O processo de treinamento físico e técnico-tático dos atletas do basquetebol do Brasil: reflexos no Mundial dos Estados Unidos de 2002 |
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*Doutorando em ciências do desporto **Doutor em pedagogia do esporte Unicamp - Campinas - São Paulo http://pedagogiadobasquete.com.br |
Valdomiro de Oliveira* Roberto Rodrigues Paes** mirobasquete@terra.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 77 - Octubre de 2004 |
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Considerações iniciais
Uma das preocupações, em pedagogia do desporto, são os procedimentos de ensino dos conteúdos na etapa de preparação especializada, na qual a formação atlética é o principal objetivo. Acreditamos que, nesse momento do processo, os alunos/atletas já se definiram por uma modalidade, no entanto, estes devem receber estímulos diferenciados, em uma aprendizagem específica e constante, para evitar a estabilização da performance através dos treinamentos e competições. Nesse estudo focaremos as preocupações na etapa que deve preparar os atletas para o desenvolvimento da performance ótima, com vistas nos resultados em nível internacional. Sendo assim trataremos em primeiro plano, aos aspectos relativos a fundamentação teórica, que discuti a preparação física e técnico-tática com base na literatura especializada, em segundo plano aos fatores que envolvem o processo de especialização em basquetebol na etapa e suas fases de desenvolvimento, e para finalizar, os resultados e discussões, sobre uma pesquisa realizada com atletas da seleção brasileira, que representou o Brasil no campeonato mundial de 2002.
Fundamentação teóricaA preparação física e técnico-tática na etapa de especialização para jogadores
No início da especialização, uma preparação física generalizada é de suma importância antes da preparação específica, não havendo necessidade, no caso dos jogos desportivos coletivos- basquetebol de serem realizadas corridas longas. Por outro lado, podem ser desenvolvidas, além das aulas especiais de musculação com pesos adicionais, outras formas de treinamento, aliando os elementos físico e técnico-tático específico de cada modalidade coletiva esportiva. Do ponto de vista pedagógico, destacam-se, na etapa de especialização, os exercícios rigorosamente regulamentados, os quais constituem a base da especialização dos atletas e são apontados como exercícios competitivos, especiais e gerais.
Os exercícios gerais não apresentam semelhança com os principais gestos realizados nas competições, e, mesmo sabendo, que o desenvolvimento de algumas qualidades não ocorrem isoladamente de outras, os mesmos podem ser desenvolvidos fora do campo de jogo, tanto em uma sessão de treinamento como em um período de preparação.
Os exercícios especiais abarcam parâmetros muito semelhantes aos da competição. A especialização inicial na modalidade escolhida tem, nos exercícios especiais, o principal meio que condiciona a busca dos resultados desportivos. Assim, os exercícios especiais podem ser aplicados em várias situações na preparação física e também serem desenvolvidos junto com o treinamento dos fundamentos específicos (técnica), e ainda nas situações táticas de 2x2, 2x1, 3x2, inclusive no jogo de cada modalidade desportiva coletiva.
Os exercícios competitivos são idênticos aos da competição, todavia, nos treinamentos, estes são realizados com base nas regras de cada modalidade. No treinamento do basquetebol, por exemplo, as situações de jogo de 5 contra 5 é caracterizada com uniforme de jogo-treino, árbitro, o tempo pode ser maior do que o da competição, podem ser criadas situações de inferioridade numérica - ex. 6x5 -, a intensidade pode ser maior e o tempo de recuperação entre um jogo ou exercício pode ser menor em relação ao tempo real de competição.
Greco (1998) define a especialização nos jogos desportivos coletivos como uma fase contínua na evolução do jovem adolescente, iniciando-se aos 15 anos de idade e percorrendo até a fase adulta. Para o ensino, Greco (1998) adota a pedagogia das intenções, na qual as técnicas são trabalhadas em situações representadas por exercícios nos seus parâmetros particulares de execução e aplicação. O autor adota também o método situacional, com situações de jogo de 2x2, 3x3, servindo para o aperfeiçoamento físico e técnico-tático, as quais contribuem para comportamentos táticos posteriores. No aspecto físico, há um aumento gradativo das cargas de treinamento, mas é só na fase adulta que devem aparecer as condições máximas de performance.
Oliveira (1998) assinala que a etapa de especialização delineia o treinamento na modalidade escolhida e os objetivos devem transcender as atividades desenvolvidas na etapa de iniciação desportiva generalizada, na qual busca-se o movimento mais rápido, mais preciso e mais forte em direção ao nível máximo de perfeição da técnica e tática, sendo cada vez mais apurado o desenvolvimento das capacidades físicas.
Assim sendo, a especialização deve levar a um conjunto de informações sobre os fatores inerentes ao desenvolvimento da educação e do aprimoramento físico e técnico-tático, como também a outros fatores que complementam o treinamento: preparação psicológica, alimentação, horas de sono, estudos sobre os procedimentos metodológicos, dentre outros.
Sendo a especialização esportiva uma etapa subseqüente à iniciação esportiva, acreditamos em uma pedagogia que abarque o treinamento específico para levar o atleta à alta performance desportiva. Defendemos, contudo, que no instante em que ocorre a decisão por uma modalidade deve haver diversificação dentro da especialização, isto é, no treinamento; devendo coexistir várias formas ou métodos para ensinar habilidades ou desenvolver as capacidades, oportunizando uma gama de conhecimentos, proporcionando aos jovens praticantes um enriquecimento motriz, evitando a especialização precoce em uma só função no início da especialização. Desta maneira, o pivô, no basquetebol, terá experiências diversas antes da dedicação exclusiva na sua função, tais como dominar muito bem os fundamentos do drible, passes,arremessos de longa distância etc., e, quando necessário, o atleta saberá utilizar esses recursos nas competições.
No basquetebol, principalmente nos aspectos físicos, técnicos e táticos, enfatiza-se essa pedagogia, a qual diverge nos objetivos e metas em relação à iniciação esportiva. Propomos, para o treinamento físico, o desenvolvimento das capacidades físicas - força, velocidade, resistência, coordenação, flexibilidade - e nos procedimentos pedagógicos utilizados no treinamento propomos a busca do aperfeiçoamento no próprio campo de jogo, procedendo à interligação com a preparação técnica-tática, e fora do campo de jogo, utilizando-se dos aparelhos da sala de musculação, etc.
No treinamento técnico deve ocorrer o aperfeiçoamento dos fundamentos específicos de cada modalidade. No basquetebol, o passe, o drible, o rebote e o arremesso podem ser treinados com a utilização dos seguintes métodos:
Método de ensino integral das ações motoras técnicas, utilizando-se de exercícios e jogos de forma global;
Método de ensino analítico sintético - o ensino da técnica é realizado por partes;
Método situacional - situações de jogo em 2X2, 3X3, 2X1, 3X2.
Tais métodos ainda são muito discutidos na literatura especializada do treinamento desportivo, especialmente para os jogos desportivos coletivos; todavia, reiteramos que todos os métodos são relevantes e devem ser utilizados pelos professores/técnicos, e ainda outros métodos podem ser criados, para propiciar aos atletas maior número de informações através de práticas não repetitivas e motivacionais.
No treinamento tático, busca-se desenvolver os sistemas mais complexos, tanto ofensiva quanto defensivamente, por intermédio das estratégias. Sobre esse assunto, recorremos aos estudos de Garganta (2000), nos quais o autor enfatiza alguns fatores imprescindíveis para o treinamento da tática do basquetebol: a necessidade de analisar a estrutura e a dinâmica interna de cada jogo desportivo coletivo, no sentido de configurar a sua especificidade; e também determinar as linhas de força que permitem moldar o treinamento de acordo com a competição. Em relação a essa análise, busca-se o desenvolvimento complexo dos mais diferentes planos, físico, técnico-tático, aliado às reais condições de competições, nas quais a tática é dependente das competências físicas, técnicas e da filosofia objetivada pelos técnicos, com base no pensamento estratégico. Essa relevância é atribuída à definição de um quadro prévio dos princípios, ações e regras da gestão do jogo que balizem o direcionamento do treinamento e possam regular a competição.
Outro fator relevante é a crescente importância atribuída à dimensão cognitiva do desenvolvimento do rendimento dos atletas. A relevância dos aspectos cognitivos se dá na medida em que os hábitos de cada jogador voltam-se para a leitura do jogo, evitando, assim, jogadas estereotipadas, que impedem a criatividade nas ações táticas. No basquetebol torna-se importante desenvolver, nos jogadores, competências que transcendam a execução propriamente dita, centrando suas capacidades cognitivas nos princípios das ações que regem o jogo, ou seja, comunicação entre os jogadores, obtenção de ótimos posicionamentos nos espaços vazios e a percepção antecipada das ações dos adversários.
Há crescente relevância atribuída ao erro, com ocorrência contrastante em relação aos comportamentos desejados que movem a harmonia entre os elementos de uma mesma equipe. Um dos problemas freqüentes, no basquetebol , é quando algum jogador ou grupo de jogadores comete um erro, interferindo no desempenho da equipe. Ora, o pensamento coletivo não pode ser penalizado por erros individuais. Deve-se, então, utilizar o erro para treinar a recuperação defensiva, promover a integração dos jogadores e novamente buscar a exploração dos contra-ataques e elaboração do ataque, partindo da desorganização ocasionada pelo erro até a organização coletiva.
Há crescente relevância, também, em controlar e verificar a sintonia do discurso do técnico com o percurso da equipe na competição. A relação entre treinador e atleta deve acontecer em um projeto de treinamento-tático, desde o início da preparação até o final das competições, visando à obtenção dos objetivos centrados e destinados ao bom relacionamento entre jogadores e comissão técnica. No que tange à tática, várias são as formas de comunicação - verbal, gestual e visual - nas quais são exauridas todas as possibilidades para adquirir os conhecimentos das estratégias propostas pela comissão técnica. Essas estratégias devem ser direcionadas às vias de acesso de cada jogador, diferenciadas, tendo em vista o princípio da individualidade, no qual um só método poderia comprometer a aprendizagem em um ambiente heterogêneo.
Com base nas discussões anteriores sobre os procedimentos de desenvolvimento do basquetebol, em uma pedagogia voltada para a etapa de especialização, entendemos que há necessidade de estabelecer uma diferenciação da aprendizagem dos conteúdos durante o processo. Dessa forma, estudaremos a seguir, como se dá, no processo de desenvolvimento, a etapa de especialização no basquetebol e a aplicação dos conteúdos de ensino, haja vista que deve haver uma organização pedagógica dos conteúdos em suas respectivas fases de desenvolvimento.
Etapa de especialização em basquetebol e suas fases de desenvolvimentoO processo de treinamento especializado, planejado e sistematizado tem duração média de seis a dez anos até atingir os melhores resultados na fase adulta, em nível internacional, variando de modalidade para modalidade, e também dos objetivos de cada país ou cultura.
Deste modo, visando à melhor explanação, estruturamos esse estudo com base na proposta de Oliveira (2002) que dividiu a etapa de especialização em basquetebol em três fases: a)fase de treinamento especializado nível I; b)fase de treinamento especializado nível II; e fase de treinamento especializado nível III. Cada fase, tem suas características em relação à idade biológica, idade escolar, idade cronológica e as respectivas categorias, disputadas nos campeonatos nacionais e internacionais.
No quadro 1 abaixo apresentamos, de acordo com nosso entendimento, a etapa de especialização no basquetebol, com as suas respectivas fases, e também um exemplo para as categorias disputadas, tanto para o ensino formal quanto para o ensino não formal.
Quadro 1. Periodização do processo de ensino na etapa de especialização, com um exemplo para o Basquetebol
Fonte: Oliveira,2002
O Contexto da pesquisa
Esta pesquisa, de caráter exploratório, quase experimental, tem como objetivo investigar as "histórias de vida" dos atletas da seleção brasileira adulta de basquetebol masculino, e foi realizada no decorrer da preparação para o campeonato mundial, edição 2002, em Indianápolis, nos Estados Unidos, no período de 28 de agosto a 08 de setembro. Foi realizada entrevista com onze dos doze atletas convocados para a seleção brasileira de basquetebol, nos intervalos dos treinamentos, no período de 22 a 26 de julho de 2002, no Rio de Janeiro, no Ginásio de Esportes do Vasco da Gama e na quadra esportiva da Escola de Educação Física do Exército.
Material e métodos
Caracterização do Estudo
Para compreendermos o processo de desenvolvimento dos atletas do basquetebol brasileiro, é necessário um modelo de pesquisa quantitativo e qualitativo, que abranja a relação entre a pessoa, o processo, o contexto e o tempo (BronnfenBrenner, 1995). A pessoa refere-se às características pessoais; o processo, no qual o desenvolvimento emerge; o contexto, no qual o desenvolvimento ocorre; o tempo é a dimensão temporal ao longo da qual o desenvolvimento acontece (idade cronológica).
Nessa perspectiva, este estudo utilizará os elementos caracterizados pela relação pessoa-processo-contexto-tempo, procedendo a uma investigação da trajetória de aprendizagem dos conteúdos do treinamento físico e técnico-tático.
Figura 1. Fluxograma construído para o estudo
Foram selecionados onze atletas adultos do sexo masculino, integrantes da seleção brasileira de basquetebol no ano de 2002. A opção pelo basquetebol, e como aconteceu o treinamento físico, técnico, tático na etapa de especialização no basquetebol.
Sujeitos do Estudo
Os sujeitos do estudo foram onze atletas pertencentes à Seleção Brasileira de Basquetebol Adulto Masculino do ano de 2002.
Coleta de Dados
A coleta de dados foi realizada no período de 21 a 26 de julho de 2002, na cidade do Rio de Janeiro, durante os treinamentos visando à preparação para o campeonato mundial, edição 2002.
Instrumento de Medida
Entrevista Semi-Estruturada
Em função das questões norteadoras do estudo, e com base nas fases de desenvolvimento propostas no estudo, foram utilizadas fichas com dados pessoais e atuais e questionário com perguntas semi-estruturadas. Para gravar os depoimentos, foi utilizado um mini-gravador, marca Panasonic, e fitas cassete TDK, em um total de onze fitas, uma para cada atleta entrevistado. As informações foram anotadas em um formulário preestabelecido e, posteriormente às gravações, foram feitas as transcrições das entrevistas em fichas individuais.
Contato com os Informantes
Foram utilizados, para contatar os informantes, os meios virtuais, como e-mail, telefone e fax. Os responsáveis pela seleção brasileira (confederação), técnico, assessor de imprensa e os atletas, justificando os motivos da pesquisa e sua importância para o basquetebol nacional. Posteriormente, foram marcados horários e local previamente determinados nos quais foi explicitado o roteiro da entrevista e procedida à coleta dos dados.
Análise dos Dados
Para analisar os resultados da história de vida dos atletas da seleção brasileira de basquetebol de 2002, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo das entrevistas (Trivinos 1987, p. 148), tendo como referência a investigação das histórias de vida de onze atletas do sexo masculino, na categoria adulta do basquetebol da seleção brasileira, que participaram do campeonato mundial edição 2002.
Resultados e discussões
Os dados coletados são apresentados em quadros e gráficos. Posteriormente, apresentamos a discussão dos resultados em cada fase de especialização esportiva basquetebol. A especialização, mostra o treinamento especializado no basquetebol em três níveis: dedicação exclusiva ao basquetebol, aprofundamento e aproximação ao treinamento adulto e manutenção dos resultados superiores. O quadro 2 abaixo mostra os conteúdos do treinamento físico e técnico-tático vivenciados pelos atletas da seleção nas fases iniciais de especialização no basquetebol
Quadro 2. Perfil dos conteúdos do treinamento físico e técnico-tático praticados pelos atletas da
Seleção Brasileira de basquetebol na etapa de especialização
O quadro acima mostra a fase de treinamento especializado dos atletas da seleção brasileira de basquetebol em relação aos conteúdos do treinamento físico, técnico, tático. Constatamos nos depoimentos que:
A8… "Era um treinamento físico bom, normal, a gente fazia uma pré-temporada na pista de atletismo, fazia trabalho na quara, voltado para o treinamento físico, era bem puxado uma vez por dia… o técnico a gente fazia exercícios individuais e também coletivos, exercícios de mudança de direção, era um treinamento bem sincronizado e sério e no tático aprender jogadas, não havia treinamento psicológico".
A3… "O treinamento físico era uma coisa light graças a "Deus" eu tive professores bons e era de pega-pega, até corridas no Ibirapuera… o treina técnico aí a coisa já pegava e o campeonato é bem competitivo com a minha técnica levava bastante a sério. Nas coisas táticas, noção de marcação e principalmente homem a homem a gente aprendeu bastante nessa época.
A7… "Ah… físico era mais corridas em volta do clube, pra dá mais resistência. No aspecto técnico era mais arremesso, e manejo de bola, muito exercício com habilidade, tático era 3 x 3, 4 x 4, 5 x 5.
Nos depoimentos dos atletas da seleção brasileira de basquetebol, o treinamento físico, nas fases iniciais de especialização, foram realizados com corridas longas fora da quadra, tiros, piques, saltos em escadarias, não havendo concordância com a literatura específica da preparação física nos desportos coletivos e em basquetebol. Filin (1996), por exemplo, aponta que, para esse período do processo, a preparação física dos atletas deve ser realizada de forma progressiva, organizada pedagogicamente para o desenvolvimento das capacidades físicas. E, nessa fase do processo, deve-se fortalecer todas as estruturas do organismo: orgânica, anatômica e fisiológica dos atletas, objetivando as maiores cargas na fase adulta.
Hercher (1982) destaca nessa fase de treinamento das capacidades físicas no basquetebol, o treinamento da velocidade, velocidade-força, utilizando-se cargas progressivas, com halteres, bolas de medicinibol, pesos adicionais de forma geral e especial. Para o trabalho da resistência, deve-se potencializar o funcionamento do sistema cardiovascular para posteriores cargas exigidas pelos sistemas do jogo do basquetebol, utilizando vários métodos de treinamento, tais como intervalados, corridas variadas, com os exercícios técnicos com e sem bola também aliados à tática.
A resistência aeróbia deve ser desenvolvida junto com exercícios técnicos e de coordenação motora adaptados às regras do jogo com intensidades mais baixas e a resistência anaeróbia com intensidades mais altas no próprio contexto dos treinamentos e jogos competitivos.
O treinamento da força exige muitos anos de treinamento, partindo de estímulos médios, os quais devem ser aumentados ano a ano, de acordo com as experiências vividas no trabalho com peso nas fases anteriores. A flexibilidade, condição elementar para uma melhor execução do movimento, deve ser desenvolvida de forma generalizada nas fases de iniciação esportiva, mais especificamente aos grupos musculares dos jogadores de basquetebol nas fases de especialização.
Em relação aos conteúdos do treinamento técnico, os exercícios de desenvolvimento das habilidades, segundo os depoimentos, foram diferenciados para cada jogador, oscilando entre exercícios individuais, de grupo e coletivos. Sobre o desenvolvimento da técnica nas fases de especialização, segundo Paes (1998-1999), deve ter caráter específico para cada função exercida na quadra, utilizando-se de vários métodos de trabalho. Situações de jogo 1x1, 2x2, individual, drible, manejo de bola sincronizado, em superioridade e inferioridade numérica, 3x2, 2x1, 4x3 específico para ala, armador e pivô.
De acordo com os depoimentos dos jogadores, não foi possível perceber organização metodológica durante a vivência dos conteúdos, mas sim uma possível especialização precoce em uma determinada função.
No aspecto tático, constatamos que a compreensão sobre a tática- estratégias utilizadas pelos técnicos de defesa, transição e ataque - nos depoimentos dos jogadores nas fases de iniciação, foram deficientes do ponto de vista pedagógico. Paes (1998) propõe a aprendizagem com muitos detalhes nos sistemas de ataque e defesa individual, zonas 3:2, 2:1:2, 1:2:2 e aperfeiçoamento e aprendizagem de novos sistemas de treinamento nas fases iniciais de especialização como 1:3:1 pressões quadra toda, meia quadra e ¼ de quadra, defesas combinadas Box one, Box two, pressão em um e dois jogadores, e jogadas especiais de fundo bola início de jogo final de tempo, tanto no ataque como na defesa. Paes (1998-1999) sugere, para motivar a prática, uma pedagogia na qual os integrantes do grupo possam vivenciar o movimento técnico, físico, a compreensão tática e os reforçadores, tais como os princípios e valores pessoais, através de dinâmicas que valorizam o movimento, o pensamento e o sentimento, tomando gosto pela atividade, ou seja, encontrar motivação para a prática.
A seguir destacamos no gráfico abaixo os melhores resultados dos atletas da seleção brasileira de basquetebol no nível internacional
Gráfico 1. Vivência dos melhores resultados dos atletas da Seleção brasileira de Basquetebol em nível internacional
A vivência dos melhores resultados em nível internacional dos atletas pela seleção brasileira de basquetebol, mostra que 18,1% dos atletas conquistaram títulos internacionais apenas em sul-americanos e panamericanos com idades aproximadas de 21 e 23 anos, 27,2% entre 18 e 20 anos e 54,5% entre 24 e 28 anos, não havendo conquistas em campeonatos mundiais e olímpicos. A literatura internacional, diz que, no basquetebol, as zonas dos primeiros êxitos, em campeonatos mundiais e jogos olímpicos, acontecem por volta de 19 e 21 anos, e os resultados ótimos entre 22 e 26 anos e a manutenção dos resultados a partir dos 26 e 28 anos como evidenciados no quadro abaixo.
Zonas Etárias e os êxitos dos atletas do Basquetebol Internacional
Ao compararmos os resultados dos atletas campeões internacionais com os atletas brasileiro do estudo, notamos que as idades dos resultados brasileiros nos campeonatos sul americanos e pan-americanos não diferem dos campeões mundiais e olímpicos. Podemos dizer que a perspectiva do basquetebol nacional, quando se trata de títulos mundiais e olímpicos, não está só nas idades precoces ou tardias que demonstra com clareza problemas no trabalho de renovação, mas também em outros fatores, como características físicas por função, novas metodologias de treinamento físico-técnico-tático, bem como organização e planejamento em busca de resultados a longo prazo, com seleções permanentes desde as categorias infanto-juvenil, passando pelas juvenis até a adulta.
Zonas etárias e os êxitos dos atletas do Basquetebol brasileiro em nível internacional
Segundo Weineck (1991), a idade adulta acontece após os 20 anos nos homens. Sendo assim, a fase de treinamento especializado corresponde, aos atletas profissionais, que nesse caso compõem a Seleção Nacional de Basquetebol. Nesse período do desenvolvimento, verificamos, após os depoimentos, que os aspectos positivos prevaleceram sobre os negativos, quando questionamos sobre a qualidade dos conteúdos do treinamento físico-técnico-tático. Acreditamos que essas informações acontecem porque os atletas talvez desconheçam os fatores científicos do treinamento moderno e também podem ter laços fortes com os técnicos, sendo flexíveis nos comentários ou mesmo éticos e profissionais.
Considerações finais
Ao finalizar as idéias propostas inicialmente, as quais esperamos que abram caminhos e de alternativas para novas discussões no campo da pedagogia do treinamento em basquetebol, discutimos uma proposta que oriente o ensino-treinamento do basquetebol na etapa de especialização e, pode-se concluir que, em relação ao ensino dos conteúdos específicos do basquetebol, constatamos um dos maiores problemas para o basquetebol brasileiro. No caso da preparação física, por exemplo, os conteúdos propostos pela literatura do treinamento desportivo não tiveram coerência em sua aplicação, pois, segundo os depoimentos dos atletas, estes resumiram principalmente às fases de treinamento especializado, em corridas longas, saltos em escadarias e piques com obstáculos, distantes das inovações que a preparação física necessita para o basquetebol moderno. No caso da preparação técnica, de acordo os depoimentos, as atividades não eram organizadas pedagogicamente, como alardeiam os estudos em pedagogia do esporte. Estas foram e são treinadas basicamente com base nos métodos centrados na técnica do movimento, com pouca interferência de métodos mais avançados, e que, a nosso ver, dificulta as tomadas de decisões táticas, que possibilitam, em ocasiões especiais, a resolução de tarefas mais complexas.
No caso das competências das estratégias cognitivas-táticas, as jogadas pré-determinadas, organizadas coletivamente, ficaram evidenciadas nos depoimentos, sendo pouco exploradas as formas de jogo de 1x1, individual, 2x2, 3x3, em grupo e as situações especiais, tanto na ofensiva como na defensiva.
Portanto, uma das dificuldades que o Brasil enfrenta é a falta de talentos versáteis, que atuem em todas as funções. No basquetebol moderno, por exemplo, utiliza-se, apenas um pivô fixo, o qual, normalmente, é o maior e mais forte; já os outros são jogadores mais rápidos, que dominam todas as funções no jogo, obrigando-nos a repensar as práticas nas fases iniciais de preparação especializada, tanto nos conceitos da técnica como nos da tática, baseados nas características físicas dos jogadores brasileiros.
Deve-se dar, portanto, aos jovens, nas fases de aprendizagem e automatização dos movimentos, a oportunidade de vivenciar várias funções, ampliando possibilidades que poderão ser úteis nas fases de especialização, nas quais a complexidade que o jogo coletivo exige tem nível de competição e necessita que o jogador domine com perfeição os fundamentos técnicos e táticos em todas as funções na equipe.
Sendo assim, ficou caracterizado, na preparação física e técnico-tática, a não organização e não sistematização dos conteúdos do ensino em muitos anos, o que pode ser uma das causas da perda da performance e que dificultou o trabalho da comissão técnica para as disputas nos campeonatos mundiais e classificação para os jogos olímpicos.
No âmbito internacional, a prioridade de uma nação no esporte, são os resultados superiores em nível mundial e olímpico não descartando os que foram expressivos em campeonatos sul-americano e pan-americanos; entretanto, distantes dos resultados em campeonatos mundiais e olímpicos, os quais devem ser prioridades nesse nível de ambição.
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revista
digital · Año 10 · N° 77 | Buenos Aires, Octubre 2004 |