Análise do potencial mercantil do basquete brasileiro | |||
*Mestrando em Ciências Sociais Aplicadas - UEPG **CEFET-PR - Unidade de Ponta Grossa (Brasil) |
Edson Hirata* Dr. Luiz Alberto Pilatti** ehirata@cm.cefetpr.br |
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Resumo |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 79 - Diciembre de 2004 |
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Introdução
O esporte moderno passou, desde a sua origem, por várias transformações e a mais recente delas impôs características mercantis ao mesmo. Essa mercantilização do esporte é decorrente do desenvolvimento dos meios de comunicação de massa e da expansão da indústria do entretenimento.
De um lado, o progresso tecnológico dos meios de comunicação de massa possibilitou que as informações chegassem a um maior número de pessoas, nos pontos mais remotos do planeta e em tempo real. Do outro, a necessidade de ocupação do tempo livre do ser humano criou a indústria do entretenimento. O esporte, ao lado da música e do cinema, ocupa um lugar de destaque nesse meio.
Nasce, nesse cenário, o esporte-espetáculo. Esse fenômeno foi objeto de estudo de renomados sociólogos, em especial de Norbert Elias e Pierre Bourdieu. Utilizando a base teórica desses autores, surgiram várias teses de doutoramento1, mas ainda assim, os pesquisadores não apresentaram uma reflexão aprofundada acerca do basquete e para tentar preencher parte dessa lacuna, o objetivo deste estudo foi apresentar indicadores que sirvam como parâmetro para avaliar o atual potencial mercantil do basquete brasileiro.
O estudo utilizou uma abordagem qualitativa, valendo-se da pesquisa bibliográfica. A análise dos dados baseou-se na proposta tipológica de DI GIOVANNI, GEBARA e PRONI para encontrar o perfil mercantil do basquete brasileiro.
Esporte-espetáculo: o jogo está começandoUm texto escrito pelo economista Marcelo Weishaupt Proni, intitulado "Marketing e organização esportiva: elementos para uma história recente do esporte-espetáculo"2 apresenta informações que contribuem para a elaboração de um cenário inicial para essa análise. PRONI (1998) inicialmente demonstra a importância do marketing esportivo e o seu desenvolvimento, perpassando os casos de patrocínio esportivo, de comercialização e organização de eventos e licenciamento de produtos.
O autor relata experiências bem-sucedidas na área de gestão empresarial esportiva, envolvendo a Fórmula 1, o futebol profissional, o tênis e o boxe, todavia PRONI (1998) se detém na análise da NBA, citando-a como modelo de organização profissional e é nesse viés que esse estudo se ateve.
O autor acredita que o cumprimento do horário dos jogos, o compromisso com o entretenimento dos torcedores e a especial atenção à imprensa são os baluartes do sucesso do campeonato profissional norte-americano. Outro aspecto que aumenta o interesse do público é a competitividade entre as equipes, que é garantida pelo ranqueamento dos melhores jogadores e pelo respeito aos tetos salariais, que impedem que uma equipe monopolize os melhores atletas. Além disso, o 'draft', sistema de recrutamento de atletas universitários, obedece a um sorteio e exclui as equipes finalistas de conferência.
É importante perceber também a maneira como PRONI (1998) entende as dificuldades em transferir o modelo americano para a nossa realidade.
O "estilo NBA" de marketing tem ainda servido de modelo para verdadeiras "reengenharias" em ligas de outras modalidades esportivas nos EUA. Mas, embora o esporte profissional norte-americano seja um modelo de marketing e organização esportivos, no plano internacional as diferenças em termos de situação jurídica dos clubes, ordenamento político institucional das federações e grau de profissionalização de cada modalidade, entre outras, fazem que apareçam experiências distintas de reformulação do esporte-espetáculo. (PRONI, 1998, p. 79)
Esse modelo de organização e marketing podem ser verificados parcialmente no sítio oficial da NBA3, onde se percebe traços mercantis e organização exemplar. Na página, é possível adquirir camisetas, bonés, jaquetas, adesivos, flâmulas e outros adereços das equipes. Também estão disponíveis ingressos, vídeos e fotos de jogos ou específicos de jogadores. Além disso, é possível encontrar informações variadas, tais como: estatísticas dos jogos, entrevistas com jogadores, programação do campeonato e histórico das equipes e da própria liga.
Um indício da globalização e da busca por novos mercados é visível na oferta de páginas específicas da NBA para países como a China , Brasil, Canadá, França, Alemanha, Inglaterra, Taiwan. As equipes oferecem também sítios em diferentes idiomas, em especial as equipes que contam com jogadores estrangeiros. A equipe do Denver Nuggets, do brasileiro Nenê Hilário, tem um em português, aparentemente com o intuito de atingir o público brasileiro e aumentar o seu mercado consumidor.
Outro indício desse intento, localizado nessa mesma página, é o projeto BASKETBALL WITHOUT BORDERS, que poderia ser traduzido para o português como Basquete sem fronteiras. Esse projeto objetiva realizar clínicas com atletas e técnicos de diferentes países, em três continentes - Europa, América do Sul e África - sob a condução de técnicos, dirigentes e atletas de equipes da NBA. O sítio indica que o objetivo do projeto é proporcionar amizade, boa vontade e educação para os jovens através do esporte, porém nas entrelinhas talvez estejam pequenas pistas que conduzam a tentativa de encontrar novos nichos de mercado para a NBA.
Existem outros estudos que fornecem dados relevantes acerca da profissionalização do esporte e parece importante relatar um em especial, que pelo tipo de análise contribui significativamente para o entendimento das tendências futuras da mercantilização do esporte.
O estudo de KEARNEY (2003)4 aponta o esporte como o segmento da indústria do entretenimento de crescimento mais veloz e indica valores vultuosos e promissores para os setores do esporte profissional. Estima-se que a receita direta desse setor alcance 73 bilhões de dólares em 2005, isso sem contabilizar os benefícios dos segmentos afins, como o turismo, a publicidade, os equipamentos, roupas, "games", e alimentação.
Essas receitas são geradas em sua maior parte por três categorias tradicionais: a venda de ingressos, os direitos de transmissão e o patrocínio. Entretanto, o estudo alerta que apesar de serem formas tradicionais de receitas, o seu crescimento está ligado à táticas não convencionais e estratégias inovadoras de administração.
A venda de ingressos nos Estados Unidos, por exemplo, tem procurado atender um tipo diferente de torcedor, para tanto criou camarotes VIP nos estádios, atendendo uma demanda das grandes corporações que utilizam esse espaço para agradar seus parceiros. Os camarotes comuns também são muito requisitados e a procura por esse tipo de comodidade está longe de se extinguir.
Os valores dos ingressos também tem aumentado contínua e consideravelmente e isso modifica o perfil do público freqüentador dos estádios e ginásios. Agora, os torcedores esperam receber um pacote de entretenimento de qualidade que envolva diversão antes, durante e depois do jogo. Todavia, as organizações esportivas devem lembrar que a base dos ganhos de cada equipe virá sempre do torcedor fiel e tradicional, aquele que assiste todos os jogos, que acompanha os noticiários que envolvam sua equipe e que freqüentemente está envolvido em discussões acerca do jogo da noite anterior.
A segunda categoria que mais gera receita é a venda dos direitos de transmissão. Essa modalidade, segundo KEARNEY (2003), sofrerá um possível queda, uma vez que os contratos de longo prazo deixarão de ser feitos em virtude do atual elevado e superestimado custo. Para combater essa queda de rendimentos faz-se necessário a descoberta de meios inovadores de distribuir esse conteúdo e a Internet aparece como uma opção a ser considerada. Um local onde os visitantes possam comprar arquivos de áudio e vídeo digitais.
O autor lembra que a chave para aumentar receita é atrair mais público e uma das maneiras consiste em alongar as fronteiras existentes. O projeto "Basketball without borders" talvez seja um bom exemplo dessa tentativa de encontrar novos mercados.
O patrocínio é a terceira fonte tradicional de receitas das organizações esportivas profissionais. Ele também tem sentido o aumento dos investimentos das empresas, mesmo sem as mesmas procurar quantificar o retorno sobre o investimento. Porém, essa prática está sendo posta de lado, substituída pela cobrança de uma prestação de contas do patrocínio com o intuito de auxiliar as empresas a compreender como o patrocinado pode auxiliá-lo a atingir seus objetivos.
Modelo de análise do perfil mercantil do esporte brasileiroUm estudo que pode auxiliar a situar melhor o basquete brasileiro frente a esse fenômeno de mercantilização do esporte é a pesquisa "Dimensões Econômicas do Esporte no Brasil5", desenvolvida por DI GIOVANNI, GEBARA e PRONI (1995) e financiada pelo Ministério da Educação e do Desporto.
Esse estudo, em especial, o terceiro capítulo, propõe a compreensão estrutural das formas de organização e difusão dos diferentes esportes no Brasil, através de uma análise tipológica das principais modalidades esportivas.
A primeira classificação tipológica que os autores defendem é a distinção dos esportes populares coletivos, dos populares individuais, de elite praticados em clube e de elite praticados na natureza. Entretanto, os mesmos admitem que ela é insuficiente e por vezes incongruente, uma vez que existem esportes que não podem ser explicados por essa lógica.6
Procurando incrementar a análise e estruturar uma tipologia que possibilite distinguir grupos relativamente homogêneos frente à lógica organizacional e às formas de difusão e exploração mercantil, os autores utilizaram dois critérios para agrupar as modalidades em destaque no Brasil: o "grau de profissionalização" e o "tipo de estratégia de expansão mercadológica".
O grau de profissionalização, para os pesquisadores, não é definida apenas pela natureza amadora ou profissional do vínculo do atleta com a prática. A dimensão proposta é mais ampla:
[...] remete ao funcionamento de toda a estrutura criada em torno da disputa de uma modalidade esportiva. O grau de profissionalização depende da capacidade que uma liga ou federação possui para organizar um calendário anual e comercializar seus principais eventos: dependa da forma como se estruturam as equipes ou os atletas em relação às condições de treinamento e preparação para as competições; e depende também da natureza do financiamento requerido para a realização de torneios de âmbito regional e/ou nacional. (DI GIOVANNI et al., 1995, p. 48)
Portanto, para esses autores, o fato dos atletas, receberem salários, treinarem diariamente e se dedicarem exclusivamente a modalidade, não garante a mesma o status de profissional. Esse perfil depende também do estilo de gestão administrativa das federações estaduais e da confederação, bem como dos clubes filiados a elas.
Quanto ao segundo critério, o da expansão mercadológica, os pesquisadores consideram que cada modalidade esportiva é potencialmente capaz de mercantilizar uma prática e produzir espetáculos. Nessa linha de pensamento, é possível que esportes com características semelhantes apresentem diferenças em suas estratégias de difusão da prática e ampliação de mercados consumidores, bem como de modo inverso, esportes de características diferentes se aproximem em suas táticas.
Com base nesses parâmetros e na forma como os esportes estão estruturados na sociedade brasileira, os autores propuseram quatro grupos de modalidades esportivas no Brasil: esporte-espetáculo, esporte de patrocínio, esporte de academia e esportes radicais. Na seqüência, podem ser observadas as características de cada um dos grupos, bem como exemplos de modalidades pertencentes a cada grupo.
O esporte-espetáculo inclui modalidades que estão basicamente estruturadas para a produção e comercialização de eventos esportivos, porém "implica a existência de uma organização administrativa e financeira bem estruturada e de um público relativamente fiel, que garanta uma relação econômica permanente com os meios de comunicação de massa." (DI GIOVANNI et al., 1995, p.50). Os autores citam como exemplos: futebol, vôlei, basquete, boxe, tênis e automobilismo.
O esporte de patrocínio, que inclui o atletismo, natação, judô, motociclismo e iatismo, não faz parte da programação cotidiana da televisão, mas possui um espaço razoável nos noticiários esportivos, que possibilita boas chances de marketing esportivo.
Halterofilismo, aeróbica, caratê e kung fu foram os exemplos citados como esporte de academia. Nessa categoria, predomina a relação ensino-aprendizagem e a busca de benefícios para a saúde, estética e defesa pessoal.
Por fim, os pesquisadores incluem o skate, o surfe, windsurfe, mountain bike e a asa delta como esportes radicais. Essas modalidades atraem um grupo específico de praticantes, geralmente amadores, de performances arriscadas ou de alto grau de dificuldade. Suas características possibilitam a sua espetacularização, aparentemente dificultada pela falta de organização federativa e de vínculo com a mídia especializada.
Os autores chamam a atenção para o caráter preliminar dessa tipologia, que ainda não possibilita enquadrar a totalidade dos esportes praticados no país e para o seu caráter dinâmico, que possibilita que as tendências atuais possam se transformar e dessa maneira, alguns esportes classificados em uma categoria num dado momento poderiam começar a ser vistos em outra, noutro momento.
Apesar dessas duas primeiras classificações tipológicas propostas pelos pesquisadores, a linha de força desse estudo está na análise do potencial mercantil das modalidades baseadas em três parâmetros: grau de profissionalização, grau de exposição na mídia e grau de competitividade internacional. A relação entre esses parâmetros e o potencial mercantil das modalidades pode ser melhor compreendido pelo exposto no quadro 1.
Quadro 1.
Os pesquisadores baseados em sua experiência face à realidade esportiva brasileira classificaram o basquete como uma modalidade de médio grau de profissionalização, alta exposição na mídia e médio grau de competitividade internacional. Os dados empíricos descritos a seguir intentam verificar a credibilidade da análise acima.
Grau de profissionalizaçãoO atual presidente da Confederação Brasileira de Basketball concedeu uma entrevista ao sítio oficial dessa entidade7 e o seu relato sobre as suas expectativas em relação à Liga Nacional de 2004 colabora na construção de um cenário de um esporte profissional, com indícios de espetacularização:
Com certeza será uma competição equilibrada e ainda melhor que as anteriores. Teremos as 16 melhores equipes do país envolvendo 15 cidades de sete estados, e um representante do Distrito Federal, o Universo/DF, campeão da 7ª Supercopa Brasil. Na área de estatística teremos algumas novidades, que serão anunciadas na apresentação do Campeonato. Pelo nono ano consecutivo, o Sportv irá transmitir as principais partidas de cada rodada. Este ano teremos a volta da TV aberta, com jogos ao vivo todos os domingos, às 11 horas, na Rede TV. Com os canais aberto e fechado, o basquete se torna (depois do futebol) o esporte com o maior abrangência e visibilidade na televisão brasileira, garantindo um produto de retorno e investimento certos.
Bosikis informa a volta da transmissão de jogos da Liga Nacional de Basquete pela TV aberta, que por um lado demonstra que a modalidade está ganhando novos espaços na mídia, mas que em contrapartida, contribui na argumentação de que o basquete não tinha uma visibilidade significativa nos meios de comunicação de massa até então.
Nessa mesma entrevista, Bozikis salienta os intuitos mercantis que a entidade administradora do basquete brasileiro possui, através de um exaltação das qualidades do esporte e das oportunidades de negócios que ele permite.
Fico feliz em estar à frente desse esporte, que tem mais de 70 anos de história repleta de conquistas olímpicas e mundiais. O basquete tem ídolos que jamais serão esquecidos, novas e promissoras gerações e ainda conta com a paixão do povo brasileiro. Com esse cenário, o nosso esporte se torna um negócio promissor. As empresas privadas e públicas vão encontrar em nossos eventos uma forma de unir a emoção que o basquete transmite à uma ampla exposição e fixação de suas marcas. Não deixem de conferir no nosso site o calendário, com a programação das seleções brasileiras e das competições nacionais e internacionais até 2012. Que o ano de 2004 seja de ouro para o basquete brasileiro.
Outra forma de avaliar o grau de profissionalização da Confederação Brasileira de Basketball seria comparar a página eletrônica dessa entidade com o modelo americano. Essa comparação demonstra que os mesmos tem características distintas em vários pontos. O sítio nacional não apresenta indício mercantil, ou seja, não é possível comprar ou adquirir algum produto proveniente das equipes de basquete ou do campeonato. A ênfase da página é apenas informativa. Uma porcentagem elevada é destinada à informações das seleções nacionais e das atividades promovidas pela própria confederação, em especial às participações dos selecionados nacionais nos torneiros internacionais e os resultados da Liga Nacional.
Essa ausência de traços mercantis deve-se ao fato que a Liga Nacional não apresenta uma organização que possibilite a compra de ingressos on-line e mesmo que tivesse, talvez essa cultura de aquisição via Internet ainda esteja não exista no Brasil, ou apenas esteja nascendo no país. Os adereços com logotipos ou mascotes dos clubes também não são uma mercadoria com uma demanda significativa e portanto talvez não haveriam interessados em adquiri-los via Internet.
De posse desses dados, parece correta a indicação dos pesquisadores DI GIOVANNI, GEBARA e PRONI (1995) de que o basquete estaria em um grau mediano de profissionalização, entretanto aparentemente existe indícios de movimentação em direção a uma elevada profissionalização.
Grau de exposição na mídiaA palestra do publicitário Paulo César Roxo RAMOS (1996) no Seminário INDESP de Marketing Esportivo8 abordando o apoio da Caixa Econômica Federal ao esporte fornece alguns dados importantes para servirem de parâmetro para análise do grau de exposição do basquete na mídia. A primeira consideração importante para esse trabalho, diz respeito aos valores encontrados para a preferência e expressividade dos esportes no Brasil. Como esperado, o futebol é considerado o melhor instrumento de marketing com 65,5% de preferência, seguido do Voleibol com 6,3% e do Basquete com 3,2%. Esses números parecem relevantes, principalmente se percebermos que existe uma possibilidade de crescimento.
RAMOS (1996) oferece outro dado importante, que diz respeito ao número de horas que as cinco principais emissoras brasileiras destinam ao esporte diariamente. Sua descrição salienta que aos domingos esse indicador alcança quase trinta horas, e, no sábado, vinte e cinco horas. Baseado nisso, é possível perceber que o esporte é um segmento considerado importante como entretenimento no tempo livre do brasileiro.
Entretanto, a riqueza da palestra de RAMOS (1996) para essa pesquisa está na sua análise do patrocínio da Caixa Econômica Federal ao Basquete (CEF)9. O publicitário relata que a política governamental de apoio ao esporte e o entendimento que é interessante a ligação com um esporte de massa conduziu a parceria com o basquete. A escolha do basquete como um dos carros-chefes dos seus investimentos foi baseada no histórico da modalidade, portadora de uma série de títulos, o forte apelo popular e o potencial de crescimento que possui.
RAMOS (1996) comenta o sucesso do investimento ao citar as cifras do retorno publicitário, que também demonstram indiretamente o grau de exposição do basquete brasileiro na mídia:
[...] em 1994, nós investimos cerca de 2 milhões de reais nas seleções masculinas e femininas e associada a preparação dessas equipes e a participação em uma série de eventos, inclusive no Campeonato mundial, cuja seleção brasileira feminina conquistou um título inédito, que foi a conquista do Mundial. A Caixa investiu cerca de 2 milhões e obteve um retorno de 29, ou seja 1450% de retorno. (p. 138-9)
Para RAMOS (1996), esse elevado retorno aconteceu graças a algumas ações, tais como: a impressão da marca da CEF ao lado da inscrição "patrocinadora oficial do basquetebol brasileiro" em toda a papelaria da CBB, o nome do patrocinador em premiações e eventos organizador por essa confederação, posições nobres em caso de transmissões por TV, direito do uso de imagem dos atletas, ingressos, distribuição de camisetas e organização da torcida e a utilização do sistema de som e de recursos audiovisuais do local do evento. Além disso, as promoções Cesta Milionária e o Passaporte Mundial9 contribuíram enquanto ações de divulgação.
Apesar dos pesquisadores terem sugerido que o basquete tem uma elevada exposição midiática, parece haver ainda a necessidade dela se tornar ainda mais expressiva para alavancar a mercantilização de vários aspectos ligados ao basquete, ou seja, uma maior exposição aumentaria a possibilidade de conseguir patrocinadores, os atletas estariam em maior evidência, o público e os consumidores poderiam ser atraídos com mais facilidade, enfim, o produto basquete teria mais competitividade.
Grau de competitividade internacionalA conquista de títulos internacionais exerce um efeito positivo sobre as condições de mercantilização de uma modalidade, uma vez que eleva o interesse do público pela modalidade e aumenta o grau de exposição na mídia. Esse fenômeno pôde ser muito bem observado com dois expoentes esportivos nacionais recentes: o tenista Gustavo Kuerten e a ginasta Daiane dos Santos10.
A verificação do nível de competitividade internacional de um selecionado de um país depende da análise dos resultados desse selecionado nos eventos mais importantes da modalidade. No caso do basquete, os Jogos Olímpicos e os Campeonatos Mundiais podem ser considerados como ponto de referência para essa análise. Os campeonatos continentais também poderiam ser destacados, porém a divulgação de Campeonatos Sul-Americanos e Jogos Pan-Americanos é bastante restrita.
Nesse ponto, verificou-se que o basquete brasileiro masculino detém uma certa tradição, afinal são dois títulos mundiais, em 1959 e 196311 e duas medalhas de bronze em Olimpíadas, em 1960 e 1964. Entretanto, ao resgatar os melhores resultados obtidos nos últimos 20 anos, verificou-se que os selecionados brasileiros ficaram bem distantes da luta pelas medalhas, pelo contrário, foram inclusive excluídos das edições olímpicas de 2000 e 200412. Talvez o fato marcante desse período tenha sido a conquista do Pan Americano de Indianapolis, em 1987, que teve uma cobertura ampla e é sempre lembrada pelos cronistas esportivos.
No basquete feminino, o contexto parece ser distinto. O resgate histórico demonstra um país com uma trajetória de conquistas recentes e de um passado com poucos resultados expressivos. A seleção brasileira feminina apresenta no seu currículo o título de campeã mundial em 1994, vice-campeã olímpica em 1996, bronze em 2000 e quarto lugar no Campeonato Mundial em 199813. A medalha de bronze em 1971 foi o melhor resultado das gerações anteriores. A princípio, esses resultados denotam uma elevada competitividade internacional.
Essa tradição e essas conquistas possibilitaram ao basquete ser considerado por um bom tempo o segundo esporte mais preferido pelos brasileiros. Esse posicionamento é requerido atualmente pelo Voleibol, que entende ter ultrapassado o basquete na preferência nacional, talvez pelos melhores resultados internacionais conquistados, fruto da melhor organização da sua confederação.
A sugestão de considerar o basquete como uma mediana competitividade internacional parece ser coerente e proporciona a necessidade de verificar a origem da ausência das conquistas internacionais, comuns no passado. Essa referência vale apenas para o basquete masculino, uma vez que o basquete feminino apresenta resultados expressivos nos últimos anos. Pode-se vislumbrar uma possível melhora nessa categoria, principalmente com a participação de cinco brasileiros na NBA em 2005 e de vários outros na Europa. Essa experiência internacional dos atletas, provavelmente trará frutos para a seleção brasileira também.
Considerações finaisO modelo proposto por DI GIOVANNI, GEBARA e PRONI (1995) parece ser coerente e possibilita apontarmos algumas considerações acerca da situação atual do potencial de mercantilização do basquete brasileiro, bem como os estudos de KEARNEY (2003) e PRONI (1998) apresentam dados que podem ser utilizados como referências para a análise do esporte- espetáculo.
De acordo com o que foi apresentado parece viável o entendimento que a NBA é o modelo ideal de organização empresarial do esporte a ser seguido pelos dirigentes do basquete brasileiro. Entretanto, deve-se levar em consideração as diferenças de culturas, de nível de profissionalização do esporte, de legislações e da própria entidade administrativa. Mesmo com essa ressalva, muitas idéias devem ser aproveitadas com o intuito de melhorar o espetáculo e, consequentemente, tornar o basquete uma mercadoria mais cobiçada.
Outro ponto relacionado a NBA, diz respeito a aquisição de direitos de transmissão pela televisão. A princípio, a transmissão de jogos da NBA no Brasil poderiam reduzir o interesse dos espectadores pelo basquete nacional, todavia isso pode ser revertido a favor do basquete brasileiro, uma vez que o público que assiste a esses jogos podem se tornar aficcionados torcedores e virar um potencial consumidor.
Considerando que os resultados internacionais influenciam na espetacularização da modalidade e que os selecionados nacionais tem apenas os Jogos Olímpicos e os Campeonatos Mundiais, que acontecem periodicamente a cada quatro anos, para aparecerem na mídia, isso poderia ser implementado nos moldes da Liga Mundial de Voleibol, que acontece todos os anos. O potencial mercantil do basquete também poderia ser beneficiado com uma competição internacional anual, possivelmente o espaço na mídia aumentaria, a preparação das seleções seria maior e a própria modalidade possivelmente experimentaria um crescimento do nível técnico da competição, que por sua vez atrairia um número mais elevado de espectadores e investidores.
Mesmo sem essas iniciativas, parece ter havido um deslocamento significativo em direção a um potencial mercantil mais elevado, graças aos bons desempenhos da seleção feminina, da inclusão do basquete na programação esportiva da TV aberta, da maior organização do calendário da Liga Nacional e pela boa atuação de brasileiros na NBA.
Uma pesquisa empírica com os dirigentes dos clubes participantes da Liga Nacional, da Confederação e das federações estaduais para aprofundar a análise iniciada com esse estudo afim de colaborar com o desenvolvimento do basquete brasileiro seria bastante interessante. Inclusive Di Giovanni, Gebara e Proni sugerem nas conclusões da sua pesquisa que sejam examinadas detalhadamente a densidade nos indicadores do potencial de mercantilização de cada modalidade, uma vez que cada esporte deve ser considerado como uma unidade autônoma e, portanto, merecer uma análise em separado.
Notas
Os interessados em se aprofundar em estudos sobre esporte-espetáculo devem pensar seriamente em incluir em suas referências os estudos de Marcelo Weishaupt Proni, Luiz Alberto Pilatti e Wanderley Marchi Júnior.
PRONI, M.W. Marketing e organização esportiva: elementos para uma história recente do esporte-espetáculo. Revista Conexões. 1998, v.1, n.1.
O endereço do sítio oficial da Liga Profissional Norte-americana de Basketball (NBA) é www.nba.com.
KEARNEY, A.T. O jogo está começando. HSM Management. 2003, n. 39, vol.4.
DI GIOVANNI, G.(coord.); PRONI, M.W.; GEBARA, A. Dimensões econômicas do esporte no Brasil. Campinas: UNICAMP, 1995. (mimeo)
Os pesquisadores citam exemplos para melhor explicar essa classificação: a)esportes coletivos populares: futebol, basquete, vôlei, futebol de salão. b) populares individuais: atletismo, boxe, natação, judô, capoeira, alterofilismo e aeróbica. c)de elite praticados em clube: tênis, karte, esgrima, turfe, etc. d) de elite praticados junto à natureza: iatismo, paraquedismo, esqui aquático, asa delta, remo. Para demonstrar uma das lacunas de sua proposição o autor cita como exemplo, o automobilismo, que tem sua prática elitizada e o seu consumo massificado, como exemplo complicado de classificação.
Entrevista ao sítio: www.cbb.com.br. Dados obtidos em 13 de maio de 2004.
A íntegra da palestra pode ser encontrada nos Anais do Seminário INDESP de Marketing Esportivo, com o título de Case: Apoio da CEF ao esporte. (p. 132-147)
A parceira entre CEF e CBB durou de 1993 à 2001. O patrocinador oficial atual da Confederação Brasileira de Basketball é a Eletrobrás e isso pode ser confirmado no sítio da CBB. http://www.cbb.com.br
A promoção Passaporte Mundial consistia em sortear ao público viagens para acompanhar os jogos internacionais da Seleção Brasileira e a Cesta milionária dava brindes aos sorteados que fizessem cestas durante os intervalos das partidas.
O tenista catarinense Gustavo Kuerten, o Guga, com os títulos de Roland Garros e inúmeros outros, principalmente no saibro, com sua condição de número um do mundo por várias semanas e com seu nome na lista dos dez melhores do mundo por vários anos, potencializado por seu carisma com o público, provocou uma onda de interesse pelo tênis. Um esporte cuja prática é considerada elitista ganhou uma massa de consumidores populares. O outro exemplo é o da ginasta gaúcha Daiane dos Santos, que arrebatou em 2004 vários títulos nas etapas da Copa do Mundo de Ginástica e colocou definitivamente seu nome na história da ginástica ao executar dois movimentos inéditos e que foram batizados com seu nome. Esse exemplo também apresenta característica similares ao do Guga, ou seja, um esporte praticado por poucos e que o Brasil tinha pouca tradição internacional torna-se manchetes de vários jornais no país e alvo de inúmeras reportagens na mídia televisiva. Robert Scheidt, Gustavo Borges e Fernando "Xuxa" Scherer, Arcelino "Popó" Freitas, são outros exemplos de atletas que com sua elevada competitividade internacional elevaram também o grau de exposição na mídia de suas modalidades e consequentemente alavancaram o potencial mercantil dos mesmos.
Fonte: http://www.cbb.com.br. Dados obtidos em 11 de maio de 2004.
A exceção ocorreu em 1986, em Barcelona, quando o Brasil ficou em quarto lugar no Campeonato Mundial e também deve ser lembrado o título do Pan Americano de Indianapólis em 1987 que divulgou sobremaneira o esporte no país.
Fonte:http://www.cbb.com.br. Dados obtidos em 11 de maio de 2004.
Referências
CBB, CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BASKETBALL. Disponível em: http://www.cbb.com.br. Acesso em 2004.
DI GIOVANNI, G.; PRONI, M.W.; GEBARA, A. Dimensões econômicas do esporte no Brasil. Campinas: UNICAMP, 1995. (mimeo)
KEARNEY, A.T. O jogo está começando. HSM Management. 2003, n. 39, vol.4.
NBA, NATIONAL BASKETBALL ASSOCIATION. Disponível em: http://www.nba.com. Acesso em 2004.
PRONI, M.W. Marketing e organização esportiva: elementos para uma história recente do esporte-espetáculo. Revista Conexões. 1998, v.1, n.1.
RAMOS, P.C.R. Case: apoio da CEF ao esporte. Anais do Seminário INDESP de marketing esportivo. Ouro Preto, 1995.
revista
digital · Año 10 · N° 79 | Buenos Aires, Diciembre 2004 |