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Um breve histórico das teorias da Educação para os
profissionais da Educação Física atuantes no ambiente escolar:
o referencial 'Escola e Democracia' de Dermeval Saviani

   
Bacharel em Educação Física pela
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp);
Estudante do curso de Pós-Graduação da
Faculdade de Educação Física da Unicamp-CNPq
Mestrando em Pedagogia do Movimento (F.E.F.-Unicamp)
 
 
Rubens Venditti Júnior
rubensjrv@yahoo.com
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    O livro Escola e Democracia (2000, 33.ª ed. revista) discorre sobre as teorias da Educação, em diversos contextos e momentos históricos brasileiros. Pela análise, o autor destaca os problemas e prerrogativas das diversas vertentes das teorias educacionais: as não-críticas; as crítico-reprodutivistas; além da Teoria da Curvatura de Vara de Lênin. Aponta-se para uma reflexão crítica e contextualizada sobre política, democracia e sociedade; que se faz presente e necessária no âmbito da Educação e em sua instituição primordial: a Escola - local de atuação dos agentes pedagógicos, dentre os quais se encontram os profissionais de Educação Física, elementos fundamentais no processo de educação e formação de homens e mulheres críticos, conscientes e participantes de seus tempos históricos e espaços sociais.
    Unitermos: Educação-filosofia. Ensino. Política e Educação.
 
Abstract
    This book, titled ´School and Democracy´ (2000, 33th edition), discusses about education´s theory among each brazillian contexts and its historical moments. By the autor´s analyses, such problems and prerrogatives from distincts versants of educational theories will appear: the non-critical theories; the critical-reprodutivists ones; and the Lênin´s vault curvature theory. It points to a critical and contextualized reflexion about politics, democracy and society; wich it´s been present and it becomes extremally necessary into educational areas and inside its primordial institution - the School - actuation place of ´pedagogical agents´, including the Physical Educators, that are fundamentals to education processes and formation of critical and sensible men and women, participating of their historical times and social spaces.
    Keywords: Education-philosophy. Teaching. Politics and Education.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 79 - Diciembre de 2004

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O livro "Escola e Democracia" é uma tentativa de esclarecimento da situação da Educação, senão ao menos uma melhor compreensão de sua relação com os diferentes aspectos da sociedade, da história e dos momentos políticos.

Na primeira parte do livro o autor destaca as "teorias não-críticas" da educação que, segundo o mesmo, não consideram os problemas e a estrutura social como influenciadores da educação. Estas teorias "já encaram a educação como autônoma e buscam compreendê-la a partir dela mesma" 1.

Destaca também as diferenças entre a pedagogia tradicional, a nova e a tecnicista e sua relação com o problema da marginalidade:


  • Na pedagogia tradicional, a educação é vista como direito de todos e dever do Estado, sendo a marginalidade associada à ignorância. A escola surge como um "antídoto", difundindo a instrução.

  • Na Escola Nova, passa a ocorrer um movimento de reforma na pedagogia tradicional, na qual a marginalidade não é mais do ignorante e sim do rejeitado, do anormal e inapto, desajustado biológica e psiquicamente. A escola passa a ser então a forma de adaptação e ajuste dos indivíduos à sociedade.

  • Por fim, o Tecnicismo define a marginalidade como ineficiência, improdutividade. A função da escola então passa a ser de formação de indivíduos eficientes, para o aumento da produtividade social, associado diretamente ao rendimento e capacidades de produção capitalistas.

    O autor depois discorre sobre as "teorias crítico-reprodutivistas", nas quais não pode ser possível "compreender a educação senão a partir dos seus condicionantes sociais"2.

    Estas teorias consideram a Educação como um instrumento da classe dominante capaz de reproduzir o sistema "dominante-dominado", sendo responsável pela marginalização, uma vez que percebe a dependência da educação em relação à sociedade, tendo em sua estruturação a reprodução da sociedade na qual ela se insere.

    Essas teorias reproduzem o modelo capitalista vigente (são citados na obra o sistema de ensino como violência simbólica; a teoria da escola como aparelho ideológico do Estado ou da classe dominante; e a teoria da escola dualista).

    Pode-se observar a atual política educacional brasileira, que privilegia o ensino fundamental como formação de mão-de-obra (países em desenvolvimento/ mão-de-obra barata, acrítica e subserviente), que saiba ler para operar as tecnologias desenvolvidas no "Primeiro Mundo", retentor de tecnologia, dos poderes econômico, bélico e político.

    Num segundo momento do livro, Saviani faz referência à Teoria da Curvatura da Vara, fazendo alusão à política interna da escola a partir de três teses, sendo as mesmas todas teses políticas:

  1. Tese filosófica-histórica, do caráter revolucionário da pedagogia da essência e do caráter reacionário da pedagogia da existência. Neste momento, pode-se refletir sobre a história do homem e a influência desta na educação, as mudanças sociais e a luta de classes trazida com o capitalismo e seus reflexos na educação.

  2. Tese pedagógico-metodológica, que é mostrada como do caráter científico do método tradicional e do caráter pseudo-científico dos novos métodos. O autor discute aqui a relação entre ensino e pesquisa e como o "escolanovismo"3 tentou articular-se com o processo de desenvolvimento da ciência enquanto o método tradicional o articulava como produto da ciência.

  3. Voltando então à falta de democracia na Escola Nova, que remete o autor à terceira tese que deriva, segundo ele das duas primeiras:

[...] de como, quando mais se falou em democracia no interior da escola, menos democrática foi a escola; e de como, quando se menos falou em democracia, mais a escola esteve articulada com a construção de uma ordem democrática". (SAVIANI, 2000, p. 36)

    A educação que deveria ser o instrumento para as escolhas do homem livre, democrático, cidadão e autônomo acaba, então se tornando mais uma ferramenta de manipulação e de homogeneização do pensamento crítico da sociedade.

    Ela legitima as diferenças sociais e marginaliza, ao invés de tencionar a luta contra a ideologia das classes dominantes, e dos direitos dos seres humanos: o conhecimento, que deve ser universal e possibilitado a todos.

    E como o próprio autor destaca, a teoria de curvatura da vara de Lênin pode ser a forma da Educação criar sua revolução para a quebra desse sistema, uma vez que se quebra a neutralidade da Educação, passando a ser considerada parte ativa neste processo de transformação.

    O autor termina o livro e conclui retificando a relação entre e educação e a sociedade, bem como a responsabilidade dos professores em transformar, não o mundo, mas sim cada indivíduo que assiste sua aula, compreendendo melhor o mundo e seus acontecimentos, assim como seu papel dentro do sistema, seus deveres e seus direitos para a construção de um país melhor.

    Essas pequenas revoluções que acontecem na sala de aula (aquilo que podemos nos aventurar a chamar de ruptura ou quebra de paradigmas) podem dar a chance de uma transformação histórica num período maior de tempo.

    É preciso então que se tome consciência das lutas sociais e das formas de dominação ideológicas que sofre a educação hoje, regulando o equilíbrio dos conteúdos a serem desenvolvidos nas salas de aula e o discurso político e histórico usado pelo(a) professor(a).

    A obra é rápida, leve e fundamental para a compreensão do papel do(a) educador(a), em qualquer que seja sua área de atuação. Conhecer estes períodos e as vertentes educacionais traz respostas a muitas indagações em nossa área especifica de atuação: a Educação Física escolar, disciplina que possui em seu histórico muitos reflexos e marcas das situações e contextos político-sociais nos quais o país passava.

    Daí a importância desta obra para nosso campo acadêmico e as diversas possibilidades de discussão da obra entre os profissionais de nossa área.

    A importância de conhecer a história da educação segundo suas influências políticas possibilita o traçado de uma educação para o homem livre, crítico e consciente de seu tempo, espaço e sociedade.

    Desta forma, atingimos então o papel primordial da educação, que a partir deste "exercício lógico-conceitual"4; poderemos além de educar, formar cidadãos e homens livres, através de práticas sociais globais, contextualizadas tanto com o momento histórico social, quanto com as necessidades, objetivos e interesses destes indivíduos. Isto resultará em autonomia, criticidade e participação social ativa e efetiva.

    Saviani, através de suas brilhantes analogias, além do resgate e compreensão histórica da Educação, faz também algumas provocações, quanto às questões de influência histórico-política nos papéis da escola na vida social.

    Ao elencar a necessidade e importância do professor como transformador desta realidade educacional, o autor estrutura proposições e abre possibilidades para diálogos e discussões a respeito da relação educativa estar realmente colocando o educador a serviço do educando ou às políticas governamentais ou sistemas vigentes atualmente.

    Discussão esta que nos remete a constantes reflexões e análises do sistema educacional brasileiro, uma vez que a Educação Física consta como uma das disciplinas curriculares e se insere no processo de ensino-aprendizagem dos alunos e alunas, nas diversas fases de ensino (educação infantil, ensino fundamental e médio).

    Portanto, caros leitores e leitoras, desfrutem desta odisséia a respeito das indagações pertinentes à Educação e Democracia. Este livro serve como aperitivo para despertar acaloradas e sadias discussões a educadores e pesquisadores da área acadêmica... Quem sabe até um banquete?! Bon Apetit!!!


Notas

  1. SAVIANI, 2000, p. 05.

  2. Op. Cit., p. 16.

  3. Termo utilizado para determinar e caracterizar a teorização da Escola Nova, já descrita no texto e detalhadamente citada na obra. Neologismo criado e surgido a partir da teorização da Escola Nova e sua consolidação como uma das vertentes educacionais brasileiras.

  4. SAVIANI, 2000, p. 91.


Bibliografia

  • SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. 33.ª ed. revisada. Campinas: Autores Associados, 2000.

  • VENDITTI JR., Rubens. Análise do livro Escola e Democracia: fichamento técnico. In: Apostila de estudos e anotações pessoais da disciplina EL650- Didática aplicada à Educação Física Escolar- 2.º semestre/2002 (F.E.F./ Unicamp). Campinas: Faculdade de Educação Física-Universidade Estadual de Campinas, 2002 (apostila).

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