A efetividade de um programa de treinamento em ginástica aeróbica sobre o percentual de gordura corporal em jovens do sexo feminino |
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Licenciado em Educação Física pela ESEF - UFRGS/Brasil Mestre em Ciências do Desporto pela FCDEF - UP/Portugal |
Luiz Fernando Pinheiro Machado Aquini portotuba@sapo.pt (Portugal) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 69 - Febrero de 2004 |
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1. IntroduçãoHoje em dia, o que nos parece evidente é que a preocupação com uma vida mais ativa e saudável, ou se preferirmos, a necessidade de abandonar o estilo de vida sedentário, pode ser identificada diariamente nas ruas, parques, praças, televisão, ginásios, etc.. Nesses locais é possível verificar inúmeros adeptos a programas de condicionamento físico, ou simplesmente pessoas praticando uma atividade física (AF).
Entre as diversas atividades, os exercícios aeróbios (EA) ganham uma certa notoriedade como a corrida, caminhada, ciclismo, patinagem, ginástica, etc.
Cooper (1982), define como objetivo principal dos EA, "o desenvolvimento de um nível de condição física que impeça o aparecimento precoce de doenças cardíacas e outras inúmeras afecções características do comportamento sedentário da vida moderna".
O termo aerobic embora tenha sido criado na França por Pasteur, em 1875, para classificar as bactérias que necessitavam de oxigênio para viver (aerob em grego significa oxigênio para vida - Guiselini e Barbanti, 1993, p.25), hoje é extensivo na área de treino desportivo às atividades de baixa e média intensidades e com longa duração. São AF onde há um predominante equilíbrio entre a necessidade de oxigênio da musculatura esquelética em exercício e a oferta atribuída ao sistema cardiovascular. Em síntese, são práticas de AF onde ocorre um equilíbrio entre a necessidade e a oferta de oxigênio.
Portanto, com a expansão em grande escala da procura pela AF, principalmente pelos EA e com grande quantidade de pessoas buscando uma melhor e mais saudável forma de viver, surgiu e desenvolveu-se nos Estados Unidos, a "ginástica aeróbica" (aerobic dance). Através de programas de condicionamento físico tornou-se rapidamente conhecida juntamente com seus divulgadores, como Jacki Sorensen, Jane Fonda, Phillys Jacobson, entre outros, chamando a atenção da população ao promover a AF como ingrediente essencial para manutenção da saúde, espalhando-se rapidamente por vários países a partir do final dos anos 70 e início dos anos 80.
Desde então, a ginástica aeróbica (GA), praticada principalmente nos ginásios, ganhou um espaço relevante entre as práticas de AF. Especialmente em Portugal verificamos este fenômeno, ao observar o crescente número de pessoas que procuram esta atividade e o número de ginásios que vão surgindo no correr dos anos.
Também é possível observar, que um dos principais objetivos pelo qual as pessoas buscam esta atividade está relacionado com o "emagrecimento", já que, a GA se enquadra naquelas atividades que segundo Cooper (1982), "(...) diminuem o aparecimento de doenças cárdio vasculares e são eficientes em um processo de emagrecimento, consequentemente melhorando a qualidade de vida, na medida em que torna o indivíduo mais apto para realizar a AF e combater o stress rotineiro".
No presente estudo, a variável composição corporal (CC) assume um significado relevante, haja visto que o componente principal do fracionamento do peso corporal estudado foi a massa gorda (percentual de gordura corporal-PGC). Isto porque assume-se como pressuposto que um alto índice de PGC (homem adulto alcança em média 15 a 18% e a mulher 25%) é caracterizado pela obesidade, que por sua vez, pode acarretar um estigma social negativo associando-se a uma redução da capacidade de esforço físico (Colégio Americano de Medicina Esportiva, 1996).
É, portanto, nesta perspectiva que envolve as relações entre a GA e a possibilidade de sua intervenção na diminuição do PGC, que o presente estudo foi realizado com o propósito de avaliar se o programa de treinamento em GA (PTGA) realizado 3 vezes semanais e 2 vezes semanais pode contribuir na diminuição dos níveis de PGC.
Desta forma, se configuram os seguintes objetivos específicos, bem como as hipóteses orientadoras do estudo:
a) Objetivos específicos
Verificar a efetividade de um PTGA na diminuição dos níveis de PGC;
Verificar se o número de práticas semanais de GA influencia na diminuição dos níveis de PGC.
2. Revisão sobre estudos em ginástica aeróbica e composição corporal (percentual de gordura)Poucos estudos foram realizados até a presente data, sobre a influência de um programa de GA na modificação da CC, ou seja, mais especificamente na diminuição do PGC.
Estudos desenvolvidos por Dowdy et al (1985); Vaccaro e Clinton (1981); Perry et al (1988); Eickoff, Thorland e Ansorge (1983) na tentativa de identificar alterações na CC de indivíduos participantes de aulas ou sessões de treinamento em GA, não são unânimes em confirmar a efetividade do programa na diminuição do PGC
Em síntese, no Quadro 1, é apresentado um resumo dos resultados da comparação de alguns estudos realizados na GA, com intuito de verificar a diminuição significativa do PGC.
Quadro 1 - Resumo dos resultados de estudos relacionados com GA na mudança da CC.
3. Metodologia
3.1. Caracterização do estudoO estudo caracterizou-se numa investigação Quase-experimental, em que 3 grupos foram submetidos a pré e pós teste conforme descrito por Kerlinger (1975).
3.2. Caracterização da amostraA amostra é do tipo não probalística acidental (ou não casual) na medida em que foi constituídas por turmas de GA, destinadas por horários em que o investigador era o próprio ministrante das sessões. Conforme Levin (1987, p. 120), "esse modelo difere muito pouco dos nossos procedimentos diários de amostragem, uma vez que ele se baseia com exclusividade no que convém ao pesquisador".
A amostra foi constituída por 43 jovens do sexo feminino, aparentemente saudáveis, com idade compreendida entre 15 a 35 anos. Foram divididos em 3 grupos: praticantes de GA com ocorrência de 3 vezes semanais (GE1, n = 14), praticantes de GA com ocorrência de 2 vezes semanais (GE2, n = 17) e sujeitos que não participaram de nenhum programa de AF, grupo de controle (GC, n = 12). Dentre as participantes da GA (2 e 3 vezes semanais), todas tiveram uma boa frequência participativa (mínimo de 70%) nas 11 semanas de treinamento propostas pelo programa.
3.3. Método e Instrumento de AvaliaçãoRealizou-se primeiramente, antes de iniciar o PTGA, uma avaliação antropométrica, em relação peso corporal, estatura total e perímetros corporais (tórax, cintura, abdômem, etc.), cujos aparelhos utilizados foram uma balança com precisão de 100g, para o peso corporal e uma fita métrica metálica flexível com precisão de 0,1cm. , para medir a estatura total e perímetros corporais.
O método utilizado para avaliar o PGC, foi o Near-Infrared Interactance (Técnica do Infravermelho-TI), citado por Heyward (2001), Guedes e Guedes (1998) e Lohman (1992), cujo aparelho Futrex 1000, possui uma fibra ótica onde basea-se em princípios de absorção e reflexão de luz infravermelha.
Vários autores citam estudos realizados com a TI, como por exemplo, Quatrochi et all (1992), onde realizaram um estudo sobre esta técnica em relação às medidas de dobras cutâneas, com o objetivo de verificar os efeitos da idade e o nível de gordura corporal. Citam ainda que, a TI tem sido proposta como uma técnica viável no campo da estimação PGC, sendo esta mais rápida e não invasiva, requerendo ainda menos habilidade de manuseio do que o compasso de dobras cutâneas.
3.4. Tratamento experimentalDurante as 11 semanas de realização do PTGA, um dos cuidados especiais que foi tomado, é o que diz respeito à elaboração das aulas propriamentes ditas. Não obstante, no decorrer do percurso esse plano sofreu pequenas variações e adaptações em relação à sua coreografia inicial. Porém, respeitando os princípios básicos propostos da aula de GA relacionados com a intensidade e duração.
O tratamento experimental para os grupos experimentais (GE1=3 vezes por semana e GE2=2 vezes por semana) foi semelhante, diferenciando-se, como é evidente, apenas no número de sessões semanais praticadas. A intensidade do treinamento foi controlada através dos percentuais de pulso máximo, tendo sido utilizada a tabela de frequência cardíaca (FC) da zona alvo de treino aeróbio (TA) apresentada por Jucá (1993).
Na fase aeróbia da aula, a FC foi controlada 3 vezes: no início , na metade e no final desta fase, com o intuito de avaliar se a intensidade da aula mantinha-se em zona adequada de TA. O grupo que não realizou o PTGA (GC= grupo de controle), não foi submetido a qualquer programa de treinamento, tendo sido avaliado o seu PGC em duas oportunidades (pré teste e pós teste), com espaçamento de 11 semanas.
3.5. Procedimento estatísticoCom o intuito de testar a fidedignidade da avaliação inicial na detecção do PGC de cada um dos sujeitos participantes do estudo, foi calculado o Coeficiente de Correlação Linear de Pearson (Dagnelie, 1973) entre os resultados obtidos no teste e reteste, após passados 3 dias.
Tabela 1 - Índices de correlação para cada um dos sub-grupos amostrais
Para a análise de comparação dos dados obtidos no pré e pós teste do mesmo grupo amostral não-casualmente definido, dividido em três sub-grupos, e para definir se houve diferenças significativas entre eles, utilizou-se, primeiramente a análise de variância (ANOVA) a um critério de classificação. Num segundo instante, depois de analisados os primeiros resultados obtidos da ANOVA, utilizou-se a análise de covariância (ANCOVA), que permite equalizar possíveis diferenças iniciais já existentes entre os grupos, e que segundo Thomas e Nelson (1990), é uma combinação de regressão e ANOVA, pois reúne um conjunto de métodos que, em particular, permite aumentar a precisão da ANOVA pela introdução de certos processos de regressão (Dagnelie, 1973).
4. Apresentação e discussão dos resultadosA partir dos resultados do pré teste, realizou-se a ANOVA a um critério de classificação (One Way), para verificar se existem diferenças significativas entre as médias dos sub-grupos amostrais. Os resultados são mostrados na Tabela 2.
Tabela 2- Resultados da ANOVA (One Way) no pré teste para os sub-grupos amostrais
Significante a 0.05
É possível verificar na Tabela 2, a existência de diferenças significativas nos resultados do pré teste referente as médias dos sub-grupos amostrais quando comparadas entre si (p>0.05). Portanto, com o propósito de ajustar os valores médios apresentados no pós teste aos valores iniciais (pré teste), recorreu-se à ANCOVA. Na Tabela 3 são apresentados os resultados obtidos na ANCOVA relativos as médias dos sub-grupos amostrais no pré teste, pós teste e valores ajustados.
Tabela 3 - Valores das médias do PGC ajustadas do pré e pós teste para cada
um dos
sub-grupos como também o valor de F
Os resultados apresentados na Tabela 3, evidenciam que houve diferenças estatisticamente significativas (p=0.026). Isto significa que mesmo depois de ajustar os valores finais aos valores no início, os grupos permanecem diferentes nas suas respostas médias ao programa proposto.
Isto pode sugerir que o número de sessões práticas do PTGA nestes casos, possa ter tido uma influência maior na diminuição do PGC, para o GE1.
A Tabela 4 apresenta os resultados relativos às médias (X) e desvios padrões (SD) destas diferenças encontradas.
Tabela 4- Médias e desvios padrões das diferenças do percentual de gordura obtidas
nos sub-grupos amostrais entre o pré teste e pós teste
Na Tabela 4, nota-se mais uma vez a superioridade do grupo experimental que praticou GA 3 vezes semanais (GE1), em relação à média (X) das diferenças do PGC entre o pré e o pós teste, quando comparado com o grupo que praticou GA somente 2 vezes semanais (GE2). Quanto ao GC, manteve-se praticamente com os mesmos valores em relação ao pré e pós teste.
Numa outra análise dos resultados do PGC, são apresentadas na Tabela 5 as diferenças dos PGC entre o pré teste e o pós teste em cada um dos sujeitos dos 3 sub-grupos amostrais, com o intuito de verificar se houve ou não diferenças no PGC dos sujeitos dos grupos experimentais (GE1 e GE2) em referência ao GC.
Tabela 5 - Diferenças PGC entre o pré teste e o pós teste em cada sub-grupo
amostral
para cada sujeito
Na Tabela 5, verifica-se que as diferenças na diminuição do PGC, entre o pré e o pós teste, foram maiores no GE1 do que no GE2.
Contudo, o mesmo GE1, obteve somente 2 diferenças positivas, enquanto que o GE2, obteve 4 diferenças positivas. Isto pode sugerir que o número de sessões práticas do PT nestes casos, possa ter tido uma influência maior na diminuição do PGC, para o GE1.
5. Conclusões
Partindo das análises estatísticas complementares (Tabelas 3 e 4), pode-se constatar que as diferenças na ocorrência da diminuição do PGC, foram maiores no GE1 do que GE2. Isto reforça as conclusões anteriores, na medida que, o número de sessões praticadas no PTGA é fator interveniente na diminuição do PGC, tendo em vista que o planejamento (coreografia e distribuição dos exercícios) das aulas ou sessões práticas foi o mesmo para os dois grupos experimentais, obedecendo sempre a duração e intensidade das fases da aula de GA.
Em síntese, tendo como referência a população investigada, pode-se sugerir pela evidência, que o PTGA, com duração de 1hora, numa frequência semanal de 3 dias, num período compreendido de 11 semanas, e com uma assiduidade de no mínimo 70% nas sessões práticas, parece ser suficiente para proporcionar diminuição nos níveis de PGC.
Bibliografia
Colégio Americano de Medicina Esportiva: Manual para Teste de Esforço e Prescrição de Exercício. Rio de Janeiro: Revinter, 1996.
Cooper, K.H.: O Programa Aeróbico para o Bem-Estar Total. 3ªed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1982.
Dagnelie, P.: Estatística, Teoria e Métodos. 1ºvol. Europa-América, 1973.
Dowdy, D. et all: Effects of Aerobic Dance on Physical Work Capacity, Cardiovascular Function and Body Composition of Midlle-Aged Womem. Research Quarterly for Exercise and Sport, vol.56, nº3, 1985.
Futrex 1000 - Body Fat Tester, Body Composition Analyzer Manual : Futrex, INC., 1989.
Guedes, D. e Guedes, J. - Controle do Peso Corporal, Composição Corporal, Atividade Física e Nutrição; Londrina: Midiograf, 1998.
Guiselini, M. e Barbanti,V.: Fitness Manual do Instrutor. São Paulo: Balieiro, 1993.
Heyward, Vivian: Evaluación y Prescripción del Ejercicio:. 2ª ed. Barcelona: Paidotribo, 2001.
Jucá, M.: Aeróbica e Step Bases Fisiológicas e Metodologia. Rio de Janeiro: Sprint,1993.
Kerlinger,F.: Investigación del comportamiento: Técnicas y metodologia. 2ª ed. México:Interamericana, 1979.
Levin, J.: Estatística Aplicada a Ciências Humanas. 2ª ed. São Paulo: Harbra, 1987.
Lohman, T.: Advances in Body Composition Assessment. Champaing: Human Kinetcs Books, 1992.
Quatrochi, J. et all: Relationship of Optical Density and Skinfold Measurements: Effects of Age and Level of Body Fatness. Research Quarterly for Exercise and Sport, vol.63 nº4, 1992.
Thomas, J. e Nelson, J.: Research Methods in Physical Activity. 2 ed. Champaing: Human Kinetcs Books, 1990.
Vaccaro, P. e Clinton, M.: The effects of aerobic dance conditioning on the body composition and maximal oxigen uptake of college women. Journal Sports Medicine: vol.21, 1981.
revista
digital · Año 10 · N° 69 | Buenos Aires, Febrero 2004 |