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Motivação no esporte de elite: comparação
de categorias do futsal e futebol
Motivation in the sport of elite: comparison of categories of futsal and soccer
La motivación en el deporte de élite: la comparación de categorías de futsal y fútbol

   
*Mestre e Doutorando em Psicologia do Desenvolvimento (UFRGS)
Docente ULBRA/RS e Instituição
Educacional São Judas Tadeu
Porto Alegre/RS
**Mestre em Ciências do Movimento Humano (UFRGS)
Doutorando em Medicina (PUCRS)
Docente ULBRA/RS e PUCRS
***Graduada em Psicologia (ULBRA)
 
 
José Augusto Evangelho Hernandez*
Rogério da Cunha Voser**
Maria da Graça Albo Lykawka***

hernandz@portoweb.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    Investigou-se a motivação em desportistas de alto rendimento. Os participantes desta pesquisa foram crianças, adolescentes, adulto-jovens e adultos, de preparação profissionalizante em diversos clubes esportivos, praticantes do Futebol e Futsal, da região metropolitana de Porto Alegre/RS. A amostra não-probabilística, tipo acidental ou de conveniência foi composta por 214 desportistas, todos do sexo masculino, com idades entre 9 e 34 anos: 127 do Futsal e 87 do Futebol. O tempo em que esses atletas exercem essas duas modalidades variou de 1 a 21 anos. Os indivíduos foram divididos em categorias: infantil (9 a 14 anos); infanto-juvenil (15 a 16 anos); juvenil (17 a 19 anos) e adultos (acima de 19 anos). O instrumento utilizado foi um questionário contendo 32 itens numa escala tipo Likert de quatro pontos: o Sport Orientation Questionnaire adaptado de Gill e Deeter. Os dados foram submetidos a uma ANOVA que revelou diferenças significativas na motivação para a prática do esporte entre a categoria juvenil e outras categorias.
    Unitermos: Motivação. Psicologia do esporte. Psicologia do desenvolvimento.
 
Abstract
    The motivation was investigated in sportsmen of high revenue. The participants of this research were children, adolescents, adult-young and adult, of vocational preparation in several sporting clubs, apprentices of the Soccer and Futsal, of Porto Alegre/RS's metropolitan area. The sample no-probabilística, accidental type or of convenience it was composed by 214 sportsmen, all of the masculine sex, with ages between 9 and 34 years: 127 of Futsal and 87 of the Soccer. The time in that those athletes exercise those two modalities it varied from 1 to 21 years. The individuals were divided in categories: infantile (9 to 14 years); infanto-juvenile (15 to 16 years); juvenile (17 to 19 years) and adults (above 19 years). The used instrument was a questionnaire containing 32 items in a scale type Likert of four points: Sport Orientation adapted Questionnaire of Gill and Deeter. The data were submitted to an ANOVA that revealed significant differences in the motivation for the practice of the sport between the juvenile category and other categories.
    Keywords: Motivation. Sport psychology. Development psychology.
 
Resumen
    Se investigó la motivación en deportistas de alto rendimiento. Los participantes de esta investigación fueron niños, adolescentes, adultos jóvenes y adultos, de preparación profesional en varios clubes deportivos, aprendices del Fútbol y Futsal, del área metropolitana de Porto Alegre/RS. La muestra no probabilística, de tipo accidental o de conveniencia estaba compuesto por 214 deportistas, todos de sexo masculino, con edades entre 9 y 34 años: 127 de Futsal y 87 del Fútbol. El tiempo que estos atletas realizan esas dos modalidades varió de 1 a 21 años. Los individuos fueron divididos en categorías: infantil (9 a 14 años); infanto-juvenil (15 a 16 años); juvenil (17 a 19 años) y adultos (sobre 19 años). El instrumento usado fue una encuesta que contiene 32 ítems en un tipo de escala Likert de cuatro puntos: Sport Orientation Questionnaire adaptado de Gill y Deeter. Los datos se sometieron a un ANOVA que reveló las diferencias significantes en la motivación para la práctica del deporte entre la categoría juvenil y otras categorías.
    Palabras clave: Motivación. Psicología de deporte. Psicología del desarrollo.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 77 - Octubre de 2004

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    O presente estudo focalizou a evolução da motivação através do exame comparativo de diversas faixas etárias de atletas do futsal e futebol. Uma das principais metas da Psicologia do Esporte, desde seu início, é estudar os fatores que maximizam a participação e a melhora da execução no âmbito do esporte e da atividade física. A orientação da motivação parece ser um tema-chave quando tratamos de compreender a participação desportiva e o seu progresso na execução.

    O termo motivação tem suas raízes no verbo latino movere, que significa mover. A motivação implica movimento, ativação, por isso, para descrever um estado altamente motivado, são utilizados termos como: excitação, energia, intensidade e ativação. Entretanto, um dos equívocos sobre a motivação desportiva consiste em relacioná-la com a ativação emocional. Alguns treinadores acreditam que, antes da competição, devam usar "técnicas" que aumentariam ao máximo os níveis de ativação dos seus atletas, tais como: gritos, insultos e murros. Tudo isso porque consideram que, quanto mais ativados emocionalmente se encontrarem seus pupilos, a motivação subiria ao máximo. Porém, sabe-se que a motivação e a ativação são construções separadas e independentes entre si. Outra prática desastrosa comum no treinamento é a de criar nos desportistas expectativas pouco realistas sobre suas possibilidades na competição. A famosa frase: "tu podes fazê-lo!", encerra um alto risco em si mesma, posto que, se o desportista não alcançar as expectativas previstas, poderá sofrer um efeito "catastrófico" que fará com que diminua a sua motivação, afetando a confiança no seu treinador e em si próprio. Por último, convém citar os treinadores que consideram a motivação um traço estável de personalidade do atleta e, portanto, imutável no tempo.

    Os desportistas, como as outras pessoas, têm freqüentemente percepções distorcidas de suas próprias condutas. O feedback ajuda a estimular sentimentos positivos (ou negativos) sobre si próprio. Segundo Williams (1991), um desportista insatisfeito com o seu nível de execução, com falta de motivação para melhorar, poderá experimentar sentimentos de auto-satisfação como reforçadores positivos quando o feedback subseqüente indicar melhora. O feedback objetivo da execução, em seus aspectos específicos por si mesmos, é uma técnica motivacional e instrumental que mostra resultados altamente satisfatórios. Ambas as técnicas, o reforço sistemático e o feedback objetivo, requerem a identificação de condutas específicas que são importantes para alcançar o êxito, tanto individual como coletivo.

    Tutko e Richards (1984) reiteram que, provavelmente, o papel mais importante que um treinador desempenha é o de motivador. Sua personalidade, convicção, fins e técnicas de motivação são o principal para o desenvolvimento das atitudes de seus jogadores e o para o grau de sucesso que estes alcançarão. Portanto, necessita analisar sua própria teoria de motivação e examinar seus enfoques dessas qualidades que pensa serem importantes para obter o resultado.

    Conforme Balaguer (1994), com a incorporação do paradigma cognitivo à Psicologia, o estudo da motivação sofreu profundas transformações. A partir dos anos 60, o que vem interessando aos psicólogos é averiguar em que medida as cognições, as interpretações dos sujeitos influenciam em suas condutas e em suas motivações. Cognição se refere ao conjunto de atividades através das quais a informação é processada pelo sistema psíquico, como a recebe, seleciona, transforma e organiza, como constrói as representações da realidade e cria o conhecimento. Muitos fenômenos estão implicados neste processamento: percepção, memória, elaboração do pensamento e a linguagem são alguns deles.

    Na Psicologia moderna, o termo motivação é utilizado para designar a intensidade do esforço e a direção do comportamento humano. É uma dimensão direcional que indica a finalidade do comportamento ou porque as pessoas se orientam a um ou outro objetivo. No âmbito da atividade física e do esporte, a motivação é produto de um conjunto de variáveis sociais, ambientais e individuais que determina a eleição de uma modalidade física ou esportiva e a intensidade da prática dessa modalidade, que determinará o rendimento (Escartí e Cervelló, 1994).

    Numa visão ampla, o termo motivação denota fatores e processos que levam as pessoas à ação ou à inércia em situações diversas (Cratty, 1983). De modo mais específico, o estudo dos motivos implica no exame das razões pelas quais se escolhe fazer algo ou executar algumas tarefas com maior empenho do que outras, ou persistir numa atividade por longo período de tempo.

    Também Singer (1977) descreve a motivação como sendo a insistência em caminhar em direção a um objetivo. Existem ocasiões onde a meta principal pode ser o alcance de uma recompensa, tal como ter o nome impresso, ganhar um troféu ou um elogio. Em outras ocasiões, pode tomar a forma de um impulso para o sucesso, para provar ou conseguir algo para a auto-realização. Sem a motivação, um esportista não desempenhará ou desempenhará mal. Existe um nível ideal de motivação que deve estar presente em qualquer atividade e este depende da natureza da atividade tanto quanto da personalidade do esportista.

    Para Frost (1971) a conduta é causada e direcionada por combinações de motivos e emoções, alguns internos e outros externos, alguns genéticos e outros ambientais, alguns conscientes e outros inconscientes, alguns individuais e outros sociais, etc.

    Os motivos podem ser classificados de acordo com sua fonte. Por exemplo, alguns motivos são oriundos de fontes externas e da tarefa, incluindo as diversas recompensas manifestas ou latentes, como o elogio e as demonstrações de sucesso, os presentes e o dinheiro. Outras fontes de motivação podem ser resultado da estrutura psicológica do indivíduo e de suas necessidades pessoais de sucesso, sociabilidade, reconhecimento, etc., bem como aquelas que parecem derivar de características da própria tarefa, tais como a novidade e a complexidade da experiência mental ou motora com a qual o indivíduo se defronta (Cratty, 1983).

    A motivação de um atleta para o rendimento ou para sobressair-se dependerá não somente de seus motivos de rendimento (de seu desejo de se sobressair), mas também da reputação de seus adversários e do interesse público da competição. Entretanto, diferentes motivos podem mostrar-se ativos simultaneamente. Em certos casos, podem ser antagônicos e estabelecer juntos a força da motivação do momento (Bakker, Whiting, & Van der Brug, 1983).

    Por outro lado, o conceito de motivo tem sido, com freqüência, ligado à idéia de "necessidade". Por exemplo: uma deficiência biológica (falta de oxigênio) determina uma necessidade. Isto gera um impulso que motiva o organismo a conduzir-se para a satisfação da necessidade. A aquisição de alimento e de oxigênio é o objetivo do organismo e a conduta que leva a este é reforçadora. A necessidade ativa o organismo e a natureza da necessidade proporciona uma direção à conduta (tratar de subir a superfície para poder respirar, por exemplo).

    Maslow (s/d) sugeriu que as necessidades do homem se desenvolvem na seqüência, das necessidades "inferiores" para as "superiores": necessidades fisiológicas (fome, sede); necessidade de segurança (segurança, ordem); necessidade de participação e de amor (afeição, identificação); necessidade de estima (prestígio, êxito, auto-respeito); necessidade de auto-realização (o desejo de auto-satisfação). O autor argumenta que, no desenvolvimento do indivíduo, uma necessidade "inferior" precisa ser satisfeita adequadamente antes que possa surgir a próxima necessidade "superior".

    Ainda Deci e Ryan (1985) destacaram a importância das experiências de aprendizagem no desenvolvimento dos motivos humanos, não centralizaram suas atenções na motivação com procedência biológica (fome, sede, sexo) ou emocional (medo, alegria), mas consideraram o aspecto no qual estão implicadas experiências de aprendizagem, a motivação intrínseca. A conduta intrinsecamente motivada se manifesta no desejo de sentir-se competente. A partir dessa necessidade os motivos básicos de competência e autodeterminação desenvolvem motivos mais específicos.

    Bergamini (1997) propõe que a motivação seja uma cadeia de eventos baseada no desejo de reduzir um estado interno de desequilíbrio tendo como fundamento o pensamento e a crença de que certas ações deveriam servir a esse propósito e levando os sujeitos a agirem de maneira que serão conduzidos até o objetivo desejado. É importante que seja considerada a existência de diferenças individuais e culturais entre os sujeitos quando se refere à "motivação". Este diferencial não só pode afetar significativamente a interpretação de um desejo, mas também o entendimento da maneira particular como as pessoas agem e atuam na busca dos seus objetivos. As pessoas já trazem dentro de si expectativas pessoais que ativam determinado tipo de busca de objetivos. A motivação, portanto, pode ser considerada, primordialmente, um processo intrínseco.

    A maneira mais fundamental e útil de pensar a respeito desse assunto envolve a aceitação do conceito de motivação intrínseca, que se refere ao processo de desenvolver uma atividade pelo prazer que ela mesma proporciona, isto é, desenvolver uma atividade pela recompensa inerente a essa mesma atividade (Deci e Ryan, 1985, p.21).

    Essa forma de considerar o comportamento motivacional implica o reconhecimento de que ele representa a fonte mais importante de autonomia pessoal à medida que as pessoas podem, de certa forma, escolher que tipo de ação empreender com base nas suas "próprias fontes internas" de necessidades e não simplesmente responder aos controles impostos pelo meio externo.

    Ryska (2003) avaliou medidas de competitividade, orientação da motivação e objetivo percebido de participação como preditoras da prática esportiva em 391 jovens de 10 a 15 anos de idade, 185 meninos e 134 meninas. Estes jovens atletas eram praticantes de competições extra-currículares de futebol, natação, hipismo, tênis e ciclismo. Análises de regressão hierárquica mostraram que razões intrínsecas, auto-estima e domínio da tarefa, foram mais preditoras de diversas dimensões da prática do esporte do que competitividade. Por outro lado, objetivos extrínsecos, busca de status social e status na carreira, contribuíram com níveis mais baixos para algumas dimensões da prática do esporte.

    Segundo Williams (1991), em contraste com as teorias que concebem a motivação como força interna que impulsiona as pessoas a alcançar uma meta, as teorias motivacionais dos incentivos se baseiam na associação de que fatores externos impulsionam as pessoas a cumprir determinadas metas. Nesta orientação o termo incentivo se define como "todos aqueles estímulos externos que servem para influir no comportamento". Os incentivos positivos são estímulos atrativos que facilitam um comportamento, os negativos podem ajudar e eliminar comportamentos que não são desejados. Os incentivos aumentam a força e a intensidade de um comportamento, são relativos, não são absolutos, podem mudar de função no tempo, pelas circunstâncias e de pessoa para pessoa. A antecipação de um incentivo pode servir para modificar um comportamento. Manipulando as conseqüências potenciais dos incentivos, um poderá influir na conduta de outros. O uso de incentivos variáveis pode ajudar a manter a afetividade dos incentivos tangíveis; os incentivos psicológicos (auto-estima), o desejo de prestígio social e a independência podem constituir possíveis recompensas que aumentam a motivação pela atividade física e o esporte. Conforme Strong (1965), na média meninice, os prêmios externos poderão aumentar o desempenho físico, ao passo que, na fase adulta, os atletas profissionais, já bem pagos e financeiramente independentes, poderão continuar a participar de seu esporte devido às recompensas internas provenientes do êxito.

    Tutko e Richards (1984) revisaram os processos de motivação interna e externa, relatando que o grau da motivação intrínseca varia enormemente entre atletas. Alguns desportistas são altamente motivados internamente e investem uma grande quantidade de tempo de trabalho para aperfeiçoar suas destrezas, embora não sejam, constantemente, reconhecidos ou elogiados pelos treinadores. As razões e os esforços porque estes atletas participam são fatores pouco relacionados com os comportamentos dos treinadores. De outra maneira, alguns desportistas investem muito pouco tempo e, constantemente, necessitam dos reforços dos treinadores para ter motivação e alcançar seus objetivos. Há, ainda, o indivíduo que, depois das práticas regulares, continua aperfeiçoando sua técnica e aquele que logo vai para o chuveiro e abandona o treinamento.

    A maior parte dos estudos (Tutko e Richards, 1984; Williams, 1991) chegou à conclusão que as recompensas extrínsecas podem prejudicar a motivação interna, exceto quando esta é elevada. Pelo contrário, o desempenho de desportistas com níveis de motivação intrínseca muito baixos pode aumentar mediante a administração de recompensas externas.

    Os reforços externos parecem afetar a motivação intrínseca dos sujeitos de duas maneiras: diminuindo, quando percebidos como mudanças perturbadoras de controle interno e externo; incrementando, quando percebidos como informações que permitem aumentar o sentimento de competência.

    Segundo Cratty (1983), para muitos jovens, fazer parte de um time significa a oportunidade de ser membro de um grupo, de formar laços com seus companheiros, porém, se o técnico motivar os seus atletas através da ênfase nas relações sociais, quando seu principal interesse é uma atuação superior e o resultado, certamente fracassará (Hernandez e Gomes, 2002).

    Apesar dos numerosos esforços que influenciam a motivação individual, pode-se pensar que é possível colocar os indivíduos em várias categorias, segundo os motivos que os levam a ingressar no esporte e em outras situações que implicam em sucesso. Frente à necessidade de êxito, Cratty (1983) propõe várias classificações. Na primeira, estão os indivíduos que buscam enfrentar situações que implicam em sucesso com uma motivação muito alta para alcançá-las e tendo a percepção de que tais situações trarão o sucesso tão valorizado. Estes indivíduos provavelmente escolherão objetivos alcançáveis em vez de "chutarem" alto demais ao enfrentarem desafios. Na segunda, estão os indivíduos que procuram evitar o fracasso. Estes têm possibilidade de evitar as situações que implicam em possibilidade de derrota ou terão muito cuidado ao escolher adversários e objetivos, tendo assim grande probabilidade de sucesso. Podendo também escolher objetivos dificilmente alcançáveis, preparam-se assim, de antemão, com desculpas plausíveis e "salvadoras". Existe também um outro tipo de indivíduo que se concentra em alcançar objetivos médios, acredita que terá uma chance de derrotar o próximo adversário se desenvolver grande esforço.

    Estudos de laboratórios (Bakker et al., 1983) comprovaram que a presença de adultos frente ao desempenho de crianças provocam nestes melhor nível de realização do que aqueles que atuam sozinhos. Para explicar esse fenômeno, Zajonc (1965) formulou a hipótese da facilitação social. Este autor declara que a existência de espectadores tem um efeito facilitador na ativação da prática esportiva. A presença do público, no nível e estágio inicial de aprendizagem e nos efeitos para os desempenhos, é prejudicial. No estágio intermediário de aprendizagem é levemente prejudicial ou favorável. Nos níveis mais altos de habilidade é considerada favorável ou sem efeito aparente (Singer, 1977).


Método

    Este estudo caracterizou-se por uma pesquisa quantitativa, tipo correlacional, com o fim de verificar as diferenças motivacionais no esporte em diversas fases do desenvolvimento psicológico humano.


Sujeitos

    Os participantes desta pesquisa foram crianças, adolescentes, adulto-jovens e adultos, de preparação profissionalizante em diversos clubes esportivos, praticantes do Futebol e/ou Futsal, da região metropolitana de Porto Alegre/RS. A amostra não-probabilística, tipo acidental ou de conveniência foi composta por 214 desportistas: 127 do Futsal e 87 do Futebol. O tempo em que esses atletas exercem estas duas modalidades variou de 1 a 21 anos. Os indivíduos foram divididos em categorias: infantil (9 a 14 anos); infanto-juvenil (15 a 16 anos); juvenil (17 a 19 anos) e adultos (acima de 19 anos).


Instrumentos

    Foi utilizado como instrumento uma adaptação do questionário de Gill e Deeter (1988), contendo 32 perguntas (em anexo), para determinar os fatores motivacionais nas diferentes etapas do desenvolvimento psicológico dos atletas. Este instrumento é composto de seis fatores de motivação: sucesso/status, desenvolvimento de habilidades, excitação/desafio, liberação de energia, aptidão e afiliação. A escala usada para registrar as respostas dos sujeitos foi do tipo Likert de quatro pontos: 1 significando extremamente importante; 2, bastante importante; 3, pouco importante; e 4, nada importante.


Coleta de dados

    O questionário foi aplicado nos estabelecimentos esportivos onde existem programas desportivos para faixas etárias diversificadas direcionados ao Futebol e/ou Futsal profissionalizante. A aplicação do instrumento foi feita em grupo.


Análise dos dados

    Através do pacote estatístico SPSS, os dados foram analisados pela técnica de Análise de Variância para um fator. A variável independente foi categoria desportiva (faixa etária) e a variável dependente foi motivação.


Resultados e discussão

    ANOVA para um fator, variável dependente sucesso/status, verificou diferenças estatísticas significativas (p = 0,001) entre os grupos de categorias esportivas, F (3,210) = 5.861. O teste de follow up de Scheffé identificou diferenças significativas entre as médias do grupo da categoria juvenil (1,68) e dos grupos das categorias infanto-juvenil (2,00) e adulto (2,06). Outras diferenças entre médias de categorias não apareceram.

    Cabe ressaltar que, nesta categoria de juvenis (17-19 anos), os jogadores enfrentam um momento decisivo em suas vidas, podendo se profissionalizar ou não. Em função disso, provavelmente, necessitam de status/sucesso confirmando o seu potencial e, antes de mais nada, "abrindo as portas" para a profissão. Neste estágio da adolescência, culmina todo o processo maturativo biopsicossocial do indivíduo. Mahler (1975) postula a existência de um estado indiferenciado inicial a partir do qual o indivíduo terá que, gradativa e inexoravelmente, se diferenciar para adquirir a identidade pessoal. A trajetória em direção a identidade adulta pressupõe a paulatina aceitação das limitações humanas e a renúncia às fantasias regressivas de posse ou fusão com o que está além dos limites do Eu (Osório, 1992).

    Para Aberastury (1990), pensar no que há de essencial na adolescência, seu signo, é pensar na necessidade de entrar no mundo adulto. A modificação corporal, essência da puberdade, o desenvolvimento dos órgãos sexuais e da capacidade de reprodução são vividos pelo adolescente como uma erupção de um novo papel, que modifica sua posição frente ao mundo e o compromete em todos os planos de convivência. A busca de aprovação, sucesso/status, seria o retorno absoluto da confirmação narcísica, necessária para que este sujeito cheio de inquietudes e dúvidas possa sentir-se suficientemente seguro para se lançar nos percalços, desafios e em todos os riscos que terá de enfrentar na vida adulta.

    ANOVA para um fator, variável dependente desenvolvimento das habilidades, apurou diferenças estatísticas significativas (p = 0,000) entre as médias dos grupos de categorias desportivas, F (3,210) = 7,069. O teste de follow up de Tamhane identificou diferenças significativas entre a média do grupo da categoria juvenil (M = 1,18) e as médias dos grupos das categorias infanto-juvenil (M = 1,45) e adulto (1,27), sendo que outras diferenças não apareceram.

    Balaguer (1994) comenta que, no âmbito da atividade física no esporte, a motivação é o produto de um conjunto de variáveis sociais, ambientais e individuais que determina a eleição de uma atividade física ou esportiva. A intensidade da prática dessa atividade, é o que influenciará, em últimos termos, o rendimento. Singer (1984) afirma que indivíduos que se tornam mais satisfeitos com suas experiências esportivas provavelmente vão continuar praticando. Essas pessoas desenvolvem capacidades pessoais e têm mais chances de conquistar seu potencial através de determinação e compromisso. Provavelmente, as diferenças entre o grupo de juvenil e os demais grupos, possam ser devidas aos interesses em desenvolver habilidades para conseguir chances de tornarem-se efetivamente profissionais.

    ANOVA para um fator, variável dependente afiliação, apurou que não houve diferenças estatísticas significativas (p = 0,786) entre os grupos das categorias, F (3,210) = 0,354.

    De acordo com os dados, esse fator não promoveu diferenças entre as quatro categorias, o que provavelmente indica que, em todas as idades (de 9 a 34 anos), essas pessoas precisam ser bem aceitas umas pelas outras, ou seja, têm necessidade de amizade e de relações. Como todos atletas investigados estavam envolvidos com modalidades esportivas coletivas, parece natural que a necessidade de afiliação seja um fator motivacional que os caracterize igualmente.

    ANOVA para um fator, variável dependente aptidão, apurou que não houve diferenças estatísticas significativas (p = 0,967) entre as médias dos grupos das categorias pesquisadas, F (3,210) = 0,087.

    Parece lógico que todos os desportistas tenham afirmado níveis muito parecidos de aptidão, já que estão num contexto de formação de atletas de elite. Portanto, é coerente que todos, indistintamente, saibam da aptidão que possuem para a realização dessas práticas esportivas e que reconheçam esta consciência como um dos fatores que os levam a praticar.

    ANOVA para um fator, variável dependente liberação de energia, apurou diferenças estatísticas significativas (p = 0,000) entre as médias dos grupos das categorias, F (3,210) = 6,546. O teste de follow up de Scheffé identificou diferenças significativas entre a média da categoria infantil (2,58) e as médias dos grupos infanto-juvenil (1,97), juvenil (2,03) em relação às médias das categorias infantil (2,58) e adultos (2,15).

    Nas fases referentes à adolescência, dos 15 aos 19 anos (infanto-juvenil e juvenil), os esportistas expressaram claramente suas necessidades de liberar energias motivando-os ao esporte. Pode-se inferir que, talvez, estejam sentindo-se mais ativados e energizados frente ao contexto que experienciam. De acordo com Kalina (1999), a criança que vive 11, 12 ou 13 anos a singularíssima vida infantil, protegida por seus pais e pelas instituições e afastada dos problemas da realidade social, à medida que se instala a puberdade, a partir dos 14-15 anos, ocorrem fortes comoções psicológicas. A adolescência, processo que tem características muito particulares, varia, também, de acordo com as circunstâncias em que se encontra cada adolescente. Mas, em geral, toda a agressividade contida, através do superego estabelecido, mesmo de forma ainda fragilizada, é libertada para buscar situações sociais que permitam a sua sublimação. A liberação dos impulsos agressivos e libidinais é inerente nessa fase de preparação para a vida adulta. Uma forma de conter a impulsividade é transformá-la em algo socialmente aceitável e o esporte servirá de suporte reorganizador do comportamento agressivo no mundo adulto. Portanto, parece congruente que os atletas mais envolvidos com a fase da adolescência tenham manifestado mais motivação ligada com a liberação de energia. ANOVA para um fator, variável dependente excitação/desafio, apurou que não houve diferenças estatísticas significativas (p = 0,151) entre as médias dos grupos das categorias F (3,210) = 1,783.

    Conforme visto antes, a motivação implica movimento, ativação e tanto é assim que, para descrever um estado altamente motivado se utilizam termos como excitação, energia, intensidade ou ativação. O que motiva todo o atleta é o desafio de vencer obstáculos, colocando tensão em si próprio, promovendo excitação e competindo para conquistar o sucesso (Zander, 1975).


Conclusão

    Conclui-se, através da apresentação e discussão dos resultados, que os aspectos pelos quais os atletas mobilizaram-se, atuando motivadamente no esporte, como qualquer pessoa em outro contexto, revelaram direcionamentos variáveis e difíceis de serem reduzidos a conceitos rígidos. As razões de cada atleta para ingressar num time esportivo podem ser inúmeras, como também os motivos que os fazem atuar durante todo o processo de sua formação profissional.

    Esses atletas pesquisados, na maioria, vinham percorrendo, ao longo de vários anos, suas trajetórias esportivas, e apresentaram expectativas condizentes aos desejos de aceitação, reconhecimento e sucesso/status presumíveis de acordo com seus empenhos, esforços e dedicação ao esporte.

    Grande parte desses desportistas pesquisados estava na reta final da adolescência, portanto, ajustando-se as turbulências hormonais, emocionais e elaborando o luto dos pais da infância e do corpo infantil, ambos perdidos. Desta forma, esses atletas estavam "correndo atrás da bola" através do manejo das possibilidades plausíveis de reconhecimentos para a conquista de uma identidade adulta. Os seus desejos de satisfações imediatas, típicos da impulsividade dessa fase do desenvolvimento humano, os levaram a valorizar mais do que nunca o "desenvolvimento de habilidades". Possivelmente, porque este será o antídoto mágico e eficiente que permitirá ingressar no mundo encantado do "sucesso".

    Tudo isso, possivelmente, justifica o fato de que as principais diferenças de motivação para participar do esporte entre faixas etárias encontradas neste estudo tiveram como protagonistas atletas que, em maior ou menor grau, estavam sob os efeitos de uma fase crucial do ciclo vital humano: a adolescência.

    Visto que, no presente estudo, foi usada uma abordagem transversal, comparação de diversos grupos de faixas etárias diferentes para observar a evolução da motivação de atletas, sugere-se que outras pesquisas possam ser realizadas utilizando estratégia longitudinal. Ou seja, um acompanhamento regular e periódico aos mesmos atletas em suas trajetórias esportivas desde as categorias infantis até adulta. Assim, a observação do desenvolvimento do desportista, provavelmente, se dará mais efetivamente, embora em função de tempo e recursos materiais esse tipo de pesquisa seja bastante difícil e complicado de ser realizado. Além disso, seria conveniente utilizar como instrumentos, além dos questionários, as entrevistas semidirigidas.


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revista digital · Año 10 · N° 77 | Buenos Aires, Octubre 2004  
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