Perfil dos consumidores de suplementos dietéticos nas academias de ginástica de Campinas, SP Profile of the consumers of dietary supplements in the fitness centers of Campinas, SP, Brazil |
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*Graduando Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas ** Docente Departamento de Atividade Física Adaptada da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas Iniciação Científica Financiada por PIBIC-CNPq/UNICAMP, processo s/n. Apresentado no XIX Congresso Internacional de Educação Física, 2004, Foz do Iguaçu, PR, Brasil. |
Pablo Christiano B. Lollo* Maria da Consolação G. Cunha F. Tavares** pablo@fef.unicamp.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 76 - Septiembre de 2004 |
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Introdução
O suplemento dietético é caracterizado como um produto constituído de pelo menos um desses ingredientes: vitaminas, minerais, ervas e botânicos, aminoácidos, metabólicos, extratos ou combinações dos ingredientes acima e, recomenda-se que suplementos dietéticos não devem ser considerados como alimento convencional da dieta.1
Muitas vezes, os suplementos dietéticos são comercializados como recursos ergogênicos, que são caracterizados como substâncias, processos, ou os procedimentos que podem, ou são percebidos como sendo capazes de melhorar o desempenho esportivo.5 Algumas vezes, são apresentados aos consumidores como forma de abreviar o tempo necessário para alcançar os resultados da atividade física. O uso de alguns suplementos dietéticos pode influenciar o desempenho esportivo, porém, não são totalmente conhecidos os efeitos colaterais de algumas destas substâncias, sendo recomendado mais pesquisas.6 Muitos destes suplementos dietéticos são potencialmente danosos à saúde se utilizados sem orientação de um profissional com formação específica.
O uso de suplementos dietéticos é amplamente difundindo no meio esportivo.2 No Brasil são poucas as pesquisas que registraram o uso de suplementos dietéticos. Embora escassa, a literatura na área nos confirma o uso destes por praticantes de atividades físicas.2
Já na antiguidade (400 antes de Cristo), atletas relacionavam suas performances com dietas baseadas em ingredientes específicos; estas observações dos atletas freqüentemente tinham cunho supersticioso. Com o desenvolvimento da ciência, principalmente da química e fisiologia do trabalho muscular no começo do século XX, pode-se racionalizar o uso de recursos ergogênicos.1
A indústria de suplementos dietéticos tem se mostrado em ampla expansão nos últimos 10 a 15 anos, o campo de suplementos dietéticos cresceu de 3,3 bilhões de dólares a um montante estimado em 14 bilhões de dólares no ano 2000.9 Envolvida em um negócio bilionário existe um número crescente na variedade de produtos disponíveis para os consumidores. 9 Considerando a escassez de dados sobre os consumidores destes produtos no Brasil, tivemos como objetivo levantar o perfil destes consumidores nas academias de ginástica de Campinas, SP.
MétodosPara o levantamento de dados foi aplicado um questionário nos freqüentadores de academia de uma amostra das academias de ginástica de Campinas, SP. Esta população foi escolhida por estar entre consumidores freqüentes de suplementos dietéticos, 2,3,7 além de possibilitar uma coleta de dados através de questionário auto-administrado. Para a entrada e análise dos dados foi utilizado o programa "Statistical Package for Social Science versão 4.5 (SPSS 4.5). Foi feito o teste t de student para comparação de médias. Também foi feito o teste do qui-quadrado para verificar se havia diferenças de proporções, considerando o nível de significância p<0,05".
Definição da amostraO universo da pesquisa foi as Academias de Ginástica listadas no Conselho Regional de Educação Física no ano de 2002, na 4ª seccional, responsável pela cidade de Campinas. Foram encontrados cento e oitenta e nove estabelecimentos listados, os quais foram distribuídos de acordo com a posição geográfica sobre um mapa de Campinas dividido em regiões (com 27 academias na região norte, 96 na leste, 40 no sul, 13 no sudoeste e 13 no noroeste). Através do tempo disponível para a coleta de dados foi definido que aproximadamente quinze por cento das academias de cada região seriam selecionadas para a composição de uma amostra probabilística estratificada proporcional por região geográfica do município através da realização de sorteio
As academias foram dividas em estratos a partir da localização geográfica no município. Portanto, a manutenção da proporção com que cada estrato contribui para o número total de academias foi realizada no sentido de assegurar a adequada representatividade das academias da cidade na amostra. Dentro de cada estrato a academia foi selecionada por sorteio aleatório.
Contatamos por telefone, e quando necessário agendamos visita nas academias sorteadas para compor a amostra, para apresentação da pesquisa e obtenção autorização dos responsáveis pela academia para a participação do estabelecimento na amostra. No caso de recusa, um novo sorteio sem reposição no mesmo estrato era realizado para substituir a academia que havia recusado. Um dos autores realizou a visita em cada uma das vinte e nove academias para o levantamento de dados. Os voluntários que aceitaram participar da pesquisa assinaram um termo de consentimento que assegurava que a identidade e privacidade dos voluntários seriam resguardadas.
A amostra foi composta por quatorze academias da região leste, sete academias da região sul, quatro da região norte, duas da região noroeste e duas da região sudoeste. Totalizando vinte e nove academias representando aproximadamente os quinze por cento das cento e oitenta e nove academias listadas. Do total da amostra, obtivemos 292 questionários respondidos por consumidores de suplementos dietéticos.
QuestionárioA informações foram coletadas por questionários estruturados do tipo auto-administrado.
Na ausência de levantamentos semelhantes no Brasil não se encontrou questionário previamente construído e validado para o presente estudo. Construímos um questionário que buscou coletar variáveis: 1-sociodemográficas e 2-comportamentais.
O questionário passou por três pré-testes conduzidos pelos autores, contendo questões abertas e questões fechadas de múltipla escolha referentes às características sociodemográficas e de auto-avaliação relacionadas a hábitos comportamentais.
As variáveis sociodemográficas coletadas foram: idade, escolaridade, sexo e estado civil. Para a detecção da autopercepção da influência dos suplementos dietéticos consumidos na performance esportiva foi utilizada uma escala likert.
Juntamente com o questionário foi confeccionado um termo de consentimento livre e esclarecido a ser preenchido e assinado pelos voluntários. O modelo final do questionário juntamente com termo de consentimento livre e esclarecido segundo as determinações e exigências do Conselho Nacional de Saúde (Resoluções 196/96 e 251/97) foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, que concedeu autorização para aplicação de ambos (processo n° 470/2002). O termo de consentimento por escrito foi coletado. O trabalho de campo ocorreu durante o primeiro trimestre de 2003. O levantamento foi realizado por um dos autores.
Todos os voluntários foram esclarecidos sobre o caráter voluntário da participação e a garantia de anonimato das informações. Foi ressaltada a importância da fidedignidade dos dados fornecidos.
ResultadosForam excluídos da análise 15 questionários ou 4,9%, que foram considerados insuficientemente respondidos (10% ou mais das questões não respondidas).
Os consumidores através da autopercepção atribuíram uma melhora média de 42,7% (DP=22,7; IC=95%, 40,1%; 45,3%) no desempenho físico associado ao consumo de suplementos dietéticos. Através do teste t de Student não foi encontrada diferença significativa (p>0,05) entre as medias de consumidores de diferentes suplementos.
Tabela 1 - Descrição das variáveis sociodemográficas dos consumidores de suplementos
dietéticos nas academias de Campinas
Dos 292 sujeitos submetidos ao questionário, a maioria era homens (68,1%), solteiros (74,3%), entre 17 e 40 anos (93%) e que concluíram ou freqüentavam curso superior (65,1%). A atividade física mais comum entre os consumidores foi a musculação com 94,2%.
Tabela 2 - Atividade Física praticada por consumidores de suplementos dietéticos das academias de ginástica de Campinas, São Paulo, 2003.
*Percentual de praticantes. A soma dos percentuais de cada atividade física ultrapassa 100%
por cada voluntário poder assinalar mais de uma alternativa.
Na alternativa "outros", foram citadas principalmente modalidades de lutas (com destaque para jiu-jitsu e judô).
A preocupação com a saúde foi a menos citada como um dos motivo da suplementação dietética (13,5%). O motivo mais citado para a suplementação dietética foi preocupação com a performance esportiva (35,9%), seguida por motivos estéticos (33,5%) e indicação de não profissionais (colegas, amigos e conhecidos) com 17,1%.
A distribuição da faixa etária dos consumidores se concentrou na faixa dos 23 aos 28 ano (36,3%), seguido pela faixa dos 17 aos 22 anos (23,3%) e tivemos 20,2% dos freqüentadores com idade entre 29 e 34 anos. Acima dos 34 anos tivemos 18,5% dos indivíduos e abaixo dos 17 anos apenas 1,7% das freqüências. De acordo com o teste t de Student não houve diferenças significativas (p<0,05) na variação das médias de idade de homens e mulheres.
A maioria dos consumidores (51,0%) declararam praticar atividade física 5 vezes por semana. Tivemos os percentuais de 11,1%, 19,1%, e 18,7% para respectivamente três quatro e seis vezes semanais.
A maioria dos voluntários declarou consumir mais de um tipo de suplemento (70,2%), os suplementos mais citados foram os constituídos por aminoácidos, vitaminas, creatina e carnitina com 62,6%, 59,9%, 56,5% e 23,3% respectivamente. Também observamos que 7,5% dos consumidores declararam que já consumiram esteróides anabolizantes em algum momento de suas vidas.
Quanto ao(s) resultado(s) esperado(s) do(s) suplemento(s) consumido(s), a ampla maioria com 59,6% esperou hipertrofia muscular e o segundo resultado mais citado com 42,5% foi melhorar a performance esportiva e com freqüência bem inferior ficou melhorar a saúde e "queimar gordura" com 20,9% e 12,7% respectivamente.
Quando perguntado aos voluntários se eles indicariam o uso de suplementos dietéticos à conhecidos, a maioria absoluta com 46,2% respondeu que sim, apenas 25,3% não indicariam enquanto 28,4% declararam que a indicação dependeria do caso.
O teste do qui-quadrado (X2) não mostrou diferença estatisticamente significante (P< 0,05) entre as proporções das variáveis comportamentais dos consumidores entre as 5 regiões da cidade.
Discussão
Como limitação evidente, temos o fato do levantamento de dados utilizar como único instrumento um questionário e de se reduzir a uma ou duas questões a fonte de informação sobre algumas variáveis, sem a corroboração dos dados por outros meios. Este estudo também se apresenta limitado pelo fato da amostra estudada não representar todos os segmentos da população de academias da cidade, já que eventuais academias de ginástica não registradas devidamente como tal no CREF, não fizeram parte do universo da pesquisa.
Reforçando as indicações de que o uso de suplementos dietéticos é difundido no meio esportivo, uma pesquisa recente realizada com universitários,7 mostra que os universitários que consumiram suplementos vitamínicos com maior freqüência foram os que praticavam exercícios físicos 4 vezes ou mais por semana.
Observamos que 7,5% dos consumidores utilizaram esteróides anabolizantes, número que pode ser considerado alto.3 Estudos mostraram8 que 3 a 12% dos adolescentes americanos do sexo masculino admitiram ter usado esteróides anabolizantes alguma vez na vida.
Consideramos importante à divulgação dos efeitos cientificamente comprovados dos suplementos dietéticos à população consumidora. Observamos que 5,8% dos consumidores utilizaram pelo menos cinco tipos de suplementos dietéticos simultaneamente. Embora os resultados venham de uma população especifica é notável que atualmente os suplementos dietéticos vêm ocupando cada vez mais espaço.9
Nas visitas às academias, notamos que várias tinham espaços reservados a venda de suplementos dietéticos. Acreditamos que isso incentive o autoconsumo pelos freqüentadores expostos a essa situação. Acreditamos também que algumas vezes os professores da academia podem acabar por indicar suplementos, já que 18,5% dos voluntários responderam ter conhecido os suplementos dietéticos através dos professores.
Os dados confirmaram a expectativa de pesquisas recentes7 de que o consumo de suplementos vitamínicos é comum entre praticantes de exercícios físicos em academias de ginástica.
Confirmamos também que nesse segmento populacional se repetem as mesmas crenças7 de universitários, que acreditam na melhora de desempenho atlético quando utilizado suplementos dietéticos, crença essa considerada comum nesse segmento populacional. 1
É praticamente consenso na literatura que uma alimentação equilibrada poderia suprir as demandas energéticas, vitamínicas e hídricas em pessoas comuns, mas em atletas é possível que as demandas mudem e não existe um consenso ainda sobre as suas necessidades diárias. 4 Situação semelhante a dos indivíduos que não são atletas e nem sedentários, flutuando entre mais ativos e menos ativos fisicamente.
Ao analisarmos os resultados, devemos considerar os fatores sazonais que afetam este tipo de pesquisa, pois é possível que o público destes estabelecimentos no verão seja diferente do inverno, embora não tenhamos encontrado dados científicos sobre uma possível variação nesta população influenciada pela época do ano. Não devemos desprezar também as características geográficas e socioeconômicas da região onde foi constituída a amostra.
A grande maioria ou 90,4% dos consumidores, utilizaram os suplementos dietéticos sem uma consulta previa com médicos ou nutricionistas. Podemos atribuir a esta ausência de indicação profissional o fato de muitos sujeitos terem esperados resultados não atribuídos - por pesquisas científicas e até mesmo pela publicidade - ao produto que consumiu.
Acreditamos que os consumidores vêem os suplementos dietéticos de forma geral, como forma de abreviar o caminho até os resultados esperados da atividade física e como potencializadores dos efeitos da atividade física. Observamos que 96,6% dos consumidores declararam ter observado melhora na performance com a ingestão de suplementos dietéticos. Observamos também que 7,2% esperavam obter resultados não atribuídos aos suplementos que o voluntário declarou consumir.
Os resultados sugerem que os consumidores de suplementos dietéticos nas academias de ginástica de Campinas, SP em sua maioria (65,1%) cursavam ou concluíram um curso superior. Esse grau de escolaridade não foi suficiente para levar estes consumidores a procurarem informações confiáveis sobre os suplementos, pois apenas 26,7% dos consumidores tinham entre fontes de informações sobre os suplementos dietéticos médicos e/ou nutricionistas.
Não tivemos o propósito de avaliar adequação do consumo dos suplementos dietéticos pelos voluntários, porém sugerimos que novas pesquisas verifiquem a dosagem e a adequação da suplementação dietética que vem sendo consumida nesse segmento populacional e em outros vindo a fornecer dados que podem servir de subsídios à programas de educação nutricional. Principalmente pelos potenciais danosos à saúde que alguns destes produtos podem ter quando consumidos de forma aleatória e/ou exagerada.
Acreditamos que o elevado número de consumidores de suplementos dietéticos praticantes de musculação, se deve a possibilidade da musculação poder ser usada tanto para o desenvolvimento de força muscular, como para a "modelação" corporal. Os resultados por nós obtidos sugerem que o consumo dos suplementos dietéticos se baseou principalmente na crença de melhora de performance e resultados estéticos.
Existe a necessidade de mais estudos para apurar com precisão o uso de suplementos dietéticos na população estudada e em outros segmentos populacionais.
Agradecimentos
Ao professor Luís Eduardo Barreto Martins, da Faculdade de Educação Física da Unicamp, pelo apoio e discussão da análise estatística dos dados da pesquisa de campo.
Referências
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Melvin HW, Branch JD. Creatine Supplementation and Exercise Performance: An Update. Journal of the American College of Nutrition 1998;17:216-234.
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Zeisel SH. Regulation of "nutraceuticals". Science 1999;285:1853-1855.
revista
digital · Año 10 · N° 76 | Buenos Aires, Septiembre 2004 |