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Perfil somato-motor de goleiras de
futebol feminino na pré-temporada

   
UFRGS
(Brasil)
 
 
Alex Leal Oliveira
oliveiraalexleal@ig.com.br
 

 

 

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 68 - Enero de 2004

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    A estrutura do futebol feminino no Estado e no Brasil ainda é muito precária, mas nem por este motivo nós profissionais da educação física e principalmente do futebol, podemos deixar de utilizar a avaliação funcional como método para verificar como está as qualidades físicas de nossos atletas no inicio do treinamento e se ele terá um desenvolvimento adequado no decorrer dos treinamentos.

    Muitos autores caracterizam a pré-temporada como período preparatório, Matveev (1997) expõem que nesta fase de treinamento deve criar e desenvolver as premissas necessárias para o aparecimento da forma desportiva. Vicente (2000) completa que também existe uma influencia do treinamento de pré-temporada no perfil cineantropométrico de jogadores de futebol profissional.

    Como colocado por Teixeira et al (1999) o controle fisiológico das cargas de treinamento provenientes da avaliação funcional é uma medida que deve ser valorizada, pois as informações obtidas podem determinar treinamentos objetivos para o aumento da aptidão física do futebolista.

    O principal objetivo deste estudo é apresentar índices de aptidão física em goleiras de futebol do S. C. Internacional pertencente à equipe adulta feminina no período de pré-temporada para o Campeonato Gaúcho Feminino do ano 2000.

    Entretanto, apesar da falta de estrutura tecnológica que temos no futebol feminino, o emprego da avaliação funcional como procedimento para verificar se o nível de aptidão físico está adequado a performance e/ou detectar possíveis deficiências que possam interferir no desempenho atlético das goleiras, durante os treinamentos e jogos. A idéia principal é que a avaliação funcional vai fornecer elementos para o planejamento do treinamento, detectando variáveis que estão associadas ao rendimento desportivo.


Material e metodos

    A amostra desse estudo é composta por 3 atletas de futebol de campo que atuem na posição de goleiro, do sexo feminino, na faixa etária de 15 a 26 anos, com média de três anos de prática de atividades com futebol, do clube de futebol S. C. Internacional de Porto Alegre. Goleiras estas pertencentes à equipe Adulta feminina.

    As variáveis a serem controladas neste estudo serão as seguintes: qualidades antropométricas, divididas em estatura, massa corporal, índice de massa corporal e percentual de gordura, foi utilizada a fórmula de Yuhasz, modificada por Falkner; composições corporais divididos em peso musculares (Matiegka), peso ósseo, peso residual (Würch), peso de gordura (Faulkner) e massa corporal magra; qualidades metabólicas divididas em VO2max em l/min e ml/kg/min (Teste de correr 12 min de Cooper), limiar anaeróbico (Mine, Barros, Lotufo et al, 1996), potência alática (Ananias et al, 1998) e freqüência cardíaca máxima; e neuromotor dividido em velocidade de reação (Régua de 60 cm), potência de membros inferiores (Sargent Jump Test), agilidade (Shuttle Run) e resistência abdominal (Abdominais por minuto).

    Para descrevermos o perfil das goleiras em relação às áreas antropométricas, funcional e motora, usaremos a estatística usual de média (X) e desvio padrão (sd).


Resultados

    Os resultados estão listados nas tabelas 1, 2, 3 e 4. A descrição das variáveis será feita adotando a estatística usual de média e desvio padrão.





Comentários e discussão

    O goleiro de futebol desenvolve uma atividade diferenciada se comparada com jogadores que atuem nas posições de linha (laterais, meias, etc), por isso que devemos executar uma avaliação funcional diferenciada para este tipo de atleta. Estes tipos de avaliação são válidos para os goleiros serem avaliados em sua especificidade, pois como é mostrado em um estudo de Weineck em que ele verificou que seus atletas internacionais, corredores de maratona, não suportavam mais que 15 minutos de um jogo de futebol, não porque lhes faltasse capacidade cardiorrespiratória, mas sim, especificidade.

    A potência aeróbica é conhecida como VO2 max ou VO2 pico tem sido aceita como um dos parâmetros fisiológicos com um dos melhores indicadores da capacidade para o exercício de longa duração. Entretanto, alguns estudos demonstram que em indivíduos saudáveis as diferenças genéticas contribuem, significativamente, para sua variabilidade. As vantagens de se ter uma potência aeróbia elevada é apresentada em vários estudos (Donavan & Brooks, 1983; MacRae & Denis, 1992), estes verificaram que níveis elevados de oxigênio exercem importante papel na recuperação mais rápida da energia proveniente do sistema fosfagênio (ATP-CP), responsável por fornecimento de energia durante períodos de alta intensidade.

    Tentando fazer uma comparação com dados para futebol feminino, são escassos os estudos que separam por posição os índices de potência aeróbica. Recentemente o laboratório de fisiologia do exercício da Associação Portuguesa de Desportos publicou um estudo (Silva e Andrade, 1999), cujo valor médio de potencia aeróbica foi de 47,3 ml.Kg-1. min-1, no grupo de jogadoras que se sagraram campeãs do Campeonato Paulista de 1998.

    Rhodes & Mosher verificaram, em 12 jogadoras universitárias canadenses de elite, valor médio de 47,1 ml.K-1.min-1. Resultado semelhante foi encontrado por Evangelista et al, que verificaram em jogadoras italianas o valor de 49,75 ml.Kg-1.min-1(Silva e Andrade, 1999). No futebol italiano foi de 50,7 ml.kg-1.min-1 no teste de Cooper (Leali et al, 1996).

    Os resultados médios do presente estudo, em valores absolutos de VO2max encontrado foi de 42,69 ml . Kg-1 . min-1 observando-se uma grande variabilidade nos resultados que foi de (sd) 6,19. Mas quando expresso em valores relativos variou (sd) 0,27 com um VO2 médio de 2,68 l.min-1. Verificou-se valores abaixo aos verificados pelos pesquisadores já citados, mas isto já era esperado. Pois as atividades do goleiro se diferenciam pela rota metabólica que este utiliza durante a partida. Quando comparados com jogadores de linha, no caso dados de futebol masculino publicado por Mine, Lotufo, Barros (1996), os resultados de VO2Max obtidos indicam só haver diferença significativa entre o grupo de goleiros (54,01 ml.kg-1.min-1) e o grupo de laterais (59,90 ml.kg-1.min-1). Essa diferença já era esperada, uma vez que os primeiros durante uma partida utilizam quase que basicamente o metabolismo anaeróbico alático como fonte de energia, enquanto que os últimos dependem muito do seu metabolismo aeróbico, devido a constante movimentação em campo. Fato esse que corroborou com o estudo apresentado pela Seleção Brasileira de Futebol de 1970, que usando método indireto para mensuração de VO2max verificou-se que como média para os jogadores de linha obteve-se o valor de 56,38 ml.kg-1.min-1 e para os goleiros o valor de 48,15 ml.kg-1.min-1 .

    Mas uma das principais rotas metabólica que o goleiro utiliza, que é a anaeróbia alática teve como índices o valor de 21,04 Km/h no teste de corrida de 30m, a variação dos resultados (sd 0,77) mostra que o grupo está bastante próximo uma da outra. Mas infelizmente com estes dados não foram possíveis tecer comparações, pois são escassos os dados sobre futebol feminino neste teste da via metabólica anaeróbica alática. Ao fazer um estudo mais aprofundado poderemos verificar que no jogo o goleiro atua cerca de 70-80% da via metabólica ATP-CP. Com 20% na via metabólica Anaeróbia Lática e O2 e só O2 cerca de 5-10% do total de esforços.

    Outras diferenças são notadas em relação ao limiar anaeróbico. O limiar anaeróbio é uma zona metabólica a partir do qual ocorre o desequilíbrio entre a produção e eliminação do ácido láctico (Denadai, 1995), e Albuquerque (2000) mostra que sua determinação tem implicações diretas com a qualidade de treinamento. Em estudo feito para analisar qual foi o impacto da posição adotado pelos jogadores masculinos em campo sobre o limiar anaeróbico constatou que os laterais ou alas e os meio-campistas apresentaram valores semelhantes de limiar anaeróbico (15,9 e 15,0 km.h-1), porem diferentes e significativamente mais elevados em comparação com os goleiros (13,8 km.h-1) (Bangsbo, 1994).

    Na comparação com outras pesquisas, os valores de limiar anaeróbicos foram muito semelhantes, aos encontrados por Jensen & Larsson (Silva e Romano, 1999) em jogadoras da seleção da Dinamarca antes do treinamento que se encontrava a 11,4 km.h-1 a 4mmol.L-1 de lactato. No estudo de Silva & Romano (1999) com as jogadoras da Associação Portuguesa de desportos o valor médio apresentado foi de 11,2 km.h-1 também em estado de pré-treinamento. O valor médio encontrado em nossas goleiras foi de 11,16 km.h-1, mas em outro protocolo, que deriva de uma formula para o teste de correr 12min de Cooper, com um coeficiente de correlação linear de Pearson direta significante de r = 0,60 para p<0,05 comparado ao método direto, em laboratório, na predição do limiar anaeróbico. Devido à baixa variação dos resultados (sd 0,97), verificou-se que os valores de limiar anaeróbico estão muito próximos, mostrando uma homogeneidade, nesta valência física, no grupo de goleiras.

    O abdome é de grande importância na nossa vida porque participa de boa parte das funções vitais (Moraes, 1999). A regularidade de exercícios abdominais ajuda na respiração e é fundamental na manutenção da postura (Grava, 2000). No teste de abdominal minuto, os resultados foram muito acima daqueles que se tem para níveis de saúde em uma tabela em função da faixa etária de Pollock (Rocha, 1995), que apresenta para faixa etária de 20 anos como nível excelente acima de 36 repetições por minuto. Levando esta tabela como referencial a média do grupo de goleira esteve muito acima destes dados, atingindo o resultado médio de 64 repetições e uma grande variação dos resultados, encontrando um desvio padrão de 19,08.

    O trabalho de agilidade para o goleiro esta inteiramente relacionado com o trabalho físico/técnico realizados quase que diariamente pelos atletas, pois os movimentos de troca e mudança de direção são constantes no seu treinamento específico. O único cuidado que se deve ter é de cobrar dos atletas que eles realizem estas movimentações o mais rápido possível. No teste de agilidade (Shuttle Run) o valor médio de 10,92seg e (sd) 0,51. Mas o teste de agilidade tradicional não satisfaz a relação com o trabalho técnico específico do goleiro, pois este avalia a agilidade sem ser específico a atividade dele, sugiro que se crie um teste de agilidade específico para avaliar esta valência física com componente técnico do goleiro.

    A necessidade de se trabalhar a potência ou força explosiva esta descrita por Vianna, (1996) que diz que, o futebol exige que os jogadores tenham a potência desenvolvida em maior proporção de membros inferiores. O trabalho de força explosiva se caracteriza pela brevidade das realizações, que por sua vez exigem contrações musculares intensas com a participação ativa da velocidade. Por isso, para suportar tais solicitações, somente estarão aptos aqueles goleiros que se submeterem a uma criteriosa preparação de sua musculatura, tendões e ligamentos. O resultado de 34,3cm, no jump test, está próximo ao encontrado no grupo de jogadoras italianas que foi de 32,1cm (Leali e Risaliti, 1996).

    Deve-se procurar com que os goleiros aprendam ou se acostumem a identificar e a reagir a estímulos variados como voz, silvo de apito, palmas ou mesmo o som produzido pelo contato do pé com a bola. O preparador deve insistir para fazer com que o goleiro se habitue a raciocinar antes mesmo do estímulo, isto é, que ele, ao se ver diante de uma determinada situação, gaste o menor tempo possível para emitir a resposta. (VIANA, 1995:96). O teste da régua se adequou pelo fato de ser um teste que avalia a velocidade de reação ao estimulo percebido visualmente, ou seja, percepção visual.

    Em se tratando de jogadoras de futebol, Silva e Romano (1999) colocam que a necessidade de transportar seu peso, qualquer acréscimo de gordura diminuirá sua capacidade de trabalho, pois exigirá maior consumo de energia e, provavelmente, fadiga muscular precoce. A média verificada em nossas goleiras foi de 13,18%. Mas um cuidado que se deve ter é em um baixo percentual de gordura, pois este pode causar oligomenorréias (ciclo menstrual irregular) e até amenorréia (sem ciclo menstrual). E também em atletas mais jovens podem aumentar o período da primeira menstruação.

    O excesso de peso é hoje um fator bem determinado quanto ao risco de doenças cardiovasculares. O índice de massa corporal (IMC) é uma formula simples que levam em consideração a massa corporal total e a estatura. O resultado médio de 23,09 não pode ser comparado com tabelas normativas. Pois como coloca Moraes (2000:58) essa escala não se adapta para atletas, principalmente os adeptos da musculação ou qualquer outra modalidade ligada à força física. Nesse caso, o peso é muito mais influenciado pela massa muscular e não da gordura, pois a relação do peso está associada ao aumento do IMC.

    Dos estudos feitos por Godoy e Duarte (1986) em jogadores de futebol profissional, pode-se inferir que a posição do jogador, sobre o campo de jogo mostra que características como altura geralmente é maior nos goleiros (Comas, 1992). Comparando nossos resultados de 166cm com a média da Portuguesa que foi de 162,5cm, mostra que a altura média de goleiras no feminino também é maior que as atletas de outras posições.

    O acompanhamento da composição corporal representa um meio importante no controle de um treinamento tanto para atletas como para não atletas. O peso muscular médio encontrado foi de 34,01 kg. Como índice de peso ósseo foi de 8.37 kg. O peso residual de 13.26 kg. O peso total de gordura foi de 7,10. Encontrado o peso de gordura, torna-se fácil encontrar a massa corporal magra, neste estudo sua média foi de 34,41 kg. Devido ao fato de utilizar uma metodologia diferente às de pesquisas já publicadas, evitei fazer comparações. Pois como coloca Marins (1998) que um erro comum, e que deve ser evitado, representa a comparação de resultados com técnicas diferentes, este procedimento é considerado um erro metodológico grave.

    Uma pré-temporada bem estruturada será mais bem aproveitada se conhecermos o estágio inicial de condicionamento físico da atleta. Em se tratando de futebol que temos diversos biótipos e posições diferentes no campo essa avaliação deve ser especifica. Pois a goleira em certos testes tem índices menores que o grupo, mas em outros se destaca ao avaliar as vias metabólicas que predominam em sua atividade.


Conclusão

    Um estudo comparativo com a literatura publicada se torna difícil quando são escassos trabalhos sobre índices de aptidão física para jogadoras de futebol. O que ocorre nos trabalhos publicados é uma variedade de testes utilizados e uma metodologia diferenciada a cada trabalha. Os resultados são a base para o inicio do treinamento, estes serão usados para programar e planejar o treinamento preparatório para o campeonato gaúcho do ano 2000, os índices de cada atleta tornara possível um treinamento individualizado conforme as características de cada uma. Corrigindo suas deficiência e melhorando suas virtudes.

    Os métodos diretos de verificação de aptidão física são, sempre que possível, os melhores para a avaliação funcional dos atletas. Mas mesmo quem não dispõem desses recursos, podem recorrer a testes com grandes índices de correlação com os testes laboratoriais. Mostrei como é possível ter uma avaliação completa com dados preciosos que ajudam na prescrição do treinamento.

    Contudo ainda não é possível, com tão poucos estudos científicos, traçar com precisão o perfil mais adequado para goleiras de futebol feminino. Mas o primeiro passo no Brasil já foi dado pela Associação Portuguesa de Desportos e seu centro de fisiologia do exercício, e deixando para nós profissionais da educação física um desafio de desenvolver este esporte que cresce rapidamente.

    Com o desejo que os resultados deste texto sirva efetivamente como referência e comparação a treinadores e demais profissionais que atuem no treinamento de futebol feminino, principalmente do Brasil, em que ainda está um pouco pobre sobre publicações que tratem de Goleiras de Futebol Feminino.


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