efdeportes.com
Fatores de risco associados à prevalência
de sedentarismo em trabalhadores da
indústria e da Universidade de Brasília

   
*Faculdade Alvorada de Educação Física
**Faculdade de Educação Física da UnB
(Brasil)
 
 
José Odair Meireles Nunes*
j.odair@zipmail.com.br  
Jônatas de França Barros**
jonatas@unb.br
 

 

 

 

 
Resumo
    Introdução O sedentarismo, como fator de risco secundário, vem sendo estudado cientificamente desde 1950, mas somente em 1992 foi reconhecido como fator de risco primário (causal, major) para a morbimortalidade populacional, principalmente por doenças cardiovasculares. No que se refere ao sedentarismo no lazer, com base nos critérios de causalidade e em vários estudos epidemiológicos, o mesmo tem sido abordado sempre como uma variável independente (causal) da morbimortalidade populacional, sendo evidente a forte relação causal. No entanto, são raros os estudos que têm situado o sedentarismo no lazer (condição de morbidade) como uma variável dependente de outros fatores de risco, tais como o sexo, idade, tabagismo, sobrepeso, prontidão e o sedentarismo fora do lazer (ocupacional, doméstico e de transporte/locomoção), principalmente entre trabalhadores de diferentes ocupações e demandas energéticas laboral. O propósito deste estudo foi verificar a prevalência de sedentarismo no lazer (variável dependente) e sua associação com outros fatores de risco (variáveis independentes) em trabalhadores de diferentes ocupações e demandas energéticas, ou seja, trabalhadores da Universidade de Brasília e trabalhadores da indústria (UnB = 1,5 MET; Ind = >3-5 MET). Método Este estudo utilizou o método epidemiológico analítico transversal e a medida de risco OR (Odss Ratio) para verificar a associação entre as variáveis. Foram entrevistados 209 trabalhadores (89 UnB; 120 Indústria), por entrevistador único, mesmo procedimento (questionário), no próprio local de trabalho e sem aviso prévio. Foram coletados dados para determinação da prevalência de sedentarismo no lazer (variável dependente) e de outros fatores de risco (variáveis independentes) anunciados acima. A hipótese nula (H0) foi designada para orientar a associação entre cada fator de risco e a prevalência de sedentarismo no lazer. A análise estatística incluiu o teste do qui-quadrado e a razão de chance (OR exato - IC 95%) como medida de associação e risco. Foi estabelecido um nível de significância de p<0,05. Resultados A média de idade dos sujeitos constou de 38 anos (UnB 44 anos DP ± 8,9; Ind 32 anos DP ± 6,7). A prevalência de sedentarismo no lazer foi significativamente maior entre: 1) trabalhadores da UnB (ocupação mais sedentária = 1,5 MET), independente do sexo (UnB 52% vs Ind 41% p<0,05); 2) trabalhadores mais velhos da UnB e mais jovens da Indústria (p<0,01 qq=49,39); 3) trabalhadores com normopeso da indústria (p<0,01 qq=7,98) e 4) trabalhadores em não-prontidão da UnB e em prontidão da Indústria (p<0,001 qq=16,41). O OR mostrou que o sobrepeso, como fator de proteção entre trabalhadores da UnB (OR=0,37 IC=0,14-0,96 p=0,02) e o sexo feminino como fator de risco entre trabalhadores na Indústria (OR=4,29; IC=1,74-10,64 p<0,01), associaram-se significativamente com a prevalência de sedentarismo no lazer. Conclusão Mesmo com as limitações do estudo transversal e a utilização de questionário, é possível determinar a prevalência de sedentarismo no lazer associado a outros fatores de risco em trabalhadores de diferentes categorias ocupacionais utilizando a medida de risco OR. O sexo feminino foi um fator de risco para a prevalência de sedentarismo entre os trabalhadores da Indústria, sugerindo investigação mais aprofundada da questão. Métodos epidemiológicos prospectivos mais consistentes que o transversal estão indicados para utilização em futuras pesquisas, principalmente para verificar a prevalência de sedentarismo como uma condição dependente de fatores extrínsecos ao trabalhador, tais como o ambiente, a informação ou a oportunidade para a prática de determinada atividade física no lazer ou fora dele.
    Unitermos: Fatores de riscos. Prevalência. Sedentarismo. Trabalhadores da Industria. Trabalhadores da UnB.
 
Abstract
    INTRODUCTION: Sedentarism, as a secundary risk factor, has been cientifically studied since 1950, but only in 1992 it was recognized as a primary risk factor (major) to the morbimortality of the population, mainly because of cardio-vascular disorders. In relation to sedentarism in leisure-time, according to criteria of causes and in several epidemiological studies, it has been looked upon as an independent variable of populational morbimortality, where the causal ralation is strong. Nonetheless, studies that put sedentarism in leisure (morbidy conditions) as a dependent variable of other risk factors, such as sex, age, tabagism, overweight, readiness and sedentarism outside leisure-time (work, domestic and transportation / comuting) especially among workers in different occupations and working energetic demand. The purpose of this research was to verify the prevalence of sedentarism in leisure-time (subordinated variable) and its association with other risk factors (independent variable) among workers of different occupations and working energetic demands (UnB=1,5 MET; Ind=3 - 5 MET). METHOD: This research used the cross-sectional analytic epidemiological method and OD (odds ratio) as mesure to verify the association among the variables. Two hundred nine employees (89 UnB* ; 120 industry) were interviewed by the same interviewer, using the same procedure (questionary), in their workplaces and without notice. Data were collected to determine the prevalence in leisure-related sedentarism (dependent variable) and other risk factors (independent variable) as shown above. The null hypothesis (Ho) was designed to orient the association between each risk factor and the prevalence of leisure-related sedentarism. The statistical analisis is included the X2 and the odds ratio (exact OR-IC 95%) as an associating mesure and risk. A significance level of p<0,05 was established. RESULTS: The average age of the subjects was of 38 years (UnB 44 years, SD + 8,9; Ind 32 years, SD + 6,7). Leisure-related sedentarism prevalence was sinificantly among:1) Employees at the UnB (most sedentary occupation =1,5 MET), independently of sex (UnB 52% vs Ind 41% p<0,05); 2) Older employees of the UnB and younger employees in the Industry (P<0,01 qq=49,39) ; 3) Employees with normal weight in the Industry (p<0,01 qq=7,98) and 4) Employees in non-readiness in the UnB and in readiness in the Industry (p<0,001 qq=16,41). The OR showed that overweight, as a protection factor among UnB employees (OR=0,37 IC=0,14-0,96 p=0,02) and the feminine sex as a risk factor among Industry employees (OR=4,29; IC=1,74-10,64 p<0,01), are strongly associated with he prevalence of leisure-related sedentarism. CONCLUSION: Even considering the cross-sectional method limitation and the use of a questionary, it is possible to determine the predominace of leisure-related sedentarism associated with other risk factors in the employees of several different fields using the risk taxes OR. The feminine sex was a risk factor to the sedentarism prevalence among the workers, suggesting more deep inverstigation for the questions. Epidemiological prospective methods more consistent then the transversal method are indicated to use for future researches, principally to verify the sedentarism prevalence as a dependent condition to factors out of the work, as the enviroment, the information or the opportunity to the practice from certain physical activity in leisure or out of it.
    Keywords: Risk Factors. Prevalência. Sedentarism. Industry the Workers. UnB the Workers.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 69 - Febrero de 2004

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1. Introdução

1.1 O Problema e sua Importância

As we approach the year 2000, it seems clear that the twentieth century will be know as an era of many triumphs in public health but also as a period during which many new health problems emerged. One of this most virulent new public health problem is physical inactivity. This problem, once confined to small, affluent segment of society, has been transmitted to the masses as a side effect of technologic advancement. In my view, this book symbolizes socety's effort to respond to the physical inactivity epidemic that is evident in contemporary culture. (PATE, 1993)

    A alta prevalência de sedentarismo na sociedade atual tem sido um problema recente para a civilização moderna e um dos principais desafios no campo da saúde pública. Comprovam este fato, a predominância atual de esforço físico de muito leve intensidade na maioria das atividades humanas, o que demanda um gasto energético inferior a 500 kcal por dia, valor este 15 vezes menor se comparado ao de nossos ancestrais que viveram há 100 mil anos, que por serem nômades, andarilhos, caçadores e coletores de alimentos, necessitaram gastar em torno de oito mil kcal diárias com atividades de sobrevivência (CARDAIN et al., 1998).

    O sedentarismo, como fator de risco secundário (não-causal), vem sendo estudado cientificamente desde os anos 50, a partir dos estudos pioneiros de MORRIS et al (1953a, 1953b) com grupos de trabalhadores ingleses de empresas públicas, que relacionaram o baixo nível de atividade física no trabalho e a morbimortalidade por doenças cardiovasculares, mais precisamente o infarto e o derrame.

    Naquela época, o Dr. Morris, verificou que o risco de doença cardíaca era duas vez maior entre os motoristas de ônibus e os balconistas dos correios, cujas atividades laborais quotidianas eram sedentárias, do que entre os cobradores e carteiros, cujas atividades laborais demandavam esforço físico regular.

    Nesse contexto, a partir de estudos clínicos e populacionais, metodologicamente consistentes, tem sido cada vez mais evidente a hipótese de que o baixo nível de atividade física - não apenas no trabalho, mas também em outros momentos do quotidiano, como no lazer, no domicílio e no transporte e locomoção - seja hoje a causa do aumento da morbimortalidade por doenças cardíacas e outras doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) em diversas populações, notadamente em países de cultura ocidental, inclusive no Brasil.

    Assim, em 1992, o sedentarismo, com base em critérios de causalidade, foi elevado ao status de fator de risco primário (causal; variável independente) da morbimortalidade populacional por diversas DCNT, status semelhante ao outros três grandes fatores de risco primários: tabagismo, hipertensão arterial e hipercolesterolemia.

    Ainda hoje, apesar da dificuldade metodológica em quantificar precisamente a atividade física humana e determinar a relação causal entre o sedentarismo e a morbimortalidade populacional principalmente por meio de ensaios clínicos randomizados seguidos à risca, é evidente essa relação inversa, consistentemente confirmada por diversos estudos bem conduzidos utilizando-se de meta-análise, estudo prospectivo e de revisão da literatura (BLAIR, 1993).

    No entanto, apesar dos milhares de estudos publicados tendo o sedentarismo como variável independente (causal) de morbimortalidade populacional, são praticamente inexistentes estudos epidemiológicos que situam o sedentarismo como uma variável dependente de outros fatores de risco, ou seja, como uma conseqüência destes e não só uma causa de morbimortalidade.

    Assim, este estudo epidemiológico transversal teve por finalidade verificar o sedentarismo no lazer como uma variável dependente de outros fatores de risco, tais como, idade, sexo, tabagismo, sobrepeso, prontidão para atividade física e o sedentarismo fora do lazer (ocupacional, doméstico e de transporte/locomoção). Ou seja, se a presença destes fatores de risco em trabalhadores de diferentes ocupações (indústria e serviços) são responsáveis pelo sedentarismo no lazer nestas populações específicas.


1.2. Questões a Investigar

    Segundo PEREIRA (1997, p. 298), as questões científicas básicas a que um estudo epidemiológico analítico transversal se propõe a responder são: quais as freqüências (prevalência) de um determinado fator de risco e da morbidade geral ou específica? Essas freqüências, do fator de risco e da morbidade, estão associadas?

    No contexto deste estudo, discorre-se sobre o sedentarismo como um importante fator de risco para a morbimortalidade por DCNT. No entanto, ao verificar a questão associativa entre sedentarismo e outros fatores de riscos, aquele passa a apresenta-se como condição de morbidade (variável dependente, efeito) e os outros fatores de risco como fatores de risco propriamente ditos (variáveis independentes, causais), supondo que exista alguma associação entre esses outros fatores de risco e a prevalência de sedentarismo, ou seja, a presença de um ou mais desses fatores de risco pode estar associada a maior, ou menor, prevalência de sedentarismo na população de trabalhadores estudada?


1.3. Relevância do Estudo

    Segundo PEREIRA (1997, p.449) a vigilância epidemiológica é a forma tradicional de utilização da epidemiologia, nos serviços de saúde. Ela significa "a observação de pessoas e os danos à saúde, com vistas a possibilitar alguma forma de intervenção ou controle" (p. 449).

    Acrescenta, ainda, que a inexistência de um sistema rotineiro de vigilância epidemiológica que inclua as DCNT, na América Latina, foi assinalada por ocasião do seminário interamericano sobre o tema, que ocorreu em 1984, e que na oportunidade salientou-se que a vigilância epidemiológica deveria ser expandida para incorporar doenças de natureza não-transmissíveis, pela importância que passaram a ocupar no quadro de morbimortalidade do país (p. 497).

    No Brasil, iniciativas de inclusão das DCNT na vigilância epidemiológica surgiram em 1993, na cidade de Campinas-SP. "A vigilância epidemiológica pode ser também parte de pesquisas sobre a história natural da doença, como é o caso de estudos de fatores de risco..." (PEREIRA, 1997, p. 449).

    Segundo este mesmo autor (p. 272), o estudo epidemiológico analítico transversal, apesar de representar a forma mais simples de pesquisa epidemiológica populacional, é muito útil na determinação dos fatores de riscos a que uma população está exposta, principalmente quando as informações são inexistentes, expressando seus resultados em termos de prevalência. E acrescenta que "por aproximação, em estudos transversais, uma estimativa do risco relativo é obtida a partir de coeficientes em expostos e não-expostos; ou calcula-se o OR (Odds Ratio, chance) ou a razão de prevalência" (p. 411). Estudos transversais servem também para identificar grupos de risco e explicar sobre as variações de freqüência, o que oferece base para prosseguimento de pesquisa sobre o assunto, através de estudos analíticos mais sofisticados, principalmente ensaios clínicos e estudos de coorte (longitudinais).

"Por questões práticas, ligadas principalmente a custos e facilidade de obtenção de dados, o investigador opta, para alcançar seu objetivo, dentro do orçamento que dispõe e do método escolhido para pesquisar o tema, pela utilização de estratégias, que mais se adaptem à população estudada e ao ambiente em que se desenvolve a pesquisa" (p. 405).

    A alta prevalência de sedentarismo na sociedade moderna tem sido apontada como um importante problema de saúde pública a ser combatido com prioridade. Recente estudo de HASKELL (1998), concluiu que a mudança de um estilo de vida sedentário para um estilo de vida pouco ativo, o que significa adotar uma simples caminhada de intensidade moderada por trinta minutos, cinco dias na semana, representa uma redução de 50% na morbimortalidade populacional por DCNT, principalmente DAC.

    A escolha por verificar a prevalência de sedentarismo no lazer se deveu ao fato de que, supõe-se, seja esse o período quotidiano da maioria dos cidadãos, o mais oportuno para adoção voluntária de um estilo de vida mais ativo ou mais sedentário, já que durante a execução de outras atividades fora do lazer, sejam elas classificadas como ocupacionais, domésticas ou de transporte e locomoção, o seu caráter automático e obrigatório impera, o que significa pouca ou nenhuma opção para a escolha voluntária de atividades mais ativas ou mais sedentárias fora do lazer.

    Assim, o alto impacto na saúde pública, proporcionado por um estilo de vida mais ativo, tem levado ao surgimento de campanhas de combate ao sedentarismo em nível mundial, levando, inclusive, a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar o ano de 2002 como sendo o ano mundial de combate ao sedentarismo, lançando a campanha Agita Mundo e estabelecendo como meta para o ano 2010 a redução do sedentarismo mundial para uma prevalência menor que 15% (V. K. MATSUDO, comunicação pessoal, em 27 de março de 2002).

    Por ser um comportamento adotado pela maioria da população, o sedentarismo no lazer pode ser causado pela presença de outros fatores de risco e, assim, estar associado à presença concomitante de outros fatores de risco, tais como, o sexo, principalmente com a crescente participação da mulher no mercado de trabalho; a idade, principalmente com o envelhecimento da população brasileira devido ao processo de transição demográfica; o tabagismo, principalmente após a primeira guerra mundial com o crescimento da indústria do tabaco nos E.U.A e no mundo; o sobrepeso, principalmente devido a uma alimentação artificial e desequilibrada; a prontidão para atividade física, que estabelece um estado de morbidade específica que contra-indica a prática de atividades físicas, mesmo as de leve ou moderada intensidade; e o sedentarismo fora do lazer, ou seja, em outras atividades físicas quotidianas, principalmente com o avanço da tecnologia, a automação e a virtualidade, não somente nas tarefas de trabalho, mas também em atividades domésticas e de transporte e locomoção, oportunidade em que variados tipos de máquinas e aparelhos vêm substituindo o esforço físico muscular e a necessidade de atividade física.

    As conclusões deste estudo poderiam levar a resultados esclarecedores quanto à prevalência de sedentarismo no lazer associado a outros fatores de risco, principalmente entre trabalhadores da atividade econômica secundária (Indústria) e terciária (serviços e comércio), parte da população economicamente ativa (PEA), além de auxiliar na elaboração de políticas de saúde e programas de intervenção visando combater o sedentarismo populacional e fomentar as pesquisas epidemiológicas por proporcionar a elaboração de novas hipóteses que seriam testadas em estudos analíticos, tais como os de caso-controle, coorte (longitudinais) e ensaio clínico randomizado.

    Nesse sentido, considerando a relevância do sedentarismo como fator de risco no cenário mundial e sua possível dependência de outros fatores de risco associados, justifica-se e releva-se a realização deste estudo.


1.4. Objetivo Geral

    Verificar a prevalência de seis fatores de risco (sexo, idade, tabagismo, sobrepeso, prontidão e sedentarismo fora do lazer) e sua associação com o sedentarismo no lazer, em trabalhadores da Indústria e da UnB, por meio de inquérito por entrevista, utilização do método epidemiológico analítico transversal e a medida de associação Odds Ratio (OR).

1.5. Objetivos Específicos

  • Verificar a associação entre o sexo e a prevalência de sedentarismo no lazer.

  • Verificar a associação entre a idade e a prevalência de sedentarismo no lazer.

  • Verificar a associação entre o tabagismo e a prevalência de sedentarismo no lazer.

  • Verificar a associação entre o sobrepeso e a prevalência de sedentarismo no lazer.

  • Verificar a associação entre a prontidão para atividade física e a prevalência de sedentarismo no lazer.

  • Verificar a associação entre a prevalência de sedentarismo em outras atividades físicas cotidianas, fora do lazer - ocupacionais, domésticas e transporte/locomoção - e a prevalência de sedentarismo no lazer.

1.6. Hipóteses do Estudo

1.6.1. H0: Não existe associação entre o sexo e a prevalência de sedentarismo no lazer, em trabalhadores da UnB e da Indústria.
1.6.2. H0: Não existe associação entre a idade e a prevalência de sedentarismo no lazer, em trabalhadores da UnB e da Indústria.
1.6.3. H0: Não existe associação entre o tabagismo e a prevalência de sedentarismo no lazer, em trabalhadores da UnB e da Indústria.
1.6.4. H0: Não existe associação entre o sobrepeso e a prevalência de sedentarismo no lazer, em trabalhadores da UnB e da Indústria.
1.6.5. H0: Não existe associação entre a prontidão para atividade física e a prevalência de sedentarismo no lazer, em trabalhadores da UnB e da Indústria.
1.6.6. H0: Não existe associação entre a prevalência de sedentarismo em outras atividades cotidianas, fora do lazer, e a prevalência de sedentarismo no lazer, em trabalhadores da UnB e da Indústria.


2. Revisão da Literatura

    O processo de sedentariedade da espécie humana vem ocorrendo há milhares de anos, mas só recentemente tem atingido as grandes massas populacionais (ASTRAND & RODAHL, 1992, p. 11-18; PATE, 1993).

    Desde o homem pré-histórico que habitou as cavernas, a civilização passou por "três grandes ondas de sedentarismo", todas elas acompanhadas por grandes avanços culturais.

    Primeiro, há 10 mil anos com o surgimento da atividade agrícola exercida em território ou sede fixa (CARDAIN et al, 1998), daí o termo sedentário; segundo, por volta do 1750, na Europa, com o advento da máquina a vapor e a conseqüente Revolução Industrial que substituiu gradativamente o trabalho braçal pela mecanização nas tarefas de produção; e, terceiro, a partir de 1950, com a explosão da bomba-atômica, marco de início da era tecnológica (BLAIR et al, 1993), que ampliou a mecanização também de outras tarefas quotidianas domésticas, de lazer e de transporte e locomoção.

    A principal conseqüência da terceira onda para a sociedade moderna tem sido a redução do gasto calórico com a diminuição da demanda energética no quotidiano do homem moderno, o que estaria ligado à falta de movimento e deterioração da saúde, bem-estar e qualidade de vida, conseqüência de uma vida sedentária, o que levaria a mais sedentarismo, como num círculo vicioso (NACIONAL CENTER FOR CHRONIC DISEASE PREVENTION AND HEALTH PROMOTION - CDC, 2002).

    No campo da epidemiologia da atividade física, os cientistas buscam estabelecer a prevalência de sedentarismo e as possíveis conexões entre esta e a morbimortalidade por diversas causas, principalmente por DCNT, procurando determinar se essa ligação é causal ou se ocorre apenas por acaso.

    Estudos epidemiológicos baseados em observações clínicas têm relacionado o comportamento sedentário ao surgimento de diversas DCNT (BLAIR, 1993).

    Um dos principais objetivos da epidemiologia da atividade física é a prevenção e controle de DCNT por meio do conhecimento de suas causas, das quais uma delas é o sedentarismo, ou seja, o baixo nível de atividade física populacional.

    As principais categorias de fatores de risco associadas à saúde e à doença são classificadas em ambientais, tais como, o ar, água, ruído, emprego e renda, habitação, nível educacional e família; em genéticos, tais como, idade, gênero, raça e suscetibilidade á doença; e em comportamentais, tais como, o tabagismo, má nutrição, sedentarismo, etilismo, uso de medicamentos e estresse profissional e social para ser bem sucedido (U.S. DEPARTMENT OF HEALTH, EDUCATION END WELFARE, 1979).

    No que diz respeito à prevalência de sedentarismo dentre os fatores de risco comportamentais e sua associação causal com as DCNT, já está bem estabelecida prevalência média que varia de 12-89% e também como um fator de risco primário, ou causal - variável independente - de muitas doenças crônicas não transmissíveis - DCNT.,

    No Brasil, vários estudos sobre a prevalência de sedentarismo em populações específicas de trabalhadores foram concluídos. MIRANDA et al (1993), NUNES et al (1993), NUNES (1999) e REGO et al (1990), a esse respeito, reportam prevalências de 50% a 69%.

    BARROS e NAHAS (2001), em trabalho transversal inédito e muito bem conduzido, com trabalhadores das indústrias do Estado de Santa Catarina, relataram prevalência média de sedentarismo no lazer de 46% e utilizaram o Odds Ratio (OR) como medida de associação entre diversas variáveis.

    Na verdade, pesquisas epidemiológicas associando a inatividade física as DCNT surgiram a partir da década de 50 com os estudos pioneiros de MORRIS et al (1953a), na Inglaterra. Esses autores verificaram uma associação inversamente significativa entre o baixo nível de atividade física no trabalho e a morbimortalidade por doença cardiovascular - infarto do miocárdio e derrame, entre mais de 100 mil trabalhadores ingleses, apesar do ceticismo da comunidade científica e da opinião pública da época a esse respeito.

    A partir daí, estudos longitudinais melhor controlados culminaram com o desenvolvimento metodológico que vieram estabelecer, décadas após, a evidente relação causal entre sedentarismo e morbimortalidade populacional.

    Em 1992 o sedentarismo foi considerado fator de risco primário (causal) para a DAC (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 1992), devido á consistência metodológica e o atendimento aos Critérios de Causalidade de Hill, em diversos estudos bem controlados (BLAIR, 1993; POWELL, 1987).

    O risco calculado para a associação entre o sedentarismo e a DAC foi igual a dois (RR=2), significando que os indivíduos sedentários têm o risco dobrado de desenvolver DAC em comparação com os minimamente ativos. Esse risco foi similar ao tabagismo (RR=2,5), colesterol sérico elevado (RR=2,4) e hipertensão arterial (RR=2,1), até então os três principais fatores de risco causais para a DAC.

    Estudos bem conduzidos por BLAIR et al (1989, 1992 e 1993), BOUCHARD et al (1990), HAHN et al (1990), HASKELL et al (1992), NATIONAL CENTER FOR CHRONIC DISEASE CONTROL, PREVENTION AND HEALTH PROMOTION - CDC (2002), PAFFEMBARGER et al (1986 e 1993) e POWELL et al (1987), evidenciaram a forte associação entre baixo nível de atividade física e morbimortalidade geral e específica por DCNT em populações de diversidade cultural, com sujeitos aparentemente saudáveis.

    No entanto, a maioria dos estudos epidemiológicos, sobre a relação causal entre o nível de atividade física populacional e morbimortalidade por DCNT, evidenciam o sedentarismo como fator de risco causal e como variável independente. Ou seja, o sedentarismo aumenta o risco de aparecimento de DCNT na população.

    Ao contrário, são praticamente inexistentes os estudos verificando o sedentarismo como uma variável dependente de outros fatores de risco, tais quais aqui apresentados e que apontassem quais fatores de risco podem causar a adoção de um comportamento sedentário pela população (BARROS & NAHAS, 2001).

    Que fatores de risco causais estariam envolvidos? Fatores de risco, imutáveis e mutáveis, tais como o sexo, idade, tabagismo, sobrepeso, prontidão para atividade física e sedentarismo em outras atividades físicas cotidianas, poderiam causar o sedentarismo? Essa questão parece que tem sido levantada apenas recentemente (BARROS & NAHAS, 2001; NUNES, 1999).

    Neste estudo, os fatores de risco que se pretende estudar como variáveis causais (independentes) de uma maior prevalência de sedentarismo na população (variável dependente), ou seja, sexo, idade, tabagismo, sobrepeso, prontidão e sedentarismo em outras atividades cotidianas fora do lazer, se interam numa rede de causas. No entanto, não é objetivo deste estudo, verificar o risco atribuível a cada um desses fatores na prevalência de sedentarismo no lazer. Assim, serão revisados apenas os estudos publicados que envolvem cada um desses fatores associados ao baixo nível de atividade física populacional (PEREIRA, 1997, p. 399; POWERS & HOWLEY, 2000, p. 257).

    Sexo e idade são os parâmetros mais objetivos e empregados em descrições epidemiológicas (PEREIRA, 1997, p. 209).

    Fisiologicamente, a diferença entre homens e mulheres em desenvolver alguma DCNT pode ser explicada, até certo ponto, pelas diferenças genéticas e hormonais que funcionam, ora como fator de risco, ora como fator de proteção para a saúde (PEREIRA, 1997, p. 188), sendo que algumas condições incidem mais em homens (DAC, câncer do sistema respiratório, úlcera péptica, cirrose hepática, gota, acidentes de trânsito e suicídios) e outras mais em mulheres (varizes, tireoidopatias, cálculo biliar, lúpus eritematoso, artrite, doenças reumáticas, depressão e tentativas de suicídio) (p. 188).

    Os riscos relacionados ao estilo de vida das pessoas, na esfera social e comportamental, por vezes diferentes entre os sexos, representam outro grupo de fatores que influenciam a distribuição das doenças, uma vez que homens e mulheres desempenham diferentes papéis na sociedade, bem perceptível nos tipos de profissões e empregos, nos hábitos de consumo de álcool e fumo e na forma de lazer, por exemplo, o esporte de preferência (PEREIRA, 1997, p. 189). Este autor reforça que, também, a competição por profissões classicamente masculinas e a incorporação feminina na força de trabalho muda o perfil de saúde da mulher.

    Apesar da população economicamente ativa ser constituída por homens (59%), ainda que a distribuição total da população indique uma ligeira maioria de mulheres, pois muitas delas se mantêm dedicadas aos afazeres domésticos (DIEESE, 2001, p. 16), PEREIRA (1997, p. 188-190) reporta que a mortalidade é maior no sexo masculino em todas as idades e que a mulher vive de quatro a dez anos mais do que o homem, sendo que, ao contrário, a morbidade é 20% maior em mulheres (p. 188).

    Quanto ao sedentarismo, a maioria dos estudos, concluem que as mulheres são mais sedentárias do que os homens. AINSWORTH e LEON (1994) encontraram maior prevalência de sedentarismo no lazer entre as mulheres.

    BARROS e NAHAS (2001), NUNES et al. (1993) e NUNES (1999), em estudo com trabalhadores da indústria em SC e funcionários públicos federais no RJ e DF, corroboram estes resultados.

    A relação entre idade e morbimortalidade é muito evidente. No que diz respeito as DCNT, sua prevalência aumenta com a idade, principalmente a partir da quinta década de vida e por causa cardiovasculares, digestivas, neurológicas, mentais e osteoarticulares. No entanto, ao lado da questão da idade propriamente dita, há a exposição a fatores de risco a que as pessoas estão sujeitas em grau variado com o passar do tempo (PEREIRA, 1997, p. 190-191).

    O sedentarismo tem a sua prevalência aumentada com a idade comprovada por estudos em diversas espécies de animais e em humanos. Em qualquer espécie (filogênese) a evolução do respectivo animal (ontogênese) está acompanhada de um decréscimo do nível de atividade física, seja em insetos ou mamíferos (SALLIS, 2000).

    No entanto, em adultos maiores de 60 anos, a prevalência de sedentarismo no Lazer tem caído na última década, o que não ocorreu com a faixa etária imediatamente anterior, que tendeu à manutenção do statu quo, depois de um aumento abrupto a partir de 1950. Prevalência aumentada de sedentarismo em geral, no mesmo período, tem sido evidente também entre crianças e adolescentes (NACIONAL CENTER FOR CHRONIC DISEASE PREVENTION AND HEALTH PROMOTION, CDC, 2002).

    O hábito de fumar acarreta efeitos prejudiciais para o organismo dos fumantes ativos e das pessoas de convivência próxima a eles. A Associação entre fumo e doenças já foi exaustivamente mostrada na literatura. O cigarro está etiologicamente ligado à bronquite crônica, às doenças cardiovasculares, a vários tipos de câncer, em especial ao de pulmão (PEREIRA, 1997, p. 207).

    O tabagismo é considerado o "mal do século!". É o fator de risco causal principal para a doença arterial coronariana, a DAC (McGINNIS & FOEGE, 1993), cujo risco relativo (RR=2,4), é estatisticamente significativo, ou seja, o tabagista apresenta risco duas vezes maior em desenvolver DAC do que o não tabagista.

    Como fator de risco causal para o câncer de pulmão, o tabagismo apresenta risco relativo cinco vezes maior (RR=10,0). No entanto, devido a maior morbimortalidade por DAC na população, o combate ao tabagismo se constitui em medida de intervenção mais efetiva para o combate às doenças cardiovasculares do que ao câncer de pulmão. É importante destacar que o combate ao tabagismo representa uma medida estratégica importante de prevenção, tanto da DAC quanto do câncer de pulmão em homens e mulheres (PEREIRA, 1997, p. 248).

    BARROS e NAHAS (2001) relatam a existência de uma relação inversa, significativa, entre o tabagismo e o baixo nível de atividade física, mesmo que esses autores tenham encontrado prevalência de tabagismo menor entre trabalhadores da indústria se comparada à prevalência média populacional para o Brasil.

    OLDRIDGE et al (1983) apontam o tabagismo como um dos principais fatores relacionados ao sedentarismo e à falta de adesão ao exercício e à atividade física de regularidade prolongada, sendo responsável sozinho por 59% do abandono a um programa dessa natureza.

    O sobrepeso é fator de risco independente para a morbimortalidade populacional por DCNT, principalmente quanto a sua relação com o aumento da prevalência de hipertensão arterial e diabetes mellitus.

    Numa determinada pessoa, a presença de dislipidemia, hipertensão arterial e diabetes tem sido denominado como síndrome X ou Síndrome cardiovascular (REAVEN, 1988) e de quateto mortal quando associada à obesidade (KAPLAN, 1989).

    BARROS e NAHAS (2001), BLAIR et al. (1993) e HAHN et al. (1990), mostraram uma forte associação inversa entre ganho de peso e nível de atividade física.

    A prontidão para atividade física é um atributo pessoal que significa que uma pessoa apresenta-se, muito seguramente, desimpedida para adoção imediata de um estilo de vida moderadamente mais ativo do que o atual, exatamente por não apresentar contra-indicação médica para a prática de qualquer atividade física espontânea que pudesse ser exercida diariamente no trabalho, no lazer, no transporte a no domicílio, visando alcançar os benefícios da atividade física regular para a saúde individual e coletiva (HASKELL, 1998).

    A verificação da prontidão na população é importante principalmente em sedentários, já que os grandes efeitos das intervenções na redução da morbimortalidade populacional são alcançados com pequeno aumento no nível de atividade física dos sedentários, tornando-os um pouco mais ativos no cotidiano (HASKELL, 1998).

    A prontidão pode ser, também, um indicador de morbidade (PEREIRA, 1997, p. 76-104) para a prática de alguma atividade física. Se alguém não está em prontidão, isso representa uma condição mórbida em que a prática de atividade física, mesmo de leve intensidade, estaria contra-indicada momentaneamente.

    Os canadenses foram os primeiros a se interessarem pela prontidão para atividade física da população. CHRISHOLM et al. (1975) elaboraram um questionário para verificação da prontidão para atividade física denominado PAR-Q (Physical Activity Readiness Questionnaire). Esse instrumento validado e que vem sendo utilizado até hoje, inicialmente constituído por sete questões, mas revisado e aperfeiçoado posteriormente, objetiva selecionar na população a minoria dos indivíduos com alguma contra-indicação médica para a prática de atividades físicas, mesmo de leve intensidade, que devem ser encaminhados ao médico antes de darem início a um programa de exercícios ou a adotar estilo de vida mais ativo (SHEPHARD, 1984 e 1991).

    A resposta positiva para uma ou mais das questões do PAR-Q, classifica o respondente como em não-prontidão (positivo), ou seja, o indivíduo apresenta, pelo menos momentaneamente, uma ou mais contra-indicação médica (morbidade) para a prática de alguma atividade física, mesmo de leve intensidade.

    Ao contrário, a resposta negativa para todas as questões do PAR-Q, classifica o respondente como em prontidão (negativo), significando que o mesmo está, muito seguramente, pronto, desimpedido, para dar início a uma atividade física qualquer de moderada intensidade.

    O PAR-Q foi validado como teste diagnóstico e aplicado em cerca de 1,5 milhões de pessoas no mundo inteiro, inclusive no Brasil (ARAÚJO et al., 1993; LAZZOLI et al., 1993; MIRANDA et al., 1993; NUNES, (1999). Sua boa sensibilidade e especificidade (LAZZOLI, et al., 1993) o tornaram um instrumento seguro (risco-eficiente), rápido (tempo-eficiente) e barato (custo-eficiente), de grande utilidade na seleção em massa de candidatos a um estilo de vida mais ativo (ACSM, 2000, p. 22).

    O AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE - ACSM (2000, p. 23) recomenda a utilização do PAR-Q como um procedimento mínimo padrão para a seleção de candidatos a participação em um programa de exercícios de intensidade moderada. Profissionais da saúde reconhecem que alguns indivíduos sedentários podem seguramente dar início a um programa de atividade física de intensidade moderada sem a necessidade de exame médico e que podem ser seguramente selecionados por esse instrumento (ACSM, 2000, p. 25).

    Poucos estudos epidemiológicos foram publicados associando a prontidão para atividade física e a prevalência de sedentarismos em adultos. Um estudo canadense documentou que comunidades rurais, suburbanas e urbanas diferiam significativamente na prontidão, sendo que sua maior freqüência foi documentada na comunidade rural (POTIVIN et al, 1993).

    No Brasil, ARAUJO et al. (1993), LAZOLLI et al. (1993), MIRANDA et al. (1993) e NUNES (1999) utilizaram o PAR-Q extensamente como instrumento para verificação da prontidão entre trabalhadores públicos federais, no Rio de Janeiro e no Distrito Federal, no entanto, sem verificar a associação entre a não-prontidão e o sedentarismo no lazer.

    No que diz respeito ao sedentarismo fora do lazer, ou seja, no trabalho, domicílio e transporte e locomoção, OLDRIDGE et al (1983) apontam o sedentarismo no trabalho - ocupações de leve ou muito leve intensidade - como um importante fator para a adoção de hábitos sedentários também durante o lazer, fato este agravado pelo processo de industrialização e mecanização da sociedade, que têm eliminado a necessidade de esforço físico no quotidiano da maioria da população (BLAIR, 1993; PATE, 1993).

    No entanto, PRATT e MUNSHI (1994), observaram em oito diferentes comunidades no Estado de New York (EUA) que a alta prevalência de sedentarismo no lazer estava associada a um nível mais alto de atividade física ocupacional e de transporte e locomoção.


3. Material e Métodos

    As variáveis foram definidas como sendo: variável dependente (efeito) o sedentarismo no lazer e variáveis independentes (causais) o sexo, idade, tabagismo, sobrepeso, prontidão para atividade física e sedentarismo fora do lazer.

    O método adotado foi o epidemiológico analítico transversal (PEREIRA, 1997, p. 298) - correspondente, em inglês, ao cross-sectional populational study. A medida de associação foi o "Odds Ratio" (OR).

    Segundo PEREIRA (1997, p. 298), este tipo de investigação, também designado seccional, vertical, pontual ou de prevalência, representa a forma mais simples de pesquisa populacional.

    "O estudo transversal é uma pesquisa em que a 'exposição-doença' (outros fatores de risco - sedentarismo no lazer) é examinada em uma dada população, em um determinado momento, e é um bom método para detectar freqüências de doenças e de fatores de risco, assim como identificar os grupos, na população, que estão mais ou menos afetados" (PEREIRA, 1997, p. 298).

    A população de trabalhadores da Universidade de Brasília (UnB) foi considerada os trabalhadores dessa instituição universitária, engajados em suas atividades ocupacionais há mais de dois anos, voltadas para a administração e prestação de serviços, muito semelhante às atividades de funcionários públicos distritais e federais, atuantes tanto no Distrito Federal quanto em outras regiões do país e o que a caracteriza como uma população voltada para atividades econômicas ocupacionais de caráter terciário - Serviços e Comércio (DIEESE, 2001, p.16). Os trabalhadores selecionados faziam parte do quadro funcional da UnB, composto por 2019 trabalhadores e lotados num dos cinco setores do campus universitário Darcy Ribeiro (setor central, sul, norte, península e hospitalar). As atividades ocupacionais desse grupo foram consideradas de leve intensidade (1,5 MET), conforme AINSWORTH et al. (2001), considerado 1 MET o equivalente metabólico referente ao gasto energético de repouso.

    A população de trabalhadores da Indústria foi considerada os trabalhadores industriários do Brasil, engajados há mais de dois anos, voltadas para a produção industrial (DIEESE, 2001, p.16) de empresas filiadas ao Sistema do Serviço Social da Indústria (Sesi).

    Tal população desenvolvia atividades ocupacionais de produção que a caracterizaram como uma população voltada para atividades econômicas de caráter secundário - Industrial. Os trabalhadores selecionados pertenciam a uma amostra de 1200 trabalhadores, visitados em 20 empresas industriais, instaladas em sete estados de quatro regiões do país (AL, BA, DF, ES, MG, PR, SC) que fizeram parte de um estudo sobre qualidade de vida, desenvolvido pelo Sesi. As atividades ocupacionais desse grupo foram consideradas de moderada intensidade (>3-5 MET), conforme AINSWORTH et al. (2001).


3.1. Amostra de Estudo

    Uma amostra é selecionada de uma população em função de apresentar características que possibilitem a investigação de um efeito, no caso o sedentarismo, e sua associação a outros fatores de risco.

    Foram selecionados entre junho-dezembro de 2001, duzentos e nove trabalhadores, masculinos e femininos, com idade entre 18-59 anos, em atividade laboral regular há mais de dois anos, trabalhadores do ramo industrial (n = 120) e de Serviços da UnB (n = 89).

    Todos foram submetidos a uma entrevista no próprio local, durante a jornada de trabalho. Foram incluídos os trabalhadores da indústria atuantes nas linhas de produção, em diversas atividades industriais, em empresas de médio e grande porte, respectivamente, 100-499 ou mais que 500 trabalhadores por empresa, cujas atividades industriais são cadastradas no CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) e codificadas no CNAE (Código Nacional de Atividade Econômica); e trabalhadores da UnB atuantes em atividades administrativas.

    Foram excluídos: os trabalhadores em férias e afastados por qualquer outra causa, lotados fora do campus universitário Darcy Ribeiro em Brasília ou fora das fábricas industriais; dois trabalhadores da UnB e dois da Indústria, que não completaram os questionários de entrevista; os trabalhadores terceirizados ou contratados e os trabalhadores em atividade há menos de dois anos.

3.2 Procedimentos

    Os procedimentos seguidos neste estudo foram submetidos à analise e aprovação do projeto de pesquisa no Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde da Universidade de Brasília - UnB.

    As indústrias selecionadas para o estudo foram sorteadas no Departamento Nacional do Sesi, sediado em Brasília e a UnB foi a instituição escolhida devido à facilidade de acesso e à semelhança com o perfil de trabalhadores em atividades econômicas terciárias, no caso Serviços. O contato inicial com cada instituição, Departamento de Recursos Humanos - DRH, foi feito previamente por telefone para convite à participação, confirmação, seguida por visita para exposição dos motivos, descrição da metodologia e autorização para as entrevistas.


3.3 Coletas de Dados

    As entrevistas foram executadas pelo próprio pesquisador - entrevistador, que se deslocou até o local de trabalho de todos os trabalhadores entrevistados. As entrevistas foram individualizadas e estruturadas para coletar informações de forma padronizada, quando todos os entrevistados receberam as mesmas instruções, responderam a questões idênticas, formuladas na mesma ordem e em condições as mais semelhantes possíveis. O instrumento - questionário, que serviu de roteiro para as entrevista e coleta de dados está apresentado na íntegra, em anexo.

    As entrevistas, nas indústrias e na UnB, foram feitas após cada DRH destas empresas sortear randomicamente, por meio eletrônico utilizando-se de banco de dados, os trabalhadores a serem entrevistados sob os critérios de inclusão, descritos anteriormente. Cada entrevista teve a duração média de 10 minutos e foi iniciada e completada após localização e contato com o trabalhador sorteado, sem aviso prévio, antecedida da apresentação do entrevistador ao entrevistado, por um funcionário do DRH da UnB e das respectivas indústrias, exposição oral e escrita dos motivos da pesquisa, leitura e assinatura do termo de consentimento.


3.4 Tratamento Metodológico

    O questionário elaborado para este estudo constou de questões combinadas - fechadas e abertas - e serviu como roteiro para as entrevistas e foram seguidas as recomendações de FARIA JUNIOR (1999, p. 472): testar previamente o instrumento sob a forma de um questionário-piloto antes da aplicação definitiva do mesmo; evitar questionário longo; fazer preceder as questões de uma carta explicando ao entrevistado os motivos de sua colaboração e o sigilo das respostas; elaborar questões em função dos objetivos bem definidos; considerar as características da população-alvo, ao escolher a linguagem, o nível de informação e a aceitabilidade das questões, não se incluindo questões ameaçadoras e; evitar questões tendenciosas, abstratas ou abstrusas.


3.6 Tratamento Estatístico

    O estudo das causas dos agravos à saúde é um dos temas centrais da epidemiologia (...), pois, a ênfase incide sobre a interpretação da associação entre eventos, no intuito de diferenciar as relações causais das não-causais (PEREIRA, 1997, p. 398). O estudo da causalidade abrange a pesquisa dos fatores responsabilizados pelo aparecimento das doenças, mas não está restrito a ela (p. 399). Para grande número de condições crônico-degenerativas, nenhum agente, porém, foi até hoje identificado: é o caso da maioria das afecções cardiovasculares (p. 400).

    Uma associação é "causal", para termos práticos em epidemiologia, quando a alteração na freqüência (ou intensidade) de um evento acarreta mudanças no outro. Há uma causa, há um efeito. São escolhidos os métodos mais adequados para investigar o assunto e aplicados determinados critérios de julgamento de causalidade, já mencionados anteriormente, que são os melhores guias atualmente disponíveis para julgar etiologia, na ausência de experimentos aleatorizados. O princípio da multicausalidade postula que existem vários fatores de risco no complexo etiológico de um agravo à saúde (p. 401).

    O principal critério para verificar associação entre duas, ou mais, variáveis, tem sido a força dessa associação, que é um critério de causalidade quantitativo. As pesquisas em epidemiologia, especialmente no campo das DCNT, têm progredido através da análise estatística da associação entre um fator de risco e uma doença. Um fator de risco é considerado causa contribuinte de uma doença se é parte de um complexo de circunstâncias no qual a freqüência da doença é aumentada pela sua presença ou diminuída na sua ausência.

    Para que um fator de risco seja considerado causa de um agravo (sedentarismo, por exemplo) a associação entre ambos deve ser estatisticamente significativa, ou seja, quando na presença do fator de risco há maior probabilidade (ou chance) de presença (ou ausência) do sedentarismo. No caso deste estudo, as hipóteses levantadas supõem que a presença de outros fatores de risco na população de trabalhadores, não aumente a chance de um trabalhador ser sedentário.

    O tratamento estatístico descritivo possibilita a análise dos dados por meio de gráficos, quadros e tabelas de freqüências. Nessa dissertação, os resultados de prevalência de sedentarismo e de outros fatores de risco serão apresentados descritivamente. Contudo, é o tratamento estatístico inferencial que possibilita analisar os resultados em termos de probabilidade (ou chance), ou seja, se a associação entre exposição e doença é consistente e estatisticamente significativa.

    Um teste bastante utilizado na estatística inferencial tem sido o qui-quadrado. No entanto, PEREIRA (1997, p. 407) nos reporta que em epidemiologia o qui-quadrado não é medida adequada da força de associação. Com esse objetivo, usam-se outras técnicas, em especial, a correlação, a regressão e o risco relativo (ou Odds Ratio) (p. 407).

    A classificação do risco relativo em categorias de risco baixo, intermediário e elevado, em termos quantitativos, é arbitrária (p. 408). Um risco relativo "igual a 1" indica que não há associação entre fator de risco e agravo ou doença. No caso dessa dissertação, supõe-se que esse seja o caso, ou seja, não há associação entre os fatores de risco descritos e a prevalência de sedentarismo no lazer, confirmando as hipóteses nulas.

    No entanto, um risco relativo "maior que 1" indica que há associação entre o fator de risco e a prevalência de sedentarismo no lazer. Revela que um trabalhador, ao expor-se ao referido fator de risco tem sua chance aumentada de adotar estilo de vida sedentário no lazer. Ao contrário, um risco "menor que 1" indica que exposição é benéfica e se constitui em "fator de proteção".

    Quanto mais o risco "se afasta da unidade", maior a chance da relação ser causal. Ao contrário, "quanto mais próximo o risco relativo estiver da unidade", mais difícil é a interpretação da relação como causal, embora o risco relativo de pequena magnitude (1,5, por exemplo) também possa perfeitamente ser devido à relação causal, desde que estatisticamente significativa (p. 408).

    Para interpretar se o risco relativo é igual ou diferente de 1 é feito a inspeção do intervalo de confiança (IC), que define limites, entre os quais se encontra o verdadeiro parâmetro na população (em geral, com 95% de chance, ou seja, IC 95%).

    Se o intervalo de confiança de 95% do risco relativo "inclui a unidade", os resultados "não são estatisticamente significativos", o que se espera nesse estudo. Caso a unidade "não esteja incluída" no intervalo de confiança, o risco relativo é estatisticamente significativo, de modo que é possível concluir por uma associação estatística entre exposição (outros fatores de risco) e agravo (sedentarismo no lazer).

    Neste caso, há duas possibilidades: o intervalo de confiança está todo ele "acima da unidade", significando que a exposição é interpretada como "fator de risco". Ou está todo ele "abaixo da unidade", significando que a exposição é interpretada como "fator de proteção" (p. 408).

    O risco relativo pode ser calculado diretamente em estudos que geram taxas de incidência, como nos estudos prospectivos ou longitudinais, mas estimá-lo indiretamente pelo uso de medidas de Odds Ratio (OR) tem sido muito usado em epidemiologia, quando se recorre aos estudos retrospectivos ou transversais. "Por aproximação, em estudo transversal, uma estimativa do risco relativo é obtida a partir de coeficientes em expostos e não-expostos; ou calcula-se o OR ou a razão de prevalência." (p. 411).

    A computação do OR como medida de risco é simples. O resultado final não tem unidades, representando a relação entre dois coeficientes, ou seja, quantas vezes um risco é maior do que o outro.

    Do mesmo modo, como com o risco relativo, o intervalo de confiança (IC) para OR é interpretado e utilizado para a determinação da significância estatística dos resultados da força de associação em investigações epidemiológicas (PEREIRA, 1997, p. 413). O IC pode ser calculado para grandes amostras (n maior do que 1000) como IC assintótico ou para pequenas amostras como IC exato (AGRESTI, 1996, p. 22-27), sendo esse último utilizado neste estudo e calculado automaticamente através do programa estatístico SPSS Server - 10.


4. Análise dos Resultados

4.1. Perfil das amostras de trabalhadores

Quadro 1 - Perfil da amostra por ocupação: tamanho da Amostra, distribuição proporcional por sexo e idade média em trabalhadores.

    Conforme o quadro 1, as amostras apresentam tamanhos diferentes, sendo a maior amostra a de trabalhadores da indústria.

    A indústria tem mais trabalhadores do sexo masculinos e menos do sexo femininos do que a UnB.

    Os trabalhadores da indústria são 12 anos mais jovens do que os da UnB e a indústria apresenta maior percentual de trabalhadores jovens (menores de 40 anos), do que a UnB.


4.2 Prevalência de sedentarismo no lazer e outros fatores de risco

Quadro 2 - Prevalência de sedentarismo no lazer em trabalhadores, por ocupação, em percentual.


(*) - diferença significativa entre as ocupações (p<0,05)

    Conforme o quadro 2, a prevalência de sedentarismo no lazer apresentou diferença significativa entre trabalhadores das duas ocupações, sendo maior entre os trabalhadores da UnB quando comparados com os da Indústria (respectivamente, 52% vs 41%, p<0,05).

Quadro 3 - Prevalência de outros fatores de risco em trabalhadores sedentários por ocupação, em percentual.


(*) - diferença significativa (p<0,05)
1 - outros fatores de risco: sexo (M: masculino; F: feminino); idade (<40: menor que 40 anos; >40: maior ou igual a quarenta anos); tabagismo (NÃO: não-tabagista; SIM: tabagista); sobrepeso (<25: IMC menor que 25; >25: IMC maior ou igual a 25); prontidão (-: prontidão; +: não-prontidão); Sedentarismo outras: fora do lazer (NÃO: alguma atividade moderada em uma ou mais das categorias: trabalho e/ou domicílio e/ou transporte; SIM: sedentarismo também no trabalho, domicílio e transporte).

    Para determinação da presença do fator de risco, os trabalhadores tabagistas foram considerados os fumantes atuais, independente da quantidade de cigarros fumados diariamente; e os não-fumantes aqueles abstêmios do cigarro ou ex-fumantes há mais de dois anos.

    Os trabalhadores considerados sedentários fora do lazer foram aqueles que perceberam todas as suas atividades diárias (ocupacionais, domésticas e de transporte e locomoção) como sendo de "leve" intensidade, conforme o questionário de resposta; e os trabalhadores considerados ativos fora do lazer foram aqueles que perceberam pelo menos uma das suas atividades diárias (ocupacionais, domésticas ou de transporte e locomoção) como sendo pelo menos de moderada intensidade, conforme o mesmo questionário de resposta. Assim, bastava que o trabalhador considerasse apenas uma dessas atividades como sendo moderada, mesmo que as outras ele percebesse como sendo de leve intensidade, que o mesmo era classificado como ativo fora do lazer.

    Conforme o quadro 3, existiu diferença significativa na prevalência de sedentarismo no lazer conforme a idade, sendo maior entre os trabalhadores maiores ou igual a 40 anos da UnB e entre os trabalhadores menores de 40 anos da indústria (p<0,01; qui-quadrado = 49,39).

    Existiu diferença significativa na prevalência de sedentarismo no lazer conforme o sobrepeso, sendo maior entre os trabalhadores com normopeso da indústria (p< 0,01; qui-quadrado = 7,98).

    Existiu diferença significativa na prevalência de sedentarismo no lazer conforme a prontidão, sendo maior entre os trabalhadores em não-prontidão (PAR-Q positivo) da UnB e em trabalhadores em prontidão (PAR-Q negativo) da indústria (p<0,001; qui-quadrado = 16,41).


4.3. Outros fatores de risco associados à prevalência de sedentarismo no lazer.

    Por questões de espaço, foram incluídas apenas os Quadros com as Tabelas de contingência 2x2 que apresentaram associação significativa entre o respectivo fator de risco e a prevalência de sedentarismo no lazer.


4.3.1 Trabalhadores da UnB

Quadro 4 - Tabela de contingência 2x2 para cálculo do OR com entrada para sedentarismo no lazer e sobrepeso, incluído IC, p e resultado (UnB).

    Sobrepeso: OR = 0,37 (IC = 0,14 - 0,96; p = 0,024). O sobrepeso está significativamente associado à prevalência de sedentarismo no lazer, como fator de proteção.


4.3.2 Trabalhadores da Indústria

Quadro 5 - Tabela de contingência 2x2 para cálculo do OR com entrada para sedentarismo no lazer e sexo, incluído IC, p e resultado (Indústria).


Sexo: OR = 4,28 (IC = 1,74 - 10,64; p < 0,01). O sexo feminino está significativamente associado à prevalência de sedentarismo no lazer como fator de risco.


5. Discussão

    A prevalência de sedentarismo em estudos populacionais tem variado entre 12 a 85%, dependendo: da definição usada para o que seja sedentarismo, dos métodos e instrumentos utilizados para aferição do nível de atividade física praticada e também a sua finalidade - lazer, ocupacional, doméstica ou transporte e locomoção.

    Todos os potenciais mecanismos protetores induzidos pela atividade física regular contra as DCNT são consistentes, ou seja, foram demonstrados por diferentes pesquisadores, utilizando-se de diferentes métodos epidemiológicos e populações, principalmente no que diz respeito às doenças cardiovasculares (infarto e derrame), metabólicas (obesidade, diabetes mellitus, dislipidemias e osteoporose), vários tipos de cânceres (notadamente do colo intestinal) e depressão (PAFFENBARGER, 2000).

    Todos estes, em combinação com a modificação de outras características e hábitos pessoais, tais como obesidade, hipertensão arterial, tabagismo, dieta inadequada, dentre outros, pode reduzir o risco de ocorrência de doenças cardiovasculares (HASKELL et al, 1992)

    MORRIS (1953a) e POWELL (1987) demonstraram a forte associação entre sedentarismo e morbimortalidade geral e específica. No entanto, alguns estudos falharam em demonstrar essa associação em funcionários públicos em Los Angeles e trabalhadores industriários em Chicago, mas nesses estudos a atividade física de lazer não foi levada em conta, nem a história pregressa de atividade física (PAFFENBARGER, 2000).

    MORRIS et al (1990) não encontraram associação entre sedentarismo e morbimortalidade pos DAC, mas somente uma relação direta entre atividade física vigorosa (algo pesada) e uma saúde ótima.

    Estudos bem conduzidos, como o Multiple Risk Factor Intervention Trial (MRFIT), U. S. Railroad Works Study, The British Regional Heart Study, College Alumni Health Study e vários estudos finlandeses, não corroboram os dados encontrados por MORRIS (1990) e sim um efeito protetor da atividade física regular contra a DAC.

    BOUCHARD et al (1990) afirmam a importância do componente genético no estudo das DCNT e sua ligação com a a atividade física.

    Neste estudo, a prevalência de sedentarismo no lazer (52% na UnB e 41% na indústria) situou-se em valores médios aos apresentados na literatura, independente da ocupação dos trabalhadores, sendo que foi menor em trabalhadores da indústria. Mesmo exercendo comumente uma atividade ocupacional considerada de intensidade moderada ou vigorosa, o trabalhador da indústria foram mais ativo no lazer do que os trabalhadores da UnB.

    No entanto, quando o sedentarismo no lazer foi comparado com o sedentarismo fora do lazer, a prevalência de sedentarismo total situou-se em valores menores (26% na UnB e 25% na indústria, p>0,05). Esse resultado mostra que o sedentarismo total não diferiu entre os trabalhadores, sugerindo que a atitude voluntária de optar por um estilo de vida totalmente sedentário provavelmente independe da ocupação, podendo estar relacionada a outros fatores intrínsecos e extrínsecos, tal como a falta de informação e/ou oportunidade de se exercitar durante o lazer e fora dele.

    Também mostra que ser sedentário no lazer não significa necessariamente ser sedentário fora dele e que essa pode ser uma opção exatamente devido a se adotar um estilo de vida moderadamente mais ativo fora do lazer, em atividades ocupacionais, domésticas e de transporte e locomoção.

    Esses achados, corroborando a literatura (PEREIRA, 1997, 188-190; AINSWORTH & LEON, 1994; NUNES et al, 1993; NUNES, 1999; BARROS & NAHAS, 2001), provavelmente foi devido aos trabalhadores da indústria do sexo feminino exercerem atividade física ocupacional mais intensa, o que supõe pouparem-se mais para descanso durante o lazer.

    As mulheres podem ser, também, mais ativas fora do lazer, nas obrigações domésticas de limpeza, higiene pessoal e alimentação, que demandem esforço moderado ou mesmo vigoroso, conforme o padrão de comportamento atribuído a elas culturalmente, o que levaria à opção por um estilo de vida sedentário no lazer. Por fim, as mulheres podem preferir optar por atividades passivas, de muito leve intensidade durante o lazer, tais como, assistir televisão.

    A esse respeito, PALMA (2000) tem indicado que a prática regular de atividade física está bastante associada ao estado sócio-econômico e que os programas de intervenção em educação física, no campo da saúde pública, devem ser revistos e que os fatores de risco não são suficientes para explicar as variações de morbimortalidade populacional.

    BURNLEY, citado por PALMA (2000), ao examinar as desigualdades sociais na incidência de DAC na Autrália, observou que no período 1969-1994, embora houvesse queda nas taxas de mortalidade, as diferenças entre as ocupações aumentavam. Os trabalhadores da indústria química passaram de um Odds Ratio de 1,00, em 1969, para 1,41 1994, enquanto os trabalhadores de escritórios, no mesmo período, passaram de um Odds Ratio de 1,07 para 0,76. No entanto, esse autor não apresentou os intervalos de confiança.

    KAPLAN E LYNCH (1999) suportam evidências de que demonstram a forte associação inversa entre as classes sociais e os efeitos sobre a saúde, inclusive o sedentarismo, bem como as características da comunidade onde as pessoas vivem, ao invés dos atributos meramente individuais. Esse autor utilizou a Odds Ratio como medida de força de associação causal entre variáveis sociais e mortalidade, sendo tais variáveis, o nível educacional, obesidade, insegurança, baixo suporte emocional, sedentarismo (OR=2,3), baixo salário, alimentação inadequada, e tabagismo, corroborando PALMA (2000).

    A prevalência de sedentarismo associada a outros fatores de risco foi verificada nas duas ocupações (UnB e Indústria), supondo serem esses fatores de risco a possível causa do sedentarismo no lazer. O OR e o IC com 95% de probabilidade, conforme recomendação de PEREIRA (1997, 408) foram usados para verificar a associação entre outros fatores de risco e sedentarismo no lazer.

    SALMON et al (2000) em estudo recente, observaram o nível de atividade física realizado no lazer, ocupação e no domicílio e concluíram que a exposição do trabalhador de menor status sócio-econômico aos esforços físicos contínuos de alta intensidade no trabalho e domicílio pudessem justificar a maior prevalência de sedentarismo durante o lazer nesse grupo.

    Apesar de não ter sido considerado neste estudo, estudos na Austrália (BENNETT, 1995) concluíram que todas as formas de atividade física no lazer estavam fortemente associadas com o nível educacional, de tal modo que os indivíduos com elevada escolaridade tinham maior participação nessas atividades do que aqueles indivíduos com menor escolaridade.

    O sobrepeso, na UnB, e o sexo, na indústria, mostraram associação significativa com a prevalência de sedentarismo no lazer (respectivamente, OR = 0,37, IC = 0,14 - 0,96; OR = 4,28, IC = 1,74 - 10,64).

    O sobrepeso mostrou-se associado inversamente à prevalência de sedentarismo em trabalhadores da UnB, ou seja, quanto maior o sobrepeso, menor foi a prevalência de sedentarismo no lazer, comportando-se o sobrepeso como um fator de proteção. Esse resultado, contrariando a literatura (HAHN et al, 1990; BLAIR, 1993), provavelmente foi devido aos trabalhadores da UnB com sobrepeso se precaverem dessa condição mórbida e praticarem mais atividade física no lazer, possivelmente influenciados pelo ambiente acadêmico onde trabalham devido à ocupação, que pode facilitar o acesso à informação pertinente e exige maior nível educacional.

    No entanto, o NATIONAL CENTER FOR CHRONIC DISEASE PREVENTION AND HEALTH PROMOTION (2002), relata que os obesos com pior nível educacional fazem menos atividade física para emagrecer do que aqueles de melhor nível educacional.

    O sexo mostrou-se associado à prevalência de sedentarismo no lazer. Existe 4,3 vezes mais sedentarismo no lazer no sexo feminino do que no masculino e as mulheres são mais sedentárias do que os homens (IBGE, 1999). O sexo constituiu-se num fator de risco para a prevalência de sedentarismo.

    Apesar de não abordado neste estudo, o ganho salarial e o nível educacional associaram inversamente com o sedentarismo nas mulheres. A prática de atividade física das mulheres foi maior durante o lazer naquelas melhor remuneradas e de melhor nível educacional, sendo maior a prática de atividade física durante as tarefas domésticas entre as mulheres com pior remuneração e nível educacional (PALMA, 2000).


6. Conclusões

    O sedentarismo no lazer apresentou prevalência média semelhante a encontrada na literatura, numa proporção significativa como problema de saúde pública, para intervenção prática e educativa. A prevalência de sedentarismo no lazer também mostrou valores acima da meta esperada pela ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) de prevalência de sedentarismo populacional em torno de 15% até o ano 2010. Um enorme investimento em pesquisa está sendo feito para identificar fatores de risco e a maneira mais eficiente de lidar com eles, no intuito de reduzir a incidência e a prevalência de DCNT (PEREIRA, 1997, p. 484).

    Em trabalhadores da UnB, apenas a quarta hipótese nula, referente ao sobrepeso, foi rejeitada, sendo que o sobrepeso comportou-se como fator de proteção, e não de risco, para a prevalência de sedentarismo no lazer.

    Nos trabalhadores da Indústria, apenas a primeira hipótese nula, referente ao sexo, foi rejeitada, sendo que o sexo feminino comportou-se como fator de risco significativamente associado à prevalência de sedentarismo no lazer.


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