Educação Física e nutrição
Educació Física y nutrición Physical Education and nutrition |
|||
Departamento de Ciências do Esporte Faculdade de Educação Física Universidade Estadual de Campinas (Brasil) |
Pablo Christiano B. Lollo Maria da Consolação G. Cunha F. Tavares Paulo Cesar Montagner pablo@omega.fef.unicamp.br |
|
|
|
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 79 - Diciembre de 2004 |
1 / 1
Introdução
Atualmente, podemos apreciar nos meios de comunicação uma discussão presente na sociedade sobre nutrição, suas aplicações e acessibilidade. Essa discussão apresenta-se também no ambiente acadêmico. Um impulso importante para a ênfase desta questão veio de programas governamentais de combate a fome que vem sendo colocado como uma das prioridades da nova gestão do governo federal.
Essa discussão, inevitavelmente adentrou-se no ambiente da educação física. Surgindo varias indagações a respeito do campo de conhecimento da nutrição, como: é importante para o profissional de educação física, conhecimento básico de nutrição? Em caso afirmativo, estes profissionais possuem este conhecimento básico? Existem mecanismos legais que incluem no currículo básico das instituições que formam profissionais de educação física, conteúdo relativo a esse conhecimento? Buscando responder a estas questões escrevemos este ensaio.
Por nutrição entende-se a ciência que estuda o ato de nutrir-se através do conjunto de processos que vão desde a ingestão do alimento até a sua assimilação pelas células, incluindo os fenômenos sociais, econômicos, culturais e psicológicos que podem influenciar na alimentação (MITCHELL, 1988).
Observando a definição das Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem, Medicina e Nutrição, do MEC (Ministério de Educação e Cultura), notamos que o Nutricionista é um profissional com formação generalista, humanista e crítica. Capacitado a atuar, visando a segurança alimentar e a atenção dietética, em todas as áreas do conhecimento em que a alimentação e a nutrição se apresentem fundamentais para a promoção, manutenção e recuperação da saúde e para a prevenção de doenças de indivíduos ou grupos populacionais, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, pautado em princípios éticos, com reflexão sobre a realidade econômica, política, social e cultural. O MEC ainda diz que o Nutricionista com licenciatura em nutrição está capacitado para atuar na educação básica e na educação profissional em nutrição.
Já as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Educação Física do MEC, compreende uma área de estudo, elemento educacional e campo profissional caracterizados pela análise, ensino e aplicação do conjunto de conhecimentos sobre o movimento humano intencional e consciente nas suas dimensões biológica, comportamental, sócio-cultural e corporeidade. Como um campo de intervenção profissional que, por meio de diferentes manifestações e expressões da atividade física/movimento humano/motricidade humana (tematizadas na ginástica, no esporte, no jogo, na dança, na luta, nas artes marciais, no exercício físico, na musculação, na brincadeira popular, bem como em outras manifestações da expressão corporal) presta serviços à sociedade caracterizando-se pela disseminação e aplicação do conhecimento sobre a atividade física, técnicas e habilidades buscando viabilizar aos usuários ou beneficiários o desenvolvimento da consciência corporal, possibilidades e potencialidades de movimento visando a realização de objetivos educacionais, de saúde, de prática esportiva e expressão corporal.
Ainda as diretrizes supracitadas do MEC definem o perfil do profissional de educação física como um profissional com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, qualificado para o exercício profissional com base no rigor científico e intelectual e pautado no princípio ético. Deverá ser formado para estudar, pesquisar, esclarecer e intervir profissional e academicamente no contexto específico e histórico-cultural, a partir de conhecimentos de natureza técnica, científica e cultural de modo a atender as diferentes manifestações e expressões da Atividade Física/Movimento Humano.
Colocando ainda que o campo de atuação do profissional de educação física é pleno nos serviços à sociedade na área da educação física, nas suas diversas formas de manifestações no âmbito da cultura e do movimento Humano intencional, através das atividades físicas, esportivas e similares, sejam elas formais e não formais, tais como ginástica, esporte, jogos, danças, lutas, artes marciais, exercícios físicos, musculação entre tantas outras. Este campo é delimitado pela capacidade profissional de coordenar, planejar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e executar trabalhos, programas, planos e projetos, bem como prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar informes técnicos, científicos e pedagógicos, todos nas áreas de atividades físicas, do desporto e similares. Deverão, outrossim, ser consideradas as características regionais e os diferentes interesses identificados com o campo de atuação profissional.
Entre as competências e habilidades que o MEC define como sendo objetivos da formação do graduado em educação física, a primeira citada é:
Atenção à saúde, como profissional da área de saúde, dentro do âmbito da educação física, deve estar apto a desenvolver ações de prevenção, reabilitação, promoção e proteção da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. O profissional de educação física deve assegurar ainda que sua prática seja realizada de forma segura, integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde. Devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto de natureza individual como coletivo.
Acreditamos assim, ser a nutrição um conteúdo muito presente nas áreas de atuação dos professores de educação física. Compartilhando da opinião que: "Os educadores da área da saúde e os assistentes de saúde ou nutrição suplementam e fazem a extensão dos serviços de orientação em nutrição [...]" (LÍNNEA 1988).
Em algumas áreas a importância da nutrição na educação física é mais óbvia, como no treinamento. Porém, na educação escolar não temos a mesma facilidade de notar o professor de educação física utilizando na área conhecimentos nutricionais. E acreditamos ser importante para o professor de educação física escolar o conhecimento de nutrição assim como o de maturação, crescimento e pedagogia. Esta ligação da nutrição com a educação física, nos sugere que a formação dos professores de educação física poderia incluir alguns conteúdos da nutrição para a formação de um profissional minimamente instruído nesta área de conhecimento.
Nutrição nos esportesNo treinamento a nutrição fica muito evidente como um fator limitante da saúde e conseqüentemente desempenho do atleta.
Segundo Weineck (1999): a alimentação deve suprir a demanda energética assim como garantir o balanço hídrico, balanço de nutrientes, balanço vitamínico e o balanço mineral. Em atletas a alimentação é ainda mais importante, pois a nutrição inadequada às necessidades específicas de cada sujeito, pode prejudicar a saúde e o desempenho de atletas e não atletas durante o processo de treinamento físico.
Salientamos, que a nutrição não deve ser só lembrada quando se busca alto rendimento, sendo um recurso disponível para melhorar a saúde geral como frisou Wolinsky (1996) "[...] à nutrição é importante para a saúde geral do atleta".
São muitos os conhecimentos já produzidos e consolidados em nutrição, como as RIDs (Recomendações de Ingestão pela Dieta), que são adotadas pela Organização Mundial de Saúde, mas este mesmo avanço da nutrição não pode ser diretamente aplicado a atletas, sendo esta uma população merecedora de atenção especial, "Atualmente, não existem dados disponíveis para que se apresente um conjunto de RIDs (Recomendações Individuais Diárias) para atletas" (WOLINSKY, 1996). Os profissionais que tem contato direto com esta população devem estar atentos a estas particularidades e não generalizar informações de forma aleatória, pois se assim fizer estará correndo risco de equivocar-se.
O esporte sabidamente modifica as demandas energéticas e metabólicas, "Atletas de sexo masculino e feminino podem ter necessidades nutricionais muito especiais devido a alterações fisiológicas ou especificidades do esporte".(WOLINSKY, 1996). Sendo, portanto, de suma importância para professores de educação física que são potenciais influenciadores do atleta, o conhecimento destas modificações fisiológicas em um estudo da nutrição do atleta.
Mas este estudo de nutrição necessário para o entendimento dos processos fisiológicos e metabólicos do atleta não tem sido a maior fonte de informação dos profissionais e que agem diariamente e diretamente com esta população e dos próprios praticantes de Atividade Física:
"A maioria dos técnicos e atletas obtém seu conhecimento a partir de anúncios, colegas de profissão, ou parentes; a maioria dessas fontes não possui informações suficientes em nutrição. Há um grande número de conceitos equivocados, informações errôneas e dogmas".
Esta afirmação retirada do artigo: Nutrition knowledge and practice of coaches, treiners, and athletes, (PARR, PORTER and HODGSON, 1984), parece concordar com os resultados obtidos por pesquisa realizada por Lollo e Tavares (2003) nas academias de Campinas listadas no CREF em 2003. Os resultados mostram que a maioria dos consumidores de Suplementos Alimentares das Academias de Ginástica de Campinas obtém informações sobre os suplementos que ingerem de amigos e propagandas e não de instrutores ou técnicos, sugerindo baixa comunicação de informações sobre nutrição entre professores e alunos, descaracterizando a função educativa e informativa dos professores. Informação essa, que deveria se dar com o Educador Físico indicando e esclarecendo a importância da consulta a um Nutricionista que tem competência e atribuições legais para indicar a suplementação e/ou dieta mais adequada de acordo com os objetivos do atleta. Talvez essa consulta fosse mais proveitosa se o Educador Físico e Nutricionistas dialogassem e elaborassem em conjunto os procedimentos necessários para a obtenção dos resultados pretendidos de forma saudável e consistente. Sendo a atuação de cada profissional, na sua área específica de conhecimento.
Esta deficiência na função educativa também parece estar presente nos professores de Goiânia, em pesquisa realizada em nas academias de Goiânia, Araújo et al (2002) concluiu que o uso de anabolizantes foi alto e que os professores ou instrutores foram os principais responsáveis pela indicação de consumo dos mesmos, caracterizando uma postura equivocada perante o assunto, pois mesmo desconsiderando a ética da questão o professor/instrutor não possui autorização legal para indicar o uso de esteróides anabolizantes. Acreditamos que parte destas indicações pode ter sido feita até mesmo pelo desconhecimento mais profundo dos danos à saúde que tais substâncias podem causar. Acreditamos que a falta de informação pode contribuir para esse tipo de comportamento, portanto acreditamos que um conhecimento básico de nutrição para o Educador Físico poderia ajudar a impedir que ele venha a se aventurar prescrevendo dietas, pois teria algum conhecimento dos importantes efeitos disto. Com conhecimento básico, o profissional poderia se convencer dos reais efeitos da nutrição na educação física e do importantíssimo, insubstituível, indispensável e benéfico papel do Nutricionista.
Visto que alguns consumidores se baseiam em informações dos rótulos de suplementos alimentares (LOLLO E TAVARES 2003), coloca-se uma dúvida na qualidade das informações veiculadas pela publicidade e propaganda no consumo de suplementos nutricionais. Santos, do Departamento de Planejamento Alimentar e nutrição da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas, publicou em 2002 o artigo: Fontes de informação sobre nutrição e saúde utilizadas por estudantes de uma universidade privada de São Paulo e afirmou em seu estudo sobre as fontes de informação sobre suplementos alimentares (SANTOS 2002):
"Nos Estados Unidos, a American Dietetic... (1995) afirma que o material promocional de suplementos nutricionais (entre outros produtos) constitui uma das fontes importantes na difusão de informações incorretas sobre nutrição".
A mídia e o Marketing têm forte influência sobre a alimentação de acordo com a pesquisa acima citada, podendo ainda distorcer resultados científicos, como informa Wolinsky (1999) "no entusiasmo para encontrar a fórmula mágica, a mídia tem tirado conclusões de algumas pesquisas que superam os resultados das investigações". No Brasil são escassas as pesquisas que avaliam a qualidade das informações veiculadas em propagandas de suplementos alimentares, novas pesquisas nesse campo são recomendadas.
Como fonte segura de informações sobre Alimentação e nutrição, os Americanos criaram o Food and Nutrition Information Center em Baltimore EUA, que entre outros serviços promove respostas específicas a respeito de alimentos e nutrição, além de emprestar livros e vídeos.
A responsabilidade do professor de educação física que interage com atletas pode ser mais que a obtenção de bons resultados, pode ser também a responsabilidade da manutenção da saúde e da própria vida do atleta caso este tenha distúrbios alimentares como a anorexia ou bulimia.
Segundo Mcardle (1996), a anorexia nervosa é um distúrbio alimentar grave que consiste em uma privação voluntária de alimentos, mais freqüente em mulheres adolescentes que tem opinião negativa sobre seus próprios corpos. O autor ressalta que este distúrbio alimentar pode ocorrer em atletas de competição, como em dançarinas e ginastas.
Chamamos a atenção para o papel do Educador Físico, principalmente na identificação de potenciais quadros bulímicos e anoréxicos encaminhando o atleta para diagnóstico com equipe especializada, já que o dia a dia com os atletas permite um contato muito próximo com um público muito afetado por estes distúrbios segundo Mcardle (1996).
Nutrição na educação física escolarMostramos até agora evidencias da presença constante da nutrição nas áreas de treinamento esportivo, mas estas não se restringem a este campo, estão presentes também na educação física escolar.
O estudo: Alimentação na escola como forma de atender às recomendações nutricionais de alunos dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPS), realizado na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" campus/USP Piracicaba Silva (1998) conclui que é necessário corrigir falhas do conteúdo nutricional das refeições distribuídas na escola, pois as mesmas constituem parte fundamental do consumo alimentar dos alunos dos CIEPs.
Achamos que resultados de pesquisas como esta devem ser conhecidos pelos professores que trabalham com os escolares especialmente o Educador Físico, pois é na aula de educação física que a demanda energética pode aumentar além dos níveis das aulas em sala de aula por conta da atividade física, assim, podem ocasionar um déficit calórico ainda maior. Portanto, o Educador Físico de escolares deve conhecer as condições dos alunos, inclusive nutricionais, para desempenhar seu papel com máxima eficiência e preservação da saúde. Preferencialmente que estas condições nutricionais dos alunos não sejam conhecidas apenas através do possível bom senso e sim por avaliações metódicas mesmo que simples, dos escolares. Atualmente existem muitos modelos de inquéritos nutricionais que auxiliam no conhecimento do estado nutricional tanto de crianças como de adolescentes e adultos. Ressaltamos que a escolha do modelo, aplicação e interpretação exigem a presença de um Nutricionista.
Infelizmente, temos notado que a realidade reportada pela pesquisa acima, está presente em outras partes de nosso país, principalmente pela cobertura atual da mídia que vem explorando o assunto, que ganhou notoriedade com programas de combate a fome. Portanto, receamos que se os números noticiados forem verdadeiros a probabilidade de educadores físicos que lecionam para escolares encontrar crianças subnutridas seja alta.
Costa e Ribeiro (2001), acreditam em um função maior para a merenda escolar, no estudo: Programa de Alimentação escolar: Espaço para Aprendizagem e Produção de Conhecimento, colocam: "As atividades práticas executadas no serviço de alimentação escolar podem ser objeto das atividades pedagógicas executadas pelos professores e intermediadas pelo Nutricionista".
Salientam também a possibilidade de inclusão da: "[...] aprendizagem em saúde e nutrição como parte da cultura do serviço de alimentação escolar, produzindo conhecimento significativo". (COSTA E RIBEIRO 2001)
Concluem deslumbrando a possibilidade de somar uma função ao nosso ver nobre ao programa (COSTA E RIBEIRO 2001).
"O Programa de Alimentação Escolar tem se resumido, muitas vezes, no fornecimento de lanches ou refeições no intervalo das atividades escolares. Entretanto, existem possibilidades, que podem ser usadas pelo Nutricionista responsável pelo Programa, para desenvolver atividades educativas em nutrição, visando à promoção da saúde da comunidade escolar".
Mostram assim, a possibilidade do ato de alimentar-se na escola ser educativo, levando os escolares a adquirirem conhecimentos sobre nutrição, o que imaginamos ser de grande importância para todas as escolas. Pois, mesmo com ampla disponibilidade de alimentos que os alunos mais favorecidos economicamente têm, é possível que sejam mal nutridos e sofram carência de algum nutriente (vitaminas, por exemplo), por consumirem alimentos pobres em nutrientes e muitas vezes ricos em calorias. Ocorrendo assim a obesidade e a desnutrição ao mesmo tempo.
Na pesquisa: Educação nutricional em serviços públicos de saúde (1999), realizada no Departamento de Enfermagem de Ciências Médicas da Universidade estadual de Campinas (BOOG 1999):
"As conclusões referem-se à necessidade de implementação de atividades de educação nutricional nos serviços de saúde, às dificuldades dos profissionais para abordar problemas relativos à nutrição e à necessidade de discutir o ensino de nutrição nos cursos da área da saúde".
Sendo educação física um curso da área de saúde, e de caráter pedagógico tão presente, corroboramos a opinião de que há "[...] à necessidade de discutir o ensino de nutrição nos cursos da área da saúde".
O Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, realizou uma: Análise da composição dos gastos com alimentação no Município de São Paulo (Brasil) na década de 1990. Objetivando "Identificar as estruturas de consumo alimentar no Município de São Paulo, de 1990 a 1996, e compará-las com as derivadas de cestas de alimentos balanceados (CA)" (BARRETO E CYRILLO 2000). E concluíram que: "Infere-se a existência de uma provável inadequação dietética nos domicílios de São Paulo e de riscos associados a uma ingestão insuficiente de legumes, verduras e frutas".
Atribui-se um maior consumo de produtos industrializados a ação do Marketing, pois os preços destes produtos aumentaram relativamente mais que o das frutas e legumes. Portanto seria razoável indicar que os educadores (incluindo os físicos) sejam instrumentos da veiculação de uma alimentação mais adequada, "verduras e frutas são alimentos ricos em vitaminas, minerais antioxidantes e fibras; conseqüentemente, são agentes importantes na prevenção das doenças crônico-degenerativas" (BARRETO E CYRILLO 2000). Enquanto o marketing vem agindo no sentido contrário:
"Portanto, a diminuição na parcela dos orçamentos familiares relativa aos produtos in natura, conforme descrito, representaria um risco potencial à maior freqüência dessas morbidades e estaria contribuindo para o estabelecimento da transição nutricional e epidemiológica no País" (BARRETO E CYRILLO 2000).
Segundo as conclusões de um estudo epidemiológico realizado por Oliveira (2002) sobre a colesterolemia em crianças e adolescentes de baixa renda, as escolas e instituições devem adotar trabalhos multidisciplinares com práticas nutricionais e atividades físicas regulares, promovendo a saúde através de conhecimentos ou hábitos alimentares saudáveis transmitidos às crianças que poderiam divulgar esse conhecimento à suas família.
Pipitone (1997), sugere que a merenda oferece um espaço pedagógico a ser explorado para discussão de temas importantes em época de economia globalizada e influências da comunicação de massa. Sturion (2002) afirma que a educação nutricional deve implementar atividades relacionadas com a formação de bons hábitos, afirmando ainda que o programa de alimentação escolar tem um objetivo educacional e por isso um caráter universal.
Na discussão da merenda escolar encontramos as mais variadas opiniões (PIPITONE, 1997), alguns achando que se trata de um problema de quantidade mais do que de qualidade, outros vem à merenda como assistencialista e paliativa, outros como desvio das atividades genuinamente pedagógicas da escola e alguns vêem ainda como direito da criança. Destacamos que estas são apenas algumas das opiniões podemos encontrar. Porém, acreditamos que independente da discussão em torno dos programas de merenda e/ou alimentação escolar, acreditamos que o alimento tem efeito benéfico, porém temporário, já a educação alimentar é um patrimônio dado à criança por toda a vida.
Salientamos que seria imprescindível a presença de um Nutricionista participando de um programa de educação alimentar, até mesmo para o cumprimento lei que regulamenta a profissão sancionada em 17/09/1991 sob o n° 8.234, que diz:
"É obrigatória a participação de nutricionistas em equipes multidisciplinares, criadas por entidades publicas ou particulares e destinadas a planejar, coordenar, supervisionar, implementar, executar e avaliar políticas, programas, cursos nos diversos níveis, pesquisas ou eventos de qualquer natureza direta ou indiretamente relacionados com alimentação e nutrição, bem como elaborar e revisar legislação e códigos próprios desta área".
Desta forma, acreditamos que sob a orientação de um Nutricionista, o Educador Físico atuando em escolas, poderia contribuir para a educação alimentar dos alunos, necessitando de um mínimo de informação sobre nutrição para realizar efetivamente essa contribuição de forma coerente e eficiente.
Considerações finaisEsperamos ter demonstrado eficientemente nesta breve explanação, que a educação física têm forte ligação com a nutrição tanto na área de cunho mais pedagógico e escolar, como no treinamento em esportes, visando alto rendimento ou mesmo a promoção da saúde.
De fato, o estado nutricional é um fator capaz de influenciar na saúde do indivíduo, esta que por sua vez esta diretamente relacionada ao desempenho físico. Se levarmos em consideração que geralmente é através de atividades motoras que o professor de educação física exerce seu papel de pedagogo ou treinador, percebemos que uma má nutrição - seja por falta de alimentos ou informação - pode prejudicar todo o processo pelo qual o Educador Físico exerce seu papel.
Acreditamos que a presença do Nutricionista é invariavelmente insubstituível, indispensável quando tratamos de nutrição. Essa relevante importância poderia ser mais facilmente evidenciada para os Educadores Físicos, se estes tivessem um conhecimento mínimo sobre nutrição. Achamos altamente benéficos os conhecimentos básicos de nutrição para Educadores Físicos. Visto a desobrigação deste conteúdo na formação dos mesmos, acreditamos que a participação de palestras, workshops, fóruns e etc... que possam transmitir tais conhecimentos, são recomendadas.
São recomendadas novas pesquisas e discussões sobre a importância dos conhecimentos de nutrição para Educadores Físicos. A discussão atual sobre o assunto ao nosso ver ainda é insuficiente para a edificação de uma posição consensual.
Referências
ARAÚJO, L. R.; ANDREOLO, J.; SILVA, M. S. Utilização de suplemento alimentar e anabolizante por praticantes de musculação nas academias de Goiânia-GO. Rev. Bras. Ciên. e Mov,. Brasília julho 2002, vol.10, no. 3, p. 13-18. ISSN 0103-1716
BARRETTO, S. A. J.; CYRILLO, D.C. Análise da composição dos gastos com alimentação no Município de São Paulo (Brasil) na década de 1990. Rev. Saúde Pública, fev. 2001, vol.35, no.1, p.52-59. ISSN 0034-8910.
BOOG, M. C. F. Educação nutricional em serviços públicos de saúde. Cad. Saúde Pública, 1999, vol.15 supl.2, p.139-147. ISSN 0102-311X.
COSTA, E. Q.; RIBEIRO, V. M. B.; RIBEIRO, E. C. O. Programa de alimentação escolar: espaço de aprendizagem e produção de conhecimento. Rev. Nutr., set./dez. 2001, vol.14, no.3, p.225-229. ISSN 1415-5273.
KATCH, F. I; MCARDLE, W. D. Nutrição Exercício e Saúde. 4ª ed. Rio de Janeiro/RJ: Editora Médica e Científica, 1996.
LINNEA, A. Nutrição. 17ª ed. Rio de Janeiro/RJ: Editora Guanabara, 1988.
LOLLO, P. C. B.; TAVARES, M. C. G. F. Consumidores de Suplementos Alimentares nas Academias de Campinas, SP, Brasil. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, 19., 2004, Foz do Iguaçu, PR, Brasil.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURAL. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Educação Física. Disponível em:
http://www.mec.gov.br/sesu/ftp/pareceres/13802EdFisica.doc Acesso em: 27 julho de 2004.MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURAL. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem, Medicina e Nutrição. Disponível em:
http://www.mec.gov.br/sesu/ftp/pareceres/113301EnfMedNutr.doc Acesso em: 27 julho de 2004.MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURAL. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem, Medicina e Nutrição. Disponível em:
http://www.mec.gov.br/sesu/ftp/resolucao/0501Nutricao.doc Acesso em: 27 julho de 2004.OLIVEIRA, I. B. N. Estudo epidemiológico da colesterolemia em crianças e adolescentes anêmicos de baixa renda institucionalizados - Londrina-PR Campinas, SP, 2002. Dissertação de mestrado - Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia de Alimentos.
PARR, R.B.; PORTER, M.A.; HODGSON, S.C. Nutrtion knowledge and practice of coaches, treiners, and athletes. Phys. Sportsmed., 12, 127, 1984.
PIPITONE, M. A. P. Programa de alimentação escolar: um estudo sobre descentralização, escola e educadores. Campinas, SP, 1997. Dissertação de Doutorado - Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação.
SANTOS, K. M. O.; BARROS FILHO, A. A. Fontes de informação sobre nutrição e saúde utilizadas por estudantes de uma universidade privada de São Paulo. Rev. Nutr., maio/ago. 2002, vol.15, no.2, p.201-210. ISSN 1415-5273.
SILVA, M. V. Alimentação na escola como forma de atender às recomendações nutricionais de alunos dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPS). Cad. Saúde Pública, jan./mar. 1998, vol.14, no.1, p.171-180. ISSN 0102-311X.
STURION, G. L. Programação de alimentação escolar: avaliação do desempenho em dez municípios brasileiros. Campinas, SP, 2002. Tese de Doutorado - Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia de Alimentos.
WEINECK, J. Treinamento Ideal. 9ª ed. São Paulo/SP: Manole, 1999.
WOLINSKY, I.; HICKSON, J. Nutrição no Exercício e no Esporte. 2ª ed. São Paulo/SP: Roca, 1996.
revista
digital · Año 10 · N° 79 | Buenos Aires, Diciembre 2004 |