Congresso Brasileiro de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança: análise de produção |
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*Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, Paraná Centro de Pesquisa em Esporte, Lazer e Sociedade - UFPR, Grupo de Pesquisa Esporte, Lazer e Sociedade - UEPG, Gestão de Recursos Humanos para o Ambiente produtivo - CEFET-PR. **Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, Ponta Grossa, Paraná, Brasil Doutor em Educação Física - UNICAMP; Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná - Cefet-PR - Unidade de Ponta Grossa; Professor do Programa de Mestrado em Engenharia de Produção do Cefet-PR. |
Juliana Vlastuin* jvlastuin@brturbo.com Luiz Alberto Pilatti** lapilatti@pg.cefetpr.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 78 - Noviembre de 2004 |
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1. Introdução
A ciência parece poder se caracterizar por sua capacidade em acolher um pluralismo de tendências e orientações: múltiplos modelos de racionalidade concorrem entre si, fazendo aflorar novos problemas e sugerindo modos alternativos de abordagem ligados a "produção do conhecimento". Com efeito, através dos paradigmas são identificados determinados modelos de racionalidade e orientação teórica sobre os quais se constrói um processo intelectual, seja ele empírico ou puro (KANT, 1991).
A produção científica na área da Educação Física vem aumentando significativamente nas últimas décadas em quantidade e, mais recentemente, em qualidade. Nos Congressos Nacionais de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança não tem sido incomuns às preocupações no que se refere à utilização de fontes nos estudos históricos/sociológicos nas áreas abrangidas pelo evento.1
Com esses argumentos, realizamos a leitura de produção das oito edições do evento. Foi utilizado na análise, um modelo empregado por Kowalski & Lovisolo (2002), em um estudo semelhante, o qual foi adaptado pelos autores. No modelo foi empregado um conjunto de variáveis de caracterização: número de autores por artigo; gênero dos autores; titulação dos autores (doutores, mestres, especialistas, graduados, acadêmicos e não-especificados); procedência da produção; principais escolas de Educação Física participantes e sub-áreas temáticas.
2. Um breve histórico do "Encontro de História"O Encontro de História, como ainda é conhecido nos meios acadêmicos, nasceu em 1993. Nesse ano, um grupo de orientados do Prof. Dr. Ademir Gebara resolveu se reunir, organizando um espaço para a interlocução periódica dos mesmos. O próprio nome "encontro" indicava algo familiar, uma reunião entre professores e pesquisadores para discutir questões referentes à área. Embora se caracterizasse ainda por um evento fechado, uma certa abertura foi sendo dada à participação de acadêmicos, embora, no início, sem direito à apresentação de seus trabalhos.
Em 1998, não mais Encontro, mas Congresso Brasileiro de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança2 , representando uma nova fase no debate acadêmico iniciado romanticamente em 1993. Oito edições do evento já foram promovidas e algumas análises sobre a produção destes eventos podem ser apresentadas como a publicação de 716 trabalhos, num conjunto de 1.115 inscritos. Passados mais de dez anos, o evento está consolidado.
TABELA 1 - EDIÇÕES DO EVENTO E LOCAIS - OUT. 2003
FONTE: COLETÂNEAS DO CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA.
3. Discutindo algumas variáveis
3.1. Número de autor(es) por artigo
A primeira variável de caracterização aponta dos indicativos de publicação individual para a coletiva, indicando o perfil de produção:
TABELA 2 - NÚMERO DE AUTORES POR ARTIGO - OUT. 2003
Dos 716 artigos analisados das oito coletâneas, 499 artigos, 69,69% do total, foram escritos por um único autor; 148 artigos (20,67%) por dois autores; 34 (4,74%) por três autores e 35 (4,90%) por quatro ou mais autores. O total de inscritos é de 1.115, sendo a média de autores/artigo inferior a 2 (1,5) para o total da produção. O último Congresso Nacional ficou entre todas as oito coletâneas analisadas com a maior produção, num total de 174 trabalhos publicados3 . Da primeira edição, em 1993, obtemos que 86,1% dos artigos apresentavam um único autor. Em comparação a 8a edição, este número cai para 51,1%, o que indica um dado interessante, apontando para uma mudança de perfil do individual para o coletivo.
3.2. Autores por gênero
Os autores foram separados conforme o gênero, a partir dos indicativos dos autores principais e co-autores dos trabalhos. Verificamos que, pouco mais da metade, isto é, 55,24% dos artigos publicados são autores masculinos, enquanto que o gênero feminino ocupa 44,76% do total da consulta.
TABELA 3 - AUTORES POR GÊNERO - OUT.2003
3.3. Titulação dos autores
Com base na titulação dos autores, dividimos a mesma em seis categorias: doutores (doutorado concluído); mestres (mestrado concluído); especialistas (especialização concluída); graduados (autores com graduação concluída, mas sem identificação do nível de pós-graduação seqüencial); acadêmicos (período não-concluído de graduação) e não-especificados (titulações as quais não puderam ser enquadradas nas demais categorias devido à falta de identificação de determinada variável de caracterização no material de coleta).
TABELA 4 - TITULAÇÃO DOS AUTORES - OUT.2003
A categoria que menos se mostrou presente foi a de especialistas, seguida da participação de acadêmicos. O maior percentual em termos de produção é de indivíduos já graduados, os quais apresentam a maior média comparada com indivíduos não-graduados, apesar da 3a categoria - Especialistas4 - ser pouco indicada. Este fato caracteriza uma variável de análise importante, já que a maior parte dos trabalhos escritos procede de resultados de trabalhos de pesquisa mais significativos, vinculados a programas de pós-graduação, mestrado e doutorado.
3.4. Origem dos autores da produção por estados do brasil e países estrangeiros
A origem dos autores da produção foi separada por estados do Brasil e países estrangeiros, segundo o autor principal. Os trabalhos, os quais não puderam ser localizados pelas coletâneas, foram submetidos ao Diretório de Grupos de Pesquisa, pela localização do Currículo Lattes de cada um.5
TABELA 5 - ORIGEM DOS AUTORES POR ESTADOS DO BRASIL - OUT. 2003
TABELA 6 - ORIGEM POR PAÍSES ESTRANGEIROS - OUT. 2003
O percentual de trabalhos nacionais corresponde a 96,50% do total da população, enquanto que as publicações estrangeiras equivalem a 3,50%, o que, de certa forma, coloca o evento como um evento nacional.
3.5. Origem dos autores por regiões do Brasil
Com relação às evidências do avanço no cenário da Educação Física no início da década de 90, podemos perceber que a geografia dos grupos, ou seja, os grupos de pesquisa cadastrados no Diretório de Pesquisa do CNPq6 , ainda nos permite verificar que a concentração dos cursos na região sudeste mantém atualidade. Luiz Alberto Pilatti, em "Pesquisa em Educação Física no Brasil..."7 analisa que, dentro do modelo atual de avaliação, que teve sua abrangência ampliada na área da Educação Física, a existência de núcleos de pesquisa não é mais apenas uma exclusividade da região sudeste, mas está se tornando uma realidade também na região sul, na qual se manifestam sinais claros de sua emergência.
A origem dos autores por regiões do Brasil, segundo os dados, apresenta as regiões sudeste (58,93%) e sul (25,41%) dominantes sobre as demais regiões. Assim, através de tal mapeamento pode-se entender a influência da existência de núcleos de pesquisa em tais regiões, caracterizando os maiores indicadores de pesquisa na área da Educação Física.
TABELA 7 - GRUPOS DE AUTORES POR REGIÃO DO PAÍS - OUT.2003
3.6. Principais Escolas de Educação Física
As principais Escolas de Educação Física catalogadas tiveram como critério de análise a procedência de cada trabalho a partir do autor principal. O critério respeitado foi à utilização da indicação do autor. O procedimento levou em consideração o fato de que, muitos alunos de pós-graduação, além de colocarem a filiação do local onde trabalham, citam também o local onde estudam. A seguir serão classificadas as 10 Escolas mais influentes na produção8 :
TABELA 8 - ESCOLAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL - OUT.2003
3.7. Áreas temáticas dos artigos
Utilizando-se de um modelo de análise (Kowalski & Lovisolo, 2002), adaptado por Vlastuin & Pilatti, submetemos a análise dos 716 trabalhos publicados, agrupando-os em grandes áreas temáticas. A inserção das publicações dentro das áreas temáticas pré-estabelecidas apresentou como característica principal à aproximação de tais artigos em áreas próximas de conhecimento, não necessariamente em um sentido limitado. Assim estabelecemos os seguintes critérios para as variáveis:
Temática 1 - Fisiologia: artigos estritamente de medicina, fisiologia do esporte, biomecânica e treinamento;
Temática 2 - Área Epistemológica: artigos de matriz sócio-cultural, referentes à história, filosofia, cultura e imaginário;
Temática 3 - Educação Física: artigos vinculados ao ensino das atividades físicas e esportivas em contextos institucionais, situados em perspectiva filosófica ou diretamente didática;
Temática 4 - Grupos Especiais: artigos de destaque em questões teóricas ou práticas com segmentos específicos, idosos e especiais;
Temática 5 - Gênero: artigos com reflexão sobre gêneros;
Temática 6 - Lazer: artigos com reflexão específica do lazer.
TABELA 9 - ÁREAS TEMÁTICAS - OUT.2003
4. Conclusão
Nos anos 90, um movimento verificado no mundo acadêmico brasileiro, a realização dos Congressos Nacionais de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança permitiu a construção de uma rede de pesquisadores mais preocupados com o avanço de trabalhos acadêmicos e de sistemas de pós-graduação, do que com a confrontação de posições de pesquisadores, ou militantes na área. Pode-se inferir pelos resultados obtidos da análise, uma série de transformações pelas quais o evento se caracteriza: os artigos deixaram de ser individuais, apontando uma mudança do perfil para o coletivo; a participação feminina nas publicações apresenta-se crescente; a concentração da produção nas regiões sudeste e sul manifestam a influência dos núcleos de pesquisa da área; o fato de indivíduos graduados obterem os maiores índices indica uma maior ligação com programas de pós-graduação e, por último, destacamos a necessidade da apresentação de dados, bem como a necessidade de buscar novos sentidos para as pesquisas em Educação Física.
Referências
ENCONTRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE (1.: 1993: São Paulo). Coletânea. Campinas: 1993.
ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA (2.: 1994: Paraná). Coletânea. Ponta Grossa, 1994.
ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA (3.: 1995: Paraná). Coletânea. Curitiba, 1995.
ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA (4.: 1996: Minas Gerais). Coletânea. Belo Horizonte, 1996.
ENCONTRO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA (5.: 1997: Alagoas). Coletânea. Ijuí: Ed. da Unijuí, 1997.
CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA (6.: 1998: Rio de Janeiro). Coletânea. Rio de Janeiro, 1998.
CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA (7.: 2000: Rio Grande do Sul). Coletânea. Gramado, 1999.
CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER e DANÇA, 8., 2002, Ponta Grossa. Anais Eletrônicos... Ponta Grossa: UEPG, 2002.
GEBARA, Ademir. Fontes e métodos na construção da história do esporte no Brasil. Mesa-redonda apresentada na Unicenp, Curitiba, 01 out. 2003.
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991.
PILATTI, Luiz Alberto. Pesquisa em Educação Física no Brasil: caminhos e (des)caminhos da pós-graduação. Mesa-redonda apresentada na Unicenp, Curitiba, 02 out. 2003.
SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS DO SUL DO BRASIL, 14., 2002, Ponta Grossa. Anais... Ponta Grossa: UEPG, 2002. p. 79-84.
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