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O basquetebol masculino nos
Jogos Olímpicos: de Berlin a Atenas

   
Professor de Basquetebol da
Escola de Educação Física e Esporte
Universidade de São Paulo
 
 
Dante De Rose Junior
danrose@usp.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
    Este artigo tem como objetivo mostrar fatos e números relacionados aos basquetebol masculino olímpico. O basquetebol foi Incluído na programação oficial dos Jogos Olímpicos em 1936, em Berlin. Ao longo de todas as competições e apesar da contestada derrota para a União Soviética, na final dos Jogos Olímpicos de 1972 e o terceiro lugar nos Jogos de 1988 e 2004 os Estados Unidos da América do Norte não deixam qualquer dúvida quanto a sua predominância nesta competição mesmo com o surgimento de grandes e novas forças no contexto do basquetebol mundial. Em 16 edições olímpicas, Estados Unidos e Brasil foram os países que mais participaram (15 e 13 participações, respectivamente), o mesmo acontecendo em termos de jogos disputados. Em 852 jogos, Estados Unidos e Brasil foram os países que mais atuaram (118 e 100, respectivamente). Os americanos foram os mais vitoriosos (113), seguidos por russos (69) e iugoslavos (63). Somente 14 países, dos 51 participantes em todos os Jogos, tiveram a honra de conseguir as tão sonhadas medalhas: Estados Unidos (12), Rússia (9) e Iugoslávia (6) são os maiores ganhadores de medalhas de ouro. Somente um país sul-americano - Argentina - obteve o ouro olímpico, quebrando a corrente formada pelos três países citados. Esses fatos e números nos levam a analisar o basquetebol olímpico, considerando que, novas forças deverão se consolidar nos próximos anos, tornando a competição cada vez mais atraente, apesar da participação de países sem grandes tradições e de nível técnico não condizente com a força do basquetebol mundial.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 80 - Enero de 2005

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Introdução

    Os Jogos Olímpicos da era moderna tiveram sua primeira edição em 1896, na Grécia, quando 13 países disputaram modalidades esportivas individuais, entre elas o atletismo, ciclismo, ginástica, lutas e tênis.

    Em 1900, em Paris, pela primeira vez as modalidades coletivas eram incluídas no programa oficial dos jogos. Essas modalidades foram: pólo aquático, rúgbi e críquete. Em 1904 foi a vez do futebol e, em 1920, o hóquei na grama. Com o passar dos anos várias modalidades esportivas foram incluídas e excluídas dos jogos e algumas foram mantidas nos programas oficiais, em função dos atrativos e interesses da própria modalidade e também da mídia e do público.

    O basquetebol masculino, modalidade incluída oficialmente no programa olímpico em 1936, apresenta uma história bastante rica e interessante, com equipes deixando seu nome definitivamente marcado na competição (caso de Estados Unidos, Rússia, Iugoslávia, Brasil, Itália, Austrália e Espanha, entre outros) e outras ascendendo aos postos mais altos do podium, quebrando tradições de muitos anos (Argentina, França e Lituânia). Há ainda aqueles países que passaram timidamente pela história olímpica, sem deixar grandes marcas, mas entrando para as estatísticas dos participantes eventuais (Índia, Suíça, Tailândia, Singapura, Bélgica e, até mesmo, a poderosa Inglaterra).

    Desde sua primeira edição o basquetebol olímpico contou com a participação de 51 países. Em Berlin foram 21 participantes e em Londres, 23. De 1952 (Helsinque) a 1980 (Moscou) o número de participantes foi limitado em 16, sendo reduzido para 12, nos Jogos de Los Angeles (1984), número que permanece até hoje. O quadro 1 mostra o número de participações de cada um dos 51 países.

Quadro 1. Número de Participações (NP) por países


*A Iugoslávia participou em 2004 como Sérvia e Montenegro
** Até 1988 participou como União Soviética e em 1992 como Comunidade Européia Independente
*** Incorporadas as duas repúblicas (Tcheca e Eslováquia)

    A redução do número participantes estipulada pela FIBA e pelo COI traz um problema muito sério pois, em função dos critérios de reserva de vagas (uma por continente e as demais definidas em torneio pré-olímpicos continentais, em razão da classificação em Campeonatos Mundiais), muitos países fortes e tradicionais não conseguem participar dos Jogos Olímpicos. Como exemplo, pode-se citar que, na edição de 2004, países com muita tradição olímpica como Rússia, Canadá e Brasil não obtiveram classificação, perdendo espaço para países com menor tradição e também menor qualidade técnica. Este problema, aliás, é apontado por De Rose Jr. (2003) em artigo sobre o Campeonato Mundial de Basquetebol. No entanto a organização dos jogos, por intermédio da FIBA, já anunciou modificações no sistema classificatório, procurando aumentar as chances de países mais tradicionais em participar das Olimpíadas.

    Em Berlin, americanos e canadenses foram os protagonistas da primeira final olímpica, em um jogo que terminou com o resultado de 19x8 para os Estados Unidos, placar que atualmente seria considerado baixo até para um dos quartos do jogo.

    Até 1972 os Estados Unidos foram os vencedores absolutos da competição, sem uma derrota sequer em 55 jogos, ganhando todos os títulos disputados. Naquele ano, em uma final até hoje contestada pelos americanos, os russos quebraram a hegemonia americana vencendo a final por 51x50.

    O basquetebol olímpico também sofreu com os problemas políticos que envolveram os Jogos, especialmente em 1980 e 1984, quando as principais potências (Estados Unidos e Rússia, respectivamente) não participaram da modalidade em função dos boicotes ocorridos nas referidas edições.

    Em 1992, em Barcelona, um fato mudou o quadro do basquetebol Olímpico. Após as perdas dos títulos nos Jogos Olímpicos de 1988 e no Campeonato Mundial de 1990, os americanos lutaram pela inclusão dos profissionais da NBA nos Jogos de Barcelona. Foi formada uma equipe que ficará marcada para sempre na história dos Jogos, conhecida como o "Dream Team" (Time dos Sonhos). Nesta equipe participaram os 12 melhores atletas da NBA com destaque para Michael Jordan e Pat Ewing (ambos participando pela segunda vez dos jogos), Magic Johnson, Larry Bird e Charles Barkley, entre outros.

    Em 2004 aconteceu a primeira derrota norte-americana na era profissional do basquetebol nos Jogos Olímpicos. Foi contra Porto Rico, na fase de classificação (73 x 92) e outras duas derrotas aconteceram contra Lituânia e Argentina (respectivamente na fase de classificação e na semifinal), colocando os americanos na terceira colocação nos Jogos, o que pode ser considerado um fato inusitado pela qualidade dos jogadores.

    Nos mesmos jogos de 2004, outro fato chamou a atenção. Pela primeira vez um país sul-americano obteve o ouro olímpico. Confirmando sua ascensão no basquetebol mundial, desde o Campeonato Mundial de 2002 quando sagrou-se vice-campeã, a Argentina venceu a Itália para escrever seu nome definitivamente no quadro dos grandes ganhadores olímpicos. Por sua vez, a Sérvia e Montenegro (ex-Iugoslávia) sairia de um título mundial, em 2002, para decepcionar completamente com um décimo primeiro lugar, muito distante das tradições deste país no cenário do basquetebol mundial.

    Relatar esses fatos e mostrar números do basquetebol nos Jogos Olímpicos foi o objetivo deste artigo. Os dados foram coletados a partir de consultas em obras especializadas e também aos sites de internet relacionados ao basquetebol e aos jogos, que serão indicados ao final do artigo.


Os números do basquetebol olímpico

    Como já foi citado anteriormente, 51 países tiveram a honra de disputar o basquetebol nos Jogos Olímpicos, pelo menos, por uma vez (quadro1). Entre eles somente 14 países conseguiram a honra de subir ao pódio, obtendo uma das três medalhas em jogo.

    Desses 14 países, destaque-se a façanha dos Estados Unidos da América do Norte que subiu ao podium em suas 15 participações (12 - ouros; 1 - prata e 2 - bronzes). A Rússia (incorporando-se aqui os resultados obtidos como União Soviética e Comunidade Européia Independente) foi o segundo país em número de pódios - 9 em 11 participações, tendo obtido 2 medalhas de ouro, 4 de prata e 3 de bronze. Outro destaque fica por conta da Iugoslávia (atual Sérvia e Montenegro) que, em 11 participações, obteve uma medalha de ouro, 4 medalhas de prata e uma medalha de bronze. Ao longo dos Jogos Olímpicos os norte-americanos participaram de 13 finais (vencendo 12), sendo 5 contra a Rússia, 3 contra a Iugoslávia, duas contra a França e uma contra Canadá e Croácia. As demais finais foram: entre Iugoslávia e Itália (1980), Iugoslávia e Rússia (1988) e Argentina e Itália (em 2004).

    Outros países também tiveram a honra e o prazer de receber suas medalhas:

O quadro 2 mostra a distribuição das medalhas em cada um dos Jogos.

Quadro 2. Relação dos Anos de Competição, Cidade Sede, Medalhistas Olímpicos no Basquetebol Masculino

    Ao longo das 16 edições do basquetebol nos Jogos Olímpicos, foram disputados 852 jogos, não computados os 11 WOs (ausência de equipes) ocorridos, sendo 6 em 1936, 4 em 1948 e um em 1972. Os países que disputaram o maior número de jogos são Estados Unidos e Brasil com 118 e 100 jogos, respectivamente. Turquia, Estônia e Letônia foram os países que menos jogaram (2, 3 e 3 jogos respectivamente).

    Em termos de aproveitamento, os Estados Unidos são senhores absolutos nas estatísticas, tendo vencido 113 dos 118 jogos disputados (95,8%), seguidos pela Rússia (69 vitórias em 89 jogos - 77,5%) e Iugoslávia (63 vitórias em 87 jogos - 72,4%). Há também países que não tiveram o sabor da vitória em suas participações: Índia, Iraque, Marrocos, República da Irlanda, Tailândia e Turquia.

    A tabela 1 mostra o número de jogos, vitórias e aproveitamento dos 51 países participantes dos Jogos Olímpicos.

Tabela 1. Países Participantes, Número de Jogos (NJ), Vitórias (V) e Aproveitamento (%)

    A história do basquetebol masculino nos Jogos Olímpicos mantém uma grande correspondência com a história dos Campeonatos Mundiais, conforme apontado por De Rose Jr. (2003). Os países envolvidos em ambas as competições, os maiores participantes e os grandes vencedores são, praticamente, os mesmos. Estados Unidos, Rússia e Iugoslávia (Sérvia e Montenegro) destacam-se em número de vitórias e aproveitamento e o Brasil segue como o segundo país, tanto em número de participações, quanto em número de jogos disputados.

    Alguns fatos curiosos podem ser apontados como complemento das informações obtidas:

  • O menor placar de uma final aconteceu em 1936: Estados Unidos 19 x 8 Canadá

  • A maior diferença em uma final aconteceu em 1948: Estados Unidos 65 x 21 França (44 pontos)

  • A menor diferença em uma final aconteceu em 1972: URSS 51 x 50 Estados Unidos (1 pt)

  • As maiores diferenças aconteceram em 1948: Coréia 120 x Iraque 20 e China 125 x Iraque 25 (ambas 100 pontos)

  • O menor número de pontos combinados aconteceu em 1936: Estados Unidos 18 x 9 França e Uruguai 17 x 10 Bélgica (ambas 27 pontos)

  • O maior número de pontos combinados aconteceu em 1988: Brasil 130 x 108 China (238 pts)

  • A maior pontuação de uma equipe aconteceu em 1988: Brasil 138 x 85 Egito

  • O Brasil conseguiu três vezes placares acima de 130 pontos: 138 vs Egito (1988), 137 vs Índia (1980) e 130 vs China (1988)


Considerações finais

    Após a análise dos fatos e dos números do basquetebol masculino nos Jogos Olímpicos fica clara a predominância norte-americana, seguida de perto por russos e iugoslavos, apesar do fracasso desses últimos nos Jogos de 2004 e pelo fato da Rússia não ter se classificado para os mesmos. Interessante notar que o Brasil, apesar de ter estado fora das duas últimas edições dos Jogos, aparece como o segundo maior país em número de jogos.

    Países como a Argentina e Lituânia vêm se destacando e ganhando espaço no basquetebol mundial e confirmam este fato com as recentes conquistas nos principais campeonatos da modalidade. Outros países com tradição na modalidade e que, eventualmente, poderão estar fora de disputas pelo rígido processo seletivo que é imposto pela organização dos Jogos não podem ser esquecidas. Portanto, Austrália, Brasil, Espanha, Itália e Porto Rico mostram sua força olímpica, com um grande número de participações e vitórias na competição.

    Esses fatos mostram uma consolidação do quadro mundial da modalidade, baseado em grandes potências, mas permitindo também o surgimento de participantes eventuais.

    Alguns países que, por força desse mesmo regulamento, são alijados dos Jogos para dar lugar a países de menor expressão, não podem ser esquecidos e a qualquer momento deverão retornar, casos específicos de Rússia, Alemanha, Canadá, França e Uruguai.

    É claro que em uma competição do nível dos Jogos Olímpicos poder-se-ia imaginar a reunião do que há de melhor na modalidade. No entanto não se pode descartar a participação de países menos evoluídos como uma forma de incentivar a prática do basquetebol nesses locais e também para promover um maior intercâmbio entre diferentes escolas.

    Mas, ao mesmo tempo, não se pode conceber que, em função de um sistema injusto e inadequado de reserva de vagas, países com tradição e qualidade e que disputam torneios Pré-Olímpicos acirradíssimos, cedam seus postos a países que disputam somente um jogo para obter sua classificação. O caso mais notado seria o dos países da Oceania que, obtiveram duas vagas para o Continente, sendo que há somente duas equipes disputando essas vagas, ao contrário da Europa e das Américas que possuem um número de vagas, proporcionalmente muito menor.

    Com as possíveis modificações nos critérios para classificação nos torneios pré-olímpicos espera-se que a qualidade do basquetebol nos Jogos Olímpicos possa ser melhorada e novas forças venham se juntar com as já existentes, tornando a competição mais acirrada e com nível técnico condizente com a tradição dos jogos.


Referências Bibliográficas:

  • Cardoso, M. Os arquivos das Olimpíadas. São Paulo: Panda Books, 2000.

  • De Rose Jr., D. Campeonato Mundial de basquetebol masculino: história em números. www.efdeportes. com, Revista Digital: lecturas em educación física, 9, 67, 2003.

  • FIBA. 1930-2001: Basketball results. Germany, International Basketball Federation, 2003.

  • www.fiba.com - site oficial da Federação Internacional de Basketball- FIBA.

  • www.olympics2004.com - site oficial dos Jogos Olímpicos de Atenas.

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