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O artístico e desportivo na subjetividade moderna

   
Mestrado em Educação Física. Universidade Estadual de Campinas
Aperfeiçoamento em Psicología del Deporte, ISCF "Manuel Fajardo", Cuba
 
 
Fernanda de Aragão e Ramirez
fer.nan.da@bol.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
    Este texto tem por finalidade traçar um breve paralelo entre o artístico e o desportivo na subjetividade moderna através de uma análise sobre a concepção de corpo assumida em Descartes e Freud. Ou seja, da concepção maquinária introduzida por Descartes para a dimensão subjetiva de Freud.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 9 - N° 66 - Noviembre de 2003

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    Seria possível comparar o desporto com o movimento artístico? Parece loucura, mas os marcos históricos do pensamento humano marcam tanto um quanto outro, mesmo que em momentos diferentes.

    Somente nas últimas décadas tem-se incorporado nas ciências desportivas aspectos mais expressivos ao sujeito, quebrando um pouco a idéia da presença de um corpo maquinário, determinado pelo militarismo ou, atualmente, pela cultura desportista de alto rendimento. Os profissionais, principalmente das categorias menores, estão se dando conta de que trabalham com sujeitos. Atletas que desejam, que sentem prazer ou desprazer e que, vivos, são representados por um corpo que têm linguagens que devem ser levadas em consideração.

    No movimento artístico, esta construção do perfil maquinista se estende desde Descartes - quando a máquina foi concebida na história da cultura ocidental como a máxima expressão e o mais decisivo meio de poder humano sobre a natureza e, conseqüentemente, como instrumento emancipador - até os movimentos vanguardistas, modernistas e pós-moderno - onde o princípio da máquina adquire um valor cultural universal. É pela intervenção das vanguardas e das correntes como o cubismo, o futurismo, o neoplasticismo que a máquina se converte em um valor cultural fundamental e um princípio espiritual de signo transcendente na realidade social e histórica, criando uma ambivalência objetiva e subjetiva, consciente e inconsciente, racional e irracional.

    Este conceito possui no pensamento de nosso século uma sólida tradição que começa com a sociologia de Weber e a psicanálise de Freud. Ambos os mundos, o de uma ordem racional fundada na razão técnico-científica, e o da destruição da angústia, chegam a relacionar-se intimamente nos melhores expoentes da arte das vanguardas. São exemplos disto as formulações críticas da lírica expressionista e, em outro nível, as análises sociais de Freud.

    Depois de Freud, e sua "descoberta" do inconsciente, a máquina surgiu para a consciência artística sob uma dimensão simbólica. A máquina e o maquinismo assumem uma dimensão espiritual própria capaz de constituir-se no princípio de uma utopia. Seu valor foi projetado para o sublime ou inclusive para o terreno do religioso e do mitológico.

    Também foi depois de Freud que a visão de corpo, como máquina, manifestação de comportamentos se modificou. Agora o corpo não é mais visto como um instrumento, ele contém todo um segmento involuntário que está sob ação do inconsciente, além dos aspectos cognitivos que compreendem sua esfera subjetiva.

    Se o pensamento dos pioneiros da vanguarda estava voltado para a realidade histórica e social para os problemas objetivos da transformação de cultura, para os empreendimentos exteriores; a crítica, a reflexão e a síntese exigem hoje uma preocupação central em torno da situação do ser humano em meio à realidade tecnológica da civilização moderna.

    A síntese e a crítica da modernidade não são possíveis senão por meio desta reflexão interior de uma dimensão subjetiva e individual que deve ser reencontrada na tradição da arte, do desporto e do pensamento moderno em geral. Só por esta reflexão poética é possível pensar um futuro desportivo.


Referências bibliográficas

  • MARQUES, Joraino. Descartes e sua concepção de homem. São Paulo: Loyola, 1993.

  • PATRIOTA, Margarida. Modernidade e Vanguarda nas artes. Oficina Editorial do Instituto de Letras, UnB, 2000.

  • FREUD, Sigmund. Cinco lições de psicanálise. In: Edicação Standard Brasileira das Obbras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Volume XI (1910). Rio de Janeiro: Imago, 1976.

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