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O profissional de turismo e lazer

   
Mestre em Ciência da Informação
CEFET-MA
(Brasil)
 
 
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
leopoldo@cefet-ma.br
 

 

 

 

 
Texto apresentado no Simpósio de Turismo da UFMA, março de 1999
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 9 - N° 65 - Octubre de 2003

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Introdução

    O turismo é uma das atividades que mais cresce no Mundo. Por permitir rápido retorno do investimento, gerar empregos diretos e indiretos e por sua ligação com os mecanismos de arrecadação, o turismo é a atividade que mais contribui para o desenvolvimento de diversos países.

    Para obter resultados é imprescindível que este turismo seja feito de forma organizada e racional. O Maranhão possui grande vocação para o turismo e o tem como símbolo de suas melhores expectativas de integração e desenvolvimento, graças às condições territoriais, climáticas e culturais. A participação do turismo no PIB brasileiro já é de 8%. Porém, o fluxo turístico em direção ao Brasil está muito aquém de nossas potencialidades. O momento exige a transformação do potencial latente em novos negócios e vantagens competitivas.


O que determina este quadro

    O turismo envolve uma multiplicidade de serviços: transporte, hospedagem, alimentação, agenciamento, trabalho de intérprete e tradutor, guias turísticos, organização de eventos, entretenimento, etc. São muitas empresas e profissionais envolvidos, diversas interações e etapas a serem percorridas, tornando a atividade complexa e de difícil mensuração.

    No Brasil, as estimativas da EMBRATUR, referentes ao ano de 1990, indicam 1,7 milhões de pessoas diretamente empregadas no turismo.

    O despreparo desse enorme contingente de trabalhadores e a dificuldade de acesso que têm as pequenas e microempresas às novas tecnologias, são grandes dificuldades a serem superadas no turismo.


Oportunidades

    Investimento na formação da cultura do turismo, aqui incluídas a formação profissional e gerencial, é a grande lacuna que deve ser preenchida. Atuar neste cenário é propiciar a um maior número de investidores, empresários, técnicos e trabalhadores o ingresso no mercado de trabalho, favorecendo a geração de trabalho e renda, contribuindo inclusive para um melhor equilíbrio social.


Histórico do Lazer

    A palavra lazer provém do verbo francês "loisir", que tem origem por sua vez, na forma infinitiva latina de "licere", que significa o permitido. O francês "loisir" dá origem à expressão inglesa "leisure", que se utiliza tecnicamente para significar tempo livre. (DUMAZEDIER, 1979; JIMENEZ GUSMAN, 1986; SUE, 1992).

    JIMENEZ GUZMAN (1986), ao analisar o sentido etimológico do lazer, detecta três tendências: para a primeira, o que caracteriza o lazer é a idéia de permissão para atuar - o lazer seria um conjunto de atividades nas quais predomina a ausência de restrições, de censuras, de proibições, de repressão; para a segunda, derivada do sentido etimológico do lazer, seria a ausência de impedimentos de ordem temporal - o lazer seria, antes de tudo, um tempo livre, sem restrições, sem ataduras, sem compromissos; já para a terceira tendência, seu sentido etimológico radicaria em uma qualidade de ordem subjetiva - o lazer seria constituído por uma série de atividades livremente escolhidas, atividades autônomas e agradáveis, benéficas física e psicologicamente.

    Para quem busca o sentido de lazer em sua evolução, esse autor as agrupa em duas fundamentadas posições histórico-evolutivas: a noção de lazer se origina na noção grega de "scholé", tempo ocupado por atividades ideais e nobres para o ser, por atividades livres como a contemplação teórica, a especulação filosófica e o ócio; para a segunda posição, o sentido atual de lazer provém da noção romana de "otium". O lazer hoje, não seria outra coisa que a transferência corrigida no tempo do "otium" romano, isto é, um fenômeno elitista, carente já de sentido filosófico, diferenciador de classes e ostentatório.

    O lazer não tem sido o mesmo, nem será, sempre igual, pois cada modelo de organização social lhe imprime suas funções e características, de acordo com o sistema de aspirações, necessidades e valores imperantes nesses momentos e válidas para toda a organização (JIMENEZ GUSMAN, 1986). O lazer tomou a dimensão de hoje após a Revolução Industrial, quando então a jornada de trabalho começou a diminuir paulatinamente, muito embora "os fundamentos históricos do Lazer sejam anteriores à sociedade industrial, porque sempre existiu o trabalho e o não-trabalho em qualquer sociedade" (CAVALCANTI, 1981).

    A conquista de oito horas de trabalho, oito horas de descanso e oito horas de lazer marcou o início da humanização do trabalho e transformou a recreação e o lazer como um fato social (MARINHO, 1979, 1984; CUNHA, 1987). Com o reconhecimento das horas livres entre uma e outra jornada de trabalho, dos repousos semanais remunerados, das férias anuais e da cessação da vida de trabalho (aposentadoria) - (REQUIXA, 1969, 1976) - gerou-se, então, tempo de lazer compulsório - (TOYMBEE, citado por MARINHO, 1979, 1984).


Profissionais do Lazer

    Considera-se liderança recreacional ao conjunto de profissionais que se empenham na realização de programas na área de lazer (GAELZER, 1985). Em alguns países a profissão de recreador já está regularizada e valorizada. No Brasil, as profissões ligadas à educação física, aos esportes e à recreação e lazer foi recentemente regulamentada - Lei 9696/98. Só poderá exercer a função, profissional habilitado. Tão importante como a regularização profissional devem ser também as condições de formação dessa liderança que deverá levar a bom termo os programas recreacionais.

    As experiências universais têm demonstrado que a orientação das atividades recreativas, e, portanto, a ação da liderança recreacional é mais importante que instalações, equipamentos e material adequado. Por esse motivo a liderança deve desenvolver uma base cultural e de conhecimentos teóricos e práticos que lhes garantam êxito na orientação dos programas.

    Daí a importância de ser considerado, pela liderança recreacional, que a orientarão e o planejamento dos programas de atividades devam estar fundamentados na filosofia dos direitos humanos à liberdade. Por essa razão é que GOUVEIA (1969) tenha afirmado que a primeira atitude do recreador é planejar e elaborar programas com os que se recreiam e não para eles.

    Unidades de recreação não terão vida longa nem cumprirão seus objetivos se não houver pessoas responsáveis pelo bom andamento dos programas e pela subsistência do material. A função primordial da liderança na recreação é de direção e supervisão dos programas. Estes são variados e complexos, e as preferências dos vários tipos de grupo e de indivíduos requerem muita habilidade de realização que deve ser observada e considerada de suma importância.

    Para cada tipo de atividade de lazer existe um equipamento específico. Os equipamentos de turismo caracterizam-se como equipamentos destinados a programação turística em geral, associando hospedagem e atividades recreativas. Além das programações tipicamente de hotelaria - recepção, hospedagem e alimentação, são executadas programações diversificadas de lazer e recreação, construídas segundo as características geográficas-naturais e/ou histórico-culturais. Quanto ao tempo em que ocorrem, geralmente o são em temporadas de férias, em períodos determinados, em feriados e nos fins de semana. Ou nos períodos de pacote turístico programado.

    No estudo da liderança recreacional deve ser considerado o fato de PARKER (1978) ter feito a observação de que "a recreação é um sistema de controle social e, como todos os sistemas de controle social é até certo ponto manipulável, coercitivo e doutrinador. O lazer não é nada disso", e declarado que a recreação, renovando o ego e preparando para o trabalho, tem levado os críticos a comparar desfavoravelmente a recreação e o lazer.

    Analisando essa posição deve-se primeiro ter em mente que o lazer, no estudo de Parker, é um termo freqüentemente utilizado para designar algo semelhante à recreação, tanto que o autor assim se expressa: " a recreação sempre indica algum tipo de atividade e como o lazer e o jogo não possui forma única". Com tal posicionamento, recreação, lazer e jogo se caracterizam como atividade.


Atividades de Lazer

    As atividades de lazer são classificadas por DUMAZEDIER (1979) em

  • lazeres físicos - aqueles que implicam esforço e exercício de tipo corporal;

  • lazeres práticos - são os que exigem uma habilidade manual e especial;

  • lazeres intelectuais - que têm que ver com o cultivo do intelecto e da cultura;

  • lazeres artísticos - que têm a ver com a prática específica de uma arte;

  • lazeres sociais - são os relacionados com aquelas atividades de diversão, descanso e desenvolvimento, praticadas de uma forma coletiva.


Funções do Lazer

    No oferecimento de atividades de lazer, além dos espaços destinado à essas atividades, devem ser levadas em consideração as funções básicas do lazer:

  • função educativa, caracterizada pelo interesse próprio dirigido para a ampliação dos horizontes mentais, busca de novas experiências e de novo conhecimento;

  • função de ensino, caracterizada pela assimilação ou aprendizagem das normas culturais, de ideais filosóficos ou políticos, das normas de convivência social ou de comportamentos;

  • função integrativa, que tem por objetivo solidificar ou integrar os grupos, principalmente os familiares, de amizade-companhia, de interesses comuns;

  • função recreativa, que compreende atividade relacionada com o descanso psicológico e físico;

  • função cultural, refere-se à compreensão e assimilação dos valores culturais ou à criação de novos;

  • função compensadora, seriam as atuações que, de alguma forma, nivelam as insatisfações das outras áreas da vida.

    A atividade, seja ela recreação, lazer ou jogo, pressupõe uma multiplicidade de trabalho tanto individual como coletivo. Por sua própria natureza exige condições mínimas de realização, modo de procedimento e maneira de execução, pois não se pode entender atividade no plano teórico. Para realizá-la o indivíduo precisa pensar, estudar e aprender; necessita encontrar seu próprio ritmo e equilíbrio testando a si mesmo e se organizando interiormente.


Espaços de Lazer

    MARCELLINO (1983) considera que, muito embora as pesquisas realizadas na área das atividades desenvolvidas no tempo livre enfatizem a atração exercida pelo tipo de equipamento construído, deve-se considerar que, para a efetivação das características do lazer é necessário, antes de tudo, que o tempo disponível corresponda um espaço disponível.

    De que espaço falamos ? dos espaços dos interesses sociais - quando os sujeitos se propõem a estarem juntos, face a face, e relacionarem-se, antes de tudo que possa acontecer decorrente do encontro; dos espaços dos interesses físicos - quando a proposta é feita em função de atividades corporais onde prevaleçam os exercícios do corpo; dos espaços dos interesses intelectuais - que têm como primeira instância o desenvolvimento do domínio cognitivo na atividade, não considerando o elemento criativo e sim o concreto, o racional, o lógico; dos espaços dos interesses artísticos - onde o produzido gera o encantamento (STUCCHI, 1997).

    O espaço que nos interessa, são os espaços dos interesses turísticos, que têm como finalidade: mudança de paisagem, ritmo (saída do cotidiano), observação e sensação de outros estilos de vida, e também o turismo social se caracterizando por uma dimensão menor (STUCCHI, 1997).


Equipamentos de lazer

    Estes interesses, que também mostram uma dimensão concreta traduzida como lugares, podem ter significados diferentes em função da forma como cada sujeito os vê e os utiliza. Daí a preocupação com os estudos dos equipamentos de recreação e lazer deve ter como objetivos classificá-los segundo suas características físicas de construção, aspectos físicos estéticos e dimensões proporcionais aos locais geográficos em que serão implantados, como também agradar aos olhos de que os utilizará, inspirando confiança.

    CAMARGO (1984) classifica os equipamentos de lazer segundo suas características físicas, seus oferecimentos e sua demanda. Adotando sua nomenclatura e classificação, STUCCHI (1997) apresenta-nos a seguinte descrição:


Equipamentos específicos

    A freqüência de determinado equipamento vai depender do local em que se situa e da demanda existente pela facilidade de acesso. As formas de existência dos equipamentos podem ser visualizados quanto à dimensão física do espaço e suas finalidades programáticas, como segue:


Equipamentos especializados

  • Conceito: são equipamentos destinados a atender uma programação especializada, ou uma faixa de interesses culturais específicos. Como exemplo, a " academia de ginástica";

  • Programação: voltada para um segmento dos interesses socioculturais da clientela. estruturada sobre uma modalidade específica de animação. Exemplo: os "parques aquáticos";

  • Localização: em áreas urbanas, de grande concentração populacional;

  • Público: delimitado pelo interesse e pela localização;

  • Composição: geralmente de uma quantidade limitada de instalações para atividades;

  • Exemplos de equipamentos especializados: teatros, auditórios, cinemas, academias de ginástica, centros esportivos voltados para um interesse específico (natação, futebol, tênis, voleibol), bibliotecas, parques aquáticos, campos de golfe e/ou de minigolfe.


Equipamentos polivalentes

1. De dimensões e capacidades médias

  • Conceito: equipamentos destinados a receber uma programação diversificada, ou para atender variados interesses socioculturais. Com dimensões e capacidades para atender até 2.500 pessoas/dia, nas atividades permanentes, e até 5.000 pessoas simultaneamente, em eventos especiais ou de fins de semana;

  • Programação: atividades permanentes, temporárias e eventuais diversificadas, segundo públicos e interesses culturais;

  • Localização: preferentemente em áreas urbanas, próximas ao centro da cidade ou em regiões comerciais. Ou então em regiões de grande concentração populacional;

  • Atendimento: durante os dias da semana, período integral. E com ênfase nos finais de semana;

  • Público: de toda uma cidade, ou de uma região importante de uma grande cidade;

  • Composição: várias instalações para atividades, diversificadas por interesses socioculturais, por públicos e por conteúdos, de dimensões e capacidades entre média e grande, conforme o caso;

  • Exemplos: centros culturais em geral, quando associam instalações diversificadas - teatro, áreas de exposição, bibliotecas. Centro poliesportivo em geral. Parques urbanos. Centros culturais e esportivos.


Equipamentos polivalentes grandes

  • Conceito: equipamentos destinados a atendimentos de massa, em uma programação diversificada, abrangendo variados interesses socioculturais. Com instalações de grande dimensões e grande capacidade;

  • Programação: permanentes, temporária e de eventos, amplamente diversificada, segundo públicos, interesses socioculturais e conteúdo;

  • Localização: em uma região importante de um estado ou de uma grande cidade. Pode também se localizar em regiões da periferia das cidades, devido às dimensões de terreno necessário;

  • Atendimento: preferentemente nos fins de semana. Durante a semana, principalmente nos grandes eventos;

  • Público: de toda uma cidade, ou de uma região do estado;

  • Composição: várias instalações de grande capacidade, complementada por algumas instalações menores, diversificadas por interesses socioculturais, conteúdos e públicos. de preferência, priorizar as áreas verdes.


Equipamentos de turismo

  • Conceito: equipamentos destinados a programação turística em geral, associando hospedagem e atividades recreativas;

  • Programação: além das programações tipicamente de hotelaria - recepção, hospedagem e alimentação, programações diversificadas de lazer e recreação;

  • Localização: preferencialmente em áreas de interesse turístico, pelas características geográficas-naturais e/ou histórico-culturais;

  • Atendimento: em temporadas de férias, em períodos determinados, em feriados e nos fins de semana. Ou nos períodos de pacote turístico programado;

  • Público: genericamente o mais amplo, do estado, do país e do exterior;

  • Composição: instalações para hospedagem, para alimentação (restaurantes, lanchonetes), e instalações para atividades de lazer, de preferencia diversificadas;

  • Exemplos: hotéis de lazer, resorts, colônia de férias, grandes parques em escala regional, estadual e nacional, quando têm unidades de hospedagem, camping, acampamentos, pousadas em locais retirados (praias, montanhas, reservas ecológicas), pousadas em cidades turísticas.


Gestão do Lazer

    Para MARCELLINO (1995), a presença do profissional é importante nos equipamentos de lazer: centros culturais, centros esportivos, clubes, museus, bibliotecas, parques, academias esportivas, hotéis de lazer ou resorts.

    Constituem a alma dos equipamentos de lazer, e suas funções profissionais vão muito além da simples organização de algumas atividades para o público. O quadro de pessoal de um equipamento de lazer, quaisquer que sejam as suas características tipológicas, de dimensões, de capacidade, de composição de suas instalações deve ser estruturado de acordo com os seus processos de gestão:

  • administração: administração geral do equipamento de lazer e serviços administrativos em geral;

  • programação e animação: planejamento, realização e animação de todas as atividades do centro. A programação pode incluir atividades permanentes, atividades temporárias e eventos;

  • manutenção: compreende todos os sistemas destinados a manter em condições ótimas de funcionamento todas as instalações do equipamento: quadras, piscinas, auditórios, salas, etc., e instalações de apoio às atividades: vestiários, depósitos, sanitários.

    O profissional de Turismo e Lazer, deverá demonstrar aptidões intelectuais como capacidade de pensar em termos de símbolos abstratos, exatidão e atenção concentrada, cultivando ainda a sociabilidade, a meticulosidade, a liderança, desenvolvendo principalmente a coordenação motora.

    Tal profissional não poderá ser apenas mero repetidor de modelos estereotipados mas, um agente transformador da teoria e da praxes, com o objetivo de não violentar a prática do turismo e do lazer.

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revista digital · Año 9 · N° 65 | Buenos Aires, Octubre 2003  
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