Tendência a estados depressivos em idosos que não tem o hábito da prática da atividade física: um estudo piloto no Município de Curitiba |
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*Acadêmica do Curso de Educação Física UNIANDRADE ** Mestre em Educação Física - UFSC Coordenadora do Programa Idoso em Movimento.. Secretaria Municipal do Esporte e Lazer Prefeitura de Curitiba. Docente no Curso de Educação Física UNIANDRADE |
Sandra Seidel Borges* | Rosemary Rauchbach** sandraseidelborges@uol.com.br | rauchbach@brturbo.com (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 70 - Marzo de 2004 |
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O crescimento populacional nas grandes cidades e todas as suas conseqüências como: trânsito caótico, violência e as dificuldades econômicas são alguns dos fatores que causam desequilíbrios orgânicos e conseqüente tendência a estados depressivos. No idoso, as progressivas debilitações físicas, que trazem dificuldades de locomoção e aumento de dependência de terceiros e os aspectos psicológicos que decorrem da não aceitação do passar dos anos, só fazem acentuar essas tendências.
O envelhecimento deve ser entendido como um processo múltiplo e complexo de contínuas mudanças ao longo do curso da vida, com diminuição da visão, audição e da capacidade física, influenciado pela integração de fatores sociais e comportamentais. A idéia preconcebida sobre a velhice aponta para uma etapa da vida caracterizada apenas pela decadência física e ausência de papéis sociais, na típica figura do velho esclerosado e inútil. Contudo, existem inúmeras evidências que indicam que programas de atividades físicas podem deter algumas perdas de capacidades decorrentes do desgaste do funcionamento do estado geral, e aumentar, a eficiência fisiológica. Se a atividade motora é fundamental nos primeiros anos de vida, ela importantíssima durante a velhice.
Para OKUMA (2002), o aumento da população idosa decorrente do incremento de sua longevidade, não terá valor se as pessoas, ao terem seus anos de vida prolongados, mantiverem-se depressivas, distantes de um espaço social, em relativa alienação, inatividade, incapacidade física, dependência e sem possibilidade de continuar seu desenvolvimento.
A educação física pode se constituir em um importante aliado para a promoção da saúde e da funcionalidade física dos idosos. Conforme NERI citado por OKUMA (2002), baixos níveis de saúde na velhice associam-se com altos níveis de depressão e angústia e com baixos níveis de satisfação de vida. Também afirma que, as dificuldades do idoso em realizar as atividades da vida diária, devido a problemas físicos, ocasionam dificuldades nas relações sociais com outras pessoas e na manutenção da autonomia, trazendo prejuízos à saúde emocional. Não obstante tal constatação, a maior parte das pessoas continua a manter-se na condição de sedentarismo, especialmente os idosos.
Vale ressaltar que no envelhecimento o entusiasmo é menor, a motivação diminui e são necessários estímulos bem maiores para fazer com que o idoso se interesse por coisas novas. Perdendo o diálogo harmonioso com seu corpo, o idoso apresenta problemas de postura, rigidez, coordenação motora e demonstra medo de se exercitar fisicamente, inclusive de caminhar o que aumenta as tensões psíquicas (RAUCHBACH, 2001).
TUNG e DEMÉTRIO (s.d.), os transtornos do humor, do qual fazem parte todas as formas de depressão, constituem um problema de saúde pública devido à elevada freqüência, de serem pouco reconhecidos e quando diagnosticados serem tratados de forma inadequada. A depressão é uma doença do corpo como um todo. Afeta o sono, o apetite, a disposição física e diversos aspectos psicológicos, como a auto-estima e a autoconfiança, além de dar um tom especialmente cinzento e pessimista a tudo que a pessoa faz, sente e percebe do mundo à sua volta.
Segundo TUNG e DEMÉTRIO (s.d. p.9) os sintomas da depressão são:
Tristeza e/ou irritabilidade persistente, durante a maior parte do dia, na maioria dos dias;
Desânimo, cansaço, indisposição;
Perda de parte da capacidade de sentir prazer nas atividades habituais, tanto no trabalho como no lazer, incluindo o desejo e prazer sexual;
Ansiedade, preocupação, insegurança, indecisão;
Sentimentos de desesperança, pessimismo;
Sentimentos de culpa, inutilidade, incapacidade, desamparo, solidão;
Alteração no sono, tanto insônia como excesso de sono, ou acordar cansado;
Alteração do apetite, tanto falta de apetite como excesso de apetite;
Idéias de morte, suicídio, ou tentativas de suicídio;
Irritabilidade, inquietação;
Dificuldade de concentração, de manter atenção, de lembrar o que ia falar ou fazer, esquecer onde deixou as coisas;
Sintomas físicos persistentes; que tem pouca melhora com tratamentos habituais, como dor de estômago, dores crônicas (de cabeça, das costas, das articulações, etc.), alterações intestinais sem uma causa orgânica definida.
Sintomas e sinais como choro, insatisfação, afastamento das atividades sociais, perda de energia, irritabilidade, preocupação excessiva com problemas, diminuição de peso também pode ocorrer.
A causa mais comum da depressão, descrito pelos especialistas é a "vulnerabilidade biológica" ou hereditariedade. A tendência de ter as doenças afetivas seria herdada geneticamente, passada dos pais ou avós para as outras gerações.
A pesquisaO presente trabalho buscou verificar a tendência a estados depressivos em idosos, com idade superior a 65 anos, na Cidade de Curitiba e sua relação com a prática da atividade física. Utilizando-se do Modelo de Escala para Avaliar Depressão, de FIATARONE, citado por MATZUDO (2000). Analisou os sintomas mais comuns na ocorrência da depressão, através de variáveis evidenciadas dentre as 30 questões da escala de avaliação, tais como: satisfação e perspectivas com a vida que leva, ocorrência de sentimentos negativos e isolamento social. Fizeram parte deste estudo, 125 idosos, os quais foram avaliados no primeiro semestre de 2003. As entrevistas ocorreram em logradouros públicos, em eventos da Secretaria Municipal do Esporte e Lazer de Curitiba e em dois Grupos de Convivência vinculado a Igreja Católica.
O critério para a análise das respostas fornecidas pelos entrevistados é o constante do protocolo de FIATARONE, que determina como resultado: o número total de pontos negativos, ou seja, todas aquelas respostas que estejam associadas a sentimentos de depressão assim: - respostas "não": perguntas 1, 5, 7, 9, 15, 19, 21, 29 e 30. Respostas "sim": 2, 3, 4, 6, 8, 10, 11, 12, 13, 14, 16, 17, 18, 20, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28.
Para esse trabalho foram considerados como indivíduos em processo de depressão, os que responderam, no mínimo, 12 das 30 perguntas, ou seja, 40% (quarenta por cento) delas, de forma a associá-las ao sentimento de depressão.
Em relação à atividade física, foram considerados ativos, todos que declaram fazer atividade física regular, duas vezes por semana, no mínimo, há mais de um ano. Indicam a hidroginástica, alongamento e caminhada como as atividades mais exercitadas.
Do universo pesquisado de 125 pessoas da faixa etária de mais de 65 anos, 102 delas eram do sexo feminino e 33 do sexo masculino; 60 pessoas (53 do sexo feminino e 07 do sexo masculino) mantinham-se em atividade e 65 pessoas têm hábitos de vida sedentários (49 do sexo feminino e 16 do sexo masculino).
Deve-se observar, ainda, que a amostra masculina total acabou pouco expressiva (18,40%), o que nos leva a crer que os homens por questões sócio-culturais isolam-se ainda mais que a mulher, não participando de grupos, eventos ou outras atividades da terceira idade.
Figura 1 - Tendência à depressão da população feminina não ativa
Figura 2 - Tendência à depressão da população masculina não ativa
Figura 3 - Tendência à depressão na população feminina ativa
Figura 4 - Tendência à depressão na população masculina ativaNa análise dos gráficos podemos constatar que a tendência a estados depressivos na população idosa não ativa é maior em todas as categorias.
No que concerne às perguntas constantes do Modelo de Escala para Avaliar Depressão de FIATARONE, destacam-se as mais relevantes em termos quantitativos das respostas, indicando, assim, que a maioria dos idosos as reconhece como identificadoras de seu estágio de vida:
Pergunta 13: "Você se preocupa freqüentemente em relação ao futuro?" Com uma resposta "sim", indicando que eles temem o futuro, vêem-no com angústia, preocupam-se com sua saúde, com a questão financeira e com o abandono;
Pergunta 22: "Você sente que a sua situação não tem esperança?" Nos leva a crer que os sentimentos de desesperança são muito fortes nessa faixa etária; os idosos não conseguem pensar no futuro dentro de uma boa perspectiva;
Pergunta 24: "Você fica perturbado com pequenas coisas?" Sim! Coisas que no passado eram resolvidas com facilidade, adquirem dimensões enormes para o idoso, que fica angustiado e não consegue resolvê-las a contento. Pequenas decisões, até mesmo de ir ao Banco receber sua aposentadoria, fazem com que o idoso perca o sono, fique nervoso e preocupado. Sofre por antecipação e desgasta-se com isso.
Pergunta 27: "Você gosta de se levantar de manhã?" Dão a entender que não se sentem motivados a acordar para o novo dia, pois estes são monótonos, enfadonhos e não agregam nada de novo ao seu cotidiano.
Pergunta 28: "Você prefere evitar reuniões sociais?" Com uma resposta afirmativa, demonstra que o idoso não se sente parte dos grupamentos sociais: família e ex-colegas de trabalho e amigos. Sentem-se isolados, pois muito do seu referencial - do mundo e das pessoas - mudou e eles não conseguem se adaptar às mudanças. Apegam-se ao saudosismo dos "tempos passados" e amargam as ausências de familiares e amigos que já partiram dessa vida. Cria-se uma espécie de expectativa às avessas, com sentimentos do tipo: meus contemporâneos já se foram, o próximo serei eu.
Quadro comparativo das questões com maior incidência em respostas com tendência à depressão
Pela análise global das perguntas observa-se, que os sentimentos de desesperança que podem levar à depressão ocorrem nos dois grupamentos (dos que praticam e dos que não praticam atividades físicas) de forma bastante expressiva e são típicos do envelhecimento.
Na observação do gráfico geral (população ativa e não ativa), observa-se que a categoria que demonstrou uma maior tendência à depressão foi a dos 75 aos 79 anos; que em um total de 20 idosos, 07 deles apresentaram depressão, isto é; 35%. Quais serão os sentimentos manifestos nessa faze da vida? Falta de perspectivas, insegurança...?
O resultado deste estudo veio a confirmar o que os diferentes autores e pesquisadores vem divulgando sobre os benefícios das atividades físicas para a saúde e qualidade de vida no envelhecimento. Considerando que o maior número de idosos com tendência à depressão fizeram parte daqueles que não participam de atividades físicas.
Bibliografia
MATSUDO, S.M.M. Avaliação do idoso, física e funcional. Londrina: Midiograf, 2000.
OKUMA, S.S. Cuidados com o corpo: Um modelo pedagógico de educação física para idosos. In: FREITAS et. al. Tratado de geriatria e gerontologia. (pp.1092- 1100). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2002.
RAUCHBACH, R. A atividade física para a 3ª. Idade: envelhecimento ativo: uma proposta para a vida. Londrina: Midiograf, 2001.
TUNG, T. C. & DEMÉTRIO, F. N. Manual informativo sobre transtorno depressivo. Programa Educacional GRUDA - Ambulim do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. (s.d.)
revista
digital · Año 10 · N° 70 | Buenos Aires, Marzo 2004 |