efdeportes.com
Perfil dos alunos das academias
de ginástica de Campinas, SP

   
Graduando da Faculdade de Educação Física
da Universidade Estadual de Campinas.
 
 
Pablo Christiano B. Lollo
pablo@fef.unicamp.br
(Brasil)
 

 

 

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 76 - Septiembre de 2004

1 / 1

Introdução

    Academias de ginástica segundo a definição dos descritores em Ciências da Saúde (DeCS, 2004) são: Instalações que têm programas que pretendem promover e manter um estado de bem-estar físico para ótimo desempenho e saúde.

    Já Toscano (2001) conceitua as academias de ginástica como centros de atividades físicas onde se prestam serviços de avaliação, prescrição e orientação de exercícios físicos, sob supervisão direta de profissionais de educação física.

    O nome Academia originou-se do filósofo Platão (427-347 a.C.), que escolheu, como local para fundar sua escola de filosofia, era um bosque que levava o nome de um legendário herói grego, Academos. Assim, a escola recebeu o nome de Academia, nesta época era o local de ensino e aprimoramento de filosofia, matemática e ginástica (GAARDER, 1995). Nos anos 30 sugiram as primeiras academias no Brasil Toscano (2001).

    Ainda Toscano (2001) sugere que a relação entre atividade física e saúde se justifica pelas muitas evidências de que níveis apropriados de aptidão física, mantida durante toda a vida por meio de exercícios regulares, exercem efeitos benéficos nas funções dos órgãos em geral, tendo como conseqüência o prolongamento da vida e de vida com qualidade. O autor diz também, que desta forma, pode ser apontada a Academia de Ginástica como sendo um centro com potencial para demanda em serviço de saúde primário, sendo possível sua ampliação para outros níveis de prevenção.

    Hellenius et al (1995) conclui que em seu estudo sobre fatores de riscos cardiovasculares em homens que é aconselhável uma mudança de estilo de vida para um modelo com normas alimentares e exercícios, que reduzem os fatores de risco na meia-idade de homens sem no entanto afetar negativamente a qualidade de vida.

    Nos Estados Unidos, é crescente o número de Academias de Ginásticas filiadas a hospitais, estas nomeadas de "medical fitness centers" eram menos de 100 nos anos 80 e subiram o seu número para quase 700 em 2003 (NADEL, 2003). Stout (1995) coloca, que muitos hospitais, interessados na promoção da saúde e bem-estar da comunidade, tem construído academias como forma de oferecer os serviços por ela prestados na ajuda da aquisição de um estilo de vida mais saudável pela comunidade.

    Ressaltamos que alguns autores (LOLLO e TAVARES 2004; SILVA e MOREU 2003; ARAUJO, ANDREOLO e SILVA 2002) no Brasil e no exterior (MILLMAN 2003, YESALIS 2000) tem relatado o uso de esteróides anabólicos androgênicos (EEA) por alguns alunos destas academias. Essa prática pode causar problemas sérios de saúde aos que a adotam. Os dados de Araújo (2002) mostram que os professores das academias foram os responsáveis pela maioria das indicações de EAA aos alunos.

    Atualmente existem leis que regulamentam o funcionamento de academias, um exemplo e a Lei estadual Nº 11.721 do Rio Grande do Sul, que entre outros diz que:

Artigo 1° para efeitos desta lei, o Profissional de Educação Física é reconhecido igualmente como profissional da saúde.
Artigo 5º - As matrículas para freqüentar os estabelecimentos de que trata esta lei dependem de apresentação, pelo cliente, de atestado médico recente, específico para a prática esportiva em que pretende se inscrever. Parágrafo único - Vetado.
Artigo 6º - Os estabelecimentos de que trata esta lei deverão manter cadastro atualizado com os dados pessoais dos clientes matriculados, bem como as informações médicas pertinentes, em especial o atestado a que se refere o artigo anterior.

    Acreditamos que o exposto acima deixa claro que os legisladores também vêem academias como potenciais influenciadores da saúde dos seus freqüentadores, visão que compartilhamos.

    As academias também podem ser procuradas por um público mais preocupado com os resultados estéticos da prática de exercícios. A observação de anúncios de academias explorando essa clientela é facilmente observada.

    Podemos notar uma tendência atual em que a educação física ganha notoriedade na área da saúde devido à visão de que a atividade física, em todas as idades e de todas as formas pode ajudar seus adeptos a entenderem melhor o próprio corpo e os mecanismos para o desenvolvimento de uma vida saudável.


Métodos

    Para o levantamento de dados foi aplicado um questionário nos freqüentadores de academia. A coleta de dados foi planejada de modo a possibilitar uma coleta de dados através de questionário auto-administrado. Realizamos o levantamento em uma amostra das academias de ginástica de Campinas, SP. Para a entrada e análise dos dados foi utilizado o programa "Statistical Package for Social Science versão 4.5 (SPSS 4.5). Foi feito o teste t de student para comparação de médias. Também foi feito o teste do qui-quadrado para verificar se havia diferenças de proporções, considerando o nível de significância p<0,05".


Definição da amostra

    O universo da pesquisa foi as Academias de Ginástica listadas no Conselho Regional de Educação Física no ano de 2002, na 4ª seccional, responsável pela cidade de Campinas. Foram encontrados cento e oitenta e nove estabelecimentos listados, os quais foram distribuídos de acordo com a posição geográfica sobre um mapa de Campinas dividido em regiões (com 27 academias na região norte, 96 na leste, 40 no sul, 13 no sudoeste e 13 no noroeste). Através do tempo disponível para a coleta de dados foi definido que aproximadamente quinze por cento das academias de cada região seriam selecionadas para a composição de uma amostra probabilística estratificada proporcional por região geográfica do município através da realização de sorteio

    As academias foram dividas em estratos a partir da localização geográfica no município. Portanto, a manutenção da proporção com que cada estrato contribui para o número total de academias foi realizada no sentido de assegurar a adequada representatividade das academias da cidade na amostra. Dentro de cada estrato a academia foi selecionada por sorteio aleatório.

    Contatamos por telefone, e quando necessário agendamos visita nas academias sorteadas para compor a amostra, para apresentação da pesquisa e obtenção autorização dos responsáveis pela academia para a participação do estabelecimento na amostra. No caso de recusa, um novo sorteio sem reposição no mesmo estrato era realizado para substituir a academia que havia recusado. Um dos autores realizou a visita em cada uma das vinte e nove academias para o levantamento de dados. Os voluntários que aceitaram participar da pesquisa assinaram um termo de consentimento que assegurava que a identidade e privacidade dos voluntários seriam resguardadas.

    A amostra foi composta por quatorze academias da região leste, sete academias da região sul, quatro da região norte, duas da região noroeste e duas da região sudoeste. Totalizando vinte e nove academias representando aproximadamente os quinze por cento das cento e oitenta e nove academias listadas. Do total da amostra, obtivemos 621 questionários respondidos por freqüentadores de academias de ginástica.


Questionário

    A informações foram coletadas por questionários estruturados do tipo auto-administrado.

    Na ausência de levantamentos semelhantes no Brasil não se encontrou questionário previamente construído e validado para o presente estudo. Construímos um questionário que buscou coletar variáveis: 1-sociodemográficas e 2-comportamentais.

    O questionário passou por três pré-testes conduzidos pelos autores, contendo questões abertas e questões fechadas de múltipla escolha referentes às características sociodemográficas e de auto-avaliação relacionadas a hábitos comportamentais.

    As variáveis sociodemográficas coletadas foram: idade, escolaridade, sexo e estado civil.

    Juntamente com o questionário foi confeccionado um termo de consentimento livre e esclarecido a ser preenchido e assinado pelos voluntários. O modelo final do questionário juntamente com termo de consentimento livre e esclarecido segundo as determinações e exigências do Conselho Nacional de Saúde (Resoluções 196/96 e 251/97), foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, que concedeu autorização para aplicação de ambos. O termo de consentimento por escrito foi coletado. O trabalho de campo ocorreu durante o primeiro trimestre de 2003. O levantamento foi realizado por um dos autores.

    Todos os voluntários foram esclarecidos sobre o caráter voluntário da participação e a garantia de anonimato das informações. Foi ressaltada a importância da fidedignidade dos dados fornecidos.


Resultados e discussão

    Ao analisarmos os resultados, acreditamos que é interessante considerarmos os fatores sazonais que afetam este tipo de pesquisa, pois é possível que o público destes estabelecimentos no verão seja diferente do inverno, embora não tenhamos encontrado dados científicos sobre uma possível variação nesta população influenciada pela época do ano. Não devemos desprezar também as características geográficas e socioeconômicas da região onde foi constituída a amostra. Abaixo, alguns dados da cidade:

  • Dados de Campinas - SP - Brasil (IBGE, Censo 2000).

  • Pessoas residentes - 969.396 Habitantes

  • Homens residentes - 472.175 Habitantes

  • Mulheres residentes - 497.221 Habitantes

  • Pessoas residentes - área urbana - 953.218 Habitantes

  • Pessoas residentes - área rural - 16.178 Habitantes

  • Taxa de alfabetização das pessoas residentes - 10 anos ou mais de idade - 95,30% (780.770 habitantes).

    Dos 621 questionários entregues pelos voluntários, encontramos 335 ou 53.95% homens e 286 mulheres ou 46.05%.

    O gráfico abaixo ilustra a distribuição de freqüentadores por idade. Neste gráfico observamos que a ampla maioria (92.11%) dos freqüentadores tem entre 17 e 40 anos. Esses dados mostram que é pequena a adesão de pessoas de meia-idade e terceira idade à academia.

    Na questão que tratava do estado civil, o percentual de pessoas solteiras atingiu 78.9%, enquanto que 19.91% eram casados, 3.38% separados e 0.81% viúvos.

    Quanto ao exercício de atividade remunerada, tivemos 69.4% declarando exercer alguma atividade remunerada, 23.51% declararam não exercer atividade remunerada e 6.28% disseram estarem desempregados. Apenas 0.81% não responderam a questão.

    O gráfico abaixo mostra a freqüência absoluta de alunos em diferentes atividades praticadas.

    Nessa questão, cada voluntário podia marcar livremente as atividades que praticava, sendo possível a escolha de mais de uma. Acreditamos que a maior freqüência da musculação sobre as outras modalidades fica bem clara entre os freqüentadores de academias. Na categoria "outras" foram declaradas principalmente modalidades de lutas.

    E a freqüência de atividades físicas semanais é descrita no gráfico abaixo:

    Podemos observar uma assiduidade concentrada em 3 a 5 vezes semanais (76.33%).

    Quanto à escolaridade, tivemos 57.17% dos voluntários declarando ter concluído ou estar cursando o terceiro grau, 39.45% disseram estar cursando ou terem concluído o ensino médio, enquanto que apenas 3.22% declararam estarem cursando ou terem concluído o ensino fundamental.

    Tempo de pratica regular de atividade física pelos entrevistados:

    A freqüência maior de resposta se concentrou em indivíduos que praticavam atividades físicas regularmente a mais de 10 anos. Embora não tenhamos especificado o conceito de atividades físicas nem o de pratica-las regularmente, esses resultados mostram que por auto-avaliação, a maioria da população (59.1%) das academias se considera aderida às atividades físicas por períodos maiores que dois anos.

    O teste do qui-quadrado (X2) não mostrou diferença estatisticamente significante (P< 0.05) entre as proporções das variáveis comportamentais dos consumidores entre as 5 regiões da cidade.

    Como limitação evidente, temos o fato do levantamento de dados utilizar como único instrumento um questionário e de se reduzir a uma ou duas questões a fonte de informação sobre algumas variáveis, sem a corroboração dos dados por outros meios. Este estudo também se apresenta limitado pelo fato da amostra estudada não representar todos os segmentos da população de academias da cidade, já que eventuais academias de ginástica não registradas devidamente como tal no CREF, não fizeram parte do universo da pesquisa.

    Por estarem presentes na nossa sociedade e poderem influenciar a saúde dos seus freqüentadores acreditamos as academias mereçam ser alvos de mais estudos. Existe também a necessidade de mais estudos para apurar com precisão o uso de suplementos dietéticos na população estudada e em outros segmentos populacionais.


Referências

  • Araújo ACM, Soares YNG. Perfil de utilização de repositores protéicos nas academias de Belém, Pará. Revista de Nutrição da PUCCAMP 1999;12:81-89.

  • Araújo LR, Andreolo J, Silva MS. Utilização de suplemento alimentar e anabolizante por praticantes de musculação nas academias de Goiânia-GO. Rev. Bras. Ciên. e Mov 2002;10:13-18.

  • BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAUDE. Descritores em Ciências da Saúde. Disponível em:
    http://decs.bvs.br/cgi-bin/wxis1660.exe/decsserver/ Acesso em 28 julho 2004

  • Gaarder, Jostein. O mundo de sofia : romance da historia da filosofia São Paulo: Cia. das Letras, 1995.

  • Hellenius ML, Dahlof C, Aberg H, Krakau I, de Faire U. Quality of life is not negatively affected by diet and exercise intervention in healthy men with cardiovascular risk factors. Qual Life Res. 1995 Feb;4(1):13-20.

  • Lollo, PCB, Tavares, MCGF. Consumidores de Suplementos Alimentares nas Academias de Campinas, SP, Brasil. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, 19., 2004, Foz do Iguaçu, PR, Brasil.

  • Millman RB, Ross EJ. Steroid and nutritional supplement use in professional athletes. Am J Addict 2003;12:48-54.

  • Nadel MA. Heart health: volume and revenue growth through clinically integrated medical fitness centers. J Cardiovasc Manag. 2003 Mar-Apr;14(2):22-5.

  • Toscano, JJO. Academia de ginástica: um serviço de saúde latente Rev. bras. ciênc. mov;9(1): 40-2, jan. 2001.

  • Silva, LSMF, Moreau, RLM. Uso de esteróides anabólicos androgênicos por praticantes de musculaçäo de grandes academias da cidade de Säo Paulo Rev. bras. ciênc. farm; 39(3):327-333, jul.-set. 2003. tab

  • Stout G. From hospitals to fitness centers--maintaining community health. J Healthc Resour Manag; 13(9):16-24, 1995 Sep. ISSN: 1078-9537

  • Yesalis CE, Bahrke MS. Doping among adolescent athletes. Baillieres Best Pract Res Clin Endocrinol Metab 2000; 14:25-35.

Outro artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
http://www.efdeportes.com/ · FreeFind
   

revista digital · Año 10 · N° 76 | Buenos Aires, Septiembre 2004  
© 1997-2004 Derechos reservados