Temperamento e traços de personalidade de atletas de orientação |
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*Licenciada em Educação Física/UFSM Especialista em Aprendizagem Motora/UFSM Mestre em Ciência do Movimento Humano/Desenvolvimento Humano/UFSM Doutoranda do programa de pós-graduação em Psicologia pela PUC/RS Profa. do CEFD/UFSM **Acadêmicos do Curso de Educação Física: Licenciatura Plena. UFSM |
Maria Cristina Chimelo Paim* Érico Felden Pereira y Jane Maria Carvalho Villis** crischimelo@bol.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 68 - Enero de 2004 |
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Introdução
O ser humano é dotado de características que o diferenciam dos demais, que o fazem um ser único, é capaz de realizar complexas relações no seu meio e cada pessoa pode reagir de maneiras diferentes a uma mesma situação ou estímulo. Podemos dizer que a individualidade é uma marca do homem e se forma a partir de um conjunto de fatores como a genética, o meio em que vivem ou mesmo acontecimentos durante sua vida. O homem trás consigo marcas e potencialidades desde o seu nascimento e que dentro de certos limites poderão ser influenciados por diversos fatores. Esse conjunto de características herdadas e adquiridas irão formar a personalidade do indivíduo que será própria de cada ser, e determinante no rumo que sua vida irá tomar, suas decisões e até mesmo a profissão que irá seguir (Allport, 1966).
A personalidade é um fenômeno complexo e existem várias definições para ela. Segundo Allport (1966), personalidade é a organização dinâmica, no indivíduo, dos sistemas psicofísicos que determinam seu comportamento e seu pensamento característicos, são as relações do conjunto, corpo-mente que interagem mutuamente e que motivam e influenciam seus pensamentos e atos e será determinante no processo de adaptação do indivíduo. Nuttin (1969) nos coloca que a personalidade é uma construção científica que tenta definir a partir de comportamentos observados a maneira de ser e funcionar do organismo pscicofísiológico que é a pessoa humana.
Segundo Singer (1986), a personalidade é a forma única do indivíduo se expressar e reagir a determinado estímulo; é formada através dos anos a partir da estrutura básica herdada geneticamente e que através das experiências de vida, principalmente as vividas na infância, pode se revelar de diferentes formas, trazendo à tona ou reprimindo tendências comportamentais. Para Lawther (1978), a personalidade é um termo usado para caracterizar o indivíduo e se forma à medida que a pessoa cresce e se relaciona com o meio e o temperamento é o um termo usado para indicar a natureza das reações mentais e emocionais.
Para Allport (1966), existem "materiais brutos" que formam a personalidade, como a inteligência, o físico e o temperamento e são os aspectos da personalidade que mais dependem da hereditariedade. O temperamento segundo o autor refere-se aos fenômenos característicos da natureza emocional do indivíduo, incluindo a suscetibilidade à estimulação, a intensidade e rapidez usuais de resposta, a sua disposição bem como as peculiaridades de flutuação e intensidade de disposição. O temperamento poderá ser alterado, até certos limites, por influências médicas, cirúrgicas e de nutrição bem como no decurso da aprendizagem e das experiências de vida.
Um dos sistemas mais aceitável para o estudo do temperamento, e o que nós utilizaremos neste estudo, liga os tipos de temperamento com a atividade do sistema nervoso central e é conhecida como a teoria do temperamento de Pavlov e possui grande aplicabilidade no esporte. Na metade do século XX Pavlov apud Kalinine & Schonardie Filho (1992), com base em investigações sobre o funcionamento do sistema nervoso nos animais, observou que a capacidade dos seres vivos de adaptarem-se em suas vidas ao ambiente em que vivem, depende do seu tipo de sistema nervoso. Desta forma podemos facilmente perceber pessoas que vivem em um mesmo local e que tiveram aparentemente os mesmos estímulos agirem de maneira diferente, por exemplo, pessoas que precisam constantemente de estímulos para produzir, outras auto-suficientes; pessoas mais retraídas e outras mais alegres e assim por diante.
Outra teoria importante para o estudo da personalidade é a de Eysenck que baseia-se nos traços de personalidade, pelos quais se acredita capaz de predizer muitos comportamentos individuais e sociais. Eysenck (1968) considera estes traços como uma dimensão da personalidade, e identificou o que segundo ele, seriam as duas dimensões primárias da personalidade: extroversão e neurotismo. O autor considera que estas dimensões são representativas da atividade nervosa, desta forma a extroversão é um contínuo entre extroversão e introversão e o neurotismo é um contínuo entre neurotismo (instabilidade emocional) e estabilidade emocional (psicotismo). Estas dimensões permitem essencialmente uma descrição do comportamento das pessoas.
No esporte a preparação psicológica será tão importante quanto à preparação física ou técnica e assim como podemos perceber características físicas que se sobressaem em determinado esporte também verificamos características psicológicas em diferentes modalidades esportivas. Segundo Samulski (1992) a importância da atividade física no desenvolvimento da personalidade á reconhecida tanto pelas ciências do esporte com para professores, treinadores e atletas. Pessoas com determinada estrutura da personalidade se interessam por modalidades esportivas especiais ou por determinada forma de prática esportiva. Assim algumas características como sociabilização, estabilidade emocional e motivação para o rendimento esportivo se desenvolvem com a prática esportiva e também para o rendimento esportivo serão necessárias características de personalidade como capacidade de liderança, dominância, extroversão e comunicação social.
A preparação psicológica de atletas e equipes será de essencial importância e definitiva no sucesso no esporte, principalmente o de competição. Para que esta preparação seja de qualidade é preciso conhecer o grupo em que se irá trabalhar, as características individuais dos atletas e parâmetros psicológicos específicos dos atletas de determinada modalidade esportiva. Através dos tipos de temperamento e traços de personalidade teremos uma base do comportamento dos atletas que praticam, no caso deste estudo, o esporte Orientação.
O esporte Orientação é reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional desde 1977 e é praticado principalmente na Europa, sendo que no Brasil, é muito praticado por militares e por grupos de escoteiros. A orientação é um esporte no qual os atletas, com a ajuda do mapa e da bússola percorrem um terreno natural, passando por pontos pré-determinados no menor tempo possível (Confederação Brasileira de Orientação, 2002).
Segundo Samulski (1992) existem diferenças na personalidade em atletas de diferentes modalidades esportivas. O autor cita duas pesquisas que sustentam esta idéia: Kane (1970) verificou que os sprinters e lançadores são mais extrovertidos que atletas de meio fundo, indicando que introversão aumenta quando a distância aumenta, sendo os corredores de maratonas em sua maioria introvertidos, surgindo claras diferenças entre esportes individuais e coletivos e Ogilvie & Tutko (1971) comprovou que nas modalidades individuais os atletas tendem mais à introversão, são menos motivados para contatos sociais, tem um nível maior de agressividade e parecem ser mais criativos do que os esportistas de modalidades coletivas que tendem mais à extroversão e são mais motivados para estabelecer contatos sociais.
O esporte Orientação ainda é pouco estudado, não sendo encontrados estudos sobre o esporte principalmente no Brasil. Em Santa Maria, pelo grande número de militares, existem muitos atletas orientadores que competem nacional e internacionalmente. Desta forma se faz necessário o estudo tanto da aptidão física destes atletas como das características psicológicas, com o objetivo de conhecermos melhor estes atletas e contribuir para um melhor programa de treinamento.
Sabe-se que o atleta de Orientação deverá ter um alto nível de adaptabilidade, pois terá que percorrer terrenos desconhecidos como campos e florestas nunca antes estados. Poder de decisão rápida e capacidade de concentração mesmo com a fadiga corporal, pois terá quer fazer a leitura precisa da bússola e escolher o melhor caminho a ser seguido, também serão características importantes para quem pratica este esporte. Desta forma buscando-se contribuir para o entendimento das teorias do temperamento e do esporte em questão esta pesquisa teve por objetivo verificar e analisar qual o tipo de temperamento e como se comportam os traços de personalidade em atletas de Orientação.
Material e métodoEsta pesquisa caracteriza-se como sendo descritiva. Fizeram parte da amostra 16 atletas do sexo masculino da equipe de elite de Orientação dos quartéis da cidade de Santa Maria - RS. Após convite ao chefe das equipes de Orientação das Unidades Militares houve, através da Confederação Brasileira de Orientação, indicação dos atletas de elite existentes nas Unidades Militares de Santa Maria - RS. Os testes foram aplicados nas próprias Unidades Militares. Como instrumento metodológico optou-se pelo o "Questionário de Strelau", para o diagnóstico das Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso: Força dos Processos de Excitação (FPE), Força dos Processos de Inibição (FPI), Mobilidade (M) e Equilíbrio entre os Processos de Excitação e Inibição (E). O "Questionário de Strelau", se destacou entre outras metodologias pelo se grau de fidedignidade r>0,9, objetividade r>0,9, e validade r>0,9, para p <0,05. Este instrumento permite ao pesquisador discriminar os seres humanos por temperamentos: sanguíneos, coléricos, fleumáticos e melancólicos (Strelau, 1982; Viatkin, 1978). A validação para a língua portuguesa, do "Questionário de Strelau", se realizou mediante a aplicação da versão russa e da versão portuguesa em 11 pessoas que dominavam ambos os idiomas. O coeficiente de correlação foi de r = 0,94 com p < 0,001. Para o diagnóstico dos Traços de personalidade Extroversão/Introversão (EX-IN) e Instabilidade/Estabilidade Emocional (I-EE), utilizou-se o "Questionário de Eysenck". A validação para a língua portuguesa, do "Questionário de Eysenck", realizou-se mediante a aplicação da versão russa e da versão portuguesa em 10 pessoas que dominavam ambos os idiomas. O coeficiente de correlação foi de r = 0,92 com p < 0,001 (Kalinine, 1994). O Tipo de Sistema Nervoso bem como a identificação da tendência a determinado tipo de Temperamento se deu através da análise das Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso anteriormente citadas. Para análise dos dados foi realizada uma estatística descritiva com e média e desvio padrão dos índices pesquisados e também uma análise para verificação do tipo de Sistema Nervoso e da tendência a determinado tipo de Temperamento. Houve o consentimento dos participantes do estudo em relação à coleta e divulgação dos dados.
Resultados e discussõesInicialmente faz-se a apresentação e discussão dos resultados da identificação dos índices das Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso e dos Traços de Personalidade dos atletas de Orientação que fizeram parte deste estudo. Após, serão apresentados os resultados referentes ao tipo de temperamento, onde será verificado se algum temperamento se destacou nos atletas de Orientação.
TABELA 01 - Média e desvio padrão das Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso (PTSM): Força dos Processos de Excitação (FPE); Força dos Processos de Inibição (FPI); Mobilidade (M) e Equilíbrio (E) dos atletas de Orientação.
Onde: M - atletas do sexo masculino, n=16
Na Tabela 01 temos os resultados da investigação das Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso onde foram encontrados os seguintes valores de média e desvio padrão: FPE 70,12 ± 10,54, FPI 68,25 ± 10,90, M 63,37 ± 9,79, E 1,03 ± 0,12 Os valores das Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso encontrados em atletas de Orientação quando comparados com indivíduos não atletas apresentam-se mais altos. Segundo Kalinine e Giacomini (1998) os valores das Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso (FPE, FPI, M e E) para não atletas são respectivamente 58,9; 56,8; 60 e 1,04.
A Força dos Processos de Excitação nos atletas de Orientação obteve valores médios de 70,12. Esta peculiaridade segundo Merlin (1973) e Paim (2002) é uma peculiaridade que influencia em todas as outras e determinante no processo de desenvolvimento do comportamento. A FPE segundo Petrovski (1985) caracteriza o limite da capacidade de trabalho das células nervoso do córtex e do encéfalo, ou seja, a sua capacidade de suportar altos estímulos, sem entrar no estado de inibição. Merlin (1973) nos coloca que pessoas cujo sistema nervoso têm alto nível da Força dos Processos de Excitação se formam, na maioria dos casos, pessoas corajosas, ativas, extrovertidas e auto-confiantes. Por outro lado, pessoas que têm baixo nível da força dos processos de excitação do sistema nervoso, na maioria dos casos, se tornam introvertidos, melindrosas, pouco ativas e pouco confiantes.
A Força dos Processos de Inibição em atletas de Orientação obteve valores de médios de 68,25. A pessoa com FPI alta caracteriza-se por ter a capacidade de ser discreto em emoções, condutas, ações e reações e segundo Pavlov apud Petrovski (1985), é um componente necessário na atividade integral e de coordenação do sistema nervoso.
A Mobilidade em atletas de Orientação obteve valores médios de 63,37. O Nível de Mobilidade do Sistema Nervoso é uma das principais propriedades do sistema nervoso, que consiste na capacidade de reagir rapidamente às mudanças do ambiente (Petrovski, 1985). O nível de mobilidade dos processos de excitação e inibição que ocorre no sistema nervoso caracteriza a facilidade para passar de uma atividade para a outra com velocidade de adaptação a novas condições.
Os valores encontrados nos atletas orientadores, como já foi citado anteriormente, foram mais elevados que em indivíduos não atletas o que vem ao encontro das características do esporte em que os atletas devem se adaptar a diferentes situações e terrenos desconhecidos com rapidez.
O Equilíbrio em atletas de Orientação apresentou valores de 1,03 em média. O Equilíbrio dos Processos de Excitação e Inibição que ocorrem no sistema nervoso do homem, é uma peculiaridade que se revela pela proporção entre os processos de excitação e dos processos de inibição (Petrovski, 1985). A noção de equilíbrio dos processos nervosos foi introduzida por Pavlov, e foi considerada por ele, como uma das independentes peculiaridades do sistema nervoso e, formando junto com as outras peculiaridades do sistema nervoso (força e mobilidade) o tipo de atividade nervosa superior. Segundo Kalinine & Giacomini (1998) os valores médios para indivíduo não atletas são 1,04. Segundo estes autores se o Equilíbrio (E) for de 0,9 até 1,1 o homem possui sistema equilibrado. Se E > 1,1 o homem possui sistema nervoso desequilibrado no lado da prevalência dos processos de excitação caso dos valores encontrados para os atletas de Orientação pesquisados neste estudo. Ainda se E < 0,09 o homem tem sistema nervoso desequilibrado no lado da prevalência dos processos de inibição.
Os resultados encontrados nos atletas de Orientação referentes às Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso são ligeiramente mais altos se comparados com os valores encontrados por Paim (2002) que investigou Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso e os Traços de Personalidade em estudantes universitários de Educação Física, os valores encontrados nestes estudantes foram : FPE 64,68 - FPI 64,53 - M 62,72 - E 1,01.
Os valores das Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso são semelhantes aos encontrados em atletas de handebol por Kalinine & Giacomini (1998). Nos atletas de handebol os valores encontrados em média para a FPE foram 70,5 enquanto que nos atletas de Orientação 70,12; em relação a FPI nos atletas de handebol o valor foi de 67,5 sendo encontrados valores de 68,25 nos atletas de Orientação; a M nos atletas de Orientação obteve uma maior diferença sendo de 63,37 enquanto que nos atletas de handebol foram encontrados valores de 67; quanto ao E os valores continuam sendo semelhantes ficando em 1,06 nos atletas de handebol e 1,03 nos atletas de Orientação. Pequenas diferenças entre os valores encontrados nestas duas modalidades podem ser devido às características dos esportes em questão, já que, o handebol é um esporte eminentemente coletivo enquanto que a Orientação é um esporte individual. Ainda a partir desta análise podemos inferir que atletas de elite inclusive os atletas de Orientação pesquisados se caracterizam como uma população diferenciada quando analisamos as Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso.
TABELA 02 - Média e desvio padrão dos Traços de Personalidade: Extroversão-introversão (EX-IN) e Instabilidade-Estabilidade Emocional (IEE) dos atletas de Orientação.
Na Tabela 02 temos os resultados dos traços de personalidade (Extroversão-Introversão e Instabilidade-Estabilidade Emocional), onde foram encontrados os seguintes valores de média e desvio padrão: EX-IN 13,18±4,53 e I-EE 9,12±3,81.
Os valores dos Traços de Personalidade obtiveram uma pequena diferença em favor dos universitários investigados por Paim (2002) que obtiveram os seguintes resultados: EX-IN 13,51 e I-EE 11,61. Segundo Eysenck apud Samulski (1992) tanto atletas de categorias elevadas e médias quanto estudantes de Educação Física tendem para um temperamento extrovertido e os desportistas principalmente os de alto rendimento apresentam valores mais baixos de neuroses sendo menos permeáveis ao medo do que os não desportistas. Os achados na presente pesquisa corroboram com Eysenck apud Samulski (1992) e Paim (2002), pois os atletas de Orientação mostram uma tendência a extroversão e a baixo nível de neurose.
Para Extroversão-Introversão (EX-IN), quando comparado com os índices oriundos dos estudos de Eysenck apud Singer (1986), realizado através do EPI (Eysenck Personality Inventory), em atletas olímpicos do sexo masculino onde identificou índices de aproximadamente 15,0. Através da análise dos resultados pelo Eysenck Personality Inventory são considerados para introversão índices menores e para extroversão índices maiores, tendo como referência média índices equivalentes a 12,5. Através dessa comparação pode-se inferir que os índices obtidos no presente estudo encontram-se acima da média estipulada por Eysenck, indicando que os atletas de Orientação apresentam tendência a Extroversão.
Para o traço Instabilidade-Estabilidade Emocional (I-EE), quando comparado com os índices oriundos dos estudos de Eysenck apud Singer (1986), realizado através do EPI (Eysenck Personality Inventory), em atletas olímpicos do sexo masculino, identificou índices de aproximadamente 7,5. Através da análise dos resultados pelo EPI são considerados para Estabilidade Emocional índices menores e para Instabilidade Emocional índices maiores, tendo como referência média índices equivalentes a 9,0. Através dessa comparação pode-se inferir que os índices obtidos no presente estudo, encontram-se abaixo da média considerada por Eysenck, indicando que os atletas de Orientação pertencentes a amostra apresentam tendência a Estabilidade Emocional e são estáveis em suas emoções.
TABELA 03 - Média das Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso, agrupadas conforme o tipo de temperamento dos atletas de Orientação.
Os dados da tabela 03, mostram que 62,50% dos atletas de Orientação apresentam Sistema Nervoso Alto, ficando distribuídos da seguinte maneira: 31,25% atletas de Orientação apresentam tendência ao temperamento Colérico, 12,50% dos atletas ao temperamento Sanguíneo e 18,75% apresentam tendência ao temperamento Fleumático. Ainda 25,00% dos atletas de Orientação apresentam Sistema Nervoso Intermediário, mostrando tendência ao temperamento intermediário e 12,50% dos atletas de Orientação apresentam Sistema Nervoso Baixo, e desta forma, tendência ao temperamento Melancólico.
A maior incidência de atletas de Orientação possuem uma tendência ao temperamento Colérico. Pessoas com este temperamento possuem como características, ser impaciente, possuir iniciativa, teimoso, possui fala rápida e apaixonada, com gestos acentuados, muda rapidamente de humor, e inclinado ao perigo, gosta de situações novas e desafiadoras (Paim, 2002; Kalinine & Giacomini, 1998). A Orientação trata-se de um esporte considerado por seus praticantes como radical, devido aos desafios da natureza onde é praticado. Seus atletas devem possuir, além da aptidão física apurada, capacidade de percorrer caminhos em lugares nunca antes estados como campos, matas fechadas, terrenos íngremes, etc. Características que vêem ao encontro das particularidades do tipo de temperamento mais destacado nesta amostra.
Ainda dentro do tipo de Sistema Nervoso Alto, 12,50% possuem a tendência ao temperamento Sanguíneo. Segundo Paim (2002); Kalinine & Giacomini (1998) pessoas com este temperamento são do tipo: alegres e vívidos, energéticos e empreendedores, assimilam rapidamente o novo, suportam as derrotas facilmente, assumem novas tarefas apaixonadamente, falam rápido, alto e claro, conservam o autocontrole em situações inesperadas e complexas, são sociáveis, têm boa resistência e capacidade de trabalho, se este lhe interessa.
Da mesma maneira, ainda com Sistema Nervoso Alto, 18,75% dos atletas de Orientação pesquisados possui tendência ao temperamento Fleumático. Pessoas com este tipo de temperamento são calmos e de sangue frio, cuidadosos e controlados, responsáveis nos empreendimentos, falam calmo e sem gestos e são constantes em suas relações com as pessoas (Paim, 2002; Kalinine & Giacomini, 1998). As característica tanto do temperamento Sanguíneo quanto do temperamento Fleumático, são características necessárias a um bom desempenho em provas de Orientação.
Foi verificado que 25,00% dos atletas de Orientação possuem tendência ao temperamento Intermediário. Em estudos atuais Kalinine & Giacomini (1998), identificaram um quinto traço, que eles consideram como sendo a mistura de todos os outros quatro traços de temperamentos, o chamado Intermediário, na qual supõem-se que a maioria das pessoas se encontrem nesta quinta categoria. O temperamento Intermediário é o temperamento com maior plasticidade, ou seja, possui maior poder de adaptação. Podemos fazer de intermediários bons atletas, dependendo apenas do treinamento. Atletas com este temperamento aceitam bem as regras e normas. Se bem treinados são bons em qualquer modalidade esportiva e desta forma encontraremos atletas com tendência a este tipo de temperamento em qualquer equipe de qualquer esporte.
Também foi verificado que 12,50% dos atletas de Orientação possuem tendência ai temperamento Melancólico. Pessoas com este tipo de temperamento possuem as seguintes características: são tímidos e retraídos, tristes e mal humorados, pessimistas, perdem-se facilmente em novas situações, não acreditam em suas potencialidades, reservados e insociáveis, sensíveis e ferem-se com facilidade e são inclinados à suspeitas e dúvidas.
Na maioria dos atletas de Orientação foi identificado o tipo de Sistema Nervoso Alto. Segundo Viatkin (1978), no esporte os tipos de temperamento correspondentes a este tipo de Sistema Nervoso se manifestam da seguinte maneira: o atleta Colérico tem preferência por modalidades esportivas com alto nível de emoção e movimentos intensos e rápidos. Com prazer e paixão começa a praticar a modalidade esportiva escolhida, mas o entusiasmo logo desaparece. Os coléricos executam a contragosto o trabalho exigido nos treinamentos prolongados, principalmente os exercícios de força e resistência, mas possuem a capacidade de repetir muitas vezes um exercício perigoso e difícil, se provocado o seu interesse. Possuem tendência antes das competições de estarem em estado de hiperexcitação, o que freqüentemente não os permite a realização plena de suas potencialidades nas competições.
O atleta sanguíneo dá preferência para modalidades esportivas que exijam coragem, e ligadas com um alto nível de mobilidade. Facilmente se transferem de um exercício para outro tipo de atividade, mas seu nível de assiduidade e de concentração são insuficientes, principalmente em atividades monótonas. No atleta Fleumático os processos de excitação e inibição que ocorrem no sistema nervoso deste tipo são fortes. São pessoas inertes, de difícil iniciativa, embora quando tomada é levada até o fim; a sensibilidade tem nível baixo. Apresentam dificuldade de passar deu uma atividade para outra. A aprendizagem de movimentos acontece lentamente, mas após aprendidos se destacam pelo alto nível de solidez e conservadorismo.
Como regra estes atletas são persistentes e perseverantes, com nível de sociabilidade neutro. Seus resultados esportivos são estáveis, imediatamente antes da competição estes atletas estão em estado de combate (Viatkin, 1978).
Conclusões
Analisando os resultados adquiridos nesta pesquisa, chegamos as seguintes conclusões:
Os índices referentes às Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso encontradas em atletas de Orientação são diferentes e mais elevados quando comparadas com os índices das Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso, verificados em homens não atletas;
Os resultados referentes à investigação das Peculiaridades Tipológicas do Sistema Nervoso ainda nos permitiram verificar que estas possuem grande semelhança à atletas de elite de outras modalidades esportivas; Quanto aos Traços de Personalidade possuem tendência a extroversão e à estabilidade emocional e desta forma caracterizando indivíduos menos permeáveis ao medo do que pessoas não desportistas e estáveis em suas emoções. Os valores encontrados nesta análise também são semelhantes aos resultados obtidos por atletas de elite de outras modalidades esportivas.
Os atletas em sua maioria apresentam tendência ao Sistema Nervoso Alto e desta forma aos temperamentos Colérico, Sanguíneo e Fleumático, caracterizando, no geral, pessoas corajosas que gostam de situações desafiadoras e que também tendem a ter dificuldades em realizar trabalhos repetitivos bem como situações monótonas. Estas informações devem ser observadas quando da prescrição de treinamento para atletas de Orientação.
Os resultados encontrados nesta pesquisa poderão ser utilizados por equipes de Orientação como um dos parâmetros tanto para seleção de atletas jovens, quanto para verificar se os atletas possuem características que os possam levar a competir em alto nível.
Ainda através dos resultados encontrados neste estudo será possível o planejamento da preparação psicológicas de atletas de Orientação, tanto nos treinamentos como em competições com o objetivo que estes atletas consigam desenvolver ao máximo seu potencial no esporte.
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revista
digital · Año 10 · N° 68 | Buenos Aires, Enero 2004 |