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Análise das ações motoras
no tênis de campo competitivo

   
Consultoria Esportiva Performance One
Pós-Graduado em Bases Fisiológicas e
Metodológicas do Treinamento Desportivo.
Universidade Federal de São Paulo
 
 
Adriano Vretaros
professorav@bol.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    No tênis de campo exige-se o conhecimento da quantidade de golpes efetuados em uma partida para se utilizar como parâmetro das cargas de treinamento. Este estudo teve como objetivo verificar a quantidade dos tipos de golpes mais empregados pelos jogadores do tênis de campo em um torneio juvenil de categoria internacional no piso de saibro. Foram analisados 08n jogos de simples(05 masculino e 03 feminino) do tênis de campo no 33º Torneio Banana Bowl do ano letivo de 2003. A coleta de dados foi feita através do processo de análise quantitativa do movimento descrito por Knudson & Morrison(2001). O protocolo de filmagem se deu através da escolha aleatória de um dos jogadores da partida, no qual era filmado exclusivamente e também anotado o tempo de duração do jogo. Por meio de uma ficha de scout os golpes foram transcritos e divididos. Os quatro golpes analisados foram: golpe de direita(forehand), golpe de esquerda(backhand), voleio ou smash e saque. Os resultados apontam que os tenistas juvenis analisados apresentam alguns índices quantitativos inferiores quando comparados com dados de tenistas profissionais.
    Unitermos: Tênis de campo. Análise estatística. Ações motoras.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 73 - Junio de 2004

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Introdução

    A prescrição dos programas de treinamento desportivo da atualidade tendem a buscar subsídios cientificamente comprovados. Quanto maior for o nível dos atletas treinados, maiores são as exigências para o seu aperfeiçoamento.

    Através da análise do gestual motor de uma modalidade desportiva pode-se obter índices funcionais que sirvam para elaboração dos programas de treinamento. Neste sentido, o recurso da filmagem aliado ao uso da estatística tem sido um dos meios mais utilizados para captação da informação presente no ambiente de jogo, quer seja durante o processo de ensino-aprendizagem ou no treino de alto rendimento(Knudson & Morrison, 2001).

    São inúmeras as modalidades de desporto que se empregam da contribuição destes meios, entre muitas, podemos citar: o futebol(Mazzuco & Pereira, 2001), handebol(Percinoto et alii, 2001) , o basquetebol(De Rose Jr et alii, 2002) e também no tênis de campo(Nielsen & McPherson, 2001; Skorodumova, 1998).

    No tênis de campo, a análise dos jogos por parte dos treinadores tem sido uma estratégia precisa para se fundamentar em índices quantitativos e/ou qualitativos no qual se revelam dados técnicos e táticos dos jogadores(Skorodumova, 1998). Somando-se a isto, será através do conhecimento da quantidade de golpes efetuados nas partidas, que poderemos obter os valores no qual serão empregados como parâmetros das cargas de treinamento.

    Conforme o grau de entendimento ou necessidade dos treinadores, a interpretação estatística destes dados podem sofrer tratamentos assim dispostos: em forma de histograma, estatística descritiva, curvas de freqüência, distribuição de pequenas amostras ou análise de variância(Spiegel, 1993).


Metodologia

Sujeitos: Foram analisados 08 jogos de simples(05 masculino e 03 feminino) da categoria juvenil (17-18 anos) do 33º Torneio Banana Bowl ocorrido no ano letivo de 2003.

Material: 01 filmadora(modelo mini DV - Canon - ZR70MC), 01 ficha de anotação, 01 cronometro digital(marca Casio 1/100 segundos de precisão).

Delineamento da pesquisa: A coleta dos dados foi realizada através do processo de análise qualitativa do movimento descrito por Knudson & Morrison (2001). O protocolo de filmagem se deu através da escolha aleatória de um dos jogadores da partida, no qual era filmado exclusivamente e também anotado o tempo de duração do jogo. Por meio de uma ficha de scout os golpes foram transcritos e divididos, Os quatro golpes analisados foram: golpe de direita(forehand), golpe de esquerda(backhand), voleio ou smash e saque.


Resultados

Tabela 01. Quantidade de golpes nos jogos masculino


Sendo:
GD: golpe de direita
GE: golpe de esquerda
V/S: voleio ou smash
S: saque
TG: total de golpes
TJ: tempo de duraçãodo jogo
QSet: quantidade de sets

Tabela 02. Quantidade de golpes nos jogos feminino

Tabela 03. Distribuição percentual dos golpes nos jogos masculino

Tabela 04. Distribuição percentual dos golpes nos jogos feminino


Discussão

    Conforme Schmidt(1993) um ambiente em constante mudança é considerado aberto, pois, o atleta deverá processar novas informações a quase todo momento. Em contraste, no ambiente com poucas alterações durante a execução das ações motoras é considerado fechado(pouca ou nenhuma informação nova surge no decorrer da ação). No tênis de campo, existem habilidades classificadas em abertas ou fechadas. Por exemplo, na ação motora do saque(serviço), o ambiente é fechado, pois o tenista não precisa processar novas informações. Contudo, durante as trocas de bola(rali) o ambiente é aberto, pois cada jogador realiza diferentes mudanças em sua movimentação e na execução e/ou seleção dos golpes, ocasionando uma necessidade de processamento de novas informações com a intenção de aplicar um ponto sobre o adversário.

    Em relação às habilidades motoras abertas, tanto no masculino quanto no feminino, nos resultados o GD foi a ação motora predominante(masculino: 133,2+31,12 golpes, representando 39,7+3,62% do total e no feminino:114,6+13,57 golpes, representando 38,1+4,25% do total). O GE se enquadra em segundo lugar entre a preferência de golpes dos tenistas analisados(masculino: 99,6+15,81 golpes e no feminino: 101,3+53,41 golpes).

    Essa superioridade nos valores do GD em relação ao GE pode estar relacionado ao fato de que cada tenista possui uma maneira(estilo) próprio de jogar. Cada tenista tem um acervo particular de golpes(ações técnico-táticas) e combinações no qual se vale com determinada freqüência durante uma partida. Sendo assim, Skorodumova(1998) classifica os jogadores de tênis em três categorias de acordo com o seu estilo de jogo, a saber: categoria A(serviço-rede), categoria B(universal toda quadra) e categoria C(linha de fundo). Somando-se a isto, vale ressaltar que o GD é a primeira habilidade motora a ser executada durante o processo de ensino-aprendizagem do tênis de campo. Assim, podemos especular que o GD pode ser considerado como uma habilidade motora primária e, com isso, acaba tornando-se uma ação motora de pronto-emprego dentro do acervo disposto na memória motora. No GE, os valores dos tenistas femininos por nós encontrados foram superiores ao do sexo masculino(masculino: 99,6+15,81 golpes versus feminino: 101,3+53,41 golpes) tanto na média quanto nos valores de dispersão. Devemos salientar que os tenistas do sexo feminino analisados possuem um estilo de jogo com características diferentes dos tenistas masculinos. Em nossa observação, os tenistas femininos enquadram-se na categoria C(linha de fundo) - 66,6% e categoria B(universal toda quadra) - 33,4%. Já no masculino, poderíamos classificar os tenistas estudados como categoria C(linha de fundo) -80% e categoria A(serviço-rede) - 20%.

    Quanto ao V/S foram encontrados valores percentuais inferiores aos demais golpes(masculino:13,2+5,19 golpes, representado 3,9+1,16% do total e no feminino: 9,0+4,96 golpes, representado 3,2+2,42% do total). Esse percentil encontrado é inferior ao apresentado por Skorodumova(1998)como distribuição dos golpes usados pelos melhores tenistas do mundo em quadra lenta(15,8+3,1%). Esse fato, deve-se provavelmente a classificação dos tenistas analisados, que é na nossa visão como predominante em ambos os sexos da categoria C(linha de fundo). Também, devemos acrescentar que os tenistas analisados são atletas juvenis(17-18 anos) que com a aquisição de maior experiência, aliado com uma entrada gradual no profissionalismo, os mesmos poderão alterar seus comportamentos em termos de ações motoras táticas.

    O GD, GE e V/S como habilidades motoras abertas sofrem influência de dois aspectos relacionados à aprendizagem motora: a tomada de decisão(Araujo, 1997)e o estágio de aprendizagem do golpe(Magill, 1984:Schmidt, 1993). Quanto à tomada de decisão, existe um grau de importância do aspecto cognitivo para o controle motor na tática/técnica de jogo(envolvendo identificação, discriminação e execução com sucesso da tarefa).No quesito fase de aprendizagem, podemos especular que os diversos golpes podem encontrar-se em estágios de aprendizagem diferentes(por exemplo, GD no estágio autônomo, enquanto V/S em estágio associativo).

    O S é uma habilidade motora fechada. Nesta pesquisa, foi o terceiro golpe mais executado (masculino: 82,8+9,78 golpes, representando25,5+2,7% do total e no feminino: 80,0+13,92 golpes, representado 27,0+6,34%). Uma das limitações deste estudo é que não avaliamos a regularidade e eficácia do saque, considerado um golpe importante no tênis de campo.

    No aspecto quantidade total de golpes(TG) os tenistas masculinos realizaram uma média de 328+54,91 golpes. Os tenistas do sexo feminino apresentaram média de 305,0+51,74 golpes. Os valores de TG encontrados em ambos os sexos não estão muito distantes quando comparados com tenistas profissionais conforme relata Skorodumova(1998) no piso lento de 346,0+72 para o masculino e 351,0+52 no feminino.

    Ao observar as tabelas 01 e 02 pode-se perceber que o TG, TJ e QSet estão inter-relacionados. Os resultados encontrados apontam que quanto maior o TJ e QSet maiores são os valores apresentado em TG.

    De maneira geral, quanto às habilidades motoras abertas, podemos dizer que as ações motoras durante uma partida do tênis de campo estão relacionados a qualidade do movimento executado ou controle da bola(controle motor). No entanto, em relação às habilidades motoras fechadas, o jogo de tênis correlaciona-se ao serviço apropriado no contexto de jogo(seleção de movimento) e a qualidade do serviço produzido(execução do movimento)(Nielsen & McPherson, 2001). Além disso, jogadores profissionais exibem maior consistência técnica/tática quando comparados com tenistas menos experientes. Esse grau de conhecimento adquirido é resultante da experiência em competições e prática do treinamento.


Conclusão

  • Os tenistas juvenis de ambos os sexos analisados nestas pesquisa apresentam alguns índices quantitativos inferiores quando comparados aos tenistas profissionais.

  • Os índices quantitativos encontrados correlacionam-se com o acervo particular de golpes(ações técnico/táticas) e combinações do tenista frente às condições situacionais da determinada partida.

  • São necessários estudos adicionais com a mesma categoria(faixa etária) e tipo de piso, assim como, a utilização de uma maior amostragem para efeito posterior de análise e interpretações estatísticas.


Referências bibliográficas

  • Araujo, D. O treino da tomada de decisão. Lisboa- Revista Treino Desportivo, 1(04), p.06-13; 1997.

  • De Rose Jr, D.; Gaspar, A.; Siniscalchi, M. Análise estatística do desempenho técnico coletivo no basquetebol. Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires, año 8, n. 49, junio de 2002.

  • Knudson, D.V. & Morrison, C.S. Análise qualitativa do movimento humano. Manole, São Paulo;2001.

  • Magill, R.A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. Edgar Blucher Ltda, São Paulo; 1984.

  • Mazzuco, M.A. & Pereira, J.L. O uso e a importânciado scalt nas equipes de futebol. Anais- 24th International Symposium on Sports Science, p.133, São Paulo; 2001.

  • Nielsen,T.M. & McPherson, S.L. Response selection and execution skills of professionals and novices during singles tennis competition. Perceptual Motor Skills, v.93, n.02, p.541-555; 2001.

  • Percinoto, R. ; Nunes, C.M.A. ; Freitas Júnior, I.F. Análise do rendimento de equipes de handebol de acordo com a atuação do sistema defensivo. Anais 24th International Symposium on Sports Science, p.126, São Paulo, 2001.

  • Schmidt,R. Aprendizagem motora e performance motora: dos princípios à prática. Editora Movimento, São Paulo; 1993.

  • Skorodumova, A.P. Tênis de campo: treinamento de alto nível. Phorte, São Paulo; 1998.

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