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O stress e a fadiga muscular: fatores que
afetam a qualidade de vida dos indivíduos

   
* Graduada em Educação Física
Especialista em Dança Cênica e Mestre em Ergonomia
UFSC/ SC. ** Graduado em Educação Física
Especialista em Treinamento Desportivo e Personal Trainer
CEFID/UDESC/SC.
 
 
Rafaela Liberali Fiamoncini*
Rafael Emerim Fiamoncini**

rafascampeche@ig.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    O propósito deste artigo é informar sobre dois importantes assuntos "Stress e Fadiga Muscular", que muitas vezes são as causas primeiras no desenvolvimento das doenças do nosso século. Neste período informatizado, de altas tecnologias, somos obrigados a conviver com stress, mas doses excessivas podem trazer sérios problemas à nossa saúde. Em relação a fadiga, podemos dizer que ela é um conjunto de alterações que ocorrem no organismo, resultante de atividade física ou mentais, que levam a uma sensação de cansaço, com a diminuição da capacidade de trabalho.
    Unitermos: Saúde. Qualidade de vida. Stress. Fadiga muscular.
 
Summary
    This purpose of this article is to inform about two important subjects: "Stress and Muscle Fatigue", wiche are, many times, the main causes of the development of diseases in our century. As we live in the Information Technology time, we are forced to compete witch machines, and thus, to live 6witch stress that, in excessive doses, can brig serious problems to our health. Fatigue is a group of changes that occurs in an organism, resulting from physical or mental activities, witch lead to a tiredness sensation, and the consequent work capacity reduction.
    Keywords: Health. Life style. Stress. Muscle fatigue and generalized fatigue.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 9 - N° 66 - Noviembre de 2003

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Introdução

    Em seus mais diversos enunciados o termo Saúde/Qualidade de vida encontra-se inserido no âmbito do bem-estar físico, psíquico, espiritual, moral, social, econômico, entre outros. Porém, face aos graus de desequilíbrio e contrastes em que vive o Homem nos dias de hoje, somos obrigados a admitir que ainda estamos longe do ideal desejado. Segundo Nahas (2001) a qualidade de vida difere de pessoa para pessoa, mas o seu conceito geral, envolve: estado de saúde, longevidade, satisfação no trabalho, salário, lazer, relações familiares, disposição, prazer e até espiritualidade. Inicialmente, alguns estudos enfatizavam aspectos materiais, como salário, sucesso na carreira e bens adquiridos. Recentemente, porém, tem-se evoluído para uma valorização de fatores como satisfação, realização pessoal, acesso a eventos culturais, entre outros. Com o avanço da automação e da tecnologia, a atividade profissional e de lazer, antes de grande solicitação muscular, tornou-se agora de exigências quase nulas. As pessoas estão trabalhando cada vez mais, competindo ferozmente com a máquina, esquecendo-se de si mesmas. Dispõem menos tempo para a família e para o lazer e estão tornando-se cada vez mais estressadas.

    Estes quadros observados em nossa sociedade preocupam grande número de cientistas, pois se constata inatividade, estresse, fadiga muscular, obesidade e conseqüente desenvolvimento de doenças, associadas a um trabalho exaustivo, maus hábitos alimentares, fumo, álcool, etc.

    A partir do exposto acima, um estudo como este, que envolve conceitos sobre saúde, longevidade, bem-estar, stress e fadiga muscular torna-se cada vez mais necessário e importante, para promovermos em nossa sociedade, a atividade física como um meio de prevenção às doenças do nosso século, e proporcionar conhecimentos de como o stress e a fadiga muscular podem afetar positiva ou negativamente sua vida diária.

    Em seu livro "Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida", Nahas (2001), expõem que: "a atividade física e a aptidão física, têm sido associadas ao bem estar, à saúde e à qualidade de vida das pessoas em todas as faixas etárias, principalmente na meia idade e na velhice, quando os riscos potenciais da inatividade se materializam, levando a perda precoce de vidas e de muitos anos de vida útil".


Stress

    As primeiras referências à palavra "stress" significando "aflição" e "adversidade" datam do século XIV (Lazarus e Lazarus, 1994 citado por Lipp, 1996), mas seu uso era esporádico e não-sistemático. No século XVII, o vocábulo, que tem origem no latim "stringere", passou a ser usado em inglês para designar "opressão, desconforto e adversidade" (Spielberger, 1979 citado por Lipp, 1996).

    Em 1932, Walter B. Cannon em seu livro "A Sabedoria do Corpo", utilizou o termo "reação de emergência", para descrever que o ser humano ao reagir de maneira inadequada às exigências psíquicas no seu ambiente de vida, psicologicamente despreparado, poderá desenvolver um desgaste anormal no seu organismo e, apresentar uma incapacidade crônica de tolerar, superar ou se adaptar, apresentando lesões, desde intranqüilidade até esgotamento ou embotamento mental, dependendo da sua estrutura psíquica (Vieira & Schüller Sobrinho, 1995).

    Posteriormente, em 1936 o endocrinologista Hans Selye introduziu o termo "stress" para designar uma síndrome produzida por vários agentes nocivos. Sua ênfase era na resposta não-específica do organismo a situações que o enfraquecessem ou fizessem-no adoecer, a qual ele chamou de "síndrome geral de adaptação" ou "síndrome do stress biológico", comumente conhecido também como a "síndrome do simplesmente estar doente". Selye publicou então, artigos que culminaram em sua obra prima no ano de 1952 "Stress - a Tensão da Vida" traduzido por Frederico Branco e publicado pela Ibrasa de São Paulo, na qual sua teoria sobre o stress foi apresentada de modo mais completo.

    Os trabalhos de Selye foram muito influenciados pelas descobertas de dois fisiologistas que causaram impacto na época: Bernard, que em 1879 havia sugerido que o ambiente interno dos organismos deve permanecer constante apesar das mudanças no ambiente externo, e Cannon, que em 1939 sugeriu o nome "homeostase" para designar o esforço dos processos fisiológicos para manter um estado de equilíbrio interno no organismo. Selye, utilizando-se desses conceitos, definiu o stress como uma quebra neste equilíbrio.

    Em verdade, ele utilizou o termo stress com a conotação que se conhece hoje em dia: stress é a maneira como o organismo responde a qualquer estímulo - bom, ruim, mal ou imaginário - que altere seu estado de equilíbrio. O stress está diretamente relacionado com a homeostase, que é estado de equilíbrio dos vários sistemas do organismo entre si e do organismo como um todo com o meio ambiente. O conceito atual sobre "stress" o considera como um processo bio-psico-social, pela forma como se manifesta, dependente de características individuais com o ambiente social.

    Segundo Lipp (1996), "Stress é definido como uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, causadas pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite, confunda ou mesmo que a faça imensamente feliz".

    Na definição do dicionário Aurélio, "Stress é um conjunto de reações do organismo e agressões de ordem física, psíquica, infecciosa e outras, capazes de perturbar-lhe a homeostase (Aurélio citado por Delboni, 1997)".

    Existem estímulos internos ou do meio ambiente, que são capazes de alterar a homeostase e representam as fontes do stress, referidas como agudas, quando ocorrem num curto momento, e crônicas, quando atuam sobre o organismo por um tempo prolongado, de forma contínua ou repetitiva.

    Segundo Vieira e Schüller Sobrinho (1995), as formas de estresse, mais freqüentes, nos tempos atuais, são:

  1. estresse dos indivíduos que vivem de forma corrida, competitiva, agressivamente envolvidos em uma luta crônica e incessante;

  2. estresse dos indivíduos que vivem tensos, seja no ambiente do trabalho, em casa, consigo mesmo;

  3. estresse dos indivíduos em crise existencial, geralmente entre 38 - 45 anos, questionando-se sobre o significado da vida, principalmente do tipo de vida que vem tendo, diante da perspectiva de que não vão conseguir realizar tudo a que se propuseram;

  4. estresse do indivíduo que está vivendo alto grau de desajustamento, consciente ou inconsciente, a uma realidade de sua vida, seja à realidade do seu ambiente de trabalho, do seu ambiente familiar, social ou dele consigo mesmo.


Tipos de stress: eustress e distress

    Quando nos sentimos ameaçados, uma série de reações orgânicas consciente ou inconscientemente são desencadeados ao mesmo tempo. Esse processo caracteriza o stress, que em um curto grau é necessário ao organismo, pois colabora com o bom desempenho das funções orgânicas e psíquicas, como crescimento, cicatrizes e criatividade.

    O nível positivo de stress, Selye definiu como eustress. No entanto, se situações, boas ou más, se repetem com freqüência, ou seja, as situações de stress são constantes, aí sim temos um grande problema. Esse processo negativo, caracterizado por situações aflitivas, é denominado distress. O distress pode ser agudo (quando é intenso, mas por breve período, como a notícia da morte de um ente querido) ou crônico (quando não é tão intenso, mas ocorreu repetidamente ou constantemente como as situações tensas no ambiente de trabalho, a preocupação com dívidas que não se sabe como pagar ou um treinamento repetido sem intervalos adequados para recuperação do organismo).

Quadro 1. Resumo dos conceitos de Eustress e Distress


(Fonte: França & Rodrigues, 1999).


Reação fisiológica ao stress

    O processo de "stress" tem início com os receptores, que espalhados por todo o corpo captam as alterações no ambiente. Os sinais captados chegam até o tálamo cerebral, que repassa a mensagem ao hipotálamo. Este libera uma substância chamada CRF (Fator Liberador de Corticotrofina) que estimula a glândula hipófise a liberar ACTH (Hormônio Adenocorticóide). O principal destino do ACTH são as glândulas supra-renais que passam a distribuir diferentes substâncias químicas para diferentes destinos, como a adrenalina, os mineralocorticóides e os glicocorticóides, todos com o objetivo de estimular o organismo para "luta ou fuga", desencadeando assim os sintomas referentes ao stress. Aumento dos batimentos cardíacos e conseqüentemente elevação momentânea da pressão arterial, são as manifestações básicas do stress agudo, ativado pela ação da adrenalina e noradrenalina via Sistema Nervoso Simpático. Já no stress crônico a pressão arterial se mantém elevada, tornando a pessoa hipertensa, e as conseqüências desse estado podem ser derrame cerebral, ruptura de aneurismas ou mesmo parada cardíaca. Este efeito hipertensivo do stress crônico é mediado pela liberação continuada de cortisol pelo córtex supra-renal (Oliveira, 1996).

    Em uma primeira fase, nossos músculos se contraem, o coração e os pulmões aumentam o ritmo de funcionamento, o estômago pára a digestão dos alimentos, a pressão arterial sobe, a circulação do sangue é desviada predominantemente para os músculos e o cérebro, e mais substratos (glicose e ácidos graxos) são colocados na circulação para produzir energia para a contração muscular. Essa primeira fase depende essencialmente da ação da adrenalina e é referida como a preparação para luta ou fuga.

    Depois de 10 minutos, e persistindo a situação de stress, o organismo entra numa segunda fase, onde são liberados os hormônios glucocorticóides (cortisona, cortisol e corticosterona). Essas substâncias em dose adequadas estimulam o centro nervoso da memória e da aprendizagem; mas, quando produzidos em grande quantidade, como nos casos de Stress crônico, são prejudiciais à saúde, diminuindo a ação do sistema imunológico e tornando o organismo mais vulnerável a infecções (Nahas, 2001).

    Stress, ao contrário da crença popular, não é meramente fadiga nervosa ou conseqüência da intensa emoção. Qualquer atividade normal - um jogo de xadrez ou um abraço carinhoso - pode produzir considerável stress sem maiores conseqüências. Assim, o estímulo pode ter origem agradável ou desagradável, agudo ou crônico, mas a reação do organismo segue um mesmo padrão (Nahas, 2001).

    A reação fisiológica é acompanhada de sintomas psíquicos e comportamentais, que tomam formas diferentes, de acordo com cada indivíduo (Ururahy & Albert, 1997).

    Quando nos deparamos com uma situação de stress, nossas reações seguem um padrão descrito por Selye, chamado de Síndrome Geral de Adaptação, que, consiste em três fases:

  1. Reação de Alarme;

  2. Reação de Resistência;

  3. Reação de Exaustão.

    A Reação de Alarme assemelha-se à Reação de Emergência de Cannon, célebre fisiologista americano responsável pelo desenvolvimento das noções de homeostase. Cannon percebeu que, quando um animal era submetido a estímulos ameaçadores, o seu equilíbrio orgânico, inclusive medo, fome, dor e raiva, apresentavam uma reação que ele denominou de Emergência, em que o animal se preparava para luta ou para fuga.

Quadro 2. Principais alterações fisiológicas da Fase de Alarme


(Fonte: França & Rodrigues, 1999.)

    Após esta primeira fase, segue-se outra, a de Resistência, caso o agente estressor mantenha sua ação; a duração desta fase depende da intensidade do stress e da adaptabilidade -inata ou desenvolvida - do indivíduo.

Quadro 3. Principais alterações fisiológicas da Fase de Resistência


(Fonte: França & Rodrigues, 1999).

    A 3ª Fase, a de Exaustão, representa muitas vezes a falha dos mecanismos de adaptação; há, em parte, um retorno à fase de alarme e, posteriormente, se o estímulo estressor permanecer potente, o organismo pode morrer.

Quadro 4. Principais Alterações Fisiológicas da Fase de Exaustão


(Fonte: França & Rodrigues, 1999)

    Nesta 3ª fase, da Exaustão, começa a aparecer: afecções da mucosa bucal (aftas), herpes, gripes e resfriados, dores no corpo, tensão muscular, irritação, falta de concentração, insônia, falta ou excesso de apetite, são alguns sintomas que podem estar associados a situações de stress. Mantendo-se níveis altos de stress por muito tempo, problemas mais sérios podem ocorrer, de dores de cabeça e problemas de relacionamento até doenças graves (Nahas, 2001).

    Os níveis de tolerância ao stress, são diferentes para cada indivíduo. Pessoas com limites mais elásticos possuem maior resistência a ele. Porém, ao serem submetidos à tensão constante e crescente, igualmente como qualquer elástico, irão se romper, o que significa que corpo e mente adoece. Quanto melhor for a reação de um indivíduo ao stress, menos sintomas físicos relacionados a ele ocorrerão (Delboni, 1997).


Stress e doenças

    Segundo a Academia Americana de Médicos de Família, mais de 75% das consultas médicas são de alguma forma, relacionadas com o stress e o custo estimado do tratamento de doenças decorrentes do stress no trabalho nos Estados Unidos é de 150 bilhões de dólares (Nahas,2001).

    Apesar de constituídos para conviver constantemente com situações de stress, doses excessivas (intensas ou prolongadas) podem trazer sérios problemas psicológicos e físicos. Quando fora de controle, as situações de stress podem interferir em nossas atividades diárias, resultando em perda de produtividade e afetando nossos relacionamentos. Sob stress, problemas como insônia, dores no corpo, dor de cabeça, problemas estomacais, irregularidade menstrual, ansiedade e depressão podem surgir ou ser agravados seriamente. O sistema imunológico, responsável pela ação de defesa do organismo contra infecções, é o mais afetado nas situações de stress. A liberação de substâncias do grupo denominado glucocorticóides, em situações de stress crônico, está associada a uma sensível diminuição da capacidade de defesa do sistema imunológico, aumentando o risco de infecções. Este conhecimento compõe uma área científica recente, denominada psiconeuroimunologia, cujos estudos mais significativos iniciaram em 1991, com o Dr. Sheldon Cohin, um pioneiro nas investigações da reação do stress com o sistema imunológico (Nahas, 2001).

    A psicossomática acabou adquirindo a configuração de um verdadeiro movimento na área de saúde, aplicado à promoção de saúde, dentro dos princípios biopsicossociais. A saúde e a doença são estados que resultam do equilíbrio harmônico ou da desrregulação, destes três campos: corpo, mente e meio externo (França & Rodrigues, 1999).

    O indivíduo, no decorrer de seu desenvolvimento, constrói e estrutura formas - tanto em termos do corpo, como da mente - de ser e reagir aos mais diferentes estímulos aos quais ele pode estar submetido, sempre com o sentido de manter o equilíbrio de seu organismo. O que a pessoa é nos dias de hoje é o resultado das inúmeras experiências a que ela foi submetida no decorrer de sua história. Quando uma pessoa reage aos diversos impactos a que está submetida em seu quotidiano, carrega nesse processo uma volta ao equilíbrio. Mas esses impactos fazem parte de sua vida, e as tensões que eles provocam deixam marcas e modificam seu corpo (França & Rodrigues, 1999).

    Muitos estudos de médicos e psicólogos demonstram que o ser humano tem apresentado dificuldade em lidar com estímulos estressores ambientais e sócio-econômico-culturais da sociedade industrial e urbana. Dentro da perspectiva da Medicina Psicossomática, dos ensinamentos de Selye e seguidores que estão a aperfeiçoar continuadamente suas teorias iniciais, pode-se compreender grande número de doenças - principalmente aquelas mais freqüentes do homem urbano contemporâneo-que denunciam, expressam e revelam a forma de viver, sua qualidade de vida e sua maneira de interagir com o mundo (França & Rodrigues, 1999).

    Cooper e Artrose citados por França e Rodrigues (1999), destacaram indicadores do stress que evidenciam a dinâmica psicossomática, como a seguir:

  • PSICOLÓGICOS (instabilidade emocional, ansiedade, depressão, agressividade, irritabilidade).

  • DANOS FÍSICOS (úlceras, alergias, asma, enxaqueca, alcoolismo, disfunções circulatórias, disfunção coronarianas).

  • SOCIAIS (queda no desempenho profissional, ausências, acidentes, conflitos médicos, apatia).

    As situações de stress provocam diferentes níveis de respostas dependendo das características individuais, entretanto existem ocupações humanas que, por sua natureza, são mais atingidas pelo stress. Entre essas ocupações estão: bancários, aeroviários, professores, agentes prisionais, donas de casa, profissionais da UTI e emergência médica, policiais, jornalistas.

    Altos níveis de stress, combinados com a ausência de amigos ou familiares próximos, podem reduzir a resistência do organismo às doenças, diminuindo a expectativa de vida entre idosos e pessoas acometidas de doenças crônicas. O ideal é um ambiente social favorável, com uma rede de apoio de amigos e familiares, para promover a saúde e a qualidade de vida, e reduzir os efeitos de doenças, principalmente aqueles ligados aos sistemas neuro - endócrinos e imunológicos. Finalmente, vale repetir que cada pessoa responde às situações de stress de forma diferente: o que pode representar um grande problema para uns, pode ser gerenciado com tranqüilidade por outros. Selye acreditava que cada pessoa traz consigo uma curta capacidade de resistir ao stress. A esta capacidade ele chamou energia de adaptação e, segundo esse pesquisador, pode-se treinar o organismo e desenvolver tal energia para melhor enfrentar as situações de stress.


Stress no trabalho

    Segundo Lida (1993), as causas do stress são variadas e possuem efeito cumulativo. As exigências físicas ou mentais exageradas provocam "stress", mas este pode incidir fortemente naqueles trabalhadores já afetados, como conflitos com a chefia ou até um problema doméstico. Citaremos algumas causas:

  • Conteúdo do trabalho: Pressão para manter ritmo de produção, responsabilidade, conflitos, e outras fontes de insatisfação no trabalho.

  • Sentimentos de incapacidade: O stress decorre de uma percepção pessoal da incapacidade em atender a demanda do trabalho ou terminá-lo dentro de um prazo estabelecido.

  • Condições de trabalho: Condições desfavoráveis, projeto inadequados de posto de trabalho, obrigando a manter uma postura inadequada.

  • Fatores organizacionais: Comportamentos dos chefes e supervisores que podem ser demasiadamente exigentes e críticos, além das questões do salário, carreira, horários de trabalho, horas extras e turnos.

  • Pressão econômica - sociais: Questões de dinheiro, e a forte pressão exercida pela sociedade de consumo são elementos de freqüentes preocupações.


A fadiga muscular

    Com a palavra "fadiga" designamos um estado que todos conhecemos na rotina diária, em regra geral, relaciona-se esta palavra com uma capacidade de produção diminuída e uma perda de motivação para qualquer atividade.

    A fadiga como experiência rotineira não é um estado definido nem unitário. O conceito também não fica mais claro, quando se começa a atentar para "fadiga do trabalho", "fadiga mental" etc. A multiplicidade de usos da expressão "fadiga" levou a uma quase caótica organização dos conceitos. Significativa é certamente a distinção feita entre a fadiga muscular e a fadiga generalizada. A primeira é um acontecimento agudo, doloroso, que o atingido sente em sua musculatura sobrecarregada de forma localizada. A fadiga generalizada, ao contrário, é uma sensação difusa, que é acompanhada de uma indolência e falta de motivação para qualquer atividade. Estas duas formas estão baseadas em fenômenos fisiológicos completamente diferentes.

    De um modo geral, a fadiga pode ser entendida como um conjunto de alterações que ocorre no organismo, resultantes de atividades físicas ou mentais e que levam a uma sensação generalizada de cansaço. É conseqüência direta da fadiga a perda de eficiência, ou seja, a diminuição da capacidade de trabalho (Nahas, 2001).

    Alguns dos sintomas mais comuns da fadiga são: diminuição da motivação; percepção e atenção; capacidade de raciocínio prejudicada; menor desempenho em atividades físicas e mentais (Nahas, 2001).

    Segundo Powers & Howley (2000), Fadiga é simplesmente uma incapacidade de manutenção de produção de potência ou força durante contrações musculares repetidas.

    Durante a contração muscular acontecem processos químicos que, entre outros, fornecem a energia para o trabalho mecânico. Após a contração - portanto durante o relaxamento do músculo - as reservas de energia são novamente reconstituídas. No músculo em trabalho ocorrem assim reações liberadoras de energia e reações reconstituidoras de energia, acontecendo uma perturbação do equilíbrio dos processos metabólicos, que se manifestam por uma diminuição da capacidade de produção do músculo.

    Após grandes exigências encontra-se no músculo exaurido, uma diminuição, das reservas de energia (açúcar e ligações de fósforo) e um aumento de resíduos, entre eles ácidos láctico e ácido carbônico. Produz-se então uma acidificação dos tecidos do músculo.

    Pode-se supor que a fadiga muscular, que surge após condições de uso, se instala ainda na fase inicial, na qual a compensação nervosa central está no primeiro plano das manifestações fisiológicas colaterais. Ao se considerar o estado de esgotamento, que certamente ocorre na musculatura, a fadiga muscular é reconhecida pela diminuição da força muscular, que em seguida se compensa parcialmente pelo aumento de descarga dos neurônios motores. Segundo isto, na instalação da fadiga muscular do homem, ocorre uma diminuição da capacidade de produção compensada por um empenho maior da vontade, isto é, através do aumento da utilização de elementos neuro - musculares.


Sítios de fadiga (Powers & Howley, 2000)

    A Fadiga Central: O Sistema Nervoso Central (SNC) está implicado na fadiga se houver redução da quantidade de unidades motoras funcionantes envolvidas na atividade ou redução da freqüência de disparos das unidades motoras.

    A Fadiga Periférica: A grande maioria dos estudos aponta para a periferia, onde eventos neurais, mecânicos ou energéticos podem impedir a produção da tensão.

    A fadiga decorrente de fatores neurais pode estar associada a falhas na junção neuro - muscular, no sarcolema, nos túbulos transversos ou no retículo sarcoplasmático que está envolvido no armazenamento na liberação e na recaptação do cálcio (Ca++). O potencial de ação parece atingir a junção neuro - muscular mesmo quando ocorre fadiga, mas evidências apontam que tal junção não é um sítio de fadiga.


Formas de fadiga

  1. Fadiga muscular: estado onde à capacidade dos músculos em responder a estímulos e produzir trabalho é sensivelmente diminuída. Pode ser considerada uma resposta normal ao stress decorrente de atividades físicas intensas, executadas por um longo período de tempo.

  2. Fadiga crônica: processo mais generalizado, progressivo e cumulativo, pode ser decorrente de períodos longos de atividade, repouso insuficiente, nutrição inadequada, excessiva preocupação ou outros problemas de saúde. Os sintomas mais comuns desse tipo de fadiga são: dificuldade de dormir, irritabilidade, brusca perda de peso e um estado geral de exaustão.

    Na literatura encontramos - independentemente das formas de fadiga apresentadas acima, outras formas distintas que podem ser:

  1. Fadiga gerada pela exigência do aparelho visual (fadiga visual).

  2. Fadiga provocada pela exigência física de todo o organismo (fadiga corporal geral).

  3. Fadiga do trabalho mental (fadiga mental).

  4. Fadiga produzida pela exigência exclusiva das funções psicomotoras (fadiga nervosa).

  5. Aquela gerada pela monotonia do trabalho ou do ambiente.

  6. O somatório das influências fatigantes prolongadas (fadiga crônica).

  7. Fadiga circadiana ou nictemérica, gerada pelo ritmo biológico do ciclo de dia - noite, que se instala periodicamente e conduz ao sono.

    Esta classificação repousa em parte nos tipos diferentes de causas, e também pelas manifestações externas diferentes da fadiga. Parecendo ser clara a dependência de determinadas manifestações de fadiga com determinadas causas.


Sintomas da fadiga

    Os sintomas da fadiga podem ser de natureza subjetiva e objetiva. Os mais importantes são:

  • Sonolência, lassidão e falta de disposição para o trabalho;

  • Dificuldade para pensar;

  • Diminuição da atenção ;

  • Lentidão e amortecimento das percepções;

  • Diminuição da força de vontade;

  • Perdas de produtividade em atividades físicas e mentais.


Atividade física, stress e fadiga

    Atividades físicas leves ou moderadas (esforços entre 40 a 60% da capacidade máxima individual, como uma caminhada normal) podem representar uma forma de promover um maior relaxamento corporal, reduzindo a tensão. Outra forma de exercício eficaz no combate ao stress, são os alongamentos musculares. Estes exercícios são realizados de forma lenta e objetivam alongar os diversos grupos musculares, reduzindo a tensão (Nahas, 2001).

    Segundo Cooper (1982) e Oliveira (1996) o exercício físico é um importante agente repressor do stress, pois em stress o corpo está preparado para movimentar-se sendo então, importante gastar está energia e diminuir a tensão. Os exercícios aeróbicos realizados no final do dia (entre 16:00 e 18:00h) são uma forma de "queimar fisiologicamente" os níveis de stress, isto porque, pesquisadores sugerem que o efeito positivo do exercício físico na diminuição do stress está relacionado com o aumento da concentração de endorfina no sangue devida à sua secreção pela glândula pituitária.

    Finalmente, quando as atividades físicas são prazerosas (esportes recreativos, jardinagem, caminhadas, entre outras formas) elas podem representar uma distração dos agentes estressantes do dia - a - dia, reduzindo seus efeitos no organismo.

    A fadiga deve ser evitada e controlada através de um planejamento da intensidade, carga e volume, adequado a cada indivíduo, podendo ser tomadas várias medidas, entre elas pedagógicas, médico-biológicas, psicológicas. Cada uma destas medidas contribuem para uma melhora na capacidade de recuperação pós exercício, sendo que a associação das mesmas causam um efeito mais eficaz (Weineck, 1999).


Conclusão

     É impossível eliminar o stress de nossas vidas: ele existe em todos. Podemos, porém, evitar que se torne excessivo, através de algumas medidas que incluem mudança em nossas atitudes perante os eventos corriqueiros e inesperados da vida, como um regime alimentar anti - stress, exercícios físicos e relaxamentos.

     A compreensão do que é stress, seus sintomas, suas fases, podem levar o ser humano, a utilizar a seu favor, a força gerada pelo stress. A falta de conhecimento sobre o assunto e de tratamento adequado pode, por outro lado, levar a resultados desastrosos como várias doenças orgânicas. Não é possível ignorar o perigo de um stress excessivo e prolongado para a própria vida, porém o aconselhado não é fugir, já que isto seria impossível, mas aprender a enfrentar o stress de modo adequado.

    Mudar hábitos de vida é muito difícil e diversas vezes impossível, o ideal seria tentar incorporar alguns hábitos diários, para que melhore sua qualidade de vida. Alguns hábitos abaixo relacionados.


Referências bibliográficas

  • COOPER, K.H. O Programa Aeróbico Para o Bem-Estar Total. Rio de Janeiro: Nórdica, 1982.

  • DELBONI, T. H. Vencendo o Stress. São Paulço: Makron Books, 1997.

  • LIPP, M. N. Pesquisas Sobre o Stress no Brasil. São Paulo: Papirus, 1996.

  • FRANÇA, A. C. L. & RODRIGUES, A. L. Stress e Trabalho. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 1999.

  • LIDA, I. Ergonomia. Projeto e Produção. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda. 1993.

  • NAHAS, M. V. Atividade física, Saúde e Qualidade de Vida: Conceitos e Sugestões para um Estilo de Vida Ativo. Londrina: Midiograf, 2001.

  • OLIVEIRA, M. A. V. Administrando o Stress com Técnicas de Programação Neurolingüística. 2ª ed. São Paulo: Gente, 1996.

  • POWERS, S. K. & HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício. Teoria e Aplicação ao Condicionamento e ao desempenho. 3ª ed. Ed. Manole, 2000. Pg. 361 - 370.

  • VIEIRA, S. I. & SCHÜLLER SOBRINHO, O. Estresse e sua Prevenção. Coord: VIEIRA, S. I. In: Medicina Básica do Trabalho. v. IV, Curitiba: Genesis, 1995. Pg. 199 - 217.

  • URURAHY, G. & ALBERT, E. Como Tornar-se um Bom Estressado. Rio de Janeiro: Salamandra, 1997.

  • WEINECK, J. Treinamento Ideal. 9ª edição. Editora Manole. SP:1999.

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