efdeportes.com
Inteligência corporal-cinestésica
em alunos de escolas de futsal

   
Universidade Federal
de Santa Maria
(Brasil)
 
 
Luciane Sanchotene Etchepare | Maria Cristina Chimelo Paim
Érico Felden Pereira | Jane Maria Carvalho Villis
Susane Graup | Helton Gustavo Hautrive
Graziele Felkl Brandão

vamosdancar@yahoo.com.br

 

 

 

 

 
Resumo
    O presente estudo teve como objetivo verificar os níveis de inteligência corporal-cinestésica em alunos de escolinhas de futsal. Constituíram a amostra 21 meninos de 10 a 13 anos participantes de escolinhas de futsal da cidade de Santa Maria - RS. Como instrumento de avaliação utilizou-se uma bateria de testes proposta e validada por Xavier (1998) e, em seguida, aplicou-se uma estatística descritiva com média e desvio padrão e um teste de correlação entre os índices de inteligência corporal-cinestésica e o tempo de prática de futsal. Destaca-se os seguintes resultados: os alunos de escolinhas de futsal possuem uma boa inteligência corporal-cinestésica sendo que os níveis de inteligência corporal-cinestésica aumentaram proporcionalmente com a idade. Não houve correlação estatisticamente significativa entre o tempo de prática do futsal e os índices de inteligência corporal-cinestésica.
    Unitermos: Inteligência corporal-cinestésica. Futsal. Meninos.
 
Abstract
    This study aimed at verifying the levels of corporal-kinesthesical intelligence in pupils of "futsal" school. The research was based on the descriptive correlation method. The sample comprised 21 boys, 10 to 13 years old, that practice "futsal" school in Santa Maria city - state of Rio Grande do Sul. The instruments used where the battery proposal and validated by Xavier (1998) and after, was applied a descriptive statistics with mean and standart desviation and correlation test between of the indexes of corporal-kinesthesical intelligence and the time of practical of "futsal". We can observed the follwing results: the pupils of "futsal" school have a corporal-kinesthesical intelligence good, the levels the corporal-kinesthesical intelligence augmented with the age. Haven't estatisticamente significant correlation between the practical time of the futsal and the levels of corporal-kinesthesical intelligence.
    Keywords: Corporal-kinesthesical intelligence. Futsal. Boys.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 78 - Noviembre de 2004

1 / 1

Introdução

    Atualmente o futsal é considerado um dos esportes mais praticado no Brasil principalmente no meio escolar. Podemos facilmente verificar isto pelo grande número de escolinhas e pelo destaque que é dado ao esporte pelos professores na escola e também pela facilidade com que pode ser jogado e a grande divulgação pelos meios de comunicação atrai cada vez mais adeptos.

    Em todos os esportes, especificamente no futsal para um processo de formação adequado deve-se buscar o desenvolvimento geral das capacidades técnicas e táticas. Desta forma no aluno de futsal o desenvolvimento das capacidades cognitivas de percepção, antecipação e tomada e decisões é imprescindível. A educação psicomotora é a base do processo de aprendizagem. Desta forma para que a criança aprenda gestos técnicos é necessário que antes aprenda movimentos básicos como correr, saltar e rolar. No futsal o equilíbrio, ritmo, coordenação e noções de espaço e tempo são fundamentais para o aprendizado da técnica individual (Saad, 1997)

    Segundo Schroeter (1975), a aprendizagem motora está intimamente ligada à aquisição, aperfeiçoamento, estabilização, emprego e conservação das habilidades motrizes. A aprendizagem em si, não é resultante de um processo exterior, é preciso acima de tudo que haja uma sensibilidade e uma percepção interior, para que flua naturalmente as vontades exteriores. Essa descoberta da aprendizagem motora se dá por uma integração entre o pensamento e a ação. O movimento humano depende essencialmente dessa integração, sem a qual não há educação nesse processo.

    Quanto mais experiências os jogadores forem adquirindo durante a sua fase de aprendizagem, mais facilidade em processar estas informações eles terão no futuro, pois a prática do futebol requer uma série de informações que vão se processando com a finalidade de decisão-fabricação de estratégias (Melo, 1999).

    Segundo De Rose (2002) a disseminação da prática esportiva para jovens deu-se a partir do reconhecimento do caráter pedagógico do jogo, porém, podemos verificar características de rendimento ao observar os treinamento das categorias de base como: técnicos maltratando seus "atletas" por erros cometidos, pais xingando árbitros, frases agressivas entoadas pela torcida. Também é comum vermos crianças em "peneiras" para a seleção de equipes e a sessões exaustivas de treinamento e que atrapalham os estudos e ainda podemos verificar isto em escolas onde muitas vezes esquece do esporte educação em lugar uma hipercompetitividade e uma preocupação excessiva na formação de equipes.

    Segundo Isaia (1995), o ser humano possui distintas competências intelectuais que operam de acordo com seus próprios procedimentos, possuindo uma história de desenvolvimento própria e um específico sistema de regras de funcionamento. Estas competências incorporam habilidades diversificadas, sendo consideradas, a partir disto, inteligências múltiplas ou estruturas da mente.

    Nos jogos com bola, a inteligência que mais se destaca é a cinestésico-corporal, pois trata-se da habilidade de usar a coordenação motora (grossa ou fina) no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com destreza. A inteligência cinestésico-corporal é considerada uma das mais importantes para os atletas, pois permite a resolução de problemas ou a criação de movimentos através do uso de parte ou de todo o corpo. Essa inteligência pode ser percebida quando os futebolistas têm total domínio da bola em movimento (Cotrin, 2001)

    Conforme Xavier (1998), inteligência corporal-cinestésica é a impressionante capacidade de resolver problemas ou comunicar-se através do corpo, estando, esta capacidade, presente principalmente em atletas, dançarinos, artistas e cirurgiões, entre outros. Segundo as idéias propostas por Gardner (1994), Xavier (1998) nos diz que a principal característica desta inteligência é a capacidade de usar o próprio corpo de maneiras altamente diferenciadas e hábeis para propósitos expressivos e com objetivos definidos.

    Isaia (1995), complementando as déias de Xavier, diz que há duas características fundamentais em relação à Inteligência Corporal-Cinestésica. A primeira diz respeito a capacidade de empregar o corpo de muitas formas com propósitos expressivos e atléticos, enquanto que a segunda corresponde a capacidade para trabalhar habilmente com objetos, compreendendo a motricidade fina e grossa. Gardner (1994), complementa que essas duas capacidades, a de controlar os movimentos do corpo e a capacidade de manusear objetos com habilidade podem existir separadamente, mas tipicamente a utilização do corpo com objetivos funcionais ou expressivos está geralmente relacionada à habilidade em manusear objetos.

    Podemos perceber um grande aumento no número de escolinhas de futsal bem como o grande espaço reservado para este esporte no meio escolar assim será de grande relevância verificar quais os níveis e o efeito do treinamento das escolinhas de futebol no desenvolvimento da inteligência corporal-cinestésica. Desta forma poder-se-á verificar os benefícios da prática do futebol no desenvolvimento da inteligência corporal-cinestésica bem como apontar possíveis falhas no desenvolvimento desta qualidade.

    Assim, etes estudo teve como objetivos norteadores diagnosticar os níveis de desenvolvimento da inteligência corporal-cinestésica em alunos de escolinhas de futsal; verificar se os há um aumento nos níveis de inteligência corporal-cinestésica nas faixas etárias estudadas e verificar qual a relação entre o tempo de prática do futsal e os índices de inteligência corporal-cinestésica.


Procedimentos metodológicos

    A população deste estudo será formada por alunos de escolinhas de futsal que treinem a modalidade a pelo menos 6 meses, duas vezes por semana. Fizeram parte da amostra 21 alunos do sexo masculino de escolinhas de futsal de Santa Maria - RS. Os testes foram realizados no próprio local das aulas de futsal com a autorização do professor responsável pela turma de maneira individual e a observação dos mesmos realizou-se por três avaliadores treinados no protocolo do teste. Para o controle das experiências motoras utilizou-se o instrumento proposto por Xavier (1988), para a verificação da maturação sexual dos meninos o instrumento de Matsudo (1998) e para avaliação da Inteligência Corporal-cinestésica foi utilizada uma bateria proposta e validade por Xavier (1998). Para análise dos dados realizou-se uma estatística descritiva para verificar média e desvio padrão dos escores encontrados e o teste de correlação de Pearson para verificar a correlação entre o tempo de prática do futsal e o desempenho no avaliação da inteligência corporal-cinéstesica.


Resultados e discussões

    Neste capítulo serão apresentados os resultados da investigação da inteligência corporal-cinestésica em alunos de escolinhas de futsal. Também serão apresentados os escores classificados a partir da idade e das experiências motoras dos alunos.

Tabela 01. Valores de média e desvio padrão da investigação da
inteligência corporal-cinestésica dos alunos de futsal.

    Na tabela acima apresenta-se apresentados os valores de média e desvio padrão encontrados na avaliação da inteligência corporal-cinestésica dos alunos de futsal em que foram encontrados os valores de 20,30+4,44. Este valor é considerado, a partir da classificação proposta por Xavier (1998), como sendo razoável. A maior parte dos alunos, 60%, possuem índices considerados razoáveis, porém 35% dos alunos possuem índices considerados bons.

    Para Souza (2002), O comportamento corporal manifestado, de acordo com o contexto do ambiente físico e sócio-cultural, caracteriza-se como um dos comportamentos que manifestam a capacidade humana. Esse comportamento corporal, observado durante a resolução dos problemas, demonstra a capacidade dos alunos de solucionarem, contribuindo para o processo de organização dos comportamentos corporais, manifestando o potencial do aluno, especificamente o potencial de inteligência corporal cinestésica. Desta o professor de Educação Física que trabalha com crianças e adolescentes tanto na escola como em clubes teve atentar para importância de se trabalhar também o aspecto cognitivo de seus alunos para que estes desempenhe suas tarefas de uma melhor forma e desenvolvam sua inteligência corporal-cinestésica.

Tabela 02. Valores de média e desvio padrão da investigação da inteligência corporal-cinestésica
dos alunos de futsal classificados por idade.

    A partir da análise exposta na tabela acima observa-se que houve um pequeno acréscimo nos índices de inteligência corporal-cinestésica nos indivíduos de 12 e 13 anos. Este resultado pode indicar que com o aumento de idade esta qualidade pode ser desenvolvida.

    Para Weineck (1999), a coordenação ou habilidade motora tende a aumentar menos rapidamente durante o período do surgimento da puberdade. Estudos com meninos de 11 a 16 anos mostram ganhos coerentes com a idade cronológica em traves de exercício, embora a taxa de mudança seja muito menor dos 13 aos 15 anos do que em idades anteriores ou posteriores a tal período. Porém ainda não conhecemos com clareza as modificações a respeito da inteligência corporal-cinestésica com o passar da idade.

Tabela 03. Correlação de Pearson entre o tempo de prática em escolinhas de futsal e o desempenho
ma avaliação da inteligência corporal-cinestésica.


Significativo para p<0,05.

    Através dos dados apresentados na tabela acima identifica-se que não houve correlação estatisticamente significativa quando analisados os índices da avaliação da inteligência corporal-cinestésica e o tempo de prática no futsal. Isto pode significar que a prática de futsal não influenciou no desenvolvimento deste tipo de inteligência.

    Segundo Piccolo (2001), uma das capacidades necessárias ao desenvolvimento da criança é aspecto motor, onde se avalia o seu desenvolvimento. As estimulações da inteligência corporal podem e devem acontecer no âmbito escolar, sempre por meio de uma perspectiva lúdica, atendendo aos interesses, às limitações e às potencialidades dos alunos. Também há a necessidade que se desenvolvemos a inteligência corporal cinestésica em nossos alunos de clubes e escolinha, já que, estas muitas vezes substituem a própria aula de Educação Física e além disso temos o compromisso de colaborara para o desenvolvimento de nosso aluno de uma maneira completa e não somente o aspecto motor.


Conclusões e sugestões

    Os alunos desta amostra obtiveram índices médios de inteligência corporal-cinestésica considerados razoáveis, o que pode ser melhorado com um trabalho mais voltado ao desenvolvimento global do aluno, bem como, com o incentivo a resolução de problemas durante sua prática motora. Os dados apontam também uma melhora dos níveis de inteligência corporal-cinestésica nos alunos de maior idade, o que pode nos indicar que este tipo de inteligência se desenvolve nas faixas etárias estudadas.

    Não houve correlação estatisticamente significativa entre a prática do futsal e os índices de inteligência corporal-cinestésica. Cabe aos professores de qualquer modalidade esportiva preocupam-se com o desenvolvimento, não só de aspectos físicos e técnicos, mas também com os aspectos cognitivos, sociais e afetivos de seus alunos. O professor possui o compromisso de trabalhar o desenvolvimento de seus alunos nos diferentes aspectos de seu desenvolvimento, entre eles a inteligência, principalmente a corporal-cinestésica. Um trabalho incentivando o lado cognitivo do aluno irá se refletir em um melhor desempenho geral do aluno na modalidade esportiva.

    Os profissionais de Educação Física, principalmente os que trabalham com crianças e adolescentes, devem estar preparados para reconhecer o nível de inteligência corporal-cinestésica em seus alunos e para trabalhar no sentido de desenvolvê-la. Sugere-se, assim, que se façam maiores investigações a respeito da inteligência corporal-cinestésica em alunos de diferentes modalidades esportivas e com amostras maiores no intuito de se conhecer melhor essa importante característica do ser humano, estimulando o seu desenvolvimento durante a prática dos esportes e também na Educação Física escolar.


Referências bibliográficas

  • COTRIN, J. R. O futebol sob o enfoque das inteligências múltiplas. Produto do Núcleo José Reis da Divulgação científica da ECA/USP. Nov/ Dez.2001 Nº 5..

  • DE ROSE D. J. Esporte a atividade física na infância e na adolescência: uma abordagem multidisciplinar. Artmed, 2002.

  • GARDNER, H. Estruturas da Mente - A teoria das Inteligências Múltiplas. Ed. Artes Médicas Sul, Porto Alegre, 1994.

  • ISAIA, S.M.A Teoria das inteligências múltiplas: uma concepção simbólico-cultural da inteligênia humana. In: Krebs, R.J. Desenvolvimento humano: teorias e estudos. Santa Maria: Casa Editorial, 1995.

  • MATSUDO, V. R. Testes em Ciências do Esporte. São Caetano do Sul, SP: ed. Gráficos Burti Ltda, 1998.

  • MELO, R.S. Jogos recreativos para futebol. Rio de Janeiro: Sprint, 1999.

  • PICCOLO, V. L. N. Inteligência corporal cinestésica. UniFMU e Unicamp Ano 3 nº 9 - Abril - Maio - Junho de 2001.

  • SAAD, M. Futsal: iniciação, técnica e tática. Santa Maria: Ed. Da UFSM, 1997.

  • SOUZA, M. T. Educação Física Escolar: a compreensão do comportamento corporal como manifestação da inteligência humana. Revista Brasileira Ciência e Movimento. V.10 n. 2p abril de 2002.

  • XAVIER, T. P. Interação da Inteligência Corporal-Cinestésica com a criatividade: uma abordagem no desempenho de tarefas motoras. Tese de doutorado apresentada ao PPGCMH da Universidade Federal de Santa Maria em 1998.

  • WEINECK, J. Treinamento Ideal. 9ª Edição. Manole. São Paulo, 1999.

Outro artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
http://www.efdeportes.com/ · FreeFind
   

revista digital · Año 10 · N° 78 | Buenos Aires, Noviembre 2004  
© 1997-2004 Derechos reservados