efdeportes.com
Circuito de treinamento físico para idosos:
Um relato de experiência

   
* Prof. Dra. Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília
** Mestrando em Educação Física da Universidade Católica de Brasília
(Brasil)
 
 
Marisete Peralta Safons*
Márcio de Moura Pereira**

mari7@unb.br
 

 

 

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 74 - Julio de 2004

1 / 1

Introdução e justificativa

    Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OLIVEIRA, 2002), entre 1950 e 1998, a porcentagem de pessoas com idade maior ou igual a 60 anos aumentou de 8 para 10%, e na projeção para 2050, as pessoas dentro dessa faixa etária seriam responsáveis por 20% da população mundial. Esses números se tornam mais surpreendentes, quando são calculados para projeção de países em desenvolvimento, onde a população de idosos aumentará cerca 9 vezes até 2050, ou seja, de 171 milhões para 1,6 bilhões. Para o Brasil, estas perspectivas são muito importantes, pois será um dos maiores contribuidores para o crescimento dessa população. O envelhecimento populacional, aliado à falta de políticas públicas voltadas a essa nova realidade mundial, vem preocupando todos os segmentos da sociedade. Faz-se necessário, uma concentração de esforços nas diferentes áreas profissionais, objetivando um maior conhecimento sobre o fenômeno do envelhecimento, e principalmente como envelhecer de forma saudável priorizando esses esforços na manutenção da independência e autonomia do indivíduo.

    O envelhecimento é um processo complexo ao qual estão associadas perdas sociais, cognitivas e fisiológicas capazes de comprometer a qualidade de vida do indivíduo idoso. Porém, o envelhecimento é um processo natural e pode ocorrer de maneira saudável com algumas alterações no estilo de vida, dentre as quais a participação em atividade física regular desempenha um importante papel (MAZZEO et al., 1998; OLIVEIRA et al., 2001).

    LI et al. (2001) afirmam que 38% dos idosos apresentam, no mínimo, um tipo de limitação funcional e aproximadamente 88% deles têm pelo menos uma doença crônica. E essas duas condições, somadas ao sedentarismo, comprometem a capacidade física para o desempenho satisfatório das atividades da vida diária, aumentando o risco de quedas e diminuindo a qualidade de vida. De acordo com WARREN (1993), o idoso com pouca autonomia, principalmente o seqüelado por quedas, coloca-se nos mais diversos níveis de dependência física, psicológica e econômica, com relação à família e à sociedade.

    De acordo MAZZEO et al. (1998) já está bem estabelecido que o envelhecimento impõe naturalmente um declínio às funções relacionadas ao condicionamento físico. A função cardiovascular (VO2MÁX) sofre um decréscimo de 5% a 15% por década, a partir dos 25 anos de idade. A força muscular diminui aproximadamente 1,5% ao ano entre os 60 e 80 anos e 3% ao ano após esta idade.

    Com relação à flexibilidade, o pico de amplitude máxima de movimento acontece por volta dos vinte anos de idade, declinando significativamente a partir de então.

    Um dos grandes desafios da Educação Física hoje é atuar preventivamente na comunidade, combatendo o sedentarismo e elevando os níveis de saúde da população (CONFEF, 2002).

    Estudos sobre a atividade física para a terceira idade já alcançam algum destaque e há consenso no reconhecimento dos benefícios tanto em seus aspectos psicossociais como fisiológicos advindos da prática regular de exercícios físicos. Da mesma forma, fazer parte de programas de atividade física, aumenta a possibilidade de contatos sociais proporcionando melhorias significativas na auto-estima e na qualidade de vida das pessoas. Parece ser mais convincente que a qualidade de vida de um indivíduo, caracteriza-se por um somatório de condições específicas que venham a culminar num pretendido "estado de bem estar". Estudos que relacionam atividade física e envelhecimento acreditam que na velhice, a manutenção da autonomia está intimamente ligada a qualidade de vida, algo que se relaciona com um estilo de vida saudável, objetivando o perfeito entrosamento entre os homens, seus semelhantes e o meio ambiente que o cerca.

    De acordo com a Carta Brasileira de Educação Física (CONFEF, 2000), o Educador Físico deverá lançar mão de todos os meios formais e não-formais (exercícios, ginásticas, esportes, danças, atividades de aventura, relaxamento, etc.) para educar o ser humano para a saúde e para um estilo de vida ativo.

    O CONFEF defende que este trabalho educativo a partir do movimento deve estabelecer relações também com o Lazer, a Cultura, o Esporte, a Ciência e o Turismo e tem compromissos com as grandes questões contemporâneas da Humanidade como as pessoas com necessidades especiais, a exclusão social, a paz e o Meio Ambiente.

    Com relação à legislação brasileira, no ano de 1994, foi sancionada a Lei nº 8.842, que dispõem sobre a Política Nacional do Idoso, onde se incluem menções "ao incentivo e à criação de programas de lazer, esporte e atividades físicas que proporcionem a melhoria da qualidade de vida do idoso e estimulem sua participação na comunidade" (BRASIL, 1994).

    Com base nessas diretrizes, apresentamos a comunidade científica uma proposta de atividade física integrada aos espaços abertos dos parques e praças públicas e privadas, utilizando equipamento construído pensando especificamente no trabalho com idosos a partir de materiais de fácil obtenção, manipulação e instalação. Porém, por tratar-se de instalação em área pública poderá ser utilizado por todas as idades.


O equipamento

    O equipamento foi organizado espacialmente na forma de um circuito de treinamento (figuras 1 e 2) constituído de unidades autônomas e complementares, onde o treinamento ocorre de forma individual ou em grupo. O circuito disponibiliza à comunidade implementos fixos que podem ser complementados com implementos móveis do ambiente ou de propriedade individual.


Figura 01 - Planta Baixa do Circuito


Figura 02 - Circuito Vista Geral

    Os implementos fixos são constituídos de módulos de exercício compostos por barras, bancos, escadas, traves, plataformas de equilíbrio e espaldares, confeccionados em madeira, tubos metálicos e cimento (figuras 3, 4, 5 e 6).


Figura 03 - Detalhe do circuito


Figura 04 - Detalhe do circuito


Figura 05 - Detalhe do circuito


Figura 06 - Detalhe do circuito

    O módulo foi estruturado de forma a facilitar a utilização intuitiva do circuito de treinamento, de maneira que cada usuário possa estruturar sua seqüência pessoal de exercícios a partir de sugestões colocadas em painéis fixos de fácil visualização (figuras 7, 8, 9, 10 e 11).


Figura 07 - Detalhes de utilização


Figura 08 - Detalhes de utilização


Figura 09 - Detalhes de utilização


Figura 10 - Sugestões de exercícios


Figura 11 - Sugestões de exercícios

    Implementos móveis são definidos como quaisquer elementos que ofereçam sobrecarga nos treinamentos de força e resistência ou atuem como elementos de apoio didático ou de segurança nos treinamentos de agilidade, flexibilidade e equilíbrio. Os implementos móveis do ambiente podem constituir-se dos seguintes elementos, em sua forma bruta ou lapidada: pedras de diversos formatos, bastões, troncos e galhos de diversos comprimentos e diâmetros.

    Os implementos móveis de propriedade individual poderão constituir-se de: halteres, barras e anilhas, bastões de madeira, caneleiras e outros.


A experiência piloto

    Uma experiência piloto de implantação do Circuito do Idoso foi realizada em 2003 no Parque da Cidade em Brasília (DF). A viabilização da construção do primeiro módulo dependeu do estabelecimento de parcerias entre Iniciativa Privada, Universidade e Poder Público (figuras 12 e 13)


Figura 12 - Parcerias


Figura 13 - Parcerias

    À Iniciativa Privada (BrasilTelecom) coube o investimento na construção do circuito e implantação do projeto piloto de utilização.

    Da Universidade veio a concepção tanto da estrutura física do circuito, quanto das possibilidades de utilização.

    Ao Governo do Distrito Federal, através da Administração do Parque da Cidade, coube a disponibilização do espaço físico e apoio logístico quanto à proteção, manutenção e limpeza dos equipamentos.

    Este circuito foi projetado no âmbito de um programa de atividade física para idosos onde são ofertadas as atividades de Tai Chi Chuan, Ioga e Condicionamento Físico. O circuito é utilizado para implementar as atividades do condicionamento físico. Participam deste programa 70 indivíduos com idade entre 60 e 80 anos. As atividades são desenvolvidas de segunda a sexta-feira, entre as sete e nove horas da manhã (figura 14).


Figura 14 - Programa Melhor Idade BrasilTelecom


Bibliografia

  • BRASIL. Lei nº 8.842 de 04 de janeiro de 1994. Política Nacional do Idoso. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 1994.

  • CONFEF - Conselho Federal de Educação Física. Carta Brasileira de Educação Física. Belo Horizonte: Confef, 2000.

  • CONFEF - Conselho Federal de Educação Física. Resolução CONFEF no 046/2002. Rio de Janeiro: Confef, 2002.

  • LI, J.X. et al. Tai Chi: Physiological characteristics and beneficial effects on health. British Journal of Sports Medicine, v. 35, p. 148-156, 2001.

  • MAZZEO, R.S. et al. American College of Sports Medicine position standard. Exercise and Physical Activity for older adults. Medicine Science in Sports and Exercise, v. 30, p. 992-1008, 1998.

  • OLIVEIRA, D.A.A.P. Prevalência de depressão em idosos que freqüentam os centros de convivência em Taguatinga, DF. Brasília, 2002. 145 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) - Universidade de Brasília, Brasília, 2002.

  • OLIVEIRA, R.F. et al. Efeitos do treinamento de Tai Chi Chuan na aptidão física de mulheres adultas e sedentárias. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 9, p. 15-22, 2001.

  • WARREN, B.J. et al. Cardiorrespiratory responses to exercise training in septuagenarian women. International Journal of Sports Medicine, v. 14, p. 60-65, 1993.

Outro artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
http://www.efdeportes.com/ · FreeFind
   

revista digital · Año 10 · N° 74 | Buenos Aires, Julio 2004  
© 1997-2004 Derechos reservados