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Métodos de Investigação em
Ciências Sociais: o Estudo de Caso

   
Licenciado em Educação Física e Desporto pela
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
(Portugal)
 
 
Romeu Mendes
romeumendes@netc.pt
 

 

 

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 9 - N° 65 - Octubre de 2003

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1. Introdução

    "Um estudo de caso bem sucedido fornecerá ao leitor uma ideia tridimensional e ilustrará relações, questões micropolíticas e padrões de influências num contexto particular" (Bell, 1993).

    Os estudos de caso são um tipo de estudos familiares mas diferentes. Podemos encontrá-los em áreas tão vastas como o Direito, Educação, História, Medicina, Psicologia e Administração. Podem ser usados em descrições culturais, preparações profissionais, construção de teorias, estudos biográficos, diagnósticos clínicos e até em análises policiais.

    De facto, algumas áreas parecem ter sido construídas quase inteiramente em conhecimentos produzidos por estudos de caso individuais, acumulativos e comparativos (Hamel et al., 1993).


2. O estudo de caso

    "O estudo de caso é uma análise profunda de um sujeito considerado individualmente. Às vezes pode-se estudar um grupo reduzido de sujeitos considerado globalmente. Em todo o caso observam-se as características de uma unidade individual, como por exemplo um sujeito, uma classe, uma escola, uma comunidade, etc. O objectivo consiste em estudar profundamente e analisar intensivamente os fenómenos que constituem o ciclo vital da unidade, em vista a estabelecer generalizações sobre a população à qual pertence" (Bisquera, 1989).

    O método de estudo de caso particular é especialmente indicado para investigadores isolados, dado que proporciona uma oportunidade para estudar, de uma forma mais ou menos aprofundada, um determinado aspecto de um problema em pouco tempo (Bell, 1993).

    O estudo de caso tem sido definido como sendo um termo global para uma família de métodos de investigação que têm em comum o facto de se concentrarem deliberadamente sobre o estudo de um determinado caso (Erasmic & Lima, 1989).

    A grande vantagem deste método consiste no facto de permitir ao investigador a possibilidade de se concentrar num caso especifico ou situação e de identificar, ou tentar identificar, os diversos processos interactivos em curso (Bell, 1993).

    A observação é o método de investigação mais frequentemente utilizado, sendo a base dos estudos de caso (Bisquera, 1989).

    Sendo assim, o estudo de caso será um método ou será uma abordagem?

    Segundo Hamel et al. (1993), é mais apropriado definir o estudo de caso como uma abordagem, apesar de o nome sugerir que seja um método.


2.1. Definição do Objecto de Estudo

    Nunca é fácil definirmos um objecto de estudo, que aborde um problema ou um fenómeno. Esta dificuldade torna-se ainda maior quando utilizamos o estudo de caso para este fim. Só ao estabelecer progressivamente estreitas relações com a área de estudo, o investigador deverá ser capaz de definir o seu objecto de estudo. Ou seja, o investigador deverá cuidadosa e antecipadamente definir o objecto de estudo que dará origem ao estudo de caso.

    Os investigadores escolhem uma área de investigação porque pretendem especificamente estudar uma matéria especial, e esta área é regularmente confundida como o objecto de estudo ou com o caso em si mesmo. É assim necessário fazer a distinção entre o objecto de estudo e o estudo de caso seleccionado para o propósito, e ainda definindo com clareza ente último. O investigador ao definir o objecto de estudo, deve ter em atenção a forma como a sociedade gera o problema ou o fenómeno em questão. Esta definição deve partir do próprio investigador e não deve ser imposta pela área.

    A subjectividade do investigador deve portanto assumir um papel importante na definição do objecto de estudo. Esta subjectividade torna-se objectiva do ponto de vista do investigador (Hamel et al., 1993).


2.2. Selecção do Caso Ideal para Compreender o Objecto de Estudo

    Apesar da objectividade revelada na definição do objecto de estudo apenas ser possível através da subjectividade, esta apenas pode ser a única forma de o caso ser seleccionado, se pretendemos entender o objecto. É assim necessário recorrer a uma estratégia metodológica para seleccionarmos o caso. Esta estratégia consiste em detalhar as qualidades metodológicas características do caso escolhido, baseadas no objecto de estudo seleccionado. Esta estratégia metodológica resulta da Inicial Theory, ou seja, da ideia inicial que o investigador tem do problema ou fenómeno percepcionado.

    O caso escolhido deve ser representativo. Esta representatividade é relativa à qualidades metodológicas a ele atribuídas. A definição do caso deve permitir uma avaliação da sua generalidade, tendo em vista os resultados da análise possível (Hamel et al., 1993).


2.3. A abundância de Materiais Empíricos

    O estudo de caso é uma investigação de profundidade. Podem ser usados vários métodos para recolher vários tipos de informações e para se fazerem observações. Estes são os materiais empíricos através dos quais o objecto de estudo será compreendido. O estudo de caso é assim baseado numa grande riqueza de materiais empíricos, notáveis pela sua variedade. Contudo, esta variedade de materiais empíricos apresentam problemas analíticos.

    Esta variedade aparece tanto na diversidade do materiais empíricos como no seu tratamento. Estes podem ser relatórios de noticias, documentos oficiais, escritas pessoais, trabalhos literários. O estudo de caso considera material de diferentes origens, que são produzidos por diferentes tipos de conhecimento.

    A análise de todo este material levanta sérios problemas. Por outras palavras, como é que os materiais empíricos podem ser usados numa análise do ponto de vista cientifico, se foram tratados de forma diferente, dependendo da sua origem?

    Para se começar a responder a esta questão, o objecto de estudo deve ser descrito como foi empiricamente definido, ou seja, da forma como foi construído através destes materiais. A definição do objecto de estudo deve ser uma definição sustentada pelo investigador, e que corresponda ao foco do estudo. O objecto de estudo deve assim ser demonstrado como se fosse construído com base no material empírico.

    A profundidade da descrição do estudo de caso, naturalmente sustenta esta demonstração, porque facilita a clara compreensão da forma como o objecto de estudo se relaciona com os materiais.

    È assim apropriado determinar rigorosamente o objecto de estudo na transformação da definição teórica do objecto de estudo na sua construção empírica dentro dos materiais seleccionados.

    A variedade destes materiais irá garantir a profundidade do estudo de caso. O rigor da definição do objecto sobre análise depende aqui da profundidade da descrição característica da abordagem do estudo de caso (Hamel et al., 1993).


2.4. Problemas na sua Escrita

    Ao usar materiais de diferentes origens e dando a análise em profundidade que o processo implica, o estudo de caso apresenta claramente problemas na literatura e de uma forma mais geral na linguagem.

    Devido aos estudos darem uma descrição profunda, é necessário uma compreensão da forma como a linguagem dos materiais empíricos é transformada noutra linguagem. Ou seja, a construção teórica dos materiais empíricos, deve ser directamente compreendida dentro de uma análise.

    A escrita do estudo de caso deve assim compreender três qualidades de rigor (Hamel et al., 1993):

  • a escrita deve ser livre de processos estilísticos;

  • deve incluir a demonstração de conhecimentos (ex. fórmulas ou equações);

  • e a linguagem deve ser irreduzível, de forma a facilitar a sua compreensão.


2.5. Construção das Conclusões

    As conclusões alcançadas pelo estudo de caso não podem depender das qualidades da sua linguagem. Estas conclusões devem ser completamente transmitidas numa declaração escrita.

    O estudo de caso deve produzir conclusões que não possam ser escritas de forma explicita ou que levantem dúvidas. As teorias e fundações metodológicas das conclusões resultantes do estudo de caso devem ser claramente compreendidas através da profundidade da descrição do objecto de estudo.

    Estas conclusões devem ser apresentadas como informações novas. Ou seja, as conclusões devem fornecer informações que, apesar de baseadas na análise das informações de campo, transcendam estas informações (Hamel et al., 1993).


3. Conclusôes

    Os estudos de caso são um tipo de estudos muito particulares e que para serem eficientes devem ter o seu objecto de estudo bem definido, o caso escolhido deve ser representativo do problema ou fenómeno a estudar, os materiais e dados devem ser recolhidos com precaução, a sua linguagem deve ser homogénea e clara e as conclusões produzidas devem ser bem explicitas e representarem informações novas.


Bibliografia

  • Bell, J. (1993). Como Realizar um Projecto de Investigação - Um guia para a Pesquisa em Ciências Sociais e da Educação. Gradiva.

  • Bisquera, R. (1989). Métodos de Investigação Educativa: Guia Pratica. Barcelona: Ediciones CEAC, S. A.

  • Erasmic, T. & Lima, L. (1989). Investigação e Projectos de Desenvolvimento em Educação. Braga: Universidade do Minho.

  • Hamel, J., Dufour, S. & Fortin, D. (1993). Case Study Methods. Sage publications.

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