Ginástica laboral: contribuições para a saúde e qualidade de vida de trabalhadores da indústria de construção e montagem - Case TECHINT S.A. Laboral gymnastics: influences in health and workers'lifequality of a building company - Case Techint S.A. Gimnasia Laboral: contribuciones para la salud y mejor calidad de vida de trabajadores de una empresa de construcción y montaje - Caso TECHINT S.A. |
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Unicamp (Brasil) |
Irivaldo de Souza Rubens Venditti Júnior rubensjrv@yahoo.com |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 77 - Octubre de 2004 |
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A Techint S.A. é uma empresa prestadora de serviços dentro da área da Refinaria de Planejamento da Petrobrás S.A. (REPLAN- Paulínia/SP-BRASIL), atuante no ramo de montagem e construção industrial. Atua diretamente nos canteiros de obras da refinaria petrolífera, local no qual foi elaborado o estudo.
1. IntroduçãoA saúde, primeira dádiva do ser humano ao nascer, é posteriormente o primeiro bem a ser abandonado, enquanto escala de valores. (VIEIRA, 1996)
O trabalho ocupa um espaço muito importante na vida de todo indivíduo, sendo que muitas vezes passamos mais horas dentro de nosso local ocupacional do que em nossas casas, resultando na necessidade da criação de propostas diferenciadas para melhoria e incentivo da qualidade de vida do trabalhador ativo.
Muitas empresas direcionam a atenção de seus colaboradores para a importância no processo de qualidade e produtividade, investindo maciçamente em programas de treinamento específicos, aliados à possibilidade de incrementos salariais ou outros benefícios, como recompensa aos ganhos e aumento de produtividade.
Notadamente, é ignorado o fato de que um trabalhador produz melhor quando em equilíbrio harmônico entre seu desempenho profissional e estabilidade físico-mental, que não necessariamente será suprido por benefícios como os citados anteriormente.
Entende-se que um equilíbrio harmônico dependerá da realização de atividades prazerosas e saudáveis durante a maior parte de seu tempo, principalmente em ambientes onde se permaneça muito (como o local de trabalho) e o nível de stress costuma ser alto, implicando em ansiedade, falta de concentração e queda de rendimento/desempenho produtivo.
Nesse sentido, o maior promotor isolado de saúde que não os medicamentos - o exercício físico - é também o primeiro a ser abandonado ao haver a inserção no mercado de trabalho. A partir daí mais da metade dos dias úteis dos cidadãos são despendidos no trabalho, e em seus trajetos de ida e volta. (MELLO, 1991 apud SOUZA, 2003).
Sendo assim, a Ginástica na Empresa vem contribuir para que o indivíduo volte a praticar atividade física, mesmo inserido no mercado de trabalho. De acordo com Cañete (2001) a ginástica surge no ambiente de trabalho em 1925, sob a terminologia de "ginástica de pausa". Mas ainda existe divergência a respeito da paternidade e origem da mesma (ZILLI, 2002; MASCELANI, 1988).
A Ginástica Laboral (Ginástica de Pausa) nada mais é do que a prática da atividade física orientada e dirigida durante o horário do expediente e no local de trabalho, isto é, existe uma pausa para que possam ser realizados exercícios físicos que visam benefícios pessoais e no trabalho. Tem como principal objetivo minimizar os impactos negativos oriundos do sedentarismo na vida e na saúde do trabalhador (CARVALHO, 2004).
Uma definição clássica também conhecida é a do Serviço Social da Indústria (SESI), que a caracteriza como "[...] a prática voluntária de atividades físicas realizadas pelos trabalhadores, coletivamente, dentro do próprio local de trabalho, durante sua jornada diária" (SESI, 1999 apud SOUZA, 2003).
A ginástica laboral traz também grandes benefícios para as empresas (rendimento e produção), motivo pelo qual essa atividade física é estimulada e implementada por diversas organizações (CARVALHO, 2004).
Além das terminologias usuais de ginástica laboral ou de pausa, estas metodologias são também conhecidas como Cinesioterapia Laboral (ZILLI, 2002), tendo como objetivos a busca de alguns benefícios físicos e fisiológicos, psicológicos e sociais do trabalhador, influenciando em sua qualidade de vida (indireta e diretamente) e promovendo melhorias no ambiente de trabalho e produtividade.
Couto (1995) enfatiza a importância da pausa para o organismo humano. Dentre os mecanismos que previnem as lesões, através da realização de pausas em atividades repetitivas, podemos destacar que:
o fluxo de sangue normal retira as concentrações acumuladas de ácido lático muscular, evitando assim possíveis irritações nas terminações nervosas livres;
os tendões retornam às suas estruturas normais, voltando a sua formação normal (viscoelasticidade e conformação); e
lubrificação dos tendões pelo líquido sinovial, evitando atrito interestrutural.
Este tipo de atividade física vem crescendo e ganhando espaço dentro das empresas, uma vez que diminui os efeitos negativos do trabalho. Não só problemas físicos, mas também psicológicos (conflitos interpessoais, estresse, baixa concentração e confiança) e sociais (convívio, trabalho em equipe, relacionamento social). Isto é, visa a promoção da saúde psicossomática do trabalhador, a melhoria do relacionamento interpessoal no trabalho, além do aumento da produtividade.
A influência benéfica da atividade física sobre a dimensão emocional da qualidade de vida segundo Silva (1999), se dá sob múltiplos aspectos, especialmente os efeitos nocivos do estresse e o melhor gerenciamento das tensões próprias do viver. (ZILLI, 2002, p.54)
Clark (1962 apud SOUZA, 2003) já destaca que o ser humano passa a metade da sua vida trabalhando em condições que não lhe permitem desenvolver-se, nem psicologicamente, nem fisicamente, é lícito reconhecer os efeitos nefastos que daí advêm. Zilli (2002, p.53) complementa:
Análises epidemiológicas demonstraram que muitos indivíduos morreram simplesmente por sedentarismo, o que fez com que a atividade física fosse vista, em diversos países e sob diferentes óticas, como uma questão de saúde pública.
Através da implantação da Ginástica Laboral, a empresa se beneficia em alguns fatores já comprovados, entre eles a diminuição dos problemas de saúde do trabalhador e com isso um aumento na produtividade da empresa. Isso se dá em razão de uma diminuição das faltas por motivos médicos e também a redução dos acidentes de trabalho.
O trabalhador também recebe benefícios, pois grande parte dos exercícios que são executados durante a aula, visam reduzir o impacto e o estresse muscular que o indivíduo sofre durante sua jornada de trabalho (ZILLI, 2002).
Isto significa que não só trabalhadores "braçais" ou funcionários da linha de produção necessitam da Ginástica Laboral, mas também trabalhadores administrativos (digitadores, secretárias, etc.) e externos (motorista, vendedores, entregadores, etc.). Estes tipos de trabalho (administrativo, produção e/ou externo) trazem sérios problemas posturais, musculares e visuais. Um programa de Ginástica Laboral visa minimizar as lesões ósteomusculares e ergonômicas causadas por estas atividades.
Existem basicamente três tipos de Ginástica Laboral oferecidos atualmente: Preparatória; Compensatória; Relaxamento (ZILLI, 2002, p. 58-60).
A Ginástica Preparatória ou de Aquecimento visa "ativar" (despertar/ aquecer) o trabalhador para a jornada de trabalho, sendo assim esta é realizada logo no início do expediente, despertando e tornando o indivíduo mais atento durante suas atividades, evitando assim acidentes e contusões ao longo de todo período.
Outro tipo de Ginástica Laboral é a de Compensação (compensatória) ou de Distensionamento, geralmente realizada no meio do período de trabalho, provocando uma pausa ativa no trabalhador, aumentando assim radicalmente seu poder de concentração.
A Ginástica de Relaxamento é feita ao final do expediente e prioriza recuperar o trabalhador ao final da jornada de trabalho, diminuindo assim seu desgaste físico e psicológico ao retornar ao seu convívio pessoal.
São diversos os resultados obtidos com a introdução de um programa de Ginástica Laboral (OLIVEIRA, 1998; ZILLI, 2002):
Melhoria da condição de saúde geral de todos os funcionários;
Melhor adaptação ao posto de trabalho;
Melhoria na produção (qualitativamente e quantitativamente);
Melhora no clima organizacional;
Diminuição de queixas relativas à dor;
Diminuição na procura ambulatorial;
Diminuição nos acidentes de trabalho;
Diminuição no afastamento por D.O.R.T. (LER) 3;
Melhoria do atendimento ao cliente externo.
É bastante importante salientar que a ginástica laboral faz parte de um projeto de qualidade de vida no trabalho com seus objetivos voltados à saúde do trabalhador e tal projeto tem parâmetros ergonômicos que não se restringem somente à prática da atividade física. (ZILLI, 2002, p. 69)
Deste modo, é necessário compreender todo o projeto de intervenção (a curto, médio e longo prazo) na qualidade de vida dos trabalhadores participantes. Assim, a GL compõe uma das ações efetivas neste programa de qualidade de vida, sendo necessário também a reeducação alimentar, orientações ergonômicas e estruturais, acompanhamento médico preventivo (saúde) e estímulos ao desenvolvimento de hábitos saudáveis, dentro e fora do ambiente de trabalho.
Por falta de estímulos, basicamente educacionais, os indivíduos crescem adquirindo vícios dos mais diversos, só retornando suas preocupações em relação à saúde na terceira idade, quando se encontram frente a doenças e seqüelas; muitas delas evitáveis através da adoção de uma postura mais saudável durante a juventude e seu período laboral.
Ultimamente, é possível perceber uma mudança nestes valores, devido à maior conscientização da população sobre a importância em melhorar sua qualidade de vida. Para tanto, o indivíduo passa a procurar uma alimentação mais equilibrada, realizar atividades que lhe tragam prazer, iniciando ou retornando à prática de atividade(s) física(s) regulares. Desta forma, é possível prevenir enfermidades psicossomáticas.
Através de nossa experiência de atuação direta e alguns referenciais de estudo, segue um quadro esquemático sobre os diversos benefícios da GL:
Quadro 01. Diversos benefícios obtidos com a implantação de um programa de GL (aspectos fisiológicos, psicológicos e sociais).
Adaptado de Catarino Filho apud Souza (2003)
2. Desenvolvimento do programa de ginástica laboral na TECHINT S.A.
Considerações geraisVários estudos evidenciam que as empresas também estão promovendo ações de melhoria da qualidade de vida de seus colaboradores, uma vez que ambos se beneficiam com esta atitude, pois:
A implantação de programas de qualidade de vida traz mudanças na qualificação dos trabalhadores e exigem uma maior participação, envolvimento e identificação com os objetivos da empresa. (OLIVEIRA,1998).
Partindo deste último princípio, a Techint S.A. mantém um Programa de Ginástica Laboral durante as atividades de construção e montagem do contrato de expansão da REPLAN. Este projeto pretende dar continuidade aos trabalhos preventivos e profiláticos realizados pelo Setor de Serviços de Saúde da empresa.
Conforme já definimos, a Ginástica Laboral ou Ginástica de Pausa (ZILLI, 2002) é então a prática da atividade física regular e orientada durante o horário do expediente onde existe uma pausa para que possam ser realizados exercícios físicos, visando benefícios pessoais do trabalhador e também voltados à produtividade e rendimento.
Metodologia empregadaDe acordo com Zilli (2002), para iniciarmos um programa de Ginástica Laboral, deve-se percorrer as seguintes etapas:
pré-projeto;
pré-implantação e implantação;
consolidação;
comprometimento;
sustentação, contatos e negociação; e
avaliação.
Procuramos nesse caso seguir este eixo sistemático e confirmar assim a necessidade principalmente das etapas iniciais de projeto, análise do caso e implantação, sem deixar de lado, logicamente a importância da avaliação (inicial, parcial e geral).
É muito comum encontrar condutas de aplicação da ginástica laboral em linhas de produção, escritórios, atendimento ao cliente enfim, em todos os setores de trabalho.
Porém, raras são as publicações referentes a este tipo de atividade aplicadas à construção civil, principalmente de maneira tão específica como é o caso em tela.
Implementação do programaPortanto, a implantação deste programa exigiu a estruturação global e específica de um processo adaptado de acordo com as possibilidades e necessidades da rotina laboral pré-existente deste público-alvo. Para tanto, alguns fatores foram cuidadosamente observados :
Identificação dos tipos de atividades operacionais realizadas pelos funcionários da Techint S.A. (observação e triagem de funções e tarefas dos colaboradores);
Realização de uma análise ergonômica, avaliando quais grupos musculares são mais requisitados no cotidiano de cada grupo, pois:
Faz-se absolutamente necessária à análise ergonômica do trabalho, pois sem ela, as sessões de Ginástica Laboral seriam apenas um paliativo momentâneo, já que alguns minutos de alongamento e relaxamento não seriam capazes de atuar com eficácia sobre a má postura ocasionada por um mobiliário antiergonômico ou tarefas deficientemente prescritas, realizadas durante seis ou oito horas. (MARTINS E DUARTE apud SOUZA, 2003)
* Avaliação dos grupos musculares mais utilizados pelos colaboradores da Techint S.A.
Como resultado da observação prévia, identificamos e classificamos as seguintes atividades :
Atividades de natureza administrativa (contadores, digitadores, chefes de departamentos, secretárias, auxiliares de escritório, recepcionistas, etc). Este grupo está na maior parte do dia sentado e realizando trabalhos de natureza manual, para isto utiliza sua coordenação motora fina. Os grupos musculares mais utilizados são : Cervical - m. esternocleidomastóide ; Ombro - m. trapézio e m. deltóide ; Mãos e punhos - m. palmar longo, mm. flexores e extensores da mão.
Atividades de natureza de carga (pedreiros, marceneiros, serralheiros, montadores de andaime, soldadores, auxiliares de serviços gerais, etc). O trabalho destes indivíduos está diretamente relacionado a serviços "braçais", coordenação motora global. Grupos musculares : Ombro - m. deltóide ; Braço - m. bíceps, m. tríceps e m. braquioradial ; Costas - m. grande dorsal e mm. rombóides ; Perna - m. quadríceps e mm. posteriores de coxa.
Atividades de Natureza Coordenativa (supervisores, motoristas, técnicos de segurança do trabalho, médicos, enfermeiros, encarregados, etc). Estes indivíduos passam parte do dia em pé, quando não estão realizando algum tipo de atividade que exija um certo grau de força ou resistência muscular. Grupos musculares: Ombro - m. deltóide e m. esternocleidomastóide ; Costas - m. grande dorsal ; Mãos e Punho - mm. extensores e flexores; Perna - m. quadríceps, mm. posteriores da coxa.
Esta parte da pesquisa corresponde, portanto, ao pré-projeto, pré-implantação e implantação.
Seguindo as etapas de Zilli (2002), após os estudos iniciais e coleta de dados e características, podemos partir para a consolidação e comprometimento com o programa. Isto significa que deve-se Ter a preocupação em consolidar e permitir ao trabalhador a conscientização e adesão de sua participação de maneira efetiva, pró-ativa e responsável.
Caracterização do estudo- participantes e período do estudoParticiparam deste estudo 1847 funcionários da empresa descrita nesta pesquisa, ambos os sexos, com faixa etária entre 26 e 49 anos. O período de aplicação deste programa de Ginástica laboral foi de 10 de janeiro de 2003 até 20 de julho de 2003 (6 meses e 10 dias = 190 dias).
Grupo de trabalhoOs profissionais de Educação Física4 envolvidos no projeto foram 06 professores formados em educação física e 04 estagiários do mesmo curso; além de uma banca consultora composta por profissionais de fisioterapia, terapia ocupacional, nutrição, assistente social/recursos humanos, psicologia do trabalho, segurança e o coordenador do projeto de atividades e sistematização da ginástica laboral na empresa. Esta banca consultora5 era constituída por 08 indivíduos que colaboravam direta ou indiretamente neste projeto.
Intervenções - periodicidade e duraçãoAs intervenções foram diárias (regularmente), aplicadas aos participantes em aulas ou encontros orientados com duração de 15 minutos diários. O conteúdo destas intervenções foi: alongamentos simples, relaxamentos, movimentos circulares de grandes grupos musculares, atividades lúdicas, jogos e brincadeiras e dinâmicas de grupo.
Utilizamos recursos de música em alguns encontros, algumas aulas temáticas, aulas avaliativas e sessões gradativas de alongamento e trabalhos músculo-articulares.
ConteúdosOs exercícios e atividades realizadas são: pré-alongamento, alongamento e aquecimento, onde os alongamentos estáticos são os mais utilizados dentro dos planejamentos de aula. Isto se deve ao fato de que estes tipos de atividade apresentam algumas vantagens no caso da construção civil. Durante os alongamentos, diversas orientações são passadas aos alunos. Temos uma grande variedade de exercícios estáticos e dinâmicos, individuais e coletivos (duplas, grupos e interativos), que são sistematizados e desenvolvidos durante as intervenções do programa.
Estes tipos de atividades apresenta algumas vantagens no caso da construção civil:
Uma vez que os colaboradores da empresa demonstraram, em sua maioria, pouco contato com atividades físicas, a permanência por um certo período de tempo em um determinado movimento facilita a execução do mesmo;
Este tipo de alongamento pode ser realizado em locais com pouco espaço e em terrenos variados;
Existe uma possibilidade de maior concentração no alongamento estático, como também se torna mais fácil para exercícios que exigem certo grau de equilíbrio.
Durante os alongamentos, diversas orientações são passadas aos alunos. Primordialmente, que a dor não deve fazer parte dos exercícios. Isto se deve ao fato de que, mesmo existindo avaliações médicas, a individualidade de cada um é de difícil mensuração.
Avaliação e diagnóstico, analisando a aptidão física, qualidade de vida, biomecânica e ergonomia, a fim de permitir uma correta adequação da atividade física, também fazem parte da sistematização. Ocorre também a realização de palestras informativas, conscientizando os funcionários da empresa sobre a importância da Ginástica Laboral, os problemas provenientes da má postura, as doenças relacionadas ao trabalho sua prevenção e o incentivo à prática regular da atividade física. 6
InstrumentosAtravés dos prontuários de saúde (anamneses) e questionários individuais da própria empresa e seu departamento de saúde ocupacional, foi possível identificar quais regiões do corpo existe maior incidência e queixas de dor, desconforto muscular ou afecções músculo-esqueléticas relacionadas ao trabalho. Esta triagem e levantamento do histórico de queixas ósteo-articulares pode facilitar o mapeamento das regiões de risco das categorias de serviços e posições de trabalho1.
Este levantamento é, em seguida, visualizado em questionários de "trigger-points", ou seja, pontos de incidência de dor ou sobrecarga assinalados em uma figura representativa de um indivíduo e seus grupos musculares que exerça aquela função na empresa.
Todos os participantes da pesquisa se submeteram a este exame médico, sendo considerados aptos à intervenção do programa e sem restrições médicas rigorosas. O resultado desta pesquisa está demonstrado na Figura 01.
De posse desta informação, foi possível realizar um mapeamento completo e específico (trigger-point) das áreas do corpo passíveis de desenvolvimento de traumas ósteo-musculares como também LER/DORT.
Também foi realizada a identificação e correção das posturas, assim como o levantamento das anormalidades psico-comportamentais e fatores ambientais incidentes, que possivelmente contribuiriam para as afecções musculares dos colaboradores, através da consultoria multidisciplinar atuante no projeto.
Figura 01 - Representação dos participantes e locais com incidência de dores ou distúrbios ósteomusculares.
(dados fornecidos pela empresa -fevereiro-2003)Este mapeamento (aliado aos relatórios de atendimento mantidos pelo ambulatório da empresa) auxiliou na determinação das regiões do corpo onde ocorrem mais freqüentemente as dores ocupacionais elencadas a seguir:
Lombalgias;
Membros inferiores ;
Ombro; e
Pescoço.
Seleção dos participantes- encaminhamentosOs profissionais atuantes (06 professores e 4 estagiários) e os Serviços de Saúde da empresa avaliaram previamente quais os colaboradores que apresentavam algum sintoma de afecção e estariam aptos a participar do Programa de Ginástica Laboral, e quais deveriam ser encaminhados para um tratamento mais direcionado, como um ortopedista ou fisioterapeuta.
Ocorrências nos trabalhadores da construção civil e industrialDevemos considerar também que, entre pacientes com LER/DORT, algumas ocorrências são mais freqüentes no segmento da construção civil. São elas (SOUZA, 2003):
Protusão de ombro;
Aumento da cifose dorsal e lordose lombar;
Retificação cervical;
Flexão e desvio ulnar de punho;
Flexão de cúbito.
Vícios posturais e ergonômicosOutro fator de preocupação abordado foi o "vício postural" observado entre os colaboradores da prestadora de serviços. Geralmente quando o indivíduo se encontra em uma postura inadequada, isto resulta de uma má condição ergonômica ou falta de conhecimento sobre a referida atitude.
Para minimizar estes traumas, durante as aulas, os professores são orientados a dar instruções e dicas de como deve ser uma postura correta em diferentes situações, além de corrigir vícios mais comuns e incentivar os funcionários durante sua jornada de trabalho a manterem uma boa postura. Também foi possível passar informações sobre como devem ser ajustados os móveis e ferramentas de trabalho, de acordo com o biotipo de cada um8.
A importância fisiológica dos alongamentosDurante as nossas atividades, foi possível perceber que indivíduos portadores de dor e afecções músculo-esqueléticas apresentam músculos com tonicidade de base aumentada.
Segundo Ramazzini (1992) isto se deve ao fato de que, para produzir vantagem mecânica, o músculo necessita de liberdade entre suas fibras e comprimento isométrico, livre de contraturas e retrações miofasciais. Os exercícios vêm permitindo uma melhora na flexibilidade do indivíduo, reduzindo o trofismo do músculo encurtado.
Este efeito analgésico se dá devido a fatores intrínsecos, melhora da circulação local, maior relaxamento muscular e à extensibilidade aumentada do tecido de colágeno.
Resultados da triagem observacional inicialÉ comum observar nos programas de atividades físicas para empresas, uma maior ênfase nos exercícios voltados para membros superiores, englobando coluna cervical, torácica e lombar, articulação glenoumeral, cúbito e carpo, segundo Lima (2003).
Como foi verificado através dos questionários individuais e também de levantamentos feitos pelo Departamento de Saúde da empresa, os colaboradores constantemente adquiriam enfermidades em membros inferiores, sendo assim foi necessário criar um planejamento onde músculos como quadríceps, bíceps femural, tibial anterior e panturrilha, fossem atendidos pelo programa de maneira semelhante aos grupos musculares de regiões superiores (acima da cintura pélvica).
Esta necessidade se justifica devido ao fato de que alguns grupos de trabalhadores (montadores de andaime, pedreiros, ajudantes, marceneiros), mantêm-se por muito tempo sobre os membros inferiores em posições estáticas, muitas vezes passando horas trabalhando com uma amplitude de movimento muito pequena. Isto faz com que os grupos musculares envolvidos entrem em fadiga rapidamente, ocorrendo um aumento efetivo da pressão hidrotástica do sangue nas veias e acúmulo progressivo de líquidos tissulares nas extremidades inferiores (ZILLI, 2002).
Segundo Grandjean (1998), os esforços estáticos estão associados com o aumento do risco de inflamações nas articulações, bainhas dos tendões, doenças dos discos intervertebrais e cãibras musculares. Tais indícios nos levam a crer que não só estes trabalhadores em questão estão sujeitos a adquirir este tipo de doença ocupacional, mas potencialmente, qualquer colaborador que, em algum momento de sua ocupação dentro da empresa, passe por algumas horas em posição estática.
Para que problemas como estes possam ser minimizados, os grupos de ginástica devem apresentar características ocupacionais semelhantes, nas quais os indivíduos que precisam de ênfase nos exercícios de membro inferior realizam aulas juntos, onde são prescritas atividades que estimulam a circulação sangüínea destes membros. O mesmo acontece com os que necessitam trabalhar mais a região cervical, lombar, mãos e punhos (digitadores e funcionários do escritório). Estes colaboradores realizam exercícios específicos para estas regiões.
Dentro das atividades realizadas pelos funcionários da empresa, envolvidas no programa, o trabalho de movimentação de materiais e atividades com carga são comuns. Constantemente o indivíduo mantém uma postura "em agachamento", exigindo um esforço muito grande dos discos intervertebrais, principalmente L4 e L5 (lombar). Outra região onde existe uma grande concentração de contrações musculares é o pescoço (cervical), sendo assim, as aulas procuram orientar exercícios e atividades nestes planos.
Cuidados com lesõesSegundo Alter (1999), cinco são as hipóteses que tentam explicar a natureza do sofrimento muscular: músculo danificado ou rompido; tecido conjuntivo danificado; acúmulo metabólico ou pressão osmótica e dilatação; acúmulo de ácido lático; espasmos de algumas unidades motoras.
Portanto, faz-se necessário que o professor esteja ciente das possíveis lesões que seus alunos possam vir a apresentar.
Outra questão importante que muitas vezes passa despercebida é o controle da respiração durante as aulas (fator de suma importância em trabalhos desta natureza), uma vez que esta torna possível um melhor controle corporal, promove um maior relaxamento, corrige padrões respiratórios ineficientes e melhora o nível de atenção dos alunos.
A busca por uma minimização do stress, por maiores estímulos e para motivação dos colaboradores são parte integrante dos objetivos da maioria das empresas. Com isso, é possível agrupar objetivos organizacionais e objetivos individuais. A Ginástica Laboral vem contribuir para que estas diretrizes possam ser agregadas com maior facilidade, pois "A GL é um programa que intensifica a ligação do trabalhador com a empresa, valorizando o significado do seu trabalho, já que a série de exercício é baseada na função exercida" (Lima, 2003).
Indicadores e acompanhamento de resultadosPara que seja possível mensurar a qualidade do Programa de Ginástica Laboral da Techint S.A., a equipe de professores criou alguns Indicadores, com base em informações de fácil acompanhamento.
Estes indicadores são apresentados à empresa periodicamente, e é possível analisar a evolução e melhorias em vários setores da empresa.
Questionários avaliando os resultados observados pelos funcionários após a implantação do programa de Ginástica Laboral (Feedback), são realizados a cada oito meses. Vários indicadores da melhora organizacional e da saúde geral dos funcionários foram apresentados, conforme veremos a seguir.
3. Análise de dados sobre o programa de ginástica laboralApós a implantação do programa de GL na empresa, obtivemos alguns dados que gostaríamos de apresentar neste relato.
Tabela 01- Análise dos dados do BAD (Boletim de Avaliação de Desempenho).
FIGURA 02 - Gráfico ilustrativo da análise dos dados do BAD (Boletim de Avaliação de Desempenho) / 1.º semestre- 2003.Através do BAD, foi notada uma melhoria no desempenho dos trabalhos dentro da Empresa depois da implantação do programa de Ginástica Laboral, no período de 5 meses (janeiro/2003 a Maio/2003), mostrando um aumento de praticamente 1 ponto percentual, deixando evidente os objetivos e metas oferecidas pelo programa.
Podemos também analisar dados obtidos sobre os atendimentos do ambulatório referente a queixas ósteo-musculares, no período de Novembro/2002 a Fevereiro/2003, sempre levando em consideração que o número de funcionários aumentou de 690 para 1250 trabalhadores. Informações obtidas a partir do banco de dados da própria empresa, com relação ao período anterior à efetivação do programa de ginástica laboral na empresa Techint S.A.
Tabela 02. Análise dos atendimentos ambulatoriais na empresa.
FIGURA 03. Gráfico ilustrativo de atendimentos ambulatoriais. Comparativo entre bimestre anterior
(novembro e dezembro/2002) com relação ao 1º bimestre/2003.Houve um decréscimo nos atendimentos ambulatoriais durante os meses de janeiro e fevereiro (com relação aos meses anteriores À implementação do programa), onde foi dado o início das atividades físicas no trabalho.
Foram obtidos também dados sobre acidentes de trabalho no período de Nov/2002 a Mai/2003. Antes da implantação do programa, Jan/2003, houve um caso de acidente com afastamento, o que não voltou a ocorrer após a efetivação da Ginástica Laboral dentro da empresa.
Podemos notar através dos dados que os acidentes no trabalho sem afastamento diminuíram após a Ginástica Laboral, mesmo o número de funcionário tendo aumentado.
Tabela 03. Análise dos dados sobre acidentes de trabalho (1.ºsemestre/ 2003).
FIGURA 04. Gráfico ilustrativo relativo a acidentes de trabalho no período do 1.ºsemestre/ 2003.Também destacamos os dados obtidos dentro da empresa no período de Janeiro/03 a Maio/03 em relação ao absenteísmo (faltas no trabalho), com início do programa em Janeiro de 2003 (Tabela 04).
Tabela 04. Percentual de absenteísmo no trabalho entre meses de janeiro a maio (2003)
FIGURA 05. Gráfico ilustrativo com relação ao absenteísmo no trabalho e sua relação com o início do programa de GL,
no período de janeiro a maio/ 2003.
4. ConclusõesCada vez mais é possível constatar que a saúde e longevidade estão relacionadas com o estilo de vida de cada um. Pesquisas e estudos no mundo inteiro demonstram que um estilo de vida saudável está ligado diretamente com uma alimentação equilibrada e atividades físicas regulares.
Através da G.L. é possível estimular a diminuição do sedentarismo e levar indivíduos cada vez mais à prática de atividades físicas, uma vez que a mesma se insere no ambiente de trabalho.
Outro ponto que nos chama a atenção quando um Programa de Ginástica Laboral está em analise é o fator motivacional. A Ginástica Laboral vem contribuir para que estas diretrizes possam ser agregadas com maior facilidade, pois "A GL é um programa que intensifica a ligação do trabalhador com a empresa, valorizando o significado do seu trabalho, já que a série de exercício é baseada na função exercida" (LIMA, 2003). Através de questionários individuais e observações sobre o clima organizacional é possível perceber uma enorme mudança neste sentido. Possivelmente isso se dá por uma melhora no estado geral de saúde e principalmente por uma mudança na rotina.
Foi possível perceber também uma maior integração entre as diferentes comunidades da empresa, isto é, como as aulas atendem a todos os setores de trabalho sem distinção de cargo, indivíduos de diferentes posições passam a conviver num mesmo ambiente onde não existe a presença da hierarquia corporativa (do chefe e do subalterno/subordinado).
Analisando o número de faltas e a incidência de doenças ósteo-musculares relacionadas ao trabalho, podemos afirmar que as mesmas apresentaram decréscimo conforme média estatística dos casos de afastamento.
A ginástica laboral tem uma grande importância no que diz respeito à produtividade. A produção é analisada em um período de dois anos após a implantação do programa, e sua eficácia é comprovada através de números obtidos dentro da empresa. Nota-se que a produtividade teve aumento significativo com a implantação da atividade física na empresa.
O índice de gravidade das doenças foi amortizado, pois o período de ausência no trabalho diminuiu. Observa-se também a diminuição dos casos crônicos, que requeriam longos períodos de afastamento. Com isto, comprova-se a redução no absenteísmo.
Outro dado importante que é possível verificar após a Ginástica Laboral é a freqüência com a qual os funcionários procuram o ambulatório, após um ano da implantação do programa, foi registrado um decréscimo de 52% na procura ambulatorial. Nada pode ser mais prazeroso para indivíduos que atuam na área da saúde, do que poder identificar os benefícios que seus esforços vem propiciando para uma certa comunidade. Isto torna nosso trabalho mais ameno e nos incentiva a continuar as atividades em parceria com empresas e instituições que investem nos seus colaboradores.
Notas
REPLAN - Refinaria de Planejamento da PETROBRÁS, localizada em Paulínia, estado de São Paulo, Brasil.
L.E.R. - Lesões por esforço repetitivo (ZILLI, 2002). Atualmente este grupo de doenças ocupacionais é conceituado na literatura como D.O.R.T. ou distúrbios ósteomusculares relacionados ao trabalho (RAMAZZINI, 1992; O'NEILL, 2004).
A presença de um profissional de educação física "full-time" é fundamental para assegurar a orientação e o monitoramento das intervenções de maneira regular, correta e adequada.
Em um primeiro momento as pessoas da área da saúde devem trocar informações entre si. Médicos, fisioterapeutas, professores de educação física, profissionais da área de segurança do trabalho, enfim todos que lidam de alguma forma com o bem estar do trabalhador na empresa irão se reunir e debater quais são os objetivos a serem traçados, principalmente a médio e longo prazo. Definir qual tipo de ginástica será executada (preparatória, compensatória, relaxamento) também deve ser assunto deste grupo multidisciplinar. O como fazer também cabe a esta equipe, sendo assim, haverá uma integração destes profissionais, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do trabalhador, não apenas com a inclusão da Ginástica Laboral, mas atendendo diversas temas transversais e multidisciplinares que dizem respeito à qualidade de vida destes trabalhadores, tais como nutrição, ergonomia e boa postura no trabalho e cotidiano, lazer e entretenimento, higiene e saúde, prevenção de doenças, meio ambiente etc.
Um exemplo de temas transversais à ginástica laboral: pesquisas demonstram que os praticantes de exercícios costumam adquirir uma alimentação mais saudável que sedentários. Isso nos leva a crer que boa alimentação e atividades físicas podem ser facilmente difundidas através de programas simples de conscientização e oportunidades, principalmente em instituições educacionais e ambientes laborativos (empresas e corporações).
Conhecer as dependências da empresa, avaliar cuidadosamente os locais de possível utilização para a prática da atividade física, analisar os possíveis horários para as aulas e os que melhor se adaptam ao objetivo traçado são de fundamental importância neste momento inicial.
Instruir os colaboradores sobre sua organização espaço temporal é de fundamental importância, pois este tipo de atitude irá minimizar inúmeras lesões, desvios ou síndromes dolorosas.
Bibliografia
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revista
digital · Año 10 · N° 77 | Buenos Aires, Octubre 2004 |