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A contribuição da atividade física
no tratamento da depressão
The contribution of the physical activity on the treatment of depression

   
Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício.
LAPE da Universidade do Estado de Santa Catarina.
(Brasil)
 
 
Aretuza Suzay Mattos
Alexandro Andrade
Caroline Di Bernardi Luft

aremattos2002@yahoo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
    O presente estudo procurou identificar a percepção de psiquiatras e professores de educação física atuantes nas clínicas psiquiátricas da Grande Florianópolis quanto à contribuição da atividade física no tratamento da depressão. A amostra foi constituída por 16 psiquiatras e 3 professores de educação física.Os dados foram coletados através de dois questionários que visaram identificar característica, formação, experiência profissional e a percepção dos participantes da pesquisa quanto à influência da atividade física no tratamento da depressão; estes foram tratados pela estatística descritiva verificando freqüência, porcentagem, desvio padrão, média, máximo e mínimo das variáveis. O tempo médio de atuação profissional com pacientes depressivos foi de 1,33 anos para os professores de educação física e de 11,80 anos para os psiquiatras. Dos psiquiatras 93,7% estimulam seus pacientes a prática regular de atividade física e 81,3% percebem que pacientes que praticam exercício regularmente apresentam sintomas, freqüência e intensidade mais leves da depressão que pacientes sedentários. Para os professores a atividade física é percebida como "muito" e "totalmente" capaz de auxiliar o tratamento dos sintomas gerais da depressão. Entretanto, para os psiquiatras, o efeito da atividade física sobre o tratamento dos sintomas psicológicos da depressão é considerado moderado e sobre os sintomas físicos seu efeito foi considerado muito significativo, sendo que a diminuição da insônia se destacou como o benefício mais citado. Para os participantes da pesquisa além de um agente profilático a atividade física é percebida como uma via de auxílio ao tratamento da depressão, sua influencia é considerada de moderada à totalmente significativa.
    Unitermos: Depressão. Atividade Física. Tratamento.
 
Abstract
    To identify the perception of psychiatrists and physical education professors about the contribution of the physical activity to the depression treatment. The sample was constituted by 16 pstchiatrists and 3 psysical education professors working at psychiatrist clinics in the city Florianopolis. The instruments were 2 questionaires that aimed to indentify the characteristics, formation, professional experience and the participants perception about the physical activity influence on the treatment of depression. The data were treated by descriptive statistics (frequency, percentage, mean, standart deviation, maximum, minimun). The medium time of work with depressed patients was about 1,33 years for the physical educators and about 11,8 years for the psychiatrists. Among the psychiatrists, 93,7% stimulate their patients to doing exercises and 81,3% perceive that the patients whose exercise regularly show less simptoms, frequency and intensity of depression than the sedentary patients. The physical education professors perceive the physical activity as "very" or "totally" able to help the treatment of the general simptoms of depression. However, for the psychiatrists, the physical activity effect on the treatment of psychological simtoms of depression was considered "moderate" while the effect on the physical simptoms was considered very significative, being that the insomnia reduction was the most citaded benefit. For the research participants, the physical activity can be considered as a way to help the treatment of depression besides a profilatic agent. The influence of exercise was considered moderate to totally significative by the participants.
    Keywords: Depression. Physical Activity. Treatment.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 79 - Diciembre de 2004

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Introdução

    A depressão é uma doença psíquica que, além de afetar o emocional de um indivíduo tornando-o incapaz de sentir prazer, afeta seu funcionamento fisiológico. É uma das doenças que causam maior índice de incapacitação psico-fisico-social à população geral, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) perderá apenas para as doenças cardiovasculares quanto a esse índice (DEL PORTO, 1999).

    O desenvolvimento de estudos científicos sobre depressão vem sendo importante para a promoção da saúde. Nos últimos 15 anos esses estudos vêm promovendo avanços sistemáticos relacionados ao conhecimento dos substratos biológicos e do tratamento da depressão (BECK,1997).

    A medicação farmacológica antidepressiva apresenta influencias positivas no tratamento da depressão, porém muitos pacientes não aderem ou não persistem a esse tipo de tratamento devido aos seus efeitos colaterais e ao seu alto custo. A falta de acesso e persistência ao tratamento farmacológico aumenta a procura por tratamentos antidepressivos alternativos, como eletroconvulsoterapia, psicoterapia e a atividade física (KATZ, 2003; SILVEIRA, 2001).

    Pesquisas direcionadas à qualidade de vida têm evidenciado cada vez mais a importância da atividade física e do exercício físico à saúde mental. Levantamentos realizados nos EUA e na Inglaterra demonstram que a prática de exercício físico regular apresenta valor terapêutico na redução de sentimentos de ansiedade e depressão (WEINBERG, 2001).

    A atividade física é um importante aliado do tratamento antidepressivo devido ao seu baixo custo e sua característica preventiva de patologias que podem levar um indivíduo a situações de estresse e depressão. Os estudos que relacionam a atividade física à depressão têm verificado que indivíduos que praticam atividade física de forma regular reduzem significantemente os sintomas depressivos (SHARKEY, 1998).

    Este estudo procurou verificar a percepção de Psiquiatras e Professores de Educação Física atuantes em clínicas psiquiátricas da Grande Florianópolis sobre a influência da atividade física no tratamento da depressão. Identificou-se também formação e a experiência destes profissionais, bem como as principais características dos programas de atividade física realizados nestas clínicas.


Método

    Esta é uma pesquisa de campo de caráter quantitativo, realizada nas principais clínicas de internação psiquiátrica da Grande Florianópolis. A amostra foi constituída por 16 psiquiatras e 3 professores de educação física.

    Os instrumentos do estudo foram dois questionários diferentes, um aplicado aos professores de educação física e outro aos psiquiatras. O questionário aplicado aos professores de educação física apresentou questões que procuraram verificar as principais características dos programas de atividade física das clínicas, além das questões comuns em ambos questionários que procuraram identificar a característica, formação, experiência profissional e a percepção dos profissionais quanto à influência da atividade física no tratamento da depressão. A construção dos instrumentos ocorreu a partir de uma revisão de literatura e de entrevistas semiestruturadas realizadas com professores de educação física e psiquiatras atuantes nas clínicas de internação psiquiátrica. A validação e clareza dos instrumentos da pesquisa foram realizadas por 1 Especialista, 2 Mestres e 1 Doutor com comprovada experiência em validação de instrumento de pesquisa. Ambos questionários foram adaptados para este tipo de pesquisa baseando-se na metodologia e formatação utilizadas por Andrade (2001), e aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina.

    Os dados foram tratados por meio de estatística descritiva verificando-se freqüências, porcentagem, desvio padrão, média, valores máximo e mínimo das variáveis.


Resultados e discussão


Caracterização, experiência e formação profissional dos participantes

    Os participantes da pesquisa (PP) pertencem a dois grupos de profissionais atuantes nas clínicas de internação psiquiátrica da Grande Florianópolis, um composto por professores de educação física (n=3), e outro por psiquiatras (n=16), totalizando 19 participantes. A média de idade entre os professores de educação física foi de 31,50 anos (+40 -23; s= 12,02), e no grupo de psiquiatras a média foi de 38,81 anos (+57 - 27; s=8,83). Quanto ao sexo, o grupo de professores de educação física é composto por 1 mulher e 2 homens e entre os psiquiatras encontram-se 3 (18,8%) mulheres e 13 (81,3%) homens. Ambos os grupos se assemelham tanto na média de idade quanto no predomínio do sexo masculino.

    Em relação ao tempo de atuação profissional dos professores de educação física com a população depressiva, a média foi de 1,33 anos (+ 2 - 1; s= 0,57), o mesmo tempo médio da atuação destes nas clínicas. Entre os psiquiatras a média de tempo de trabalho com Pacientes Depressivos (PD) foi de 11,80 anos (32 - 3= 8,72) e a média de tempo de atuação destes profissionais nas clínicas foi de 8,23 anos (+20 -1= 6,89). Percebe-se assim que a atuação do profissional de educação física nesta área é recente. Possivelmente a formação tecnicista, que ainda é muito marcante na formação do Profissional de Educação Física, a dificuldade deste profissional em ser reconhecido como da área da saúde e o próprio preconceito existente à cerca do trabalho com pessoas com distúrbios psiquiátricos são fatores que contribuam tanto para a falta de experiência como para o baixo número de professores de educação física atuantes na área da saúde mental (ROEDER, 2001).

    Quanto ao nível acadêmico, 15 (79%) dos PP possuem especialização, sendo que 12 (75%) dos psiquiatras e os 3 (100%) professores de educação física possuem este título acadêmico. Vale ressaltar que as especializações obtidas pelos professores de educação física não estão ligadas a área da saúde mental, situação esta justificada pelos profissionais de educação física em decorrência da escassez de cursos com temas de ligação entre atividade física e saúde mental. Desta forma a falta de conhecimento científico sobre saúde mental aliada ao pouco tempo de experiência prática destes profissionais nesta área pode ser um dos fatores determinantes da falta de um conhecimento mais amplo e reconhecido sobre os benefícios psicológicos da atividade. Percebesse ainda a necessidade de um maior número de profissionais de educação física com conhecimento específico que relacione atividade física e saúde mental e que possam orientar academicamente pesquisas e profissionais que atuam ou pretendam atuar nesta área.


Percepção de psiquiatras sobre o efeito da atividade física no tratamento antidepressivo.

    A maioria dos psiquiatras percebe que a atividade física auxilia "de moderadamente a totalmente" o tratamento da depressão. De acordo com este grupo as variáveis que são moderadamente ou muito melhoradas com a prática da atividade física regular são: a melhoria da estabilidade emocional, a imagem corporal positiva, o aumento da positividade e autocontrole psicológico, a melhora do humor, a interação social positiva, a diminuição da insônia e da tensão (tabela 1).

Tabela 1. Efeito da atividade física sobre o tratamento antidepressivo segundo a percepção
de psiquiatras atuantes nas clínicas psiquiátricas da Grande Florianópolis (n=16).

    Pela avaliação dos psiquiatras os principais efeitos antidepressivos da atividade física estão associados aos sintomas físicos da síndrome, onde a diminuição da insônia foi a variável mais citada pelos psiquiatras (Gráfico 1).

Grafico1. Sintomas relacionados à depressão citados como amenizados pela atividade física na percepção dos psiquiatras.

    O exercício físico tem tido uma importante participação no tratamento da depressão. A atividade física proporciona benefícios físicos e psicológicos como a diminuição da insônia e da tensão, e o bem estar emocional, além de promover benefícios cognitivos e sociais a qualquer indivíduo (KATZ, 2003; OLIVEIRA, 2004). Alguns estudos indicam que o efeito antidepressivo da atividade física pode ser verificado rapidamente, sendo que 3 semanas de algumas seções regulares são suficientes para se perceber a melhora no estado de humor em pacientes com depressão subclínica (BYRNE, 1993;CRAFT, 2004).

    Tanto nos dados obtidos através desta pesquisa como na literatura, percebe-se que na prática profissional o exercício físico é reconhecido como eficaz à saúde mental. Entretanto, as bases científicas ainda não obtiveram dados conclusivos que expliquem o mecanismo do seu efeito antidepressivo (SILVEIRA, 2001), talvez por isso, apesar dos psiquiatras perceberem uma influência positiva sobre todas as variáveis da questão, um baixo número de psiquiatras atribuiu total efeito antidepressivo à atividade física.

    Percebe-se também através dos dados da tabela 1, que a percepção de "nenhum efeito" da atividade física prevaleceu sobre os sintomas psicológicos da depressão. Este dado coincide com um estudo realizado por USTRA et al. onde foram avaliados os sintomas da depressão amenizados pela prática regular de atividade física e pela medicação farmacológica em 20 mulheres depressivas. Os resultados desta pesquisa mostraram que a atividade física influenciou mais os sintomas somáticos e que os medicamentos foram mais positivos relacionados aos sintomas psíquicos (USTRA et al, 1999).

    Entretanto, estudos atuais, que relacionam a atividade física à depressão, mostram que indivíduos ativos fisicamente reduzem significantemente os sintomas psicológicos da síndrome (SHARKEY, 2001). Andrade (2001) verificou através de seu estudo sobre controle subjetivo do estresse em bancários ativos e sedentários que estes últimos apresentam em geral hábitos que lhes proporcionam maior propensão ao estresse. Percebendo o estresse como um fator determinante sobre a qualidade da saúde mental e a atividade física como uma via de liberação do "estresse acumulado" no dia-a-dia, criam-se hipóteses ligando atividade física ao bem-estar psicológico.

    Embora os efeitos psicológicos da atividade física estejam sendo percebidos através de uma ligação indireta, algumas pesquisas tentam validar seu efeito direto sobre os aspectos emocionais. A prevalência de resultados dos efeitos positivos da atividade física sobre a depressão e ansiedade faz com que aumente o interesse em pesquisas nesta área, entretanto a principal dificuldade metodológica destes estudos esta em isolar as variáveis de fatores ambientais que podem influenciar a recuperação de em quadro depressivo (HUGHES, 1984; LAWLOR e HOPKER, 2001; SALMON, 2001).

    Quanto à participação da atividade física no tratamento antidepressivo verificou-se que dos 16 psiquiatras, 15 (93,7%) estimulam seus pacientes à prática de atividade física regular e 13 (81,3%) percebem diferença de sintomas, freqüência e intensidade da depressão entre pacientes ativos e sedentários. Embora os Psiquiatras da pesquisa tenham se apresentado conscientes dos benefícios da atividade física ao tratamento, apenas 2 (12,5%) indicam a seus pacientes que procurem um Profissional de Educação Física para lhes orientar. Os demais psiquiatras indicam uma atividade física ou somente falam sobre os benefícios que ela pode proporcionar ao tratamento. Isto ocorre provavelmente pela falta de afirmação do Profissional de Educação Física no tratamento em saúde mental. Porém, este fato não se justifica, pois este é o único profissional habilitado para prescrever atividade física (ROEDER, 2001).

    Quanto ao trabalho interdisciplinar entre os psiquiatras e os professores de educação física das clínicas, verificou-se que 5 (31,3%) dos psiquiatras mantém contato profissional com os professores de educação física atuantes na clínica. O pouco número de psiquiatras que estimulam a prática de atividade física orientada e que mantém contato profissional com os professores de educação física das clínicas indica que o trabalho interdisciplinar entre estes profissionais ainda pode ser dinamizado e melhorado. Atualmente é amplamente considerado o trabalho do profissional de educação física na manutenção da saúde (MATSUDO, 2003). A interdisciplinaridade, não apenas entre profissionais de educação física, mas também entre toda equipe do processo de recuperação do paciente com esse transtorno mental, é fundamental pois percebesse que a literatura traz a atividade física, bem como a farmacologia e a psicoterapia como redutores dos sintomas depressivos (SILVEIRA, 2001). Através desta perspectiva observa-se a importância do relacionamento interdisciplinar do profissional de educação física com o psiquiatra, pois apesar do tratamento da depressão só poder ser realizado através do diagnóstico e acompanhamento psiquiátrico, ao professor de educação física está reservada a orientação da atividade física, um dos meios para que se atinja a saúde mental e física afetadas pelos sintomas da depressão (ROEDER, 2001).


Percepção dos professores de educação física sobre o efeito da atividade física no tratamento antidepressivo.

    Para os professores de educação física a atividade física concentra-se na capacidade exercer "moderados" e "totais" efeitos sobre o tratamento da depressão. Observa-se que para os professores das clínicas a atividade física proporciona "total efeito" sobre a imagem corporal, positividade psicológica, diminuição de tensão e interação social; e "muito efeito" sobre a melhora do humor e sentimento de auto-eficácia para a realização de tarefas diárias (tabela2).

Tabela 2. Efeito da atividade física sobre o tratamento antidepressivo segundo a
percepção de professores atuantes nas clínicas psiquiátricas da Grande Florianópolis (n=3).

    A imagem corporal é a maneira que o indivíduo percebe seu próprio corpo, podendo ser distorcida em conseqüência de distúrbios psiquiátricos, traumas emocionais ou físicos ou por algum tipo de deficiência (mental ou física) (TAVARES e CONSOLAÇÃO, 2003). Analisando as variáveis em que o efeito da atividade física foi percebido como "total efeito", pode se considerar que existe uma ligação entre a melhoria da imagem corporal e os aspectos físicos, psicológicos e sociais. Talvez por isso estes participantes percebam a melhora conjunta destas variáveis através da atividade física. A construção da imagem corporal não é afetada pela depressão apenas por ser um distúrbio psíquico, mas também pelas disfunções sociais, psicológicas e fisiológicas ocasionadas por ela (SHARKEY, 1998). A auto-percepção corporal vive em constante desenvolvimento, onde o movimento é um dos aspectos fundamentais para a organização desta. A terapia corporal amplia os meios de interação do indivíduo consigo e com seu meio, facilitando sua atuação em situações conflitantes, pois, "reconhecendo nossos aspectos positivos e negativos e incorporando muitas percepções de relações satisfatórias com o mundo, vamos reconhecendo, aceitando e aprendendo a lidar cada vez melhor com a vida em condições favoráveis e desfavoráveis aos nossos desejos" (TAVARES e CONSOLAÇÃO, 2003, p.133).


Características dos programas de atividade física realizados nas clínicas de internação psiquiátrica da Grande Florianópolis

    Duas das três Clínicas de Internação Psiquiátrica da Grande Florianópolis oferecem programas de atividade física aos seus pacientes como auxiliar ao tratamento antidepressivo.

    O número de professores de educação física profissionais que atuam nas clínicas é de 1 na clínica A e 2 na clínica B, portanto, apenas 3 professores de educação física atuam nesta área na região da Grande Florianópolis.

    Quanto ao parâmetro utilizado para a construção do planejamento das atividades físicas, as respostas foram a individualidade, a composição do grupo e a interação destas duas variáveis. Os 3 professores citaram realizar uma avaliação diagnóstica de caráter clínico antes de cada paciente iniciar o programa.

    A literatura indica que o respeito pela individualidade de cada paciente é um aspecto relevante à escolha da intensidade das atividades psicomotoras, prevenindo assim situações que possam aumentar os problemas clínicos existentes (ROEDER, 2001). A avaliação diagnóstica de cada paciente é imprescindível para que o professor saiba quais suas limitações e necessidades, garantindo a construção de um programa que atinja os objetivos do tratamento antidepressivo.

    A freqüência semanal das aulas dos programas analisados foi de 3,33 vezes (+ 5- 2; s= 1,53), e a duração das aulas de 63,3 minutos (+90-40; s= 25,16). Os 2 professores que apresentaram a menor de freqüência semanal de aulas, justificaram-se devido à disponibilidade de tempo e ao número de alunos. A média de freqüência e duração das atividades físicas dos programas das clínicas está dentro de um padrão favorável ao tratamento antidepressivo. De acordo com alguns estudos, os exercícios moderados com duração de 30 minutos e com freqüência de três vezes por semana podem ser tão eficazes quanto à psicoterapia no tratamento da depressão, seu efeito pode ser tranqüilamente comparado ao efeito da psicoterapia individual, da psicoterapia em grupo e da psicoterapia cognitiva, sobre os sintomas da depressão leve e moderada (TKACHUK e MARTING, 1999).

    Os efeitos antidepressivos do exercício físico são percebidos em vários estudos, mas embora a maioria destes sejam realizados com exercícios aeróbios como a caminhada, Martinsen, Hoffart e Solberg (2001) citam que estes efeitos também podem ser atribuídos aos exercícios anaeróbios.

    Os resultados referentes às características dos programas chamam atenção para o alto valor do desvio padrão da duração das aulas; isto pode ser resultado da dificuldade ainda encontrada de se medir e padronizar quanto e como o exercício físico trará mais benefícios à saúde psicológica, aproximando-se de um programa terapêutico específico a essa finalidade. Vários processos têm sido hipotetizados para medir os benefícios psicológicos do exercício físico, mas nenhum vem sendo adequadamente testado (HUGHES, 1984).

     Verificou-se a existência de uma insuficiência de padronização de exercícios e de estratégias metodológicas utilizada pelos profissionais de educação física. Isto parece ser mais uma conseqüência da falta de experiência e da necessidade de maior conhecimento do Profissional de Educação Física quanto a relação atividade física e depressão considerando diferentes intensidades, tipo de atividades, duração relacionada aos diferentes diagnósticos de depressão. Por isso se torna importante a projeção de futuros estudos científicos que procurem fundamentar e padronizar exercícios, freqüência, duração, intensidade que auxiliem no tratamento antidepressivo. Além desta padronização, processos de avaliação tanto para diagnosticar as necessidades como para verificar os resultados obtidos através da prática regular de atividade física devem ser estudados e aplicados para que se justifique sua importância.

    Os principais objetivos dos programas de atividade física das clínicas são promover mudanças positivas nos problemas psíquicos e fisiológicos causados pela depressão (tabela 3). Tabela 3. Objetivos dos programas de atividade física realizados na clínica em relação ao tratamento antidepressivo, na percepção dos professores de educação física (n=3). Gif04

    O movimento corporal trabalhado através das relações entre o indivíduo e seu ambiente, bem como pela aquisição do equilíbrio das dimensões morfológicas, funcional-motora, fisiológica, sensorial e comportamental, auxilia na redução dos sintomas da doença mental, resultando na melhora da qualidade de vida por proporcionar bem-estar pessoal e melhorando principalmente a saúde emocional (ROEDER, 2001).

    Embora a falta de suporte metodológico dos estudos dificulte a validação completa das conclusões sobre os benefícios da atividade física no tratamento antidepressivo, Lawlor e Hopker (2001) verificaram através de uma revisão de literatura que a maioria dos estudos concluíram que a atividade física pode reduzir os sintomas da depressão. O exercício físico associado a um programa de tratamento cognitivo-comportamental promove mudanças positivas como a melhora do estilo de vida, aumento da força de vontade, sensação de bem-estar e alto-eficácia (CRAFT, 2004).

    Apesar da dificuldade em se avaliar o efeito da atividade física no tratamento da depressão de maneira isolada, ela se mostra como um importante agente auxiliar em um tratamento antidepressivo que envolva outras intervenções terapêuticas. Conclusão

    De maneira geral a atividade física é percebida pelos participantes da pesquisa como uma via de auxílio ao tratamento da depressão. Apesar de não atribuírem a ela a capacidade isolada de tratar a depressão, ambos profissionais a percebem como um agente profilático e capaz de influenciar muito de maneira positiva, os sintomas fisiológicos e psicológicos, e as conseqüências sociológicas da doença. Destaca-se na percepção dos Psiquiatras a influencia positiva da atividade física no tratamento dos sintomas físico em supressão aos sintomas psicológicos, onde a diminuição da insônia foi o aspecto mais relacionado com os benefícios da atividade física regular.

    Além da melhora da maioria dos sintomas da depressão os psiquiatras percebem ainda que os sintomas, freqüência e duração da depressão são menores em pacientes que praticam atividade física regularmente em comparação com os que não praticam.

    Em relação aos professores de educação física, verificou-se que apesar de se mostrarem certos quanto aos efeitos benéficos da atividade física no tratamento antidepressivo, a carência de conhecimento científico e experiência prática sobre a área da saúde mental fazem que estes profissionais apresentem certa insegurança e dificuldade em estabelecer métodos de avaliação, objetivos, duração, freqüência e tipos de atividade física pertinentes a essa área da saúde mental.

    Na percepção de psiquiatras e professores de educação física, a prática regular de atividade física beneficia o tratamento da depressão, entretanto, mais estudos são necessários acerca da influência da atividade física neste tratamento para que se de maior suporte a formação de profissionais de educação física e para que se estabeleça uma metodologia aos programas de atividade física (freqüência, duração intensidade) direcionada aos objetivos do tratamento da depressão.


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