Relação entre testes específicos e desempenho na prova de 1500 m do atletismo |
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*Mestrando em Biodinâmica do Movimento Humano Universidade de São Paulo Escola de Ed. Física e Esporte Departamento de Esporte ** Mestre em Educação Física Universidade Estadual de Campinas |
Cleber da Silva Guilherme* cleberguilherme@uol.com.br Fernanda de Aragão e Ramirez** fer.nan.da@bol.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 69 - Febrero de 2004 |
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IntroduçãoO atletismo é chamado de desporto de base, isso porque sua prática corresponde aos movimentos naturais do ser humano: correr, saltar, lançar. É, portanto, uma modalidade desportiva que possui provas de pista (corridas), de campo (saltos e lançamentos), provas combinadas como decatlo e heptatlo (que reúnem provas de pista e de campo), o pedestrianismo (corridas de rua como a maratona), corridas de campo (cross country) e a marcha atlética.
As provas de pistas são classificadas em provas de velocidade, meia distância ou longa distância. A prova de 1500 m é considerada uma prova de meia distância.
Foi em uma prova de meia distância que o Brasil conheceu um de seus melhores atletas de todos os tempos, Joaquim Cruz, campeão e recordista olímpico na prova de 800 m nos Jogos Olímpicos de 1984, realizados em Los Angeles (EUA). Além desse atleta, outros brasileiros também se destacaram em provas de meia distância, como Aguiberto Guimarães e José Luiz Barbosa. Conseqüentemente surgiu um interesse nas provas de meia e longa distância. Por outro lado, nos últimos anos as provas de longa distância (principalmente as provas de rua) passaram a atrair um maior número de praticantes devido a um aumento de prêmios oferecidos.
Esse é um dos motivos que provocou um esvaziamento do número de competidores nas provas de meia distância, originando assim um número de provas cada vez menor. Com um pequeno número de competições fica difícil para o treinador avaliar seu atleta. Desse modo, durante o treinamento são utilizadas outras formas para avaliar o rendimento, a saber: testes laboratoriais, competições de caráter preparatório e testes de campo.
Dentre estas opções, os treinadores têm optado por testes de campo, pois são de fácil aplicação e, além do baixo custo, requerem pouco material (Horwill, 1992). Além disso, apresentam uma maior especificidade quando comparados com os testes laboratoriais.
Testes específicos utilizados nas provas de 1500 mGeralmente, quando um treinador opta por realizar um teste específico com corredores, ele adota uma distância inferior àquela que ele compete. As distâncias mais utilizadas na avaliação de corredores de 1500 m são: corrida de 1000m (Barbanti, 1997; Travin, 1982; Wilson apud Dubois, 1979), e a corrida de 1200m (Travin, 1982; Wilson apud Dubois, 1979).
Além desses dois testes, há um outro chamado "Teste de Kosmin" onde o atleta busca percorrer a maior distância possível em 4 estímulos de 60seg, intercalados com uma pausa de 3, 2 e 1min respectivamente (Kosmin & Ovtschinnokov, 1979; Kosmin & Ovtschinnokov, 1985).
Justificativa do estudoInfelizmente, há pouquíssimos estudos dessa natureza conforme foi mencionado, e na maioria dos casos, há apenas relatos sobre a utilização de um ou outro teste, contudo, sem maiores informações. Além disso, as referências sobre o assunto são relativamente antigas. Desta forma busca-se através desse estudo trazer maiores informações que possam servir de orientação para os treinadores de atletismo.
Objetivo
Verificar a correlação entre o resultado da prova de 1500 m e os testes mencionados (1000m , 1200m e "Kosmin");
Após isso, recomendar o uso de um ou outro teste na avaliação de corredores de 1500 m.
AmostraParticiparam deste estudo corredores de 1500 m com idade de até 17 anos. Estes corredores participam regularmente de competições regionais e nacionais.
Limitação do estudoRecomendou-se aos atletas não realizar treinamentos de alta intensidade, principalmente treinos específicos 48 horas antes de cada teste. No entanto, o cumprimento dessa recomendação ficava a cargo do atleta e seu treinador, não sendo possível o controle por parte do pesquisador.
MetodologiaOs testes mencionados foram realizados no período competitivo. Os atletas competiram em uma prova de 1500 m e após isso, foram submetidos aos testes citados (1000m 1200m e "Kosmin"). Cada um dos testes foi realizado com um intervalo de pelo menos 48h, para que houvesse um tempo suficiente de recuperação entre um teste e outro.
Foi definido que cada atleta fosse submetido ao teste "individualmente", evitando assim uma interferência de outro atleta.
Todos os testes foram realizados em pistas oficiais de atletismo. Durante a realização dos testes de 1000m e 1200m, o atleta recebia a informação das parciais de tempo a cada 200m, como forma de se orientar. Essa informação era transmitida através de 2 assistentes responsáveis pela cronometragem. Um dos assistentes ficava localizado no local de saída da prova e 200m e o outro na linha de chegada.
Em relação ao teste de "Kosmin", o procedimento era diferente. O atleta buscava percorrer a maior distância em 4 estímulos de 60seg (com pausas de 3,2,1min respectivamente entre os estímulos). Ao final de 60Seg, era dado um sinal sonoro (apito) para que o atleta interrompesse a corrida e então, o pesquisador se dirigia ao local onde o atleta parou, e neste ponto, colocava uma marca para posterior aferição. Ao final da realização dos 4 estímulos de 60seg., o pesquisador aferia e somava todas as distâncias obtidas em cada um dos estímulos de 60Seg.
O resultado de competição foi obtido em competições realizadas pela Federação Paulista de Atletismo. Cada um dos atletas competiu uma vez na prova de 1500 m em uma data próxima à realização dos testes.
Apresentação e discussão dos resultadosApós a realização dos testes verificou-se através de tratamento estatístico qual era a correlação desses testes e a prova de 1500 m e os testes mencionados. Encontrou-se os seguintes resultados entre os testes e o resultado da prova de 1500 m: teste de 1000m e prova de 1500 m (r = 0,84); teste de 1200m e prova de 1500 m (r = 0,91); "Teste de Kosmin" e prova de 1500 m (r = -0,91).
Na tabela 1 pode-se observar o resultado de todos os testes e os resultados obtidos em competição.
Tabela 1 - Resultados obtidos em testes e na competição (prova de 1500 m).
Como se pode constatar, o "Teste de Kosmin" e o teste de 1200m são aqueles que apresentam uma maior correlação com a prova de 1500 m. Entretanto, o teste de Kosmin apresenta alguns inconvenientes.
A aplicação do teste de Kosmin requer um tempo maior, uma vez que há a realização de estímulos intercalados com pausas. Além disso, a maioria dos atletas submetidos ao teste não estava familiarizada com o mesmo, pois não é um teste muito utilizado como os testes de 1000m ou 1200m.
Em relação ao teste de 1000m, verificou-se uma correlação considerável com a prova de 1500 m (r=0,86), contudo, bem inferior àquela observada nos testes de 1200m e o "teste de Kosmin". Portanto, os treinadores deveriam analisar todos estes pontos no momento que fossem escolher um dos testes mencionados.
Durante a realização do estudo, os atletas estavam em período de competição, fato que dificultou a realização dos testes, pois os atletas tinham um programa de treinamento e um calendário de competições que não poderiam ser interrompidos. Como foi mencionado no início deste estudo, há poucas competições e sendo assim os atletas não poderiam perder essa oportunidade. Por esse motivo, o estudo contou com uma amostra relativamente pequena (13 atletas).
Sugere-se que outros estudos deste tipo sejam realizados não só na faixa etária até 17 anos mas também na categoria juvenil (18-19 anos) e adulto, e também com atletas do sexo feminino.
Referências bibliográficas
BARBANTI, V.J. Teoria e prática do treinamento desportivo. Editora Edgard Blücher Ltda, São Paulo, p. 122, 1997.
DUBOIS, R. Visite en France à l`insep de M. Harry Wilsen. Revue de L`AEFA. Amicale des entraineurs français d`athletisme, nº 65, p. 21-29, 1979.
HORWILL, F. Testing of distance runners. Modern athlete Coach, v. 3, p. 25-27, 1992.
KOSMIN R.; OVTSCHINNOKOV, W. Tests dor middle distance runners in Middle distances, in Jarver, J. Middle distances, p. 64-65, 1979.
KOSMIN R.; OVTSCHINNOKOV, W. La mesure de l`endurance spécifique tests pour les courreurs de demi-fund. Revue de L`AEFA. Amicale des entraineurs français d`athletisme, nº 92, p. 29-30, 1985.
TRAVIN,R. Performances modelos para corredores de fondo. Stadium, p. 30-34,1982.
revista
digital · Año 10 · N° 69 | Buenos Aires, Febrero 2004 |