Perfil psicomotor associado a aprendizagem escolar | |||
* Fisioterapeuta Aluna Especial do Mestrado em Ciências do Movimento Humano (CEFID-UDESC) ** Professora da Fundação Municipal de Educação e Cultura Santa Fé do Sul / FUNEC *** Professora de Educação Física Aluna especial do Mestrado em Ciências do Movimento Humano (CEFID-UDESC) **** Professor Doutor do programa de pós-graduação e Mestrado em Ciências do Movimento Humano (CEFID -UDESC) Fundação Municipal de Educação e Cultura Santa Fé do Sul / FUNEC Santa Fé do Sul - SP |
Sabrina de Oliveira Sanches* Luciana Aparecida Guerra** Caroline di Bernardi Luft*** Alexandro Andrade**** sabrina.sanches@bol.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 79 - Diciembre de 2004 |
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Introduçáo
Segundo Araújo (2002), no decorrer dos últimos anos no serviço de neurologia do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, a dificuldade escolar se mantém entre as sete queixas mais freqüentes. Muitos fatores podem estar relacionados às dificuldades de aprendizagem escolar, entre alguns deles destacam-se: alterações neurológicas, condições físicas, desnutrição, imaturidade e desmotivação. Neto (2000), ressalta que na existência de uma alteração neurológica ou um déficit sensorial, as dificuldades específicas de aprendizagem excedem suas características normais.
Segundo Romero (1987) as causas do fracasso escolar possivelmente estão relacionadas a fatores como: situação sócia econômica familiar, aspecto nutricional, localização da escola, motivação e qualidade do ensino. No entanto, as causas mais comuns que impedem um bom desempenho da aprendizagem, são as dificuldades não superadas específicas de cada aluno como baixa capacidade de atenção, concentração, assimilação e compreensão; raciocínio lento; dificuldade de memória; déficits de raciocínio numéricos, de linguagem oral e escrita.
Para a analise do perfil psicomotor de crianças, não basta apenas aplicações de testes, mas sim toda uma análise das características pessoais das crianças em questão. Segundo Coste (1992), para diagnosticar qualquer disfunção psicomotora ou psicossomática, não se deve levar em consideração apenas os sintomas, órgãos e funções corporais, mas toda a personalidade, situação social, ambiente cultural e condições afetivas dos indivíduos.
Diante disso, faz sentido dizer que o nível sócio econômico familiar pode influenciar no desempenho escolar de crianças. De acordo com Díaz et all. (1983) e Aguilera et all. (1981) citados por Córdova e Orellana (1996), o baixo nível sócio econômico, gera um ambiente adverso para o desenvolvimento psicossocial das crianças, a pouca variedade de estímulos que este meio oferece nem sempre é compatível com as necessidades que as crianças apresentam para desenvolver suas capacidades intelectuais, motoras, emocionais e sociais.
No entanto, desvios em fatores psicomotores também estão relacionados à aprendizagem. Segundo Fonseca (1995), a lateralidade, a organização espaço temporal, o conhecimento e domínio do próprio corpo constituem a formação psicomotora. Alterações nesses fatores podem evidenciar importante relação com dificuldades de aprendizagem.
De acordo com Romero (1987), distúrbios de lateralidade podem estar relacionados às dificuldades de identificação, compreensão e de interpretação de símbolos gráficos na leitura, tal fato, recebe o nome de dislexia.
As dificuldades no aprendizado da leitura em crianças normais foram longamente analisadas em um estudo de Maistre (1966) citado por Vayer (1988), chegando-se a conclusão de que tais dificuldades são decorrentes de deficiências preexistentes a este aprendizado, que mantém a criança com uma menor capacidade para realizar as operações psicomotoras exigidas pela leitura.
Novaes (1975) citado por Negrine (1986), examinou a influência da organização percepto-motora na aprendizagem escolar em 250 crianças de escolas primárias e concluiu que dificuldades específicas nessa organização podem comprometer o rendimento escolar e dificultar a aprendizagem da leitura e da escrita.
Levando em consideração que a psicomotricidade é conhecida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio, que traduz uma relação entre atividade psíquica e motora (Fonseca,1995), este estudo teve como objetivo apontar o atraso do desenvolvimento psicomotor como uma das causas do mau desempenho escolar e verificar se condições financeiras, familiares e outras características individuais dos alunos também poderiam estar relacionadas às dificuldades escolares.
Baseado em um estudo de Córdova e Orellana (1996) que comparou o efeito de um programa grupal de estimulação psicomotora em crianças de diferentes idades, verificaram que, quanto menor a idade das crianças, maior é o efeito positivo da estimulação. O presente estudo quer ressaltar a importância do diagnóstico precoce de atrasos psicomotores, visando possibilitar maior eficácia do seu tratamento.
MétodoEste estudo caracterizou-se como uma pesquisa de campo, do tipo descritiva. A amostra foi escolhida de maneira intencional. Uma turma de alunos da primeira série foi previamente determinada pela diretora da escola, pelo fato de apresentar um maior número de alunos com dificuldades no aprendizado escolar. A opção por avaliar uma turma inteira, ocorreu com o intuito de permitir uma comparação de alunos que apresentavam bom e mau rendimento escolar.
Assim, fizeram parte da amostra 25 alunos com idade entre 6 e 8 anos, sendo 17 do gênero masculino e 8 do gênero feminino, estudantes de uma turma da primeira série de uma Escola Municipal do Ensino Fundamental do interior de SP.
A pesquisa foi realizada no final do ano letivo de 2002, com o propósito de obter o rendimento escolar anual das crianças por meio dos conceitos de média geral (média das notas finais referentes ao ano letivo) e com o objetivo de facilitar o preenchimento do questionário pela professora, uma vez que esta estava bem familiarizada com as crianças.
Após o consentimento da diretoria e dos pais ou responsáveis, as crianças foram avaliadas em uma sala da própria escola, que continha os materiais adequados para o tipo de avaliação utilizada. As tarefas foram previamente explicadas para que as crianças se sentissem tranqüilas e seguras, conseguindo realizá-las dentro dos parâmetros requeridos.
O Perfil Psicomotor das crianças foi avaliado por meio do protocolo de Bateria Psicomotora (BPM), elaborado por Fonseca (1995), que consiste na mensuração de 7 fatores psicomotores: Tonicidade, Equilibração, Lateralização, Noção do corpo, Estruturação Espaço-Temporal, Praxia Global e Praxia Fina, que são divididos em 24 subfatores e dentre esses há quarenta e duas tarefas a serem realizadas pelas crianças.
A realização de cada tarefa fornece a classificação de 1 a 4: apráxico (1), dispráxico (2), eupráxico (3) e hiperpráxico (4). A pontuação de cada tarefa é somada e divida pelo total (todas as tarefas) dentro de cada fator psicomotor, obtendo assim o valor arredondado dos fatores. O resultado final da "BPM" é obtido somando as pontuações de todos fatores psicomotores e dividindo-os por 7 (total de fatores), obtendo assim uma classificação geral em: Deficitário (7 a 8), Dispráxico (9 a 13), Normal (14 a 21), Bom (22 a 26), Superior (27 a 28).
Para verificar o desempenho escolar, um questionário foi elaborado pelos autores da pesquisa e validado por três professores especializados na área. Após esses procedimentos, o questionário foi respondido pela professora responsável pela turma avaliada.
Este questionário qualifica o rendimento cognitivo das crianças, classificando os conceitos de média geral (notas finais) e a intensidade das dificuldades apresentadas no processo de aprendizagem escolar por meio de uma tabela que continha os seguintes requisitos: Apatia sensório-motora, Déficit de Atenção, Irritabilidade, Linguagem Oral, Linguagem Escrita, Raciocínio lógico, Comportamento Social e Estruturação Espaço-temporal os quais foram graduados em uma pontuação de 0 a 10 que aumentava de acordo com as dificuldades. Outras informações como: a freqüência em aulas, presença de alterações oculares, condições sócio-econômicas e problemas familiares também estavam contidas no questionário.
Para a análise dos resultados, os dados foram tratados através de estatística descritiva (média, desvio padrão, percentual e freqüência).
ResultadosDe acordo com os resultados relacionados ao rendimento escolar (desempenhos cognitivos), pode-se verificar que dos 25 (100%) alunos avaliados, 15 (60%) apresentaram média geral "A", 6 (24%) média geral "B", e 4 (16%) média geral "C".
Os resultados do perfil psicomotor de acordo com a "BPM" relacionados ao rendimento escolar, indicaram que dentre os 15 (100%) alunos com média geral "A", 8 (53,4%) foram classificados com perfil psicomotor "bom" e 7 (46,7%) classificados com perfil psicomotor "normal"; no entanto, dos 6 (100%) alunos com média geral "B", 4 (66,7%) se enquadravam nos valores do perfil psicomotor considerados como "bom" e 2 (33,4%) como "normal". Por fim, todos os 4 (100%) alunos com média "C" apresentaram perfil psicomotor "normal".
Gráfico 1. Associação do perfil psicomotor (bom e normal), com os conceitos de média geral (A, B, C).Quanto à existência de problemas familiares relacionados ao rendimento escolar atingido pelos alunos, verificou-se que dentre as 15 (100%) crianças com conceito de média geral "A", 13 (86,7%) não apresentaram problemas familiares e apenas 2 (13,4%) apresentaram. Dentre os 6 (100%) alunos que apresentaram conceito de média geral "B", 3 (50%) não indicaram problemas familiares e 3 (50%) apresentaram. Dos 4 (100%) alunos com conceito de média geral "C", 3 (75%) apresentaram problemas familiares.
Gráfico 2. Associação dos conceitos de média geral (A, B, C), com a existência ou não de problemas familiares.Com relação às condições sócio-econômicas relacionadas ao rendimento escolar, pôde-se perceber que, entre as 15 (100%) crianças com conceito de média geral "A", 13 (86,7%) apresentaram condição sócio-econômica média, 1 (6,7%) apresentou baixa condição sócio-econômica e 1 (6,7%) alta condição. Entre os 6 (100%) alunos com conceito de média geral "B", 3 (50%) apresentavam baixa e 3 (50%) médias condições sócio-econômicas. Todos os 4 alunos (100%) com média geral "C" apresentaram baixas condições sócio-econômicas.
Gráfico 3. Associação dos conceitos de média geral (A, B, C) e com as condições sócio-econômicas (baixa, média, alta).Os resultados expostos a seguir são provenientes do questionário que avaliou a intensidade das dificuldades na aprendizagem, no qual a pontuação aumentava com a dificuldade.
Relacionando o rendimento escolar a duas variáveis existente no questionário (Linguagem Oral e Escrita), constatou-se que os alunos com média geral "A", apresentaram uma pontuação média de 1,4 na Linguagem Oral e linguagem Escrita, enquanto os alunos com média geral "B" apresentaram pontuação média de 2,36 na Linguagem Oral e 3,83 na Linguagem Escrita. Os alunos com média geral "C" evidenciaram pontuações mais altas nas duas variáveis, apresentando pontuação média de 5,5 na Linguagem Oral e 9,75 na Linguagem Escrita.
Gráfico 4. Associação dos valores apresentados na Linguagem Oral (LO) e Linguagem Escrita (LE), com os conceitos de média geral (A, B, C).Relacionando o rendimento escolar a aos valores do Déficit de Atenção e Raciocínio Lógico, os resultados mostraram que os alunos com média geral "A", apresentaram pontuação média de 1,60 no Déficit de Atenção e 1,53 no Raciocínio Lógico, enquanto, os alunos com média geral "B", evidenciaram pontuação média de 2,33 no Déficit de Atenção e 2,5 no Raciocínio Lógico. Os alunos com média geral "C" mostraram pontuações mais elevadas como 7,75 no Déficit de Atenção e 8,25 no Raciocínio Lógico.
Gráfico 5. Associação dos valores apresentados no Déficit de Atenção (DA) e Raciocínio Lógico (RL), e os conceitos de média geral (A, B, C).Foram analisados os resultados de duas das tarefas referentes à "BPM", sendo elas: a Estruturação Espaço-Temporal (EET) e Praxia Fina (PF) relacionadas ao rendimento escolar das crianças avaliadas. Com isso, observou-se que alunos com média geral "A" possuíam pontuação 3 nas tarefas de EET e PF, enquanto os alunos com média geral "B", atingiram pontuação 2, nas tarefas relacionadas a EET, e 3 nas referentes a PF. Os alunos com média geral "C", apresentaram pontuação 2 nas tarefas de EET e PF.
Gráfico 6. Associação das tarefas Estruturação Espaço-temporal (EET) e Praxia Fina (PF), com os conceitos de média geral (A, B, C).Verificando a lateralização relacionada ao rendimento escolar, constatou-se que os alunos com média geral "A" e "B" apresentaram maior pontuação (4) como resultado da tarefa de lateralização. Contudo, os alunos com média geral "C", apresentaram pontuação 3 na realização da tarefa da "BPM.
Gráfico 7. Associação da tarefa de lateralização (L) da "BPM " com os conceito de média geral (A, B, C).
DiscussãoDe acordo com os resultados encontrados no presente estudo, pode-se perceber que a maioria das crianças apresentou bom rendimento escolar conforme as informações coletadas por meio do questionário. Contudo, algumas crianças apresentaram notas mais baixas durante o ano letivo, dessa forma, as crianças que apresentaram conceito de média geral "C" foram consideradas crianças com maiores dificuldades na aprendizagem escolar.
Conforme os resultados do gráfico 1, verificou-se que, todas as crianças avaliadas se enquadravam no perfil psicomotor "bom" e "normal" da "BPM", não apresentando, portanto, grandes alterações no perfil psicomotor. Contudo, pôde-se observar que todas as crianças que apresentavam conceito de média geral "C" se enquadravam nos valores do perfil psicomotor considerados "normais", que são inferiores, se comparados aos "bons". No entanto, alunos com média geral "A" e "B" também se enquadravam nestes mesmos valores do perfil psicomotor, que são considerados "normais".
Fernandez et.al.(1989), avaliaram 24 crianças que cursavam pela primeira vez, a primeira série do 1º grau, por meio de um exame neurológico clássico (ENE). Como resultado de seu estudo, constatou que das seis crianças que apresentavam ENE normal, duas apresentavam um bom desempenho escolar e quatro, um mau desempenho. Tais resultados evidenciam que nem sempre um diagnóstico neurológico normal pode assegurar sucesso na aprendizagem.
Portanto, nem sempre as dificuldades da aprendizagem estão relacionadas ao desenvolvimento psicomotor das crianças, todavia, este pode influenciar na aprendizagem escolar.
De acordo com os resultados que relacionavam rendimento escolar e problemas familiares, constatou-se que a maioria dos alunos de conceito de média geral "C" apresentou problemas familiares e a maioria dos alunos com conceito de média geral "A" não apresentou. Tal fato demonstra que a existência de problemas familiares podem ter afetado o desempenho escolar dessas crianças. No entanto, é escassa a bibliografia sobre o assunto.
Os resultados deste estudo, referentes às condições sócio-econômicas relacionadas ao rendimento escolar demonstraram que todas as crianças que apresentaram média geral "C", ou seja, os menores conceitos, também apresentaram baixo nível de condições sócio-econômicas.
Esses dados corroboram com estudos de Chiarotino, Caraher e Schliemann (1987) citados por Medeiros e Teixeira (2000), os quais afirmam que crianças de baixa renda não apresentam um déficit cognitivo individual, mas apresentam um desenvolvimento cognitivo diferente daquele apresentado pelas crianças mais bem favorecidas sócio-econômicamente, embora, as primeiras possam ser consideradas defasadas quando comparadas as segundas, numa mesma faixa etária, no contexto escolar. Isso ocorre porque indivíduos de baixa renda podem estar em situação de desvantagem cognitiva, porque muitas vezes não tiveram oportunidade nem estímulos suficientes advindos do contexto sócio cultural, não tendo oportunidades de desenvolver plenamente suas potencialidades cognitivas, embora esta defasagem possa ser temporária, desde que as crianças sejam estimuladas a superá-las. De acordo com os mesmos autores, qualquer déficit ou desenvolvimento da inteligência, depende da interação do indivíduo com o contexto.
Dessa forma, neste estudo observou-se que o nível sócio econômico estava associado ao desempenho escolar das crianças, demonstrando a importância do contexto sociocultural no desenvolvimento cognitivo das crianças. Os resultados do rendimento escolar quando comparados aos valores das variáveis: Linguagem Oral e Escrita apresentada pelas crianças avaliadas vêm ao encontro dos estudos dos autores citados abaixo.
Bergamo (1998), em seu trabalho com análise de anamneses em crianças com dificuldades no aprendizado da leitura e escrita, encontrou em 36,7% dos trinta prontuários analisados, crianças que apresentam alterações no desenvolvimento da linguagem. De acordo com Poppovic (1967), Jonhnson e Myklebust (1983), Betetto (1987), Leal e Matute (1995) citados por Bergamo (1998), o desenvolvimento adequado da linguagem oral propicia a aquisição da linguagem gráfica, portanto, atrasos ou distúrbios nestes processos podem acarretar problemas de aprendizagem.
Illingworth (1968), Le Fèvre (1975), Ingram (1959) e Rotta (1988) citados por Guardiola (1998), relataram que crianças em idade escolar que apresentam atraso na aquisição da linguagem falada demonstram maior incidência de dificuldades na escrita e na leitura. Sendo assim, alterações na Linguagem Oral e Escrita aumentam a probabilidade de crianças apresentarem dificuldades escolares.
Quando os resultados do Déficit de Atenção e Raciocínio Lógico foram relacionados ao rendimento escolar, pôde-se perceber que os alunos com média geral "C" apresentam resultados mais altos, o que indica maiores dificuldades. Segundo Lahat e colaboradores (1985) citado por Bertochi e Matas (2000), crianças com alterações na atenção, têm dificuldades na realização de tarefas e distraem-se com facilidade.
Conforme Araújo (2002), quanto maior a necessidade de memorização e atenção a detalhes, na medida em que aumentam a quantidade e a complexidade do material didático, maior as dificuldades e comprometimento do desempenho escolar das crianças que apresentam déficits de atenção. Tais dados evidenciam a relação existente entre déficit de atenção e raciocínio lógico com desempenho escolar.
Associando o rendimento escolar aos resultados dos desempenhos das tarefas de Estruturação espaço-temporal e Praxia Fina, pode-se perceber que as crianças com média geral "C" apresentaram pontuação menor em ambas tarefas. Fernandez et.al. (1989) em seus estudos encontrou maior ocorrência de mau rendimento escolar em crianças com alterações nas tarefas de gnosia espacial.
Na opinião de Franco e Navarro (1980) citado por Bueno (1998) a estruturação espaço-temporal tem um papel essencial em todos os problemas de aprendizagem escolar, e o treinamento da mesma é um meio de educar a inteligência. Demonstrando a necessidade que a criança tem de se situar bem no espaço que a cerca, para facilitar sua coordenação e melhorar sua aprendizagem.
Quanto a Lateralização, associada ao rendimento escolar, verificou-se que os resultados dos alunos de média geral "C", mesmo sendo inferiores, se comparados aos alunos de "A" e "B", a pontuação 3 é considerada normal, mostrando que nem sempre alterações da lateralidade estão relacionada ao desempenho escolar.
Romero (1987) submeteu crianças com ou sem lateralidade cruzada e dificuldades de aprendizagem a um programa de exercício físico e após uma reavaliação, encontrou melhora na definição da lateralidade dessas crianças, porém, não encontrou influência sobre o rendimento escolar.
Os resultados deste estudo concordam com Fernandez et.al. (1989) que também não encontraram diferença significativa entre a lateralidade e o desempenho escolar.
Devido ao baixo número de crianças avaliadas e pelo fato de poucas terem apresentado alterações na aprendizagem e no perfil psicomotor, neste estudo, não foi possível verificar muitas relações entre ambos. Isso provavelmente ocorreu por ter sido utilizado como referencias o conceito de média geral referente às notas do ano letivo e a pontuação final da BPM, os quais, não evidenciam dificuldades específicas, e pelo fato de notas serem subjetivas à avaliação do professor.
No entanto, analisando qualitativamente os dados, pôde-se constatar que os alunos que apresentaram dificuldades motoras na realização das tarefas de estruturação espaço-temporal e praxia fina mostraram graus de dificuldades no aprendizado escolar, evidenciando uma associação entre o perfil psicomotor e a aprendizagem.
Pôde-se notar que os alunos com média geral "C" apresentaram maiores dificuldades na Linguagem Oral e Escrita, Raciocínio Lógico e Déficit de Atenção, associados a problemas familiares e baixas condições sócio econômicas, quando comparados aos alunos de conceito de média geral "A" e "B", sugerindo que o mau desempenho escolar esteja associado à presença de dificuldades nestas variáveis.
Contudo, espera-se que este estudo seja uma diretriz para futuras pesquisas, para que profissionais da área da saúde e educação realizem análises em crianças portadoras de maiores graus de dificuldade escolar ou utilize métodos diferentes de avaliação.
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digital · Año 10 · N° 79 | Buenos Aires, Diciembre 2004 |