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Sociologia, ambiente e corporeidade

   
*Pós-graduanda em Atividade Motora Adaptada - FEF/Unicamp,
Pesquisadora no LEL- Laboratório de Estudos do Lazer
DEF/IB/UNESP- Rio Claro, Professora de ensino fundamental
**Professor Assistente Dr. UNESP/IB/DEF/RIO CLARO/SP.
(Brasil)
 
 
Jaqueline Costa Castilho Moreira*
jackycastilho@uol.com.br
 
Luiz Alberto Lorenzetto**
lorenzet@rc.unesp.br
 

 

 

 

 
Resumo
    O objetivo deste texto foi investigar na literatura as possíveis relações entre sociologia, ambiente e corporeidade. Embasado em autores especializados no tema deste estudo, percebeu-se a quantidade e qualidade da interferência do ambiente e de novos paradigmas gerados pelo contexto urbano, ao tratar-se do desenvolvimento físico-motor e social, na qualidade das relações familiares, grupais, no aspecto arquitetônico, no comportamento emocional. Condições inimagináveis podem ser encontradas nos seres humanos que vivem mais em contato com o mar, com a terra (altitude e planície), (vida urbana e rural) e com o gelo. A metodologia utilizada foi uma revisão de literatura, onde essas relações tornavam-se mais significativas e poderiam beneficiar ou prejudicar a comunicação humana
    Unitermos: Corporeidade. Ambiente. Sociologia. Desenvolvimento Motor.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 79 - Diciembre de 2004

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Crianças urbanas - foto da autora.


Introdução

    Desde que o homem optou por se fixar no meio urbano, ambiente intensamente estimulante e estressante, e se adaptar a seu modo de vida individual, permeado pelas difíceis, impunes e superficiais condições do capitalismo moderno, percebe-se nos grandes centros uma mudança de física à social.

    Pais preocupados, sistemas de segurança em prédios, confinamento em suas residências, ausência de maior liberdade para o lazer, acabam por impedir as amplas experimentações psico-motoras, na faixa etária mais propícia, tão importantes a seu desenvolvimento, aprendizagem e influindo negativamente, segundo Lee (1977), no próprio planejamento dos edifícios.

    Esta problemática tão importante para o nosso estudo, relaciona a violência, a urbanização, o tempo diante da TV, computador e internet, ao desinteresse pela sensibilidade do mundo familiar e social, tendo como conseqüência, a presença da obesidade, do sedentarismo e a redução do contato físico.

    Gonçalves (1997, p. 28) adverte que a dependência que o homem contemporâneo vive em relação a muitos produtos da moderna tecnologia lhe acentuou a pobreza de vivências em que ele participa de forma imediata, como ser corporal e motriz.

    A autora acima sugere o termo "inércia tranqüila" associada à citação de Mounier (apud Gonçalves, 1997), onde apenas dois atletas podem levar milhões de indivíduos a permanecerem sentados, como torcedores, julgando-se desportistas, reforçando o sedentarismo, responsável por tantas debilidades físicas e motoras desligando-o da participação corporal viva e afetiva com a natureza e com o mundo social.

    A associação da inércia ao individualismo, reflete o típico comportamento urbano, provocado simultaneamente pelas construções arquitetônicas, cada vez mais compactas, e pelas relações sociais por elas estabelecidas, tanto no âmbito familiar, quanto no mundo exterior.

    Segundo Costa (2003) 50 mil adolescentes de 15 e 17 anos, de 300 escolas de 11 Estados, falando sobre seu estado de saúde, afirmam, na margem de 41% que as doenças que mais os preocupam são: as mentais e psicológicas, como conseqüência do estresse e da pressão; apesar de 56,9% não se envolverem com projetos sociais, 28% disseram que não participam, mas gostariam de participar, enquanto 12% já o fazem efetivamente.

    Sobre o confinamento dos adolescentes em seus quartos, Elizabeth Polity, terapeuta familiar e diretora do Colégio Winnicott, de São Paulo, relata:

Eles se isolam nesse microuniverso equipado com computador, som, televisão, celular, aponta. Mas lembra que poucos educadores se perguntam como os pais se relacionam com os filhos e com seus próprios pais. As configurações familiares estão muito diferentes, hoje, e o isolamento é muito grande. (apud COSTA, 2003, p. 36-41)

    Gibson (2001) amplia essas inquietações:

[...] os indivíduos captam a informação diretamente pelos sistemas sensoriais, e à medida que se tornam mais experientes, tornam-se também mais competentes em perceber e agir sobre a informação, assim a experiência influencia na extração das informações do ambiente. Sem estimulação, o indivíduo não percebe, não seleciona respostas adequadas, não toma decisões, não age. (Gibson, citado em Schmidt & Wrisberg, 2001: 70)

    A importância do ambiente no desenvolvimento da corporeidade e da sociabilidade está em como a pessoa, através de seu sistema sensorial capta as informações, transforma-as e armazena-as intra-pessoalmente.

    O ambiente de Lee (1976, p. 42) é formado pela "representação interior de objetos físicos e sociais numa forma integrada". Ele caracteriza ambiente como dotado de: privacidade: acesso reservado; espaço pessoal: áreas espaciais apenas como fronteiras mentais; e comportamento territorial: espaço estático que determina um certo sentimento de posse.

    A interpretação entre as relações extra-pessoais e espaço, refletem o grau de adaptabilidade de nossa espécie na grande diversidade de condições ecológicas que a história já nos submeteu.

    Bronfenbrenner (1977), enfatizou a relação entre o ambiente e o desenvolvimento humano concebendo a pessoa como um todo funcional, argumentando que os diversos processos psicológicos, cognitivo, afetivo, emocional, motivacional e social relacionam-se de forma coordenada uns com os outros; existindo conexões sociais entre os vários ambientes, o que permite que a pessoa no microsistema familiar, por exemplo, possa ser influenciada por todos os outros sistemas e se desenvolva nessa interação.

    O ambiente físico e social acaba gerando uma dinâmica própria nas relações entre as pessoas.

    Bourdieu (1980, citado em Wacquant, 2004) explica que a ação das estruturas sociais sobre o comportamento individual se dá de dentro para fora e não o inverso: os indivíduos incorporariam um conjunto de disposições para a ação, o que o autor chama de habitus familiar ou de classe, que passaria a conduzi-los ao longo do tempo e nos mais variados ambientes de ação.

    Com a detecção diagnóstica mundial de pessoas com necessidades especiais básicas ou ainda segundo Asmann (1995, p. 56) "desejantes", produto do reconhecimento que as deficiências não estão somente nas pessoas, mas também em processos exteroceptivos, como o ambiente físico e social, torna-se oportuno enfocar outros autores como Perrenoud (2000), Moran (2000) que reforçam a necessidade de oferecimento de ricas vivências de cooperação, solidariedade, participação, confiança, inclusão e cidadania.

    Parlebas (1992) enfoca a Psicomotricidade como soma e psique. Ele amplia o termo para Sociomotricidade (apud Garcia, 1999) e Praxiologia Motriz, como atividades relacionais.

    Neste contexto, ambientes, coexistência e conduta motora tomam novos significados, permitindo que sejam analisadas as relações e interações afetivas, cognitivas, físicas e sociais, interdisciplinarmente.

    Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores é representada pela ausência de uma sistematização dos termos utilizados.

    Localizado o problema na literatura, essa temática se torna relevante, pela inexistência de sistematização e de especificidade sobre o conteúdo.


Objetivo

    O objetivo geral desta proposta foi investigar as possíveis relações e organizações sociais estabelecidas entre as variáveis: ambiente e motricidade.


Metodologia

    Este é um estudo de natureza qualitativa e descritiva, fruto de uma revisão de literatura, cujos dados obtidos foram interpretados de acordo com as categorias mais significativas.

    Para evitar lacunas em termos de confiabilidade deste estudo, em função de possível seletividade e parcialidade do observador, seguimos as idéias de Fernandes (1978), que sugere um planejamento e uma preparação com profundos graus de detalhes a respeito das categorias.


Considerações finais

    Percebe-se pelas idéias dos autores a necessidade do estabelecimento de um processo ecológico harmônico, onde homem, natureza e cultura sejam estruturados de maneira a um entendimento transcendente, que conduza todos à idéia de transformação contínua, da sustentabilidade e da coexistência.


Referências

  • ASMANN, Hugo. Paradigmas Educacionais e Corporeidade. Piracicaba: UNIMEP, 1995.

  • BRONFENBRENNER, Urie. The ecology of human development in retrospect and prospect. In: Ambrose (org.). Ecological factors in human development. Netherlands: North-Holland Publishing Company, 1977.

  • COSTA, Carolina. Geração Enclausurada. Revista Educação. São Paulo: Segmento, ano 7, nº 74, jun. 2003, p. 36-41.

  • FERNANDEZ, Florestan. Fundamentos Empíricos da Explicação Sociológica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978.

  • GARCIA, Emília Fernandez et al. Didática de la Educacion Física en la educación primaria. Madrid: Síntesis, 1999.

  • GONÇALVES, Maria Augusta Salin. Sentir, pensar e agir. Corporeidade e educação. 2ª ed. Campinas: Papirus, 1997.

  • LEE, Terence. Psicologia e meio ambiente. Rio de Janeiro: Zahar Editores,1976.

  • MORAN, José Manuel; MASSETO, Marcos; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. Campinas: Papirus, 2000.

  • PARLEBAS, Pierre. Sociométrie Réseaux et Communication. Paris: Universitaires de France, 1992.

  • PERRENOUD, Phillipe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.

  • SCHIMIDT, Richard A. e WRISBERG, Craig. A aprendizagem e performance motora: Uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

  • WACQUANT, Loïq J. D. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782002000200007&lng=pt&nrm=iso">O legado sociológico de Pierre Bourdieu: duas dimensões e uma nota pessoal. Rev. Sociol. Polit. [online]. nov. 2002, no.19 [citado 07 Outubro 2004], p.95-110. ISSN 0104-4478.

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