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Atividade física e qualidade
de vida em mulheres idosas

Physical activity and quality of life in older women

   
*NuCIDH - CDS / UFSC
Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, SC - Brasil
Mestranda em Educação Física
**Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Professor Assistente - Departamento de Saúde - UESB
 
 
Sheilla Tribess*
Jair Sindra Virtuoso Jr**

jair@uesb.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    O propósito deste estudo foi de examinar a relação entre a Atividade Física e a Qualidade de Vida em mulheres com idade igual ou superior a 60 anos residentes em instituições asilares ou que viviam de modo independentes, participantes de um programa de atividade física orientada. Foi aplicada uma entrevista com questões pertinentes ao estado de saúde, níveis de Atividade Física e de Qualidade de Vida, além da mensuração da massa corporal. Resultados indicam que idosas que vivem de modo independente tem significativamente (p .01) maiores níveis de Atividade Física quando comparados com as que vivem em asilos. Os escores referentes à Qualidade de Vida Geral e nos domínios físico e psicológico apresentaram-se mais elevados e significativamente diferentes (p .01) entre os grupos analisados. A análise correlacional entre o dispêndio energético, o tempo de atividade física total e moderada foram significativos com o domínios Físico (r=.51; r=.54; r=.46) e Psicológico (r=.55; r=.53; r=.46). Conclui-se que há uma relação entre os níveis de Atividade Física e Qualidade de Vida em mulheres idosas.
    Unitermos: Atividade física. Qualidade de vida. Mulheres idosas.  

Abstract
    The purpose of this study was to examine the relationship between the Physical Activity and the Quality of Life in older women. Women over the age of 60 years, living independent and participants of a program of guided physical activity or residents in institutions shelter. An interview was applied with questions pertinents to their health status, Physical Activity levels and Quality of Life, besides the mensuração of the body mass. Results indicated that older women that living in an independent way has significantly (p <.01) larger levels of Physical Activity when compared with the ones that live at asylums. The scores regarding Quality of General Life and in the domains physicist and psychological they came higher and significantly different (p <.01). among the analyzed groups. The analysis correlacional among the energy expenditure, the time of total and moderate physical activity was significant with the domains Physicist (r = .51; r = .54; r = .46) and Psychological (r = .55; r = .53; r = .46). It is concluded that there is a relationship between the levels of Physical Activity and Quality of Life in older women.
    Keywords: Physical activity. Quality of life. Older women.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 73 - Junio de 2004

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Introdução

    O aumento da população idosa é um fenômeno mundial, tanto no que se refere aos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. Estimativas para a população idosa brasileira apontam que o país em duas décadas terá 32 milhões de pessoas com idade superior a 60 anos, sendo o sexto país com o maior contingente de idosos no mundo1.

    No entanto, este aumento na expectativa de vida das pessoas, não é acompanhado em melhorias na qualidade de vida, em geral, as pessoas estão conseguindo chegar a idades avançadas, porém, com a capacidade funcional deteriorada.

    Neste sentido, a comunidade científica especializada em estudos desta faixa etária tem aumentado, isto em diversas áreas do conhecimento, com a busca de produção de meios mais eficazes que possam favorecer que as pessoas consigam manter a sua qualidade de vida, mesmo em idades mais avançadas.

    Na área da saúde, tem-se observado um interesse crescente em investigar a relação da atividade física com parâmetros relacionados à capacidade funcional. Estudos indicam que níveis mais elevados de atividade física estão relacionados com a redução de morbidade e mortalidade por diversas causas1,2,3. O nível reduzido de atividade física e o número crescente de doenças crônicas que acompanham o envelhecimento, freqüentemente propiciam um círculo vicioso: doenças e incapacidades reduzem o nível de atividade física, o que por sua vez, tem efeito negativo na capacidade funcional, aumentando as incapacidades decorrentes das doenças5.

    Na atualidade, a discussão em políticas públicas para a melhoria de saúde na população, não pode deixar de lado a atividade física, visto que os benefícios de sua prática têm sido apontados em diversos estudos epidemiológicos1,4,6. Entre os benefícios que a pratica regular de atividade física proporciona, inclui-se a redução das mudanças biológicas decorrentes da idade; controle e redução das doenças crônicas; maximização da saúde psicológica; aumento da mobilidade e capacidade funcional, auxiliando na reabilitação de doenças crônicas e agudas7.

    No entanto, as relações da atividade física com os domínios da qualidade de vida não estão bem esclarecidos na literatura. Convém destacar que os estudos evidenciando esta relação na população idosa asilar abordam aspectos de instituições de cuidado ao idoso de países desenvolvidos, com características distintas na realidade de países em desenvolvimento.

    Este estudo contribui para o entendimento da relação entre a atividade física e qualidade de vida, favorecendo a formulação de políticas públicas no oferecimento de programas de promoção à atividade física à população idosa. Esta investigação teve como objetivo, o de verificar a associação entre o nível de atividade física habitual com a qualidade de vida de mulheres idosas que residem em asilos e as que vivem de modo independente.


Material e métodos

Caracterização do Estudo

    Este estudo investigou a relação entre a atividade física habitual e a qualidade de vida em idosas. Este estudo transversal caracterizou-se como sendo do tipo descritivo, associativo e correlacional8.


População e amostra

    A população foi composta por mulheres com faixa etária igual ou superior a 60 anos residentes na cidade de Florianópolis-SC.

    A amostra foi selecionada por conveniência, e a participação das idosas na pesquisa foi voluntária, sendo constituída por 44 idosas divididas em dois grupos. O primeiro grupo foi formado por 21 idosas residentes dos asilos Sociedade Espírita Obreiros da Vida Eterna (SEOVE) e do Centro Vivencial para Pessoas Idosas, o segundo grupo constituído por 23 idosas que vivem de modo independente e que participam de programas de atividade física orientada no Centro de Desportos oferecidos pela Universidade Federal de Santa Catarina.


Instrumentos

    O instrumento de coleta de dados constituiu-se de uma entrevista composta de outros instrumentos já validados em estudos prévios, aplicada pelos pesquisadores com a finalidade de levantar informações sócio-demográficas, fatores relacionados à saúde, autonomia funcional, nível de atividade física habitual e qualidade de vida.

    Os fatores sócio-demográficos referem-se a idade, estado civil (solteira, casada, viúva e separada/divorciada) e nível de escolaridade (ginasial incompleto, ginasial completo/colegial incompleto, colegial completo/superior incompleto e superior completo).

    Os fatores relacionados à saúde referem-se a presença de algum problema de saúde como: diabetes, asma ou bronquite, reumatismo/artrite/artrose, hipertensão arterial, hipotiroidismo, labirintite, acidente vascular cerebral (AVC) ou qualquer outro problema de saúde.

    A autonomia funcional foi investigada como variável dicotômica: ausência de dependência (incapacidade/ dificuldade em nenhuma das atividades) versus, dependência (incapacidade/dificuldade para realizar uma ou mais atividade); para isso, utilizou-se a versão brasileira do Índice de Katz9 destinado a medir a autonomia nas atividades da vida diária nos aspectos físicos. Este instrumento consta de perguntas referentes ao banhar-se, vestir-se, usar sanitário, deslocar-se da cama e cadeira, continência das eliminações e alimentar-se.

    O nível de atividade física habitual foi mensurado pela Escala de Atividade Física proposto por AADAHL E JORGENSEN (2003) 10 para pessoas sedentárias ou com baixo índice de atividade física. Este instrumento mensura o nível de atividade física total gasto em 24 horas somando o tempo gasto no dormir, no trabalho e no lazer. A escala de Atividade Física é constituída por nove figuras que representam intensidade diferentes de atividade física e gastos de energia diferenciados.

    As ilustrações (figuras representadas pelo intervalo alfabético das letras A até I) do questionário original foram substituídas por fotos representando atividades comuns do dia-a-dia de idosas.

    A foto A de uma pessoa idosa dormindo ou deitada representa um gasto de 0.9 METs. A foto B Sentada quietamente enquanto assiste TV, escuta música ou lê representa um gasto de 1.0 METs. A foto C realizando trabalhos manuais (tricô, crochê, bijuterias); trabalhando com o computador; sentada em reunião ou comendo, representa um gasto de 1.5 METs. A foto D em pé, enquanto lavando pratos ou cozinhando; dirigindo automóvel, regando plantas representa um gasto de 2.0 METs. A foto E limpando pisos e janelas; empurrando carrinho no supermercado; dançando ou caminhando devagar representa um gasto de 3.0 METs. A foto F deslocando de bicicleta para o trabalho ou no tempo livre; caminhando rapidamente representa um gasto de 4.0 METs. A foto G em trabalhos de jardinagem; carregando compras; arredando móveis representa um gasto de 5.0 METs. A foto H realizando exercícios (ginástica, hidroginástica); capinando ou lavando roupas a mão representa um gasto de 6.0 METs. A foto I realizando atividades mais intensas como corrida ou atividades esportivas (vôlei, futebol, natação) representa um gasto 6.0METs.

    A qualidade de vida foi mensurada por meio do World Health Organization Quality of Life Instruments-WHOQOL-BREF, validado para a população brasileira por FLECK et al. (2000) 11. O questionário WHOQOL-BREF, formado por 26 questões, é multidimensional e avalia a qualidade de vida geral, assim como quatro domínios maiores: saúde física, saúde psicológica, relações sociais e meio ambiente. O domínio da saúde física contém questões relativas a performance das atividades físicas da vida diária, limitações funcionais, níveis de energia e fadiga, dor e desconforto e sono. O domínio psicológico inclui questões pertinentes a sentimentos positivos e negativos, e a fatores cognitivos (pensar, aprender, memória e concentração). O domínio social refere-se a relacionamentos pessoais, suporte social. E o domínio meio ambiente contém questões referentes a recursos financeiros, transporte, ambiente físico, segurança física e proteção, atividades recreacionais ou no tempo livre.


Procedimento da coleta de dados

    Procedendo a coleta de dados, foi solicitada a autorização dos coordenadores dos asilos, Sociedade Espírita Obreiros da Vida Eterna (SEOVE) e Centro Vivencial para Pessoas Idosas, bem como do programa de atividade física oferecido à terceira idade pelo Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina. Os participantes foram orientados sobre os objetivo do estudo e da voluntariedade de participação.

    A pesquisa de campo por meio da aplicação de uma entrevista e mensuração da massa corporal foi executada no mês de agosto de 2003.


Análise dos dados

    Os instrumentos estatísticos utilizados foram o software Epidata, versão 2.1b para a criação do banco de dados e do pacote estatístico SPSS 11.0 para análise. Essa fase da execução ocorreu paralelamente e após a coleta dos dados.

    Análise descritiva dos dados serviu para caracterizar a amostra, com a distribuição de freqüência, cálculo de medidas de tendência central (média) e de dispersão (amplitude de variação, desvio-padrão e intervalo de confiança).

    As diferenças no tempo de atividade física total, no gasto energético, no tempo de atividades leves e moderadas e nos domínios da qualidade de vida entre as idosas que residem em asilos e as participantes de programas de atividade física orientada foram verificadas por meio do teste "t" de Student para grupos independentes.

    Para a análise de associação da autonomia funcional, ausência de limitações e presença de limitações entre as idosas que residem em instituições asilares e as que vivem independentes participantes de programas de atividade física orientada, utilizou-se o teste de Qui-Quadrado (x2).

    A análise de correlação entre os domínios da qualidade de vida e o gasto energético (Kcal/dia) e o tempo de atividade física (h/dia) utilizou-se a Correlação de Pearson.


Resultados e discussão

    As idosas que participaram neste estudo tinham a idade média de 73.89 + 8.63 anos, sendo a média para as idosas institucionalizadas de 80.33 + 7.14 anos e 68 + 4.85 anos para as idosas que viviam de modo independente.

    Quando analisado o estado civil da amostra, percebe-se que a maioria das idosas institucionalizadas eram viúvas representando 52.4% e 28.5% solteiras, comparando com as idosas que viviam de modo independente encontrou-se 52.2% de idosas casadas ou vivendo com um parceiro e 30.4% viúvas.

    Em relação ao nível de escolaridade das 21 idosas asiladas, 12 (57.1%) possuem o fundamental incompleto e 2 completo, 4 possuem o ensino médio completo e 3 concluíram o ensino superior. Para as 23 idosas que vivem independente, 10 possuem o fundamental incompleto, 7 fundamental completo, 5 ensino médio completo e apenas 1 o ensino superior completo.

    A média, o desvio padrão e a variação dos escores mínimo e máximo da quantidade de medicamentos consumidos e as condições médicas (problemas de saúde) das idosas asiladas e das idosas que vivem de modo independente são apresentadas na TABELA 1.

Tabela 1. Média, o desvio padrão, variação dos escores mínimo e máximo e análise de
variância da quantidade de medicamentos consumidos e das condições médicas (quantidade de problemas de saúde)


ap=.000

    Quando analisado a quantidade de problemas de saúde, representado na Tabela 1 como condições médicas, o teste "t" de Student entre as idosas asilares e as idosas que vivem de modo independente não apresentou diferenças significativas (p=0.000).

    Observou-se que as idosas asilares e as idosas que vivem de modo independente não apresentaram diferenças na quantidade de problemas de saúde (condições médicas) relatados, tendo a média de 2.62 problemas de saúde para as asiladas e 3.09 para as independentes. Porém, quando analisada a quantidade de medicamentos consumidos verificou-se diferença significativa (p=0.000) entre as idosas institucionalizadas (3.90 + 2.19 medicamentos) e as idosas independentes (0.39 + 1.07 medicamentos).

    Uma das explicações plausíveis para as idosas asiladas relatarem tomar um maior número de medicamentos se deve à presença de uma equipe médica formada por enfermeiras e médicas que acompanham de perto a saúde das asiladas, diferentemente das idosas que vivem de modo independente e que fazem o acompanhamento por conta própria.

    Os principais problemas de saúde referidos pelas idosas, tanto asilares quanto idosas que vivem independente, estão demonstrado na Tabela 2.

Tabela 2. Problemas de saúde relatados pelas idosas asiladas e idosas que vivem independente


AVC = Acidente Vascular Cerebral

    A presença de hipertensão arterial foi o problema de saúde mais relatado pelas idosas asiladas (14), seguido de diabetes mellitus (8) e para as idosas independentes, problemas como reumatismo (16) e dores lombares (14) são mais freqüentes, assim como presença de varizes (9) e hipercolesterolemia (7), estes dois últimos problemas de saúde não foram relatados pelas idosas que residem em asilos.

    Na tabela 3 são apresentados a média, desvio padrão e variação dos escores mínimo e máximo dos níveis de atividade física das mulheres vivendo de modo independente e as institucionalizadas.

Tabela 3. Média, desvio padrão e variação dos escores mínimo e máximo dos níveis de
atividade física das mulheres vivendo de modo independente e as institucionalizadas.


* p<0.000

    O gasto energético é representado pela quantidade de kcal despendida com atividades físicas durante um dia sem levar em conta a quantidade de energia gasta com o dormir. O tempo total gasto com atividades físicas não leva em conta a duração em que as idosas passam dormindo e/ou deitada na cama e sentada lendo, assistindo televisão ou ouvindo música, pois são atividades que consomem menos de 1 MET e de acordo com CASPERSEN et al. (1985)2, atividade física é definida como qualquer movimento corporal produzido pela musculatura energética que resulte num gasto energético acima dos níveis de repouso (equivalente a 1 MET). A duração das atividades leves ( 1 3METs) é representada pela soma das atividades C e D da escala de atividade física aplicada as idosas e a duração das atividades moderadas e intensas referem-se a soma do tempo (em horas) das atividades E, F, G, H e I.

    As quatro categorias da atividade física analisada, gasto energético, tempo de atividade física, o tempo de atividades leves e moderadas, apresentaram diferenças estatísticas com p=0.000 entre as idosas institucionalizadas e as que vivem de modo independente. Essas diferenças podem ser melhor visualizadas nas FIGURAS 1, 2 e 3.


Figura 1. Média e erro padrão do tempo total dispendido nas atividades físicas (horas/dia) de
mulheres vivendo independentes e institucionalizadas.

    Pode-se observar na FIGURA 1, que a idosas institucionalizadas despendem um tempo menor para realizar as atividades físicas por dia (3.79 h/dia), enquanto que as que vivem independente gastam 10.03 horas/dia em atividades físicas.

    A escassez de opções de lazer e a monotonia das instituições asilares, talvez expliquem esse fato. No levantamento realizado por GUIMARÃES (2000)12 identificando o perfil das instituições asilares da grande Florianópolis (SC), foi observado que o profissional de Educação Física está ausente da lista dos profissionais obrigatórios nas instituições asilares. A prática de atividade física formal nas instituições parece não ser prioridade, pois foi verificado que a metade das instituições não possui atividade física com duração, intensidade e freqüência pré-determinada.


Figura 2. Média e erro padrão do tempo total dispendido nas atividades físicas (horas/dia)
leves e moderadas (horas por dia) de mulheres vivendo independentes e institucionalizadas.

    Quando analisada a quantidade de horas gasta por dia em atividades leves e moderadas, estas se apresentaram muito baixas para as idosas institucionalizadas, não alcançando os 30 minutos de atividade moderada recomendadas à saúde13. A inatividade física está associada com a propensão de riscos para desenvolver doenças crônicas degenerativas, condições médicas e fundamentalmente contribuir para a diminuição da funcionalidade com a idade2,3,4


Figura 3. Média e erro padrão do dispêndio energético nas atividades físicas (Kcal/dia)
de mulheres vivendo independentes e institucionalizadas.

    As idosas que vivem institucionalizadas têm um gasto de energia menor (27.81 + 2.75 kcal/Kg/dia) que as idosas que vivem de modo independente (48.75 + 6.30 kcal/Kg/dia). Esse baixo dispêndio energético é o responsável pelo acúmulo de gordura corporal, um dos maiores problemas de saúde na atualidade14,15.

    O excesso de gordura corporal está associado a vários problemas de saúde, incluindo a apnéia do sono, hipertensão, intolerância à glicose, doenças coronarianas, diabetes, baixa auto-estima e intolerância ao exercício, alteração da mobilidade e níveis elevados de dependência funcional16,17,18. Convém destacar ainda que em geral, as mulheres obesas reportam terem piores condições de saúde, comparadas à não obesas19.

    As condições médicas relacionadas a problemas de diabetes e hipertensão arterial foram os mais relatados pelas idosas institucionalizadas no presente estudo. Em investigação realizada por KOLTYN (2001) 6 foi encontrada uma maior prevalência de doenças reumáticas (artrite/artrose) seguidos de hipertensão e doenças coronarianas nas idosas que residiam em instituições asilares.

    Os valores descritivos referentes à média, desvio padrão e a variação nos escores mínimo e máximo do índice geral e dos domínios físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente referentes a qualidade de vida das idosas institucionalizadas e das idosas que vivem de modo independente são apresentados na Tabela 4.

    O índice geral da Qualidade de Vida representa a média dos quatro domínios específicos, Físico, Psicológico, Relações Sociais e Meio Ambiente.

Tabela 4. Média, DP, variação dos escores mínimo e máximo e teste "t" de Student do índice geral e nos domínios
específicos de Qualidade de Vida das mulheres vivendo de modo independente e as institucionalizadas.


ap=.008; bp=.001; cp=.000

    Os valores da Qualidade de Vida apresentaram diferenças significativas (p<0.01) entre as idosas institucionalizadas e as idosas que vivem de modo independente para os domínios Físico e Psicológico e para o índice Geral da Qualidade de Vida. Os domínios específicos da Qualidade de Vida representados por meio das Relações Sociais e Meio Ambiente não apresentaram diferenças significativas entre as idosas institucionalizadas e as idosas que vivem de modo independente.

    As diferenças entre os domínios específicos da Qualidade de Vida são ilustradas na FIGURA 4.

Figura 4. Média e erro padrão do índice geral e nos domínios específicos de Qualidade de Vida das
mulheres vivendo de modo independente e das institucionalizadas.

    As idosas institucionalizadas apresentaram índices mais baixos para os domínios Físico e Psicológico quando comparadas com as idosas que vivem de modo independente. Os mesmos resultados foram evidenciados no estudo de KOLTYN (2001)6 comparando as idosas que vivem de modo independente na comunidade com as idosas que necessitam de cuidados assistenciais, onde para o domínio Físico e Psicológico apresentaram índices respectivos de 86 12 e 75 12 para as idosas independentes e 65 21 e 68 12 para as idosas que necessitam cuidados assistenciais.

    A autonomia funcional (FIGURA 5) verificada por meio do índice de Katz, evidenciou que a grande maioria das idosas institucionalizadas (76.5%) apresentaram algum tipo de limitação em contraste com 29.6% de idosas que não apresentaram nenhum tipo de limitação funcional. Já para as idosas independentes ocorreu o inverso, onde 70.4% não apresentaram nenhum tipo de limitação funcional e 23.5% com algum tipo de limitação. Por meio da associação (Qui-Quadrado) verificou-se diferença significativa (p=.002) entre as idosas asiladas e as idosas que vivem de modo independente na comunidade.

X2 = 9.174 p=.002
Figura 5. Percentual de dependência funcional das mulheres que vivem de modo independente
e as institucionalizadas.

    Na perspectiva do envelhecimento, a autonomia funcional é um componente importante da qualidade de vida. As limitações ocasionadas pelo processo de envelhecimento podem ocasionar declínios da capacidade funcional, tornando os cuidados assistenciais um fator imprescindível. SCHINEIDER & GURALNIK (1990)20 apontam para uma elevação da proporção de pessoas dependentes que vivem em seus lares e em instituições asilares, acarretando mudanças para a sociedade. Estratégias que favoreçam à manutenção do idoso autônomo, independente e ativo, no ambiente familiar e na comunidade durante todo o tempo de vida possível devem ser prioridades à saúde da população idosa9. A análise correlacional dos quatro domínios e do índice geral da qualidade de vida com o dispêndio energético (Kcal/dia e h/dia) é apresentado na TABELA 5.

Tabela 5. Índice de correlação dos domínios da Qualidade de Vida e o dispêndio energético (Kcal/dia e h/dia).


ap=.000 bp = .002 cp = .001

    Examinado a relação entre a atividade física e a qualidade de vida verificou-se que os domínios Físico e Psicológico apresentaram correlação significativa (p 0.01) com a energia despendida (kcal/kg/dia) nas atividades físicas diárias (r=0.48 e r=0.55 respectivamente), com a duração (h/dia) das atividades físicas (r=0.54 e r=0.53) e com tempo destinado as atividades físicas moderadas (r=0.46 para os dois domínios). Já os domínios Relações Sociais e Meio Ambiente não apresentaram correlação com o dispêndio energético, o tempo total de atividades realizadas por dia e com a duração das atividades moderadas.

    Os resultados indicam que maiores níveis de atividade física estão relacionados com melhores condições de Qualidade de Vida no que diz respeito aos domínios físico e psicológico. Reforçando as considerações feitas por GUIMARÃES (2000)12, referindo que a prática de atividade física não é vista como prioridade nas instituições asilares de Florianópolis e que este fato afeta de modo negativo a Qualidade de Vida dos idosos.


Conclusões e recomendações

    Os resultados encontrados no presente estudo permitem que as seguintes conclusões sejam apresentadas:

  1. as idosas institucionalizadas apresentaram baixo nível de atividade física em relação à duração total de prática, ao tempo de atividades leves e moderadas quando comparadas com as idosas que vivem de modo independente;

  2. em relação à Qualidade de Vida, as idosas institucionalizadas apresentaram diferenças quando comparadas com as que vivem de modo independente nos domínios Físico e Psicológico, assim como no índice Geral da Qualidade de Vida. Os domínios Relações Sociais e Meio Ambiente não diferiram entre os dois grupos;

  3. em relação à autonomia funcional, um maior índice de limitações funcionais foi evidenciado em idosas institucionalizadas, destacando a importância de oferecimento de ações públicas que estimulem um estilo de vida mais ativo nesta população; e,

  4. a atividade física representada pelo dispêndio energético (Kcal/Kg/dia) e pelo tempo total de prática de atividade física apresentou correlação significativa com os domínios Físico e Psicológico da Qualidade de Vida.

    Mediante a análise deste estudo, sugerem-se:

  • Estudos abordando outros domínios da qualidade de vida e sua relação com variáveis sócio-demográficas (classe econômica, faixa etária, sexo);

  • Ações Públicas que possibilitem os idosos à prática de atividades físicas e o esclarecimento de seus benefícios, contribuindo para a preservação da autonomia e na melhoria da Qualidade de Vida.


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