: o grupo participante da trilha, formado por 12 pessoas, partiu das dependências do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Esportes - CEFID, da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC em uma "van", cedida pela direção do curso de educação física, em direção ao local da trilha. A atividade proposta consistiu em uma caminhada em grupo ao redor do Morro das Aranhas, localizado entre as praias do Santinho e do Moçambique, no nordeste da Ilha de Santa Catarina, município de Florianópolis. A trilha utilizada para esta caminhada foi a mesma desenvolvida em experiência de ida de aculturação, portanto já conhecida anteriormente.

  • Dinâmica das Entrevistas: durante as três semanas seguintes à caminhada, entrevistamos os participantes da experiência na trilha. Cada um dos entrevistados foi convidado formalmente no dia da caminhada em grupo para ser submetido a uma entrevista semidirigida de questões abertas, registradas em vídeo e em anotações escritas, dentro das especificidades do setting clínico. A entrevista semidirigida foi basicamente uma conversa confidencial "entre olhos", realizada em sala reservada, nas dependências do CEFID - UDESC, onde apresentamos os objetivos da pesquisa e os procedimentos metodológicos. Utilizamos, durante as entrevistas, uma câmera de vídeo e um bloco de anotações como equipamentos de registro. Filmagens ao ar livre podiam ser comprometidas com ruídos externos como barulho do vento, conversas paralelas, etc., por isso montamos o equipamento de vídeo no setting clínico, em local fechado, onde a câmera esteve posicionada num tripé de forma a enquadrar bem a cadeira do entrevistado, poupando-nos do trabalho de segurá-la no decorrer da conversa. Desta forma nos preocupamos somente em experimentar as formas clínicas de entrevista, direcionando assuntos que foram surgindo no transcorrer dos discursos e dando ênfase para as falas relacionadas aos objetivos da pesquisa.

    O uso da filmadora como material de coleta de dados é justificado pela eficácia em registrar, não apenas as falas dos sujeitos, mas também suas expressões faciais, gesticulações, entre outras formas de comunicação não verbais, que se apresentaram como importantes registros para a análise do "não-dito" entre as palavras.

    As entrevistas semidirigidas iniciaram com a colocação da questão desencadeadora, que foi uma pergunta direta e de modo sucinto. No caso desta pesquisa, a pergunta desencadeadora era: - o que foi a trilha para você?

    A pergunta desencadeadora convidou o sujeito a falar livremente sobre as relações do tema central, com aspectos ligados à sua cosmovisão. Uma vez esfriado o repertório do informante quanto à questão desencadeadora, a coleta de dados seguiu com a colocação paulatina de questões do roteiro anotado e sugerido pelas próprias respostas dos sujeitos.

    Juntamente com a entrevista, as técnicas da observação e da auto-observação ocorreram voltadas para o registro, em papel, de aspectos relevantes do comportamento global do entrevistado e de reações do entrevistador. Este registro foi feito ao término da entrevista para que a memória não nos traísse dias depois.


Análise e discussão

    O mapeamento das múltiplas percepções associadas às experiências na trilha, permitiu que as seguintes categorias emergissem dos discursos dos sujeitos entrevistados: o retorno à infância, a contemplação, a frustração, a participação em grupo, a aventura e a ecologia.

    Todas as categorias destacadas remetiam para a existência do jogo como parte significativa das práticas de caminhadas por trilhas em ambientes naturais da Ilha de Santa Catarina na atualidade. Visando os objetivos da pesquisa, achamos por bem centrar as nossas análises e discussões nos estudos teóricos existentes sobre o fenômeno lúdico como parte da natureza humana. A partir desse referencial, pudemos emergir da obscuridade dos dados brutos para a luz do conhecimento mais lapidado.


Do trabalho para o lazer

    Os habitantes da Ilha de Santa Catarina sempre praticaram alguma atividade junto à natureza usando os recursos disponíveis na Ilha para facilitar as suas atividades diárias. Quando os locais ocupados chegavam no limite final dos recursos necessários à sobrevivência humana, seus habitantes migravam para outras partes da Ilha, utilizando suas trilhas em busca de água, alimentos e segurança. No decorrer do desenvolvimento das diversas sociedades que se seguiram - homens dos sambaquis, itararés, carijós, europeus e ilhéus - o homem foi adquirindo conhecimentos, criando objetos para seu trabalho e seu lazer e transformando o ambiente à sua volta. Para o trabalho, criaram ferramentas que lhes auxiliaram na sobrevivência e para o lazer, criaram brinquedos inspirando-se em elementos da natureza, modificando assim, a vida humana.

    Como parte integrante da complexidade da natureza, onde cada ser vivo possui suas particularidades, o homem - por ser racional - evoluiu através do seu trabalho e de atividades que exercia no seu tempo de não-trabalho. A ocorrência histórica do lazer é bastante discutida. Para alguns autores esse tempo de não-trabalho seria ocupado por atividades de lazer, mesmo nas sociedades tradicionais, enquanto que, para outros, o lazer teria surgido somente com a sociedade moderna-urbano-industrial.

    Se as atividades de trabalho e de lazer das sociedades primitivas não eram separadas, atividades como a caça ou a pesca, por exemplo, poderiam ser voltadas, tanto para a sobrevivência quanto para o divertimento. Praticavam naturalmente essas atividades em harmonia com a natureza, pois não possuíam equipamentos mecânicos ou tecnológicos para complementar seus afazeres. Em função da evolução das sociedades, as formas de apropriação do tempo também se modificaram. Com o avanço da agricultura, do comércio, e posteriormente do turismo, a vida do povo ilhéu sofreu alterações significativas, mudando a forma de encarar o tempo, dividindo-o em tempo de trabalho e tempo de não-trabalho. (MARCELLINO, 1996). O tempo de lazer surge como alternativa de recuperação da força de trabalho, a fim de caracterizar o momento de vivência do lúdico.

    A partir dos anos 50, o processo de urbanização, acompanhado do êxodo rural, transformou Florianópolis numa cidade basicamente burocrática, com pequeno comércio e serviços, até meados dos anos 70. Nessas décadas de acentuado desenvolvimento urbano, ocorre a ocupação das praias da ilha pela população local e, principalmente, por turistas, que transitam pela recém construída BR-101. (CECCA, 1997). Com um potencial natural invejável e dezenas de praias, Florianópolis - ou simplesmente Floripa, para os que aqui se encantam - passa a atender à nova demanda pelo turismo de verão.

    Ao mesmo tempo em que o turismo pôde trazer novas divisas para a cidade e o desenvolvimento de vastas áreas para a construção de condomínios, shoppings e balneários, trouxe também um impacto negativo para a cidade, criando um paradoxo onde as pequenas comunidades tradicionais, que antes ocupavam tais áreas, foram perdendo sua identidade, seu espaço e sua cultura para se adaptarem ao novo sistema urbano-turístico-capitalista, criado em poucos anos. Por outro lado, a indústria do turismo exalta, através de seus próprios investidores, a necessidade da preservação ambiental, para manter essa atividade econômica com belas matas, praias e montanhas, porém, agindo com uma preocupação simplesmente estética.

    Deste modo, Florianópolis foi perdendo sua original personalidade, e tenta agora se firmar basicamente nas atividades de lazer e turismo, que ganham cada vez mais espaço na vida dos habitantes da Ilha de Santa Catarina. Seja pela evolução das leis trabalhistas, que proporcionam turnos de trabalho mais curtos, férias, feriados, etc., ou ainda pelo desenvolvimento científico e tecnológico, que trazem maior criatividade na invenção e adaptação de novas alternativas de lazer, o que vemos é um aumento significativo da busca por espaços em ambientes naturais.

    Infelizmente, nas grandes cidades, os shoppings tornaram-se os pontos mais procurados nos momentos de lazer, valorizando o consumo de produtos eletrônicos e proporcionando momentos lúdicos somente para quem pode pagar, onde a atividade intelectual aumenta em detrimento da atividade física. Em Florianópolis, apesar de também existir uma tendência para esse tipo de lazer de consumo, contamos com um vasto potencial físico-natural que pode e deve ser aproveitado, tanto pelo habitante da Ilha, como pelo turista que aqui vem em busca de tais atrativos.

    Dentro desse tipo de iniciativa, as unidades de conservação (parques e reservas ambientais), muitas das quais localizadas nas próprias comunidades tradicionais, podem desempenhar papel fundamental, incluindo também o lazer através do ecoturismo, com uma infra-estrutura mínima para atender a essa demanda. Se aproveitarmos todo esse potencial que a Ilha tem a nos oferecer, de forma planejada e responsável, tentando minimizar os impactos negativos que isso pode gerar para os ecossistemas naturais e as populações nativas, deveremos ver o surgimento de novas atividades e o resgate de atividades tradicionais em locais abertos, como as caminhadas ecológicas, trazendo um ganho significativo para a qualidade de vida na cidade.

    Nos dias atuais, as caminhadas, que sempre existiram, passam a ter objetivo de lazer, e seu significado agora reflete todo o processo de desenvolvimento a que o homem foi submetido. Em função dessas mudanças constantes de valores, o conjunto das atividades físicas de lazer na natureza deve ser estudado levando-se em conta sua complexidade, para que possamos conhecer o seu potencial educativo no desenvolvimento humano.


A percepção dos ecoturistas

O retorno à infância

    Exemplos claros sobre os sentidos lúdicos partilhados durante a trilha aparecem com ênfase nos discursos de todos os sujeitos, remetendo também a lembranças das épocas em que ainda eram crianças. As falas de dois atores com idades superiores a cinqüenta anos sobre como a experiência na trilha lhes trouxe um retorno à infância, podem ilustrar nossa discussão: "(a trilha)... me, ... levou a lembrar coisas que eu já fazia na infância. (...) que a gente, quando é criança, faz tantas coisas bonitas, né. E depois de uma certa idade a gente tem que redescobrir essas coisas, eu, ... re ... é, redescobri".

    O redescobrir as coisas da infância pode ser entendido como uma valorização dos sentimentos relacionadas ao sonho e à fantasia, uma vez que gastamos muito tempo da nossa vida entretidos com "assuntos de adultos" como o trabalho e outras responsabilidades, dando pouca importância ao mundo da imaginação, tão presente no dia a dia das crianças. É comum ouvirmos os adultos falando dos tempos da infância com certa melancolia, talvez porque a vida corrida e ocupada que levam, não lhes traz tempo-livre, no qual se permitam viver mais livres e criativos, tomar banho de chuva, sair descalso, etc. Freire (2002), coloca que o tempo de brincar nunca passa e lembra que o ser humano é uma criança durante toda a vida.

    O mundo da imaginação humana, dos sonhos e da fantasia não tem o tempo delimitado do nosso tempo real, das atividades cotidianas e do trabalho. Esse tempo cronológico parece passar muito rápido pois é comum ouvirmos as pessoas dizendo que estão sem tempo para isso ou aquilo, que estão com pressa ou que o tempo voa. O tempo do cumprimento de obrigações é objetivo predominantemente, ao passo que o tempo do jogo é predominantemente subjetivo. Justamente porque nos obrigamos a medir o tempo das tarefas, dos afazeres e da agenda sempre cheia do dia, é que viramos escravos dos nossos próprios relógios.

    Levando grupos de alunos em idade escolar para as chamadas viagens de ecoturismo e esportes de aventura, percebemos o quanto as crianças perdem essa noção de tempo e espaço cronometrado e medido. Caminhando por trilhas durante longos períodos como se fossem apenas alguns minutos ou remando em botes de borracha por corredeiras intermináveis como se nem existissem, elas não se cansam, pois, na verdade, estão jogando. As crianças são motivadas pelo poder do jogo sem se darem conta disso. É notável como, movimentando seus corpos em busca de divertimento e aventuras, parecem não gastar nunca suas energias.

    Acreditamos que o aprendizado seja mais rico através de uma pedagogia onde o jogo se encaixe - trocando os métodos formais e "adultos" por outros -, mostrando aos alunos mais do que simplesmente "a caminhada pela trilha", provocando neles estímulos para que percebam de maneira ecológica as relações entre o mundo no qual vivem e esse outro totalmente novo no qual estão entrando. De que adianta organizá-los em fila para percorrerem quilômetros de trilhas se não mergulharmos juntos na natureza através dos sentidos, da imaginação, dos desafios, da aventura e das estórias? Devemos levá-los, através da trilha, a descobrir, não só o próprio corpo, mas também as sensações, prazeres, dificuldades e alegrias do contato desse corpo com o meio ambiente. Além disso, podemos ensinar-lhes sobre a vida, mostrando as delicadezas e poesias da natureza, as curiosidades sobre os animais e plantas que ali vivem e as relações complexas entre eles e os seres humanos. É o potencial educativo do jogo que pode transformar a educação física na trilha, numa verdadeira "aventura de aprender".


As frustrações na trilha

    Não queremos com esse estudo somente exaltar as qualidades das caminhadas por trilhas ecológicas, mas sim mostrar que essas atividades de lazer devem ser entendidas de maneira a englobar todos os seus aspectos, tanto positivos como negativos Afinal, não existe quem nunca tenha saído frustrado após participar de um jogo. Marcellino (1996) explica que é muito difícil uma separação entre os sentimentos desejáveis e indesejáveis, quando se aborda uma área de ação com alto grau de escolha individual como é o caso dos estudos do lazer.

    Em nossa pesquisa, diversos participantes se mostraram frustrados em momentos diferentes da caminhada, mostrando que, às vezes, é necessário mudar as regras para que o jogo passe a ficar divertido. Devemos frisar que procuramos nos centrar nos estudos das atividades físicas praticadas na natureza que possuem caráter lúdico, desinteressado, descompromissado, entre outros atributos pertencentes ao conjunto das atividades de lazer. Não nos parece vantajoso transformá-las em jogos de "performance na natureza", pois, assim, perderiam suas características sociais, lúdicas e cooperativas, para tornarem-se atividades minoritárias, competitivas e elitistas. Um trecho do discurso de um dos atores mostra bem esse sentimento de frustração:

Então, eu esperava uma coisa, ... (risos). Assim, porque eu gosto mais de apreciar a natureza, a trilha prá mim foi somente uma atividade física. (...) Se tornou prá mim só uma atividade física, principalmente até metade da trilha, se tornou só esforço físico, né, de tentar acompanhar o grupo, o grupo disparava, e tentava acompanhar, porque eu gosto de olhar, eu gosto de parar, eu gosto de contemplar, e gosto de ver uma árvore, eu gosto, e, ... como eu não conhecia aquele local, eu não conhecia aquela praia, então, ... me trouxe uma frustração, assim, porque eu não consegui olhar prá praia, eu não ..., entendi onde eu tava.

    No entanto, vemos que o jogo pode manifestar-se através de diferentes formas, inclusive nesses esportes competitivos ditos de alto nível, onde a procura pela performance é exatamente o fator motivador e indispensável para que ele ocorra. Devemos, portanto, estar atentos às expectativas e motivações dos indivíduos com os quais vamos trabalhar, para que estejam esclarecidos sobre os princípios que regem as práticas ecoturísticas, tais como: lazer, conhecimento, preservação, inclusão, educação, ética, cidadania, entre outros. Muitas vezes o ecoturista vai caminhar numa trilha repleto de expectativas lúdicas, onde o prazer, a alegria, a diversão, o companheirismo e o conhecimento estariam presentes, mas nem sempre essas expectativas são contempladas. Um exemplo seria o caso de o próprio professor de educação física ou o guia de turismo, que conduz o grupo, desconhecerem um método de intervenção apropriado que garanta tais princípios, deixando de promover tais aspectos lúdicos na trilha. Em vista disso, a atuação consciente do professor, ou do guia é essencial no sentido de explicar antecipadamente os objetivos da atividade a ser realizada. Por isso, vemos como prioridade a capacitação desses profissionais, através da inclusão de conteúdos específicos dessa área do conhecimento nos currículos dos cursos de graduação em educação física, lazer e turismo nas universidades.

    Um exemplo dos sentimentos indesejáveis que podem surgir com a falta de um profissional capacitado para conduzir grupos numa trilha ecológica - onde o fator risco está sempre presente - é o caso de imprevistos que podem ocorrer no caminho. Pensemos na hipótese de um grupo de ecoturistas que se propuseram a realizar uma caminhada por trilhas na Mata Atlântica, sem o acompanhamento de um guia especializado, e, por algum descuido, perderam-se no caminho, passando a noite à procura de socorro. Essas pessoas continuariam jogando, mesmo perdidas na mata, passando fome e frio? Acreditamos que não! No momento em que tomaram consciência que estavam perdidas e que suas vidas corriam risco, deixaram de jogar - pelo menos temporariamente - para tentarem sobreviver e encontrar o caminho de volta. Provavelmente a necessidade imediata de sobrevivência impossibilita o fenômeno lúdico de se manifestar, assim como acontece com os outros animais quando precisam se alimentar ou se abrigar, porém, o jogo não deixa de existir, mas sim, recua, até que o perigo tenha passado. Mais tarde, quando esses ecoturistas estiverem contando as aventuras que passaram na escuridão da mata, certamente estarão novamente jogando com suas lembranças. No entanto, uma experiência que teria o objetivo de aproximar o ser humano da natureza através de vivências lúdicas, acaba por criar um trauma, que contribui para o aumento dessa distância.

    Vemos que as frustrações são comuns em qualquer atividade de lazer, porém, elas dependem das expectativas dos participantes, por isso o profissional responsável pela caminhada na trilha deve prever esses fatores psicológicos e incluir em seu trabalho conversas e explicações sobre as propostas, os objetivos e os métodos utilizados na condução dos ecoturistas em locais de natureza preservada.

    Outro ponto que temos que mencionar quando discutimos os aspectos negativos nas práticas de caminhadas por trilhas em ambientes naturais, é o seu entendimento de maneira isolada, sem considerar as influências de outras esferas da vida social. Um exemplo é a valorização unilateral das atividades de lazer na natureza , que não leva em consideração uma série de questões, como os impactos ambientais causados pela popularização do uso de espaços naturais como parques e reservas de preservação ambiental, sem que haja qualquer controle sobre a preservação dessas áreas. Vemos que grande parte dos usuários de espaços de lazer junto à natureza e de uso público, não possuem qualquer tipo de informação relativo à preservação dessas áreas. Ao mesmo tempo, observamos a degradação causada por esses usuários através de acúmulo de lixo nas imediações das trilhas e áreas de descanso, pichações em pedras, árvores e outros atrativos naturais, coleta de plantas nativas, caça de animais silvestres, entre outros impactos negativos. (SEABRA, 2003).

    Em virtude disso, devemos levar em consideração tais efeitos destrutivos para o planejamento e a gestão de atividades de lazer na natureza, bem como a promoção conjunta de programas de educação ambiental nas instituições formais de ensino.


A participação em grupo

    Alguns dos temas mais mencionados nos discursos dos sujeitos entrevistados na pesquisa referem-se à participação em grupo durante a atividade na trilha ecológica, com evidência para a cooperação, a integração e a união entre os participantes. Considerando que a nossa amostra foi composta por indivíduos que já faziam parte de um grupo delimitado - integrantes de uma disciplina de um curso de mestrado -, pudemos observar que a caminhada pela trilha possibilitou um entrosamento maior entre os participantes, através de conversas e vivências lúdicas junto à natureza.

    Exemplos claros são apontados, quando analisamos o trecho de uma transcrição:

Também houve aquela descontração, então, o diálogo né, a brincadeira com os colegas, ali. A partir de um momento o grupo se distanciou, houve assim né, um distanciamento, por exemplo, do meu grupo com a, o pessoal que estava mais a frente, então aí também houve uma interação maior, (...) e mais conversa, mais diálogo.

    A trilha ecológica criou a oportunidade de convivência, a qual não se extingue ao término da atividade, mas também pode levar ao desenvolvimento de novas atividades culturais. Vemos o aparecimento de vínculos afetivos, contatos face a face, além de inúmeros relacionamentos sociais informais que se manifestam nas atividades de lazer na natureza. Devemos considerar esses fatores ao refletirmos sobre as possibilidades que as caminhadas ecológicas oferecem para reunir as pessoas com interesses comuns, que se unem a fim de encontrar apoio mútuo e soluções para resolver seus problemas. Desta forma, podemos associar de maneira voluntária e espontânea, os participantes da trilha em novos grupos sociais.

    Pensando em termos de mercado de trabalho, o ecoturismo ou as atividades de lazer e esportes na natureza podem ser utilizados como opções de lazer e integração para funcionários de empresas, estudantes em formaturas, grupos de igrejas, famílias, entre tantos outros setores organizados da sociedade. A possibilidade de transformação de alguns valores como solidariedade, mobilização, cooperação e coragem, podem ser a chave de uma nova intervenção nas áreas da educação física, do lazer e do turismo.

    Nas sociedades modernas vemos todos os dias cenas de individualismo e indiferença entre os seres humanos e com relação à natureza. Essas atitudes nos fazem perceber o quanto somos egocêntricos e imediatistas, procurando sempre por medidas rápidas e fáceis para resolver nossos próprios problemas. E quanto aos outros, o que fazemos para ajudá-los? E quanto ao planeta, o que fazemos para preservá-lo?

    Essas são questões nas quais todos nós deveríamos pensar, pois não somos separados de nossa sociedade ou do mundo em que vivemos, somos parte da natureza e temos que assumir isso, caso contrário os nossos problemas continuarão existindo. Vemos que uma das nossas funções enquanto educadores é proporcionar aos alunos os subsídios necessários para que possam refletir sobre os papéis do ser humano na complexidade do sistema em que está inserido.


A contemplação

    A contemplação de imagens da natureza aparece como uma das mais importantes categorias dos discursos, nas entrevistas com os sujeitos desta pesquisa. A contemplação ou devaneio de imagens da natureza reequilibra os pólos do imaginário e do real. (COSTA, 2000). Entendendo o homem como espectador e ao mesmo tempo transformador do mundo, vemos que é na combinação da percepção das imagens reais com as lembranças do que já foi vivido que se dá a imaginação, imprescindível no processo de transformação dos antigos conceitos, em novos.

    Vejamos o que diz um dos atores sociais de nossa pesquisa:

A trilha para mim foi um momento de reflexão, de..., encontrar um ser maior, de repensar, de sentir saudade, saudade de quem eu gostava, saudade dos meus filhos. Foi viver, foi sentir, foi existir, com amigos, ...revendo a natureza, o mar, ...e cada momento da trilha prá mim, fez pensar um momento diferente da vida. O mar, ...cada onda que chegava era uma diferente, assim como na vida, cada segundo não se repete. Foi valorizar o ser, cada momento prá mim...., foi um momento de grande emoção, de sentir amor, ...por viver, por existir, por pessoas maravilhosas estarem comigo. A trilha prá mim foi isso.

    Vemos que, ao contemplar a natureza, não somente olhamos, mas olhamos com atenção, com embevecimento. Por isso, contemplar é também re-significar, perceber de forma diferente aquilo que estamos vendo, o que nos leva a crer que, no jogo da contemplação, estamos também criando. É nesses momentos que podemos "parar o tempo" cronometrado e participar do eterno, ouvindo a "voz" que vem da nossa alma. (FREIRE, 2002).

    A contemplação também se oculta sob outras expressões nos textos analisados, como no reencontro consigo mesmo e com "um ser maior", mostrando que o sentido de purificação através da busca pelo sagrado é constante neste tipo de atividade na natureza. O sagrado aqui não tem um fundo religioso mas remete a uma busca de significados para a própria existência. Se existe uma necessidade de reencontro e paz interior através do contato com a natureza, parece ser pelo fato de que as pessoas estão em constante desequilíbrio, em desencontro, em conflito existencial. O reencontro com a natureza traz uma ruptura com a vida profissional que os absorve na maior parte do tempo, libertando-os para uma vida plena de ousadia, emoção e conhecimento.

    Os artistas em geral, intimamente ligados às imagens e à estética, parecem ter um domínio fantástico sobre a arte de ir e vir, de contemplar e criar. A diferença entre o artista e o louco é que o primeiro possui o poder de retornar do mundo da fantasia quando bem quiser, enquanto que, na loucura, não se pode controlar o destino ou a duração dessa viagem.


A aventura

    Os sujeitos desta pesquisa também mostraram-se acometidos pelo sentimento de aventura em suas percepções sobre a trilha ecológica da qual participaram. A aventura pode ser entendida aqui como um acontecimento arriscado e de resultado imprevisto. A etimologia da palavra vem do latim (adventura), que quer dizer "o que rompe a rotina dos dias e provoca o espanto, a surpresa, o memorável". (COSTA, 2000). O sentido de aventura também aparece escondido em outras palavras usadas dentro do mesmo contexto nos discursos dos sujeitos entrevistados, tais como: a emoção, o desafio, a conquista e o risco.

    Podemos também considerar a aventura como a ação de ser "jogado" ao sabor da imprevisibilidade, ou seja, nunca se sabe o que vai acontecer e qual será o seu resultado. A aventura não possui a objetividade de um resultado previsto; é exatamente a incerteza, o desconhecido que a provoca. Ela representa o oposto ao tédio das rotinas de trabalho totalmente calculadas, previamente agendadas e ilusóriamente estáveis, tão valorizadas pela nossa sociedade urbana-industrial.

    A liberdade e a surpresa também fazem parte da aventura na trilha, de modo a atraírem o ser humano em busca da incerteza e do risco desse jogo. Uma entrevistada fala sobre a experiência de se sentir perdida na trilha:

Aí vem o desafio de se sentir perdido, de se sentir distante, mas ao mesmo tempo sabia que, ...uma hora a gente ia encontrar, o máximo que ia acontecer é que a gente ia andar mais, né, mas uma hora a gente ia, ...até porque não era uma trilha no meio da floresta, ...(risos). (...) foi gostoso se sentir perdido, daí houve mais desafio, né. Prá mim que gosto de bastante aventura, né...

    Nesse caso, a aventura de se sentir perdido remete exatamente à idéia de incerteza, mas ao mesmo tempo à possibilidade de viver um "risco calculado", já que, de alguma maneira era claro para a entrevistada que chegariam em segurança ao caminho certo. O risco calculado também aparece nas propagandas das operadoras de ecoturismo (COSTA, 2000), quando vendem seus roteiros de aventuras, mostrando que os turistas devem se aventurar em montanhas, corredeiras de rios, trilhas pela mata, porém, com toda a segurança que a estrutura da empresa oferece, como guias especializados munidos de kits de primeiros socorros, carros de apoio, seguros de viagem, entre outros equipamentos de segurança.

    Uma das diferenças entre caminhar por trilha em ambientes naturais ou pelo calçadão da Avenida Beira-Mar é exatamente o prazer de não sabermos o que nos espera mais à frente. Esse mistério, o qual vamos desvendando ao caminharmos pela trilha, nos fascina e nos prende o interesse, motivando-nos a continuar caminhando.


A ecologia

    Deixamos propositalmente a discussão da categoria ecologia como o último tópico a ser lembrado, pois pensamos que ela esteve presente em todos os discursos dos sujeitos entrevistados, porém, nem sempre aparente, mas também escondida no contexto das frases e do não-dito entre as palavras.

    A ecologia está no homem e não na natureza. É na visão do homem, ou seja, na sua percepção da realidade que se encontra a verdadeira ecologia. É na nossa percepção da mata, das relações complexas entre cada ser, de cada célula do nosso corpo, das dunas, da restinga, do mangue, dos ventos, das marés, das sociedades humanas, da nossa casa, e de todos os sistemas holográficos relacionados à vida, desde o infinito das partículas atômicas até à imensidão - também infinita - do cosmos, que está a verdadeira ecologia.

    Vejamos o que disse uma entrevistada sobre a natureza:

... é tudo de bom aquilo lá, eu achei assim maravilhoso, tu, tu certas horas dá uma parada, olhar aquele mar, aquelas ondas, né ...aquela, aquele som, tem horas que tu escutava os pássaros, né, quando tu passava no meio daquela vegetação fechada, né, tem horas que tu passava alí, totalmente aberto, então tu só escutava aquele barulho do mar, né, só aquelas ondas, aquele.... Eu acho que aquilo traz, uma, um equilíbrio interior... (...) isto é muito bom prá alma, né, prá esse interior da gente, a gente buscar coisas novas, coisas assim que, que faz de vez em quando a gente parar e pensar: poxa é nas coisas simples, às vezes, que tu podes resolver tantos problemas...

    Quando paramos para refletir sobre nossa maneira de viver e pensamos em mudar, de alguma forma transformamos a nossa percepção da realidade, e, mesmo que não façamos nada para que a mudança realmente ocorra, ao menos aprendemos a pensar de maneira diferente, o que já é um grande avanço. A transformação da visão de mundo, com mais amor a todas as formas de vida, pode transformar nossas pequenas ações do cotidiano, na nossa própria cidade, no nosso trabalho e na nossa família. Para ser ecologista não é preciso mudar-se para um local rodeado de mata virgem. Ao invés disso, porque não transformar sua casa, seu prédio, seu bairro, seu ambiente de trabalho ou sua cidade num local mais agradável para se viver. Porque não plantamos árvores nas janelas como propôs o artista-ecologista Hundertwasser (RESTANY, 2002), que nos mostra na sua visão humanista como viver em constante harmonia com a natureza, e agir, em cada instante da nossa existência cotidiana, em completa concordância com nossos princípios.

    Parece-nos difícil descrever a natureza, o jogo ou a ecologia, pois tudo isso se manifesta dentro de nós, através da nossa percepção do mundo. Ao perceber o mundo subjetivo, feito de sonhos, de fantasias e amor à vida que existe na criança que está dentro de cada um de nós, talvez, então, tenhamos mais consciência sobre as cinco peles das quais fala o artista Hundertwasser.


Conclusões

    Embora não de modo exclusivo, verificamos que as caminhadas por trilhas em ambientes naturais proporcionam aos indivíduos vivências diferentes daquelas que ocorrem no cotidiano urbano. Através do método utilizado, pudemos nos servir de dados que indicaram sintomas do fenômeno lúdico nas diversas percepções e significados atribuídos pelos participantes da experiência na trilha.

    Essas vivências na natureza podem gerar nas pessoas valores criativos e transformadores, na medida em que estimulam a imaginação, os relacionamentos sociais mais espontâneos, o enfrentamento de situações novas e de risco; além da convivência com a natureza, ao invés de um domínio sobre ela. A transformação e a criação são atributos necessários ao desenvolvimento da cultura humana, contribuindo para que haja maior consciência do nosso papel como parte de um sistema ecológico complexo e holográfico.

    Para falar de um provável caráter transformador e criativo das trilhas ecológicas na Ilha de Santa Catarina, foi necessário ouvir as diversas falas dos sujeitos participantes da experiência na trilha, sobre suas percepções, levando-nos a interpretá-la como um fenômeno lúdico (a experiência na trilha). Exatamente pela sedução que o jogo exerce e o seu poder de denúncia da realidade, vemos que os valores das caminhadas por trilhas desempenham um papel revolucionário no sistema em que vivemos.


Bibliografia

  • BRUHNS, H.T. No ritmo da aventura: explorando sensações e emoções. In: Marinho, A. & Bruhns, H.T. org. Turismo, lazer e natureza. Barueri: Manole, 2003.

  • CECCA, Uma cidade numa ilha: relatório sobre os problemas sócio-ambientais da Ilha de Santa Catarina. Centro de estudos cultura e cidadania. Florianópolis: Insular, 1997.

  • COSTA, V.L.de M. Esportes de aventura e risco na montanha: um mergulho no imaginário. Barueri: Manole, 2000.

  • EMBRATUR. Diretrizes para uma política nacional de ecoturismo. (Coord. Sílvio Magalhães Barros II e Denise H. M. de la Penha). Brasília: Embratur / Ibama, 1994.

  • FREIRE, J.B. O jogo: entre o riso e o choro. Campinas: Autores Associados, 2002.

  • MARCELLINO, N.C. Estudos do lazer: uma introdução. Campinas: Autores Associados, 1996.

  • RESTANY, P. Hundertwassen: o pintor-rei das cinco peles. Colônia: Taschen, 2002.

  • SEABRA, L. Monitoramento participativo do turísmo desejável: uma proposta metodológica preliminar. In: Marinho, A. & Bruhns, H.T. org. Turismo lazer e natureza. Barueri: Manole, 2003.

  • TURATO, E.R. Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa: construção teórico-epistemológica, discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas. Petrópolis: Vozes, 2003.

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revista digital · Año 10 · N° 80 | Buenos Aires, Enero 2005  
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