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Estudo da força muscular
localizada em lesados de medula

   
* Docente das disciplinas de Educação Física Adaptada
e Aprendizagem Motora;
Doutorando do Departamento de
Educação Física Adaptada da UNICAMP
** Docente das disciplinas de Biomecânica no
Curso de Educação Física e Fisiologia
e Biofísica no Curso de Fisioterapia;
Doutorando em Fisiologia
do Exercício da Universidade Havana
*** Docente das disciplinas de Educação Física
Adaptada e Higiene e Socorros
Coordenador do Projeto Atividades
Motoras Adaptadas - AMA, campus de Toledo
Universidade Paranaense - UNIPAR
 
 
Dr. José Irineu Gorla*
Dr. Robson Ruiz Olivoto**
Ms. Décio Roberto Calegari
Esp. Ricardo Alexandre Carminato***

robsonolivoto@unipar.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
    Nossa pesquisa teve como objetivo principal realizar testes de resistência Muscular Localizada de Membros Superiores, em duas amostras diferentes. Uma amostra era composta por pessoas paraplégicas, com 05 a 17 anos de lesão em media; Outra amostra era composta por pessoas sem qualquer tipo de adaptação motora, ou seja, pessoas ditas normais. Os resultados foram obtidos a partir de testes de rosca de biceps, supino horizontal, extensão de tríceps, e da dinamometria. Testes que foram escolhidos em função da possibilidade igual de realização em ambas amostras. Os resultados demonstraram que em todos os testes realizados a amostra de paraplégicos obteve resultado superior que os ditos normais. O fato da utilização de cadeiras mecânicas pode ter sido o fator que determinou este resultado, tendo em vista que todos os avaliados são praticantes de atividade físicas e não atletas. O objetivo da pesquisa foi alcançado, confirmando que a resistência muscular localizada de paraplégicos ativos é superior a resistência muscular localizada de pessoas dita normais e ativas.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 73 - Junio de 2004

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Revisão de literatura

    Em todas as atividades realizadas pelo ser humano em seu cotidiano, em maior ou menor grau utiliza-se do trabalho sob suas faces, com seus n-objetivos dentre os quais, um de seus principais objetivos esta em atuar dentro das diversas atividades que envolvem o trabalho físico, buscam sustentar o condicionamento e bem estar físico do ser humano. Numa constante busca pelo pretenso ideal de performance tão almejado por muitos nas diversas modalidades esportivas, no entanto a maioria dos seres humanos não possui a consciência de que a performance pode ser alcançada nas mais diversas atividades realizadas em nosso dia a dia.

    Em nosso trabalho podemos contemplar que durante a realização de programas de treinamento físico, onde verificamos que o trabalho físico realizado durante estes períodos de treinamento pode ser dividido em dois aspectos: o aspecto do treinamento do sistema cardiorrespiratório e do aspecto do treinamento do sistema muscular. Uma importante capacidade que observamos durante o treinamento, seja do sistema cardiorrespiratório ou do sistema muscular, podemos constatar que existem alguns aspectos que são importantes, dentre eles ressaltamos a qualidade física, resistência, que segundo BARBANTI, resistência é a capacidade de resistir ao cansaço por mais tempo; deste modo executar a atividade pelo maior tempo possível sem que ocorra a diminuição da qualidade do trabalho realizado. (BARBANTI, 1979 p.79)

    Já FERNANDES(1981) divide a resistência em dois tipos: Resistência Muscular Geral, para o autor esta resistência é desenvolvida quando o trabalho realizado pelo indivíduo emprega 2/3 da porcentagem geral do sistema muscular esquelético; e classifica como resistência muscular localizada a desenvolvida pelo indivíduo quando emprega 1/6 a 1/7 de sua musculatura total, deste modo o trabalho envolve apenas um determinado grupo muscular ou somente um músculo. (FERNANDES, 1981 p.58)

    O trabalho realizado durante o treinamento físico, onde são ressaltadas características da resistência muscular geral e localizada, podemos então destacar, a faculdade dois sistemas para obtenção de energia durante o trabalho muscular, sistema aeróbico e anaeróbico.

    Para Fernandes (1981), a resistência aeróbica geral pode ser identificada quando se realiza um trabalho envolvendo esforço físico com o tempo de duração acima de 3 min com intensidade superior a 50% onde são solicitados mais de 1/6 a 1/7 da porcentagem da musculatura esquelética total.(FERNANDES, 1981, p 58)

    Deste modo o trabalho pode ser realizado com a presença de oxigênio considerado suficiente para suprir as demandas dos grupos musculares envolvidos na realização do trabalho. Já a resistência anaeróbica geral será caracterizada pela capacidade que um indivíduo possui para resistir aos esforços dele exigidos, com elevada intensidade durante um período de tempo inferior a 3 min, sendo este o trabalho que emprega de l/6 a l/7 da musculatura esquelética do indivíduo. O sistema anaeróbico produz energia para atividade física a partir de degradação de duas moléculas, sendo a creatinafosfato e o acido lático, que são as fontes metabólicas para trabalhos anaeróbios.

    Uma das características do trabalho de treinamento muscular está no processo de desenvolver as qualidades físicas dos indivíduos, como por exemplo a qualidade força e qualidade velocidade, que para FREY citado por WEINECK (l989, p 8) comenta: este trabalho de desenvolvimento dessas qualidades físicas é desenvolvido sobre a base dos processo neuromusculares que possuem faculdade inerentes à musculatura, estas que podem desenvolver a força exigida para realização de ações motoras em um espaço de tempo mínimo, e colocado sob mínimas condições.

    Já FOX(1991), define força muscular como sendo uma tensão que um determinado músculo ou mais ou mais corretamente um ou mais grupos musculares consegue exercer a tensão ou força contra uma resistência oferecida durante a realização de um esforço máximo.

    Para o autor WEINECK (1989), a força pode se apresentar sob três formas: força de resistência, força de explosão e força máxima. Força de resistência é considerada pelo autor como a capacidade que o indivíduo possui de resistir a fadiga do organismo para isso quando o trabalho de força é empregado em performances de longa duração; Força de explosão é entendida como a capacidade que o indivíduo possui, ou seja, o seu sistema neuromuscular possui a capacidade de vencer a resistência utilizando uma maior velocidade de contração possível; Força máxima caracteriza-se por ser a maior força que o sistema neuromuscular executa ao realizar uma contração voluntária.

    Com relação as conseqüências da contração muscular após o trabalho físico intenso ocorre uma diminuição na sua capacidade de contração ocasionada por três fatores importantes que são: a intensidade do trabalho físico realizado, a presença da fadiga muscular devida a grande intensidade do trabalho e os tipos de fibras musculares envolvidas na atividade.

    Baseados nestes autores podemos afirmar que o teste realizado de contração muscular, é um trabalho de resistência muscular localizada, tendo como predominância a contração de tipo isotônica e por conseqüência é um trabalho de resistência muscular anaeróbica a lática.

    O objetivo principal, e a principio único, da pesquisa é realizar uma analise da capacidade de resistência muscular localizada, de membros superiores de paraplégicos e posterior comparação com os resultados dos mesmos testes realizados por pessoas "ditas" normais, ou seja, sem paraplegia.

    É de notório saber que paraplégicos tem como fundamento de deambulação a utilização da cadeira de rodas, que pode ser mecânica ou motorizada. Para nossa pesquisa utilizamos paraplégicos que utilizam cadeira mecânica, ou seja, com força imposta por membros superiores, o que pode justificar a maior capacidade de resistência muscular localizada em membros superiores que em outros indivíduos.

    Os participantes da pesquisa atuam diretamente no projeto AMA, que tem função atender pessoas portadores de deficiência física, sensorial e mental.

    O projeto existe há três anos, sendo realizado no campus sede (Umuarama) e campus de Toledo, atualmente atendendo cerca de 300 pessoas portadores de necessidades especiais.

    Tendo em vista que a pesquisa cientifica nesta área atua estritamente a valores motores, achamos interessante começarmos uma nova linha de pesquisa nesta área, ou seja, aliando os conhecimentos relacionados a Educação Física Adaptada e os relacionados as áreas ligadas a Fisiologia. Sendo este a primeira de muitas pesquisas a serem produzidas a partir do Projeto de Atividade Motoras Adaptadas.


Objetivos

Objetivo geral

    Constatar e analisar através do teste de contração muscular localizada, o nível de performance de paraplégicos e não-paraplégicos.

Objetivos específicos

    Analisar se existe diferença significativa entre testes de resistência muscular localizada entre paraplégicos e não-paraplégicos.


Metodologia

Caracterização da pesquisa

    Esta pesquisa caracteriza-se como sendo um estudo "experimental", que segundo ANDRADE (1995), consiste em determinar um objeto de estudo, possível variável e definir formas de controle.


Sujeito

    Para realização dos testes foram selecionados dois sujeitos portadores de paraplegia pertencentes ao Projeto AMA - Atividades Motoras Adaptas, realizado pelo curso de Educação Física da Universidade Paranaense - UNIPAR, com o intuito de promover atividades físicas orientadas e organizadas para pessoas portadoras de necessidades especiais.

    Para compor a amostra de não paraplégicos foi utilizado dois acadêmicos que participam do projeto AMA na qualidade de monitores, sendo estes alunos do curso de Educação Física e pessoas não atletas e sim praticantes de atividades físicas diárias.

    A amostra denominada de paraplégicos é composta por:

  • Sujeito 1 ( Paulo ) - Lesado medular ( lesão completa ) na altura da vértebra T10 ( décima vértebra da torácica ), com 5 anos de lesão, classificado como paraplégico.

  • Sujeito 2 ( Moacir ) - Lesado medular ( lesão completa ) na T10 ( décima vértebra da torácica ), com 17 anos de lesão, amputado de falange medial do dedo indicador direito, classificado como paraplégico.


Procedimentos

    Após a explanação de como seriam realizados os testes e qual o objetivo proposto pelos pesquisadores, os sujeitos foram submetidos a um período de aquecimento e preparação para realização dos testes.

    O protocolo utilizado para mensuração da resistência muscular localizada foi o descrito por Guedes (2003), citando Heiward. No entanto pela impossibilidade da realização de todos os testes propostos bem como a forma como deveriam ser realizados, os autores procederam uma adaptação as reais possibilidades dos avaliados.

    No teste de rosca direta os avaliados, tanto paraplégicos como não-paraplégicos, utilizaram alteres individuais, sendo realizada a devida adequação quanto a peso a ser utilizado, tendo em vista que o protocolo preconiza um percentual de peso para cada teste de acordo com o peso corporal do sujeito testado.

    Nos demais testes, de resistência muscular localizada, em membros superiores, utilizaram o procedimento original do protocolo.

    Todos os avaliados foram testados no mesmo dia, local e horário, para evitar qualquer interferência da temperatura, bem como controlou-se a realização dos testes de forma a se estabelecer uma seqüência a ser seguida por todos os avaliados.


Estatística

    Para tratamento dos dados coletados utilizou a estatística do tipo descritivo e comparativo de dados finais. Tendo em vista que o objetivo é determinar se existe diferença entre os testes realizados em paraplégicos e não paraplégicos, utilizou-se também o teste T de student para descrição estatística.


Equipamentos

    Foram utilizados os seguintes equipamentos para a realização do teste:

  • anilha de 1 Kg, de 2 Kg, de 4 Kg, de 5 Kg

  • barra de rosca direta de 2 Kg

  • caneta esferográfica

  • carteira universitária

  • colchonete

  • Sala de musculação da UNIPAR


Resultado e discussão

    O gráfico 01 demonstra os resultados obtidos nos testes de Rosca de Bíceps, Supino Horizontal, Extensão de Tríceps e Dinamômetro de mão direita e mão esquerda.


    Após a analise dos dados observamos que na comparação dos resultados obtidos nos testes entre as duas amostras, notamos que em todos os testes os paraplégicos obtiveram resultados superiores aos não paraplégicos, no entanto, é importante ressaltar que os avaliados não são atletas e sim apenas praticantes de atividade físicas regulares, e como mencionado antes os paraplégicos utilizam cadeira mecânica, o que de certa forma os induz a ter mais força nestes membros.

    Ao findarmos este trabalho ao qual nos propusemos a buscar subsídios para o inicio de pesquisas correlacionando os conhecimentos da Educação Física Adaptada e Fisiologia do Exercício, que teve como principio a observação da condição de performance em que se encontram os alunos do projeto AMA, podemos afirmar que a condição de paraplégico e utilização de cadeira mecânica foi fundamental para que os resultados destes sujeitos fossem superiores aos não paraplégicos, tendo em vista que todos são praticantes de atividade física e não atletas.

    O objetivo da pesquisa que era determinar um nível de comparação da resistência muscular localizada, obtida em testes realizados a partir do protocolo de HEWARD, 2002, citado por GUEDES, 2002, adaptado para as reais potencialidades dos sujeitos, foi alcançado, tendo em vista que os resultados nos comprovaram a maior eficiência muscular de paraplégicos que não paraplégicos, em decorrência da utilização da cadeira mecânica.

Referências bibliográficas

  • ASTRAND, Per-Olof. Tratado de Fisiologia do Exercício. Interamericana, Rio de Janeiro, 1980.

  • BARBANTI, V. F. Teoria e Prática do Treinamento Desportivo. Edgar Blucher, São Paulo, 1979.

  • FERNANDES, J. L. O Treinamento Desportivo: Procedimentos, Organização, Métodos. EPU, São Paulo, 1981.

  • FOX, E. L. Bases Fisiológicas da Educação Física e dos Desportos. 4a. ed., Interamericana, Rio de Janeiro, 1983.

  • TUBINO, M. J. G. Metodologia Científica do Treinamento Desportivo. Ibrasa, São Paulo, 1985.

  • WEINECK, J. Manual de Treinamento Esportivo. 2a. ed., Manole, São Paulo, 1989.

  • WEINECK, J. Biologia do Esporte. Manole, São Paulo, 1991.

Outro artigos em Portugués

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revista digital · Año 10 · N° 73 | Buenos Aires, Junio 2004  
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