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Campeonato Mundial de basquetebol
masculino: história em números

   
Professor de Basquetebol da Escola de Educação Física e Esporte
Universidade de São Paulo
 
 
Dante De Rose Junior
danrose@usp.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
    Este artigo visa, através de uma análise histórica e numérica dos resultados, traçar um perfil do Campeonato Mundial de Basquetebol Masculino Adulto, realizado catorze vezes, desde 1950 na Argentina até 2002, nos Estados Unidos. Quarenta e oito países tiveram a oportunidade de participar do referido Campeonato, sendo que Estados Unidos e Brasil foram os únicos países a participar de todas as edições. Os norte americanos participaram do maior número de jogos (123), sendo também os mais vitoriosos (95 vitórias). Os dados analisados mostram uma supremacia do continente Europeu sobre os demais, em relação a títulos obtidos e classificações para as fases semi finais e finais. Destaque-se a participação da Iugoslávia (cinco títulos) e Rússia (3 títulos). A análise também sugere que, o número de países classificados (16), limita a participação de grandes potências que, por força dos critérios adotados, acabam cedendo suas vagas para outros países sem tanta tradição. No entanto deve-se considerar que a participação desses países é importante para a difusão do basquetebol em nível Mundial e aproximar as diferentes escolas de jogo.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 9 - N° 67 - Diciembre de 2003

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Introdução

    O Campeonato Mundial de Basquetebol Masculino Adulto foi disputado pela primeira vez em 1950, na Argentina. Nas catorze edições, o título de Campeão foi obtido por apenas cinco países: Argentina (1 vez), Brasil (2 vezes), Estados Unidos e Rússia (3 vezes cada) e Iugoslávia (5 vezes), sendo esta a última campeã, repetindo o feito de 1998, no campeonato realizado na Grécia (FIBA, 2002).

    Curiosamente, os Estados Unidos, criadores do basquetebol e considerados como a grande potência mundial, constituiram-se em verdadeira decepção no campeonato de 2002, realizado em seu próprio território, obtendo um modesto sexto lugar, mesmo com a presença de astros da NBA.

    Desde o primeiro campeonato, houve uma grande evolução técnica, tática e física dos jogadores, exigindo dos técnicos e dos próprios atletas um aprimoramento de suas condições para obter um melhor desempenho. Houve também modificações no número de participantes e na forma de disputa.

    Até 1986, quando foi realizado na Espanha, o número de participantes do Mundial Masculino variava a cada edição, sendo que a partir do campeonato de 1990, na Argentina, o número de países participantes foi fixado em dezesseis, com as vagas distribuídas de acordo com os critérios estabelecidos pela Federação Internacional de Basquetebol (FIBA) que procura, ao mesmo tempo, privilegiar as grandes potências do esporte e dar oportunidades aos países menos favorecidos na modalidade.

    Nas catorze edições desta importante competição houve uma alternância de países, com participações constantes e aparições meteóricas e vitoriosas, como o caso da Croácia em 1994, conseguindo a medalha de bronze e a Nova Zelândia, quarta colocada em 2002.

    Esta artigo foi elaborado na tentativa de mostrar fatos e números do Campeonato Mundial de Basquetebol Masculino Adulto, desde 1950 até 2002.

    Os dados foram compilados a partir da página oficial de FIBA (www.fiba.com) e do livro de registros de resultados oficiais da FIBA (FIBA, 2002).


História em números

    O primeiro Campeonato Mundial de Basquetebol Masculino Adulto foi realizado na Argentina, no ano de 1950 e teve a participação de 10 países, sendo:

1 da África: Egito
1 da América do Norte: Estados Unidos
5 da América do Sul: Argentina, Brasil, Chile, Ecuador e Peru
3 da Europa: Espanha, França e Iugoslávia

    Com um sistema de disputa que incluia uma fase preliminar eliminatória e uma repescagem, seis países classificaram-se para o turno final, jogando em sistema de turno completo. A Argentina, anfitirã, sagrou-se campeã com os Estados Unidos em segundo lugar.

    A partir daí o Campeonato seria novamente disputado na América do Sul nas quatro edições seguintes: 1954 (Brasil), 1959 (Chile), 1963 (Brasil) e 1967 (Uruguai). Somente em 1970, a Europa sediou o seu primeiro Campeonato Mundial Masculino, na Iugoslávia. O quadro 1 mostra os países sede de cada Campeonato Mundial, e os respectivos Campeões e Vices.

Quadro 1. Relação dos Anos de Competição, Países Sede, Campeões e Vice Campeôes Mundiais de Basquetebol Masculino

*Primeira participação com uma equipe representativa da NBA
** Primeira participação como Rússia (após o desmembramento da União Soviética)

    Como se nota pelo quadro 1, a partir de 1967, os Campeonatos foram se alternando entre as América (do Sul e do Norte) e Europa. Em 2006 o Campeonato Mundial Masculino está previsto para o Japão, sendo esta a primeira vez que será realizado em um país asiático.

    A partir de 1998, o sistema de disputa do Campeonato Mundial foi padronizado, sendo dividido em:

  • Fase preliminar: quatro grupos com quatro países

  • Oitavas de final: dois grupos com seis países (levando em consideração os resultados da fase preliminar). Nesta fase também são incluídos os países não classificados na fase preliminar e que disputam do 12º ao 16º postos

  • Quartas de Final: sistema de eliminatórias simples para definir os semi finalistas e os países que disputarão de 5º a 8º e de 9º a 12º postos

  • Semi finais: sistemas de eliminatórias simples (inclui as disputas de 5º a 8º e de 9º a 12º postos)

  • Finais: eliminatórias (incluindo as disputas de 1º a 4º postos

    Para o Campeonato Mundial de 2006 estuda-se a possibilidade de aumento do número de participantes, fato que levará a mudanças na forma de disputa e, consequentemente, no número de jogos.

    Em relação aos participantes, o primeiro campeonato foi o que apresentou o menor número de países (10) e o Campeonato realizado na Espanha, em 1986, o maio número (24). A partir de 1990, na Argentina, o número de países foi fixado em 16, por critérios de classificação adotados pela FIBA, através de torneios eliminatórios continentais. Esta variação de participantes, também provocou uma grande variação no sistema de disputa e, consequentemente, no número de jogo (tabela 1).

Tabela 1. Número de Países Participantes (NP) e Número de Jogos (NJ)

    Em termos continentais, a Europa lidera com 62 participações (considerando-se duas participações de Israel que disputa o Campeonato Europeu). A seguir a América do Sul com 44; América do Norte com 40; Ásia com 26; África com 14; Oceania com 10 e América Central com 9.

    Somente dois países(Estados Unidos e Brasil) participaram de todos os campeonatos, enquanto que Canadá, Iugoslávia e Rússia participaram de 12 edições, considerando-se que a Rússia teve 9 participações como União Soviética. A tabela 2 mostra a relação completa de países e suas participações.

Tabela 2. Número de Participações (NP) por países

    Dos países participantes, os Estados Unidos disputaram o maior número de jogos (123), seguidos pelo Brasil (117) e Rússia (105). Os Estados Unidos também foram os maiores vencedores com 95 vitórias, seguidos pela Rússia com 82 vitórias e Iugoslávia com 74.

    Considerando-se o percentual de jogos ganhos, o melhor aproveitamento é da Croácia (7 vitórias em 8 jogos) com 87,5%. No entanto, este país participou apenas de um Mundial, fato que pode favorecer este alto percentual.

    Dos países que mais participaram dos Campeonatos Mundiais os melhores aproveitamentos são:

  • Rússia (82/105 - 78,1%)

  • Estados Unidos (95/123 - 77,2%)

  • Iugoslávia (74/96 - 77,1%).

    A relação completa de número de jogos, vitórias, derrotas e percentual de aproveitamento pode ser observada na tabela 3 (organizada a partir do número total de jogos).

Tabela 3. Número de jogos, vitórias, derrotas e porcentagem de aproveitamento por país

  1. Considerando os jogos diputados como União Soviética

  2. Coréia do Sul

  3. Representado pela antiga Tchecoslováquia

  4. República Centro Africana

    A análise por Continente mostra uma supremacia das Américas com 92 participações, seguida da Europa (62), Ásia (25), África (14) e Oceania (10). Desmembrando-se as Américas temos 45 participações da América do Sul, 40 da América do Norte e 7 da América Central.

    No entanto o melhor percentual de aproveitamento, em termos continentais, é da Europa, seguida pelas Américas. Os resultados completos são demonstrados na tabela 4.

Tabela 4. Número de jogos, vitórias, derrotas e % de aproveitamento em função dos Continentes

    Como se nota o Continente Europeu detém a primazia de ter o melhor percentual de aproveitamento de vitórias nos Campeonatos Mundiais, seguido pelas Américas. Desmembrando-se este Continente temos a América do Norte com 56% de aproveitamento (183v/343j); América Central com 49,1% (27v/55j) e América do Sul com 47,8% (161v/337j). Porto Rico está aqui incluído como país da América do Norte, por sua condição política de estado Norte Americano.

    Comparando-se o número de vitórias por Continentes com o número total de jogos dos Campeonatos Mundiais em todos os tempos (793) observa-se a supremacia das Américas sobre os demais. A tabela 5 mostra esses resultados.

Tabela 5. Número de vitórias e % de aproveitamento por Continente em função do número total de jogos

    Desmembrando-se o Continente Americano, o melhor percentual de vitórias foi conseguido pela América do Norte (23,1%), seguida da América do Sul (20,3%) e América Central (3,4%).


Galeria de Campeões

    Nas catorze edições do Campeonato Mundial de Basquetebol Masculino adulto somente nove, dos 48 países participantes tiveram a honra de ocupar alguma posição no pódium e, desses, cinco sagraram-se campeões. O grande destaque é a Iugoslávia, campeã por cinco vezes, além de obter três vices e dois terceiros lugares. A tabela 6 mostra o quadro de classificação dos países que chegaram às quatro melhores posições dos Campeonatos.

Tabela 6. Quadro de classificação dos países nas quatro melhores posições do Campeonato Mundial Masculino Adulto

    Esta tabela mostra, claramente a supremacia dos países europeus, tanto em número de títulos conquistados (8/14 - 57,1%), quanto no total de posições no pódium (22/42 - 52,3%). Destaque-se que, nenhum país da África, Ásia ou Oceania ocupou qualquer posição de obtenção de medalhas ao longo de todos os Campeonatos. Extendendo-se esta análise para as quatro melhores posições (países que chegaram às semi finais e finais), a tendência permanece com a Europa detendo 50% das quatro primeiras posições, enquanto que as Américas somam 44,6%, ficando Ásia e Oceania com 3,5% e 1,7%,respecivamente.


Considerações finais

    Após a análise eminentemente numérica do Campeonato Mundial de Basquetebol Masculino Adulto, em suas catorze edições, pode-se observar que, nos primeiros cinco campeonatos (1950, 1954, 1959, 1963 e 1967), realizados em países da América do Sul, houve uma certa predominância dos países do continente Americano. A partir de 1970, no Campeonato realizado na Iugolslávia, a Europa passou a dominar o Basquetebol Mundial, apresentando equipes muito fortes, com destaques para Rússia e Iugoslávia que, juntas obtiveram 8 dos catorze títulos disputados.

    Interessante notar que os Estados Unidos, grande força do basquetebol mundial e o maior ganhador das Competições Olímpicas, não mantém esta mesma tradição em relação ao Campeonato Mundial, quando venceu em três oportunidades, em1954, 1986 e 1994, esta por sinal com a presença dos astros da NBA. No entanto, no Campeonato realizado em 2002, nos Estados Unidos, o país sede (novemente com astros da NBA) classificou-se em sexto lugar, tornando-se a grande decepção do evento, juntamente com a Rússia classificada em décimo lugar.

    Ao longo dos Campeonatos Mundiais puderam ser observadas algumas surpresas como o quarto lugar da Nova Zelândia, em 2002 e o terceiro lugar das Filipinas em 1954, época em que o Campeonato ainda não despertava a atenção das maiores portências do basquetebol mundial.

    Em relação ao nosso Continente (América do Sul) o destaque histórico fica por conta do Brasil que, juntamente com os Estados Unidos, é o único país a participar de todas as edições e detentor de dois títulos (1959 e 1963), dois vices campeonatos, dois terceiros e quartos lugares, demonstrando um nível muito forte de basquetebol que decaiu a partir da década de 90 e foi sendo suplantado pela Argentina que, em 2002, sagrou-se vice campeã.

    Sem dúvida que a Europa é o continente que apresenta maior rendimento neste Campeonato, seguido pelas Américas, ficando África, Ásia e Oceania como coadjuvantes, mas que, eventualmente apresentam equipes bem classificadas.

    Um aspecto que deve ser analisado é o número de vagas e os critérios para preenchimento das mesmas nos Campeonatos atuais. Dezesseis países obtém o direito de participar. Pode-se considerar um número pequeno que prejudica principalmente os países Europeus que, comparativamente aos demais continentes, apresenta campeonatos mais fortes e organizados e como consequência, equipes de altíssimo nível que ficam alijadas da competição em favor de estruturas não tão desenvolvidas como os africanos e asiáticos, sem deixar de considerar a Oceania que possui somente duas equipes e a chance de participação de uma delas é sempre de 50%.

    Este aspecto faz com que algumas forças tradicionais do basquetebol mundial não se classifiquem para os Campeonatos Mundiais a exemplo de Croácia, Grécia, Itália e Lituânia em 2002, enquanto que outros países sem tanta tradição, mas que atravessavam bom momento, obtiveram sua classificação, mais especificamente Turquia (vice-campeã européia em 1999) e Nova Zelândia (que desclassificou a Austrália, como representante da Oceania). Países que tiveram ótimo desempenho nos Jogos Olímpicos não obtiveram classificação: França (vice-campeã) e as já citadas Lituânia (3º lugar) e Austrália (4º lugar).

    Deve-se ainda ressaltar que a classificação dos seis primeiros países neste Mundial serviu para definir as vagas continentais para os Jogos Olímpicosde Atenas, em 2004. Desta forma a Europa conseguiu 3 vagas contra duas das Américas e uma da Oceania. Considerando-se que cada continente já possui uma vaga assegurada e que Grécia e Iugoslávia estão previamente classificadas (país sede e campeã mundial, respectivamente), os Jogos Olímpicos terão a seguinte participação por continente:

Europa     5 vagas
Américas    3 vagas
Oceania    2 vagas
África    1 vaga
Ásia    1 vaga

    Este panorama geral pode remeter a uma discussão sobre o sistema de classificação das equipes para os campeonatos mundiais de basquetebol e o número de vagas disponíveis, o que muitas vezes, provoca a eliminação de países com muita qualidade técnica em detrimento de outros que não são tão evoluídos. Em contrapartida, poder-se-ia argumentar sobre a importância da participação dos países menos evoluídos como uma forma de incentivar a prática do basquetebol nesses locais e também para promover um maior intercâmbio entre diferentes escolas. Pensando nesses dois aspectos, seria ideal que houvesse um aumento e redistribuição no número de vagas, fato já aventado pela FIBA para os próximos campeonatos.

    Todas essas considerações, provenientes de uma competição tão importante, servem para embasar uma abordagem mais específica sobre a produção das equipes participantes, através da análise dos componentes do jogo, tenham eles conotações mais técnicas (estatísticas e desempenho técnico individual e coletivo) ou táticas (a partir da análise dos sistemas defensivos e ofensivos utilizados e sua eficiência) que seria assunto para outro artigo.


Referências bibliográficas

  • FIBA. 1930-2001: Basketball results. Germany, International Basketball Federation, 2003.

  • http://www.fiba.com - site oficial da Federação Internacional de Basketball- FIBA.

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revista digital · Año 9 · N° 67 | Buenos Aires, Diciembre 2003  
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