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Levantamento e análise da situação desportiva
dos clubes de Hóquei em Patins inscritos na
Associação de Patinagem do Porto

   
Licenciatura em Educação Física e Desporto
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
(Portugal)
 
 
Helder Fernandes
Miguel Moreira
Henrique Costa

miguel_utad@mail.pt
 

 

 

 

 
    O desenvolvimento deste estudo, surge do facto de podermos dar o nosso contributo para uma caracterização, análise, reflexão e divulgação de alguns indicadores da prática desportiva do Hóquei em Patins (HP) na região norte de Portugal. Contudo, apenas nos cingimos aos clubes inscritos na Associação de Patinagem do Porto (APP), que por si só já engloba 4 distritos diferentes: Porto, Aveiro, Vila Real e Bragança.
    A amostra deste estudo consistia nos 24 clubes inscritos na APP. Contudo e por limitações existentes ao nível da obtenção dos dados, apenas serão apresentados os resultados encontrados para 13 das 24 equipas (54% do total de clubes). Para tal foi aplicada uma adaptação do questionário presente em Rodrigues (2001), que visa analisar os seguintes tópicos: (i) identificação do clube; (ii) o quadro humano; (iii) o quadro de actividades; (iv) o quadro material; (v) apoios financeiros; e (vi) dirigentes.
    Os principais resultados, permitiram retirar as seguintes conclusões: (i) a maioria dos clubes (54%) realizou a sua legalização no período antes do 25 de Abril de 1974; (ii) apenas 38% dos clubes possuíam sedes próprias, pelo que os restantes 62% ou é alugada ou cedida; (iii) a totalidade da amostra possui escalões de formação, existindo um total de 1362 de atletas, distribuídos pelos diversos escalões de formação; (iv) o quadro humano onde se verifica um maior número de indivíduos, é o dos dirigentes, seguido pelos técnicos com habilitações próprias; (v) 54% dos clubes não possui instalações desportivas próprias, o que se revela como um enorme entrave ao desenvolvimento do clube e concomitantemente da modalidade; (vi) as maiores fontes de proveniência de apoios financeiros, foram as Câmaras Municipais respeitantes a cada clube, e empresas privadas, em que todos clubes revelaram obter apoios de estas entidades; (vii) os dirigentes, apresentaram uma média de idades de 49.85 ± 7.44 anos, tendo idades compreendidas entre os 34 e os 62 anos, pelo que a maioria das funções que realizam no clube, prende-se com o cargo de Presidente da Direcção, Secretário ou Director, existindo no entanto, alguns com mais que uma função (Treinador/Director).
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 72 - Mayo de 2004

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I. Introdução

    "O Associativismo Desportivo foi criado em Inglaterra, no séc. XVIII e expandiu-se por todo o mundo. Tem tido ao longo da sua existência momentos de imensa glória, sendo apontado como o responsável pela formação moral e cívica de grandes figuras públicas, ao mesmo tempo que é acusado de contribuir para a perda de valores e princípios da sociedade moderna" (Fernandes, 1999:1).

    Assim, o desenvolvimento deste estudo, surge do facto de podermos dar o nosso contributo para uma caracterização, análise, reflexão e divulgação de alguns indicadores da prática desportiva do Hóquei em Patins (HP) na região norte de Portugal. Contudo, e considerando algumas limitações contextuais apenas nos cingimos aos clubes inscritos na Associação de Patinagem do Porto (APP), que por si só já engloba 4 distritos diferentes: Porto, Aveiro, Vila Real e Bragança.

    Depois deste tipo de levantamento, numa primeira etapa, faz sentido conceber um plano de desenvolvimento desportivo distrital e regional, sob todas as suas formas, que tenha como objectivo atingir uma melhor situação desportiva. Este plano por sua vez, deve obedecer aos princípios do desenvolvimento (Globalidade, Integração e Endogeneidade) de modo a que possa contribuir para o desenvolvimento do "todo" que compõe o sistema e por outro lado, possa proporcionar um desenvolvimento de forma harmoniosa e sustentada (Fernandes, 2001).


II. Delimitação do tema

    "Para se poder ter uma ideia correcta do associativismo desportivo na região em causa, é necessário estudar todas as formas de associativismo ligadas ao fenómeno desportivo, de modo a não se tirar conclusões menos exactas, ou mesmo redutoras, estudando apenas o associativismo desportivo na óptica da área federada, tendo apenas os resultados desportivos como indicador" (Fernandes, 1999:5).

    Sem dúvida nenhuma, esta é a forma mais indicada de perceber como se processa o associativismo desportivo numa dada região ou numa modalidade. No entanto, algumas das limitações presentes neste trabalho não nos permitem convictamente formular e delinear as relações existentes neste processo, pelo que apenas nos iremos restringir à caracterização desportiva dos clubes de HP inscritos na APP.

    Com este propósito, Cunha (1993:27) sugere que "para analisarmos a situação desportiva de uma determinada região teremos que nos debruçar sobre a situação desportiva existente para depois podermos idealizar sobre o que poderá ser uma situação desportiva futura. A situação desportiva ao ser definida como uma visão analítica e funcional do mundo do desporto, identifica os múltiplos aspectos (elementos) que num dado momento o caracterizam. Conhecer e posteriormente avaliar estes elementos, será tarefa que julgamos importante, em especial dos agentes desportivos colocados nos mais diversos níveis de intervenção, no sentido de determinar opções, estabelecer objectivos e definir prioridades, no sentido da valorização e qualidade do sistema".

    Desta forma e de modo a valorizar e porque não dizer, desenvolver o sistema em causa, deve-se sempre considerar os seguintes factores de desenvolvimento desportivo, considerando uma hierarquia correcta como aqui apresentada (Pires, 1993):

Orgânica: representa o conjunto de organismos nacionais e internacionais, governamentais e não governamentais que configuram, enquadram e animam o sistema desportivo;

Actividades: conjunto de práticas desportivas condicionadas e determinadas socialmente. Estas actividades assumem a forma de diversas modalidades desportivas podendo cada uma delas ter uma dinâmica organizacional formal, não formal e informal;

Instalações: são as infra-estruturas desportivas artificiais, destinadas à prática desportiva;

Marketing: acção de promover as actividades desportivas de forma a que possam aderir um maior número de indivíduos possível, à sua prática;

Equipamentos: todos os equipamentos leves e pesados, individuais e colectivos necessários à prática desportiva;

Formação: valorização técnica para melhorar o desempenho dos quadros humanos intervenientes no sistema desportivo;

Documentação/Informação: é a produção editorial que divulga aquilo que vai acontecendo nos restantes factores de desenvolvimento;

Quadros Humanos: os indivíduos que intervêm, animam e dão sentido ao processo de desenvolvimento desportivo (praticantes, técnicos, dirigentes e espectadores);

Financiamentos: como o montante dos recursos monetários colocados à disposição do desporto;

Legislação: conjunto das leis que enquadram, regulamentam e configuram o sistema desportivo; e,

Gestão: aqui consideramos dois planos de intervenção: Um, que tem a ver, fundamentalmente, com as práticas desportivas, a ser exercido pelos técnicos. Outro, mais administrativo, de suporte às práticas desportivas que pode ser exercido por técnicos alheios ao sistema desportivo.


2.1. Objectivos do Estudo

    O objectivo geral deste trabalho, compreende o levantamento e caracterização da situação desportiva dos clubes de HP inscritos na APP, o que para tal, pelo que desta forma, também foram considerados os seguintes objectivos específicos:

  • quantificar os clubes de HP inscritos na APP;

  • identificar o tipo de actividades praticadas nesses mesmos clubes;

  • obter a relação de sócios, dirigentes, treinadores e praticantes de cada clube;

  • identificar as condições das instalações desportivas utilizadas;

  • analisar quais as fontes de apoios financeiros; e,

  • definir quais as maiores dificuldades encontradas por parte dos dirigentes desportivos nos seus respectivos clubes, assim como, em relação à APP.


III. Metodologia

    Neste capítulo será apresentada a amostra estudada, o instrumento utilizado, os métodos de pesquisa efectuados, as limitações do estudo, bem como o tipo de tratamento de dados efectuado.


3.1. Amostra

    A amostra deste estudo consistia nos 24 clubes inscritos na APP. Contudo e por limitações existentes ao nível da obtenção dos dados, não nos foi possível estudar a totalidade da amostra, pelo que neste estudo apenas serão apresentados os resultados encontrados para 13 das 24 equipas (54% do total de clubes), pelo que pensamos em parte, ser considerado razoável para o âmbito e contexto de realização deste trabalho.

    Assim, no quadro 1, estão presentes os nomes dos clubes inscritos na APP, os distritos onde estão englobados. Estarão a cinzento, os clubes que não participaram neste estudo.

Quadro 1 - Os clubes inscritos na APP e respectivo distrito

    No seguinte quadro são apresentados o ano de fundação, de legalização, o n.º de sócios e o tipo de sede (cedida, alugada, arrendada) dos 13 clubes desta amostra.

Quadro 2 - Ano de fundação, legalização, n.º de sócios e tipo de sede dos clubes da amostra

    Assim, é possível observar que a maioria dos clubes (54%) realizou a sua legalização no período antes do 25 de Abril de 1974, numa fase muita inibidora do associativismo, provocada pelo lançamento das bases económicas, sociais e políticas do Estado Novo (Crespo, 1978; cit. por Fernandes, 2001).

    No que se refere ao número de sócios, os clubes distribuem-se da seguinte forma:


Figura 1 - Distribuição do número de sócios dos clubes

    Contudo é necessário verificar que o n.º de sócios dos 2 clubes que possuem mais de 1500 sócios, são clubes com equipas profissionais ou semi-profissionais de Futebol de 11, o que aumenta significativamente o n.º de sócios.

    Quanto ao tipo de sede, verifica-se o seguinte:


Figura 2 - Distribuição do tipo de sede dos clubes

    Apenas 38% dos clubes possuem sedes próprias, pelo que os restantes 62% ou é alugada ou cedida. Verifica-se algumas necessidades e consequentes limitações dos clubes de HP em possuir um espaço próprio e reservado, para as respectivas funções e tarefas subjacentes a serem realizadas num espaço como é a sede (reuniões, armazenamento de material de todo o tipo, ...).


3.2. Instrumento

    Para a realização deste trabalho foi aplicada uma adaptação do questionário presente em Rodrigues (2001), que consiste na análise dos seguintes tópicos: (i) identificação do clube; (ii) o quadro humano; (iii) o quadro de actividades; (iv) o quadro material; (v) apoios financeiros; e (vi) dirigentes.


3.3. Método de Pesquisa

    O nosso estudo de natureza descritivo, apresenta como métodos a utilizar na recolha dos dados, a solicitação formal e/ou informal dos indicadores desportivos dos respectivos clubes pertencentes à Associação de Patinagem do Porto.

    O levantamento da situação desportiva dos clubes, ocorreu sempre que possível, dirigindo-nos a estes para o preenchimento dos questionários. Contudo em caso de dificuldades de deslocação, enviamos os questionários por correio, com respectivo envelope de retorno. Esta foi uma das nossas grandes limitações dado que nem todos os clubes responderam ao nosso apelo, retendo o questionário em sua posse. Desta forma, não foi possível caracterizar o total de clubes inscritos na APP, remetendo-nos somente aos 13 clubes presentes neste estudo.


3.4. Tratamento de Dados

    Para realizar o tratamento de dados, foram utilizados alguns procedimentos e indicadores de estatística descritiva. Sempre que possível, os resultados foram apresentados em forma de gráficos, de modo a facilitar a compreensão destes mesmos.


IV. Apresentação e discussão dos resultados

4.1. Quadro Humano

    Neste parâmetro serão apresentados os resultados respeitantes aos escalões do clube e recursos humanos. Os dados respeitantes aos dirigentes inquiridos serão apresentados posteriormente e isoladamente.

    Desta forma, o seguinte quadro ilustra a situação desportiva dos clubes, respeitante aos escalões de formação.

Quadro 3 - Situação desportiva dos clubes respeitante aos escalões de formação

    Assim, verifica-se que a totalidade da amostra possui escalões de formação, o que é um bom indicador para a possibilidade desta prática desportiva em crianças e jovens. Se não prepararmos o futuro de amanhã, não poderemos sequer definir objectivos e trabalhar em prol desses mesmos. Entre estes 13 clubes, existem um total de 1362 de atletas, distribuídos pelos diversos escalões de formação e sexos, existindo no entanto, somente 3 clubes que possuem os escalões todos (Gulpilhares, Fânzeres e Valongo).

    Da mesma forma, denota-se existir já uma preocupação generalizada em cativar os atletas o mais cedo possível (escolas de formação), de modo a garantir uma continuidade na formação de atletas e proporcionar espaços de prática desportiva orientada.

    Quanto ao escalão de séniores, o seguinte quadro caracteriza o panorama das equipas inscritas na APP:

Quadro 4 - O escalão de séniores nos clubes desta amostra

    Tal como se pode verificar, do total de 13 clubes, existem 2 (15%) que não possuem atletas séniores. Por um lado, pode ilustrar as dificuldades existentes em manter económica e logisticamente este tipo de equipas, dado que os encargos são quase sempre elevados. Contudo, também pode revelar uma maior preocupação dos dirigentes na formação de jovens jogadores.

    De seguida serão apresentados os resultados relativamente aos recursos humanos existentes nos clubes em questão.

Quadro 5 - Os quadros humanos


Legenda - TP: técnico com habilitações próprias (FPP); TSP: técnico sem habilitações próprias; PF: preparador físico; D: director; R: roupeiro; M: mecânico; C: condutor; MD: médico; F/M: fisioterapeuta e massagista e P: psicólogo

    Este é sem dúvidas um dos quadros mais importantes de analisar, dada a relevância não só para o próprio desenvolvimento da modalidade, bem como para a definição dos recursos humanos existentes e sua utilidade. Assim, a seguinte figura apresenta o somatório dos resultados encontrados para esta amostra.


Figura 3 - Os recursos Humanos (somatório dos resultados dos clubes)

    Como se pode observar no quadro, o maior número de indivíduos verifica-se nos dirigentes. Tal como refere Fernandes (1999:155), "os dirigentes desportivos são um factor essencial no desenvolvimento do tecido associativo. São eles os responsáveis pela condução dos destinos dos clubes".

    Os técnicos com habilitações próprias seguem-se com um n =70. Este facto é um bom indicador, dado que sugere que a prática desportiva (principalmente de crianças e jovens) é correctamente orientada e tendo em conta os seus níveis maturacionais e obedecendo às diversas leis biológicas do desenvolvimento do indivíduo. Tal como refere Rodrigues (2001), a falta de técnicos qualificados, que foi durante muitos anos responsável pelo baixo índice de prática desportiva, parece já não ter a mesma importância de outros períodos.

    Contudo, também se verifica que 2 clubes não possuem no seu quadro humano, nenhum técnico com habilitações próprias (Olá Mouriz e Ordem), o que por si só já é um aspecto negativo, dada a preterição de técnicos especializados neste domínio.

    Desde já, se sugere a importância dos Departamentos de Desporto das Universidades que leccionam as licenciaturas em Educação Física e Desporto, ponderaram a possibilidade de leccionação da Especialização/Opção de Hóquei em Patins ou Actividades de Patinagem, dado que do nosso conhecimento, apenas uma universidade nacional lecciona esta mesma (Universidade Lusófona). Tal como afirmam Maçãs e Gomes (2000:1) esta situação "...decorre das atribuições das Universidades, como dos pólos de desenvolvimento.. de modo que a sua intervenção seja melhor fundamentada e aponte os caminhos a percorrer para uma evolução da situação actual".

    Também é de salientar a especificidade das exigências da própria modalidade, no que se refere ao mecânico responsável pela manutenção dos patins e restantes acessórios (sticks, caneleiras,...), pelo que 10 dos 13 clubes (77%), possuem nos seus quadros, este tipo de indivíduos.


4.2. Quadro de Actividades

    Neste sub-capítulo serão evidenciados os resultados dos clubes estudados, tendo em conta as modalidades proporcionadas por estes mesmos, ao nível de duas situações: (i) modalidades federadas e (ii) modalidades amadoras. Não será tida em conta a modalidade de Hóquei em Patins, dado que todos os clubes possuem equipas nesse contexto.


4.2.1. Modalidades Federadas

    A figura 4 ilustra as diversas modalidades existentes nos diferentes clubes, bem como a percentagem relativa de oferta dessa prática em relação ao total de clubes estudados.


Figura 4 - Modalidades federadas existentes nos clubes

    Como se pode observar, a modalidade federada mais praticada por estes clubes para além do HP, é a Ginástica, seguida pela Patinagem, que é uma modalidade estritamente relacionada com a prática de Hóquei em Patins. Nenhuma razão plausível parece explicar o facto de ser a Ginástica a modalidade mais praticada, pelo que contudo podemos sugerir dever-se a factores de ordem sócio-cultural, das populações do norte de Portugal, sendo que este facto não está claramente esclarecido.

    As restantes modalidades mais praticadas (15%) dizem respeito a modalidades colectivas, como é o caso do Andebol, Basquetebol, Futebol e Futsal. De referir, que 15% dos clubes não proporcionam a prática de mais nenhuma modalidade, cingindo-se unicamente à modalidade de HP.


4.2.2. Modalidades Amadoras

    A seguinte figura apresenta as diversas modalidades existentes nos diferentes clubes, ao nível amador, sendo referidas as percentagens relativas ao total de clubes analisados.


Figura 5 - Modalidades amadoras existentes nos clubes

    Como é passível de ser observado, a maioria dos clubes (54%) não proporciona a prática de nenhum tipo de modalidade ou exercício físico de carácter amador ou não-federado. Por outro lado, a modalidade de Ténis é a mais referenciada, denotando-se uma perspectiva já com alguns anos, do elevado interesse e prática desta modalidade, ao nível recreacional. Outro facto a salientar, são as constantes "peladinhas" de futebol de salão ao fim de semana, explicando-se assim o facto de 2 clubes (15%), proporcionarem a realização deste tipo de actividade.

    Contudo é necessário referir que tal como refere Rodrigues (2001:44), "a actividade não federada é muito difícil de ser quantificada", existindo muitos torneios e actividades de HP, que não se enquadrando num contexto federado, ocasionalmente ocorrem e possuem uma respectiva importância no fomento e divulgação da modalidade (ex: Torneios de Natal, Páscoa, Encontros Regionais,...).


4.3. Quadro Material

    Neste construto serão definidas as instalações desportivas ou não utilizadas e se estão ou não, na posse dos respectivos clubes.

    Assim, o seguinte quadro ilustra as instalações desportivas próprias utilizadas e sua relação de pertença ou não aos clubes.

Quadro 6 - As instalações desportivas próprias dos clubes inscritos na APP

    Como se verifica, 54% dos clubes não possui instalações desportivas próprias, o que se revela como um enorme entrave ao desenvolvimento do clube e concomitantemente da modalidade. Um clube que obviamente não possua o tipo de instalação desportiva necessária à prática das diversas modalidades que proporciona, obviamente possui maiores encargos e despesas respeitantes a esta situação ou por outro lado, não obtêm tantas contra-partidas de apoios financeiros locais ou até mesmo Municipais (isto é, muitos dos subsídios que seriam para entregar a estes clubes, ficam retidos como forma de pagamento do aluguer do pavilhão municipal). É de referenciar um caso especial, que é o do FC Porto, que devido às obras do novo estádio, actualmente utiliza o pavilhão municipal de Gondomar (aluguer).

    Assim, verifica-se que as instalações desportivas ou a falta delas, continuam a ser uma das razões que vêm condicionando o desenvolvimento desportivo (Rodrigues, 2001) e mais concretamente, o desenvolvimento da modalidade de Hóquei em Patins na região norte de Portugal e porque não, em todo o território nacional, dadas as exigências específicas de material para este tipo de prática desportiva, pelo que nem todos os pavilhões possuem o apetrechamento necessário para a correspondência a tais necessidades (tabelas, tipo de piso, balizas,...).

    A seguinte figura ilustra a utilização dos diferentes tipos de instalações desportivas:


Figura 6 - Tipos de instalações desportivas utilizadas

    Desta forma, observa-se que 62% dos clubes utilizam os pavilhões municipais, advindo daí os respectivos encargos (como referido anteriormente). Por outro lado, 46% dos clubes possui pavilhão próprio, pelo que apenas 8% dos clubes recorre a espaços alternativos ao pavilhão (ringue, sala de musculação e ginásio), como forma de complementação das suas actividades físico-desportivas.

    Por outro lado, também foi analisada a existência ou não de outros tipos de instalações (sede, bar,...), que por vezes chegam a ser fonte de algumas receitas para os respectivos clubes.

Quadro 7 - Outro tipo de instalações pertencentes aos clubes

    Numa análise geral, 5 dos 13 clubes (38%) afirmam não possuir qualquer tipo de instalações não desportivas, obviamente não obtendo qualquer tipo de possíveis receitas, provenientes desses espaços.

    Tal como referido no ponto 3.1., cinco clubes possuem sede própria. Além destes, os clubes estudados afirmam possuir outro tipo de instalações (não-desportivas), como: bar, restaurante, bingo e centro de dia. Desta panóplia de referências, denota-se que a totalidade serve como fonte de possíveis receitas, que tanto ajudam os clubes nas suas inúmeras dificuldades económicas.


4.4. Apoios Financeiros

    Como é do conhecimento geral, o maior número de dificuldades apresentadas pelos dirigentes (e esse resultado será apresentado posteriormente), centra-se na área financeira, em que o reduzido apoio e as desproporções existentes entre o futebol e as restantes modalidades (como é o Hóquei em Patins) são as mais referenciadas.

    Torna-se fulcral pragmatizar um pouco neste trabalho, referenciado as discrepâncias existentes entre os resultados obtidos a nível europeu e mundial, no que se refere ao HP e ao futebol. Quer seja em títulos mundiais e europeus por selecções e clubes, recai largamente a vantagem sobre o HP (obviamente, não tendo em conta outros aspectos e realizando apenas uma análise muito generalista). Contudo, os objectivos deste trabalho não se estendem a esta temática, remetendo-nos concretamente para a realidade presente nos clubes estudados.

Quadro 8 - Apoios Financeiros e suas proveniências


Legenda - CM: Câmara Municipal; JF: Junta de Freguesia; IND: Instituto Nacional de Desporto; INT: INATEL; DR: Dirigentes; ASC: Associados; EMP: Empresas Privadas


Figura 7 - Apoios Financeiros e suas proveniências

    Como observado, as maiores fontes de proveniência de apoios financeiros, são as Câmaras Municipais respeitantes a cada clube e empresas privadas (na sua grande parte, sediadas na região onde o clube está inserido), em que 100% dos clubes revelaram obter apoios de estas entidades. De seguida, apresentam-se os associados como fontes de receitas, através das quotas mensais dos clubes. Neste contexto, serão apresentados (somente para referência), os valores considerados por cada clube.

Quadro 9 - Valor mensal das quotas

    De seguida, as fontes que mais contribuem financeiramente com os clubes, são as Juntas de Freguesia e os próprios dirigentes envolvidos no clube, demonstrando o importante papel destes para o desenvolvimento dos clubes, dado que não só contribuem com o tempo e trabalho dispensado, como por vezes, chegam mesmo a "dispensar" apoios monetários em prol dos clubes e das suas necessidades.


4.5. Dirigentes

    Para Homem (1997), o dirigente desportivo associativo, é um eterno desconhecido que tende a ser visto de uma forma limitada, com predomínio mais ao nível das suas experiências do que, da sua caracterização e participação, numa área em que, um acompanhamento mais perto da realidade, se mostra cada vez mais desporto competição e cada vez menos social. Contudo, é inteiramente conhecido que estes "desconhecidos" são um factor essencial no desenvolvimento do tecido associativo, sendo responsáveis pela condução dos destinos dos clubes (Fernandes, 1999).

    Assim, serão apresentados os resultados obtidos de acordo com a caracterização destes e as suas perspectivas actuais perante o seu clube e a modalidade de Hóquei em Patins.

Quadro 10 - Caracterização dos dirigentes


Legenda - ID: Idade; S: Sexo; FC: Função no clube; PRF: Profissão; HL: Habilitações Literárias; ADD: Anos de Dirigente Desportivo

    Assim se observa que da totalidade de dirigentes, apresentam uma média de idades de 49.85 ± 7.44 anos, tendo idades compreendidas entre os 34 e os 62 anos. Apenas foi revelado um dirigente do sexo feminino, sendo os restantes do sexo masculino. A maioria das funções que realizam no clube, prende-se com o cargo de Presidente da Direcção, Secretário e Director, existindo no entanto, alguns com mais que uma função (Treinador/Director). Ao nível das profissões, estas dividem-se pelas mais diversas (professores, industriais, reformados,...), pelo que a maioria da amostra, possui habilitações literárias elevadas (nível secundário e superior), contabilizando 77% do total de dirigentes estudados. Por fim, exercem a função de dirigente desportivo, em média à 14.92 ± 9.00 anos, indo desde os 2 aos 35 anos de envolvimento desportivo nestes termos.

    Outro parâmetro que pretendemos estudar, foi o seu nível de envolvimento desportivo actual, pelo que se obtiveram os seguintes resultados.


Figura 8 - Envolvimento Desportivo dos dirigentes

    A maioria da amostra (61%) revelou actualmente praticar qualquer tipo de exercício físico (46%), ou num passado próximo (15%), enquanto 39% dos dirigentes, afirmaram nunca ter praticado nenhuma modalidade desportiva (isto sempre, tendo em conta o vínculo federativo).

    Relativamente às dificuldades apresentadas pelos técnicos, muitas são concordantes com as apresentadas por Rodrigues (2001). Assim, estas são algumas das afirmações dos dirigentes desta amostra:

"Falta de tempo (tarefas gerais)"

    O tempo dispendido como dirigente desportivo nunca pode ser muito, dadas as necessidades temporais profissionais e familiares, sendo muito difícil conjugar este "triângulo".

"Dificuldades Financeiras"

    A totalidade dos dirigentes dos clubes afirma esta expressão, denotando a preocupação e dificuldade existente ao nível de apoios monetários, sendo muito difícil aos clubes persistirem no tempo, dadas as exigências financeiras para escalões que compitam ao nível federativo (inscrições na federação, equipamentos, transportes,...).

"Cada vez existem menos dirigentes voluntários (carolas) - A maior parte que colabora (99%) ou são pais ou familiares"

    É notório o facto que cada vez menos existirem indivíduos com vontade e disponibilidade para este tipo de funções, sendo este facto referido por Carvalho (1994; cit. por Rodrigues, 2001:23) "o clube sente sérias dificuldades em encontrar dirigentes e número, com capacidade suficiente para garantir o seu funcionamento" e por Pires (1991; cit. por Rodrigues, 2001:23) "o dirigismo está em crise ... e o futuro está comprometido".

"Falta de tempo para acompanhamento das equipas de formação"

    Este parâmetro vem de encontro ao primeiro, pelo que só o salientamos dado que diversos dirigentes revelaram ser importantíssimo, acompanhar sistematicamente os escalões de formação, participando não só no seu desenvolvimento desportivo, como também, ao nível social, cívico e moral (o que é sem dúvida, de louvar!!!).

"Formação dos dirigentes"

    Este foi outro dos tópicos salientados, devido às inúmeras dificuldades apresentadas pelos dirigentes. Para tal, eles sugerem um maior envolvimento das entidades responsáveis por tal, de forma a melhorarem as suas funções e concomitantemente, contribuírem para um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável da modalidade.

    Da mesma forma serão apresentadas as sugestões e medidas destes mesmos dirigentes, a serem tomadas para que ocorresse uma melhoria da situação desportiva envolvente aos clubes participantes nas competições de Hóquei em Patins da Associação de Patinagem do Porto:

"Mais apoio governamental, financeiro e legislativo"

    A preocupação de apelar a apoios governamentais que possibilitem o desenvolvimento da modalidade, foi uma das medidas propostas pelos dirigentes, conciliado com medidas legislativas que facilitam a actuação destes mesmo no contexto desportivo.

"Formação de técnicos"

    Para uma correcta formação das crianças e jovens, tendo em contas as leis maturacionais, é necessário técnicos com a devida formação e respectiva especialização. De notar o já proposto na página 12, de forma a aumentar o número de técnicos com formação superior em Ed. Física e Desporto e respectiva especialização em Hóquei em Patins.

"Mais recintos desportivos e material específico à modalidade"

    Sem dúvidas, esta é uma das modalidades com maiores exigências ao nível do material desportivo utilizado (tabelas, sticks, patins...), pelo que concilia-se o facto de 54% destes clubes não possuir pavilhão próprio para a prática de Hóquei em Patins.

"Divulgação da modalidade nas escolas do 1º Ciclo de Ensino Básico"

    Divulgar o mais cedo, para cativar o maior número possível de futuros atletas. A preocupação da formação conciliada com a divulgação da modalidade, é uma das medidas apresentadas pelos dirigentes, sendo do nosso conhecimento que já em algumas freguesias, tal facto já se verifica oportuna e sistematicamente.

"Modificação de algumas regras para os escalões de formação"

    Criar condições de prática igual para todos e não apelar a uma estrutura demasiadamente competitiva, de forma a cativar o maior número possível de praticantes. Além disso, os dirigentes sugerem um maior número de encontros regionais e distritais, de modo a proporcionar um aumento dos momentos de competição (tão importantes para o desenvolvimento dos escalões de formação), de uma forma "salutar" e tendo sempre presente o convívio.


V. Conclusões

    Após a análise dos resultados obtidos, podemos salientar o seguinte:

  1. a maioria dos clubes (54%) realizou a sua legalização no período antes do 25 de Abril de 1974, numa fase muita inibidora do associativismo, provocada pelo lançamento das bases económicas, sociais e políticas do Estado Novo;

  2. apenas 38% dos clubes possuem sedes próprias, pelo que os restantes 62% ou é alugada ou cedida;

  3. a totalidade da amostra possui escalões de formação, o que é um bom indicador para a possibilidade desta prática desportiva em crianças e jovens, existindo um total de 1362 de atletas, distribuídos pelos diversos escalões de formação. Contudo existem 2 clubes, que não possuem equipas ao nível do escalão séniores;

  4. o quadro humano onde se verifica um maior número de indivíduos, é o dos dirigentes, seguido pelos técnicos com habilitações próprias, pelo que este facto é um bom indicador, dado que sugere que a prática desportiva (principalmente de crianças e jovens) é correctamente orientada e tendo em conta os seus níveis maturacionais e obedecendo às diversas leis biológicas do desenvolvimento do indivíduo;

  5. 54% dos clubes não possui instalações desportivas próprias, o que se revela como um enorme entrave ao desenvolvimento do clube e concomitantemente da modalidade;

  6. as maiores fontes de proveniência de apoios financeiros, foram as Câmaras Municipais respeitantes a cada clube e empresas privadas, em que 100% dos clubes revelaram obter apoios de estas entidades. De seguida, a fonte apresentada foi os associados (através das quotas mensais dos clubes);

  7. os dirigentes, apresentam uma média de idades de 49.85 ± 7.44 anos, tendo idades compreendidas entre os 34 e os 62 anos, pelo que a maioria das funções que realizam no clube, prende-se com o cargo de Presidente da Direcção, Secretário e Director, existindo no entanto, alguns com mais que uma função (Treinador/Director). Exercem a função de dirigente desportivo, em média à 14.92 ± 9.00 anos, indo desde os 2 aos 35 anos de envolvimento desportivo nestes termos; e,

  8. estes mesmos, apresentam como maiores dificuldades: (i) falta de tempo (tarefas gerais), (ii) dificuldades financeiras, (iii) cada vez existem menos dirigentes voluntários (carolas) - a maior parte que colabora (99%) ou são pais ou familiares, (iv) falta de tempo para acompanhamento das equipas de formação, e (v) formação dos dirigentes. Para tal, sugerem as seguintes medidas a implementar: (i) mais apoio governamental, financeiro e legislativo, (ii) formação de técnicos, (iii) mais recintos desportivos e material específico à modalidade, (iv) divulgação da modalidade nas escolas do 1º Ciclo de Ensino Básico, e (v) modificação de algumas regras para os escalões de formação.


VI. Novas propostas de trabalho

    Após as conclusões obtidas e tendo em conta futuros trabalhos, pensamos ser importante propor o seguinte:

  • antes de mais, suprimir as lacunas existentes neste estudo, proporcionando uma análise mais completa e "realista" dos clubes inscritos na APP;

  • após essa delimitação, determinar os mecanismos e motivações que levam à prática desportiva de Hóquei em Patins, num contexto mais geral (ex: norte de Portugal);

  • após essa estruturação e caracterização da situação desportiva do HP no norte de Portugal, propor a realização de um projecto integrado, que visasse o desenvolvimento da modalidade, contando com o apoio da Associação de Patinagem do Porto e Minho. Este projecto, não era mais que um Plano de Desenvolvimento Desportivo, fundamentado nos factores de desenvolvimento;

  • criar regularmente eventos de carácter distrital/regional para análise e reflexão dos problemas de âmbito desportivo (formação de jovens praticantes, técnicos, árbitros, dirigentes, infra-estruturas, organização de provas, etc.), onde através de algumas parcerias entre os agentes de desenvolvimento da região, fosse possível um maior fomento da modalidade de HP.

    Em suma, pensamos que a afirmação de Maçãs e Gomes (2001:42), ilustra claramente o panorama actual do HP (clubes inscritos na APP), quando referem que "face aos indicadores da situação desportiva, entendemos que as políticas desportivas terão de ser conduzidas de uma forma esclarecida e intencional, com um papel activo e consciente das autarquias, que independentemente dos discursos produzidos à volta das mesmas e dos orçamentos afectos ao desporto, há que ter presente que só um investimento integrado, articulado e adequado, poderá produzir um verdadeiro desenvolvimento desportivo".


Bibliografia

  • Carvalho, M. (1994). O dirigente desportivo voluntário. Lisboa: Livros Horizonte.

  • Crespo, J. (1978). Para uma Sociologia da Cultura: O Associativismo Desportivo em Portugal. Ludens, 2 (1).

  • Cunha, L. (1993). Análise da situação desportiva no concelho de Vila Franca de Xira. Ludens, 13 (2).

  • Fernandes, A. (1999). O Associativismo Desportivo no Distrito de Vila Real: Estudo das colectividades desportivas e seus dirigentes. Tese de Doutoramento, Documento não Publicado. Vila Real: UTAD.

  • Fernandes, A. (2001). Desenvolvimento do Desporto I. Vila Real: SESDE.

  • Homem, F. (1997). O Movimento Associativo Desportivo no Concelho de Aveiro: Caracterização organizativa e funcional dos seus elementos estruturantes - clubes, dirigentes, sócios, técnicos e praticantes. Tese de Mestrado, Documento não publicado. Porto: FCDEF.

  • Maçãs, V. & Gomes, J. (2001). Desporto Federado em Futebol: Caracterização da Situação Desportiva, na região norte do país, de 1994 a 1999. Documento não publicado. Vila Real.

  • Pires, G. (1991). Espaços naturais e Desportos de Aventura. In Congresso Europeu Desporto para todos: Espaços e Equipamentos Desportivos (223-241). Oeiras: CMO.

  • Pires, G. (1993). Situação Desportiva (Parte I). Horizonte, 61 (XI).

  • Rodrigues, F. (2001). Levantamento e Análise da Situação Desportiva no Concelho de Sabrosa. Documento não publicado. Vila Real: UTAD.

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revista digital · Año 10 · N° 72 | Buenos Aires, Mayo 2004  
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