Aptidão física, saúde e índice de capacidade de trabalho de bombeiros Aptitud física, salud e índice de capacidad de trabajo de bomberos Physical fitness, health and work ability index of firefighters |
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*Nepitec/PMSC **Nucidh-CDS/UFSC ***PUC, PR. Florianópolis, SC |
Reinaldo Boldori* | Edio Luiz Petroski** José Luiz Gonçalves da Silveira* | Ciro Romelio Rodriguez-Añez*** reinaldol@hotmail.com (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 80 - Enero de 2005 |
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Introdução
A capacidade de trabalho está diretamente ligada ao bem-estar do indivíduo e não permanece satisfatória ao longo da vida, sendo afetada por diversos fatores, como: o estilo de vida, a aptidão física e o ambiente de trabalho. Os benefícios de um estilo de vida adequado para a saúde e para a qualidade de vida estão bem documentados na literatura1,2. De maneira semelhante, a aptidão física, principalmente a relacionada à saúde constitui importante fator de proteção contra doenças crônicas degenerativas3,4.
Devido à influência do estilo de vida e da aptidão física na saúde das pessoas este tema constitui preocupação quanto se trata de trabalhadores, pois baixos níveis de saúde e bem-estar no trabalho podem provocar conseqüências constrangedoras, tanto para o indivíduo quanto para a empresa5.
Donna e Griffin6, destacam três razões que justificam a preocupação com o bem-estar e a saúde no trabalho: a) as experiências dos indivíduos no trabalho sejam elas físicas ou de natureza social afetam as pessoas tanto no local de trabalho quanto fora dele. O trabalho e a vida pessoal não são duas coisas separadas, mas domínios inter-relacionados e entrelaçados com efeitos recíprocos; b) se reconhece que diversos elementos no ambiente de trabalho aumentam os riscos para a saúde do trabalho; e c) as conseqüências que estas experiências representam para os trabalhadores e para as organizações.
Bellusci e Fisher7, citam que a evolução demográfica tem demonstrado um envelhecimento da população geral, o que justificaria uma preocupação com o envelhecimento funcional (entendido como a perda de capacidade para o trabalho) da classe trabalhadora como segmento dessa população.
Assim, um trabalhador com a capacidade funcional diminuída, torna-se menos produtivo, tem baixa qualidade nas tomadas de decisão e ainda fica mais ausente no trabalho.
Neste sentido, Rodriguez-Añez6 aponta o local de trabalho como o ambiente ideal para o desenvolvimento de programas de avaliação e promoção do estilo de vida e da aptidão física relacionada à saúde, pois pode-se atingir muitas pessoas ao mesmo tempo e estimular a participação em grupos. Os locais de trabalho oferecem um grande potencial de abrangência populacional com custos relativamente baixos8. Destaca-se ainda que são nestes locais onde se encontram os grupos populacionais com maior risco de morbidade e mortalidade9,10.
O objetivo do presente estudo é avaliar a aptidão física e sua influência para a saúde e para a capacidade para o trabalho de bombeiros militares.
MetodologiaPara a realização deste estudo, uma amostra de 359 Bombeiros Militares do Estado de Santa Catarina foi avaliada. A amostra foi escolhida por sorteio da relação do efetivo fornecida pelas unidades de todas as regiões do Estado. O tamanho da amostra corresponde a aproximadamente 20% do contingente.
As variáveis antropométricas mensuradas foram: Massa corporal em uma balança eletrônica da marca Plena com precisão de 100g. Estatura foi determinada utilizando-se uma fita métrica afixada na parede, tendo sido conferida a sua verticalidade com um fio de prumo11.
Quatro dobras cutâneas subescapulares (SE), Tríceps (TR), Supra-ilíaca (SI) e Medial da Panturrilha (PM), foram mensuradas segundo a padronização proposta por Benedetti et al.12, através de um compasso de dobras cutâneas da marca Lange.
A aptidão física relacionada à saúde foi estimada de acordo com Pate13, através das seguintes componentes: força abdominal, força de membros superiores, flexibilidade, percentual gordura e VO2 máximo. Foram medidos a partir dos testes: abdominal remador (1min); e de barra fixa (maior nº de repetições efetuadas), conforme Morelli14; a flexibilidade através da prova sentar e alcançar de Wells e Dillon, (CSEF, 1998)1 e para a estimativa do VO2 max. foi utilizado o teste vai-e-vem de múltiplos estágios de Léger et al. 15, segundo as especificações de Léger16. Estimou-se a densidade corporal pela equação de Petroski17 que usa o somatório de 4 dobras cutâneas (SE, TR, SI, PM) e o %G pela equação de Siri19.
Para efeito da análise do envelhecimento dentro de cada teste físico a amostra foi dividida em três grupos por faixa etária de 20 a 29,9 anos, de 30 a 39,9 e de 40 a 50.
Para a classificação em categorias na aptidão física relacionada à saúde: Insuficiente, Regular, Bom, Muito Bom e Excelente, foram utilizadas as tabelas propostas por Boldori19. Os indivíduos com escore inferior a 20% na soma das 5 provas foram considerados "insuficientes".
Para avaliar a capacidade de trabalho utilizou-se o questionário auto-aplicavel denominado Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT) proposto por Tuomi et al. 20, para verificar a saúde do trabalhador.
Os dados de Índice de Capacidade de trabalho, aptidão física e incidência de doenças diagnosticadas, foram analisados qualitativamente. Para a análise dos dados utilizou-se a estatística descritiva.
Resultados e discussãoOs resultados são apresentados na forma de tabelas e gráficos para melhor visualização. Inicialmente apresenta-se a característica descritiva da amostra; a seguir, a caracterização da aptidão física relacionada à saúde, perfil de doenças e finalmente a caracterização do ICT.
Caracterização e dados demográficos da amostraAs características descritivas da amostra podem ser observadas na Tabela 1.
Tabela 1. Características descritivas da amostra
A tabela 2 mostra a distribuição por grupos etários da aptidão física relacionada à saúde, onde se pode observar que com o envelhecimento existe uma prevalência de bombeiros nas categorias: "precisa melhorar" e "razoável", totalizando 10,93% em "precisa melhorar" e 15,62 em "razoável", para o grupo etário entre 40 a 50 anos.
Os bombeiros classificados como "razoável" indica que sua aptidão física encontra-se em uma amplitude associada com alguns benefícios à saúde, mas também com risco.
Tabela 2. Caracterização da aptidão física relacionada à saúde por faixa etária
Quando analisada toda a população avaliada, observa-se que 5,29% dos bombeiros estão classificados na categoria que "precisa melhorar" e 11,15% de razoável. Apesar de 16,44% dos bombeiros que necessitam ter a sua aptidão física relacionada à saúde restaurada com programas de atividade física regular, pode-se observar que 83,56% estão com sua aptidão física nas faixas ideais.
Estes resultados mostram que a grande maioria dos bombeiros se preocupa em manter seu condicionamento físico em condições ideais. Os resultados do presente estudo são semelhantes aos de Silveira21 com bombeiros que prestam serviços na Grande Florianópolis.
A tabela 3 mostra a distribuição por grupo etário das ocorrências de doenças diagnosticadas pelos médicos, informadas pelos bombeiros.
Tabela 3. Doenças diagnosticadas por médicos e informadas pelos bombeiros por faixa etária
No grupo etário de 20 a 29,9 anos, apenas 2,2% dos 90 bombeiros avaliados apresentaram doenças; no grupo etário de 30 a 39,9 anos, mostrou similar proporção, 2,6%, ou seja, 6 dos bombeiros dos 205 avaliados, já no grupo etário de 40 a 50 anos, observam-se que com o envelhecimento existiu um aumento significativo de incidência de doenças informadas, dos 64 bombeiros avaliados 13 apresentaram problemas resultando em 20,5%, do segmento relataram possuir doenças diagnosticadas por médico.
Na tabela 4 verifica-se que capacidade de trabalho dos bombeiros, dos quais 0,56%, encontram-se na classificação "fraca" e 19,22% como "moderada". Similar ao que ocorreu com aptidão física, onde com o envelhecimento existiu uma perda progressiva da capacidade física, ICT, também ocorre. Verifica-se que no grupo de bombeiros de 40 a 50 anos 46,87% dos avaliados apresentaram sua classificação como "moderada", contra 13,66% na faixa de 30 a 39,9 e 12,22% na faixa de 20 a 29,9. Por outro lado, quando analisada a amostra total, os bombeiros, independente de grupos etários, 80,22% possuem seu ICT na classificação considerada ideal, ou seja "boa" ou "ótima".
Tabela 4. Caracterização do índice de capacidade de trabalho por faixa etária
A figura 1 mostra a perda do ICT com o avanço da idade. Observaram-se diferenças estatísticas significativas entre as faixas etárias: 20-29,9 anos diferiu de 30-39,9 anos (p = 0,019); de 40,49 anos (p = 0,026), e de 40-50 anos (p = 0,016). A perda do ICT encontrada nos bombeiros catarinenses reproduz os resultados em trabalhadores investigados por Tuomi et al. 21 na Finlândia, Willians e Crumpton22 nos EUA. Wainstein23 com profissionais do telejornalismo. Por outro lado, Monteiro24 e Vahl Neto25, encontraram resultados diferentes, não existindo perda do ICT com o avanço da idade cronológica.
Figura 1. ICT de bombeiros em diferentes faixas etárias
Na classificação geral o percentual de bombeiros no Estado de Santa Catarina que precisam ter o seu ICT melhorado ou restaurado corresponde a 20% aproximadamente. O presente estudo, confirma os resultados obtidos por Silveira22 com bombeiros de Florianópolis.
Na figura 2, pode-se verificar os resultados representados graficamente das três variáveis analisadas, onde se pode visualizar que nos três casos os bombeiros apresentam um resultado superior 80% de bombeiros classificados como "Ideal" ou não possuem doenças diagnosticadas por médicos. Estes resultados mostram que existe uma preocupação da maioria dos integrantes da corporação em manter-se saudáveis, para poder prestar um serviço eficiente e de qualidade à comunidade em que servem.
Figura 2. Comparativo entre as variáveis analisadas
Obs. Considera-se a representação gráfica a classificação na Aptidão física como fraca os bombeiros classificados com "precisa melhorar e razoável" e ideal para os classificados com "Bom, Muito Bom e Ótima". Para o ICT considerado a classificação "fraca" os bombeiros classificados com "fraca e Moderada" e ideal os classificados como "Boa e Ótima".
Analise qualitativaQuando analisada qualitativamente a população avaliada, observa-se que o bombeiro que possui um condicionamento físico considerado bom, não indicou ter qualquer doença diagnosticada por médico e apresenta sua classificação na capacidade de trabalho nos níveis "Boa ou Ótima". Por outro lado, aquele bombeiro que não possui uma boa aptidão física, indicou que possui alguma doença diagnosticada por médico, apresentou também sua classificação na capacidade de trabalho como "fraca ou Moderada". Entre toda a amostra avaliada apenas três bombeiros que apresentaram sua aptidão abaixo da ideal indicaram que possuem doenças diagnosticadas por médicos e apresentaram sua capacidade de trabalho como sendo "Boa".
ConclusõesConsiderando o objetivo do estudo e através da análise dos dados, pode-se verificar que o Corpo de Bombeiros do Estado de Santa Catarina apresenta a grande maioria de seus integrantes com a aptidão física considerada ideal 84,44%. Com relação à incidência de doenças identificadas por médicos 94,5% dos avaliados identificaram que não possuem qualquer tipo de doença e quanto à capacidade de trabalho 80,22 apresentaram o índice de capacidade de trabalho nos índices considerados ideais (Boa ou Ótima).
O estudo identifica que a incidência dos bombeiros com aptidão física baixa, doenças identificadas por médicos e o baixo índice de capacidade de trabalho, na sua maioria encontram-se na faixa etária dos 40 aos 50 anos. Assim pode-se inferir que com o envelhecimento existe uma perda progressiva tanto da aptidão física quanto do ICT.
A análise qualitativa sugere que os bombeiros que possuem sua aptidão física considerada ideal apresentam baixa incidência de doenças e possuem alto índice de capacidade de trabalho.
Diante dos resultados encontrados, sugere-se programas de exercício físico para os bombeiros classificados nas categorias: "Precisa melhorar" e "Razoável" e a manutenção dos que possuem boa aptidão, além da realização de avaliações físicas semestrais para acompanhar a evolução da aptidão. Na capacidade de trabalho recomendam-se programas de educação continuada e treinamentos das técnicas utilizadas nas atividades de bombeiros.
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digital · Año 10 · N° 80 | Buenos Aires, Enero 2005 |