Percentual de gordura em praticantes de condicionamento físico pela impedância bioelétrica e pela técnica antropométrica |
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* Especialização em Atividade Física, Qualidade de Vida e Envelhecimento- UNOPAR-PR ** Professor Dr. do Centro de Desportos -CDS/UFSC *** Professor Dr. da PUC-PR (Brasil) |
Sheilla Tribess* Edio Luiz Petroski** Ciro Romelio Rodriguez-Añez*** sheillatribess@bol.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 9 - N° 64 - Septiembre de 2003 |
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Introdução
O estudo da composição corporal visa, por meio de diversas técnicas que variam em complexidade, fracionar e quantificar os principais tecidos que compõem a massa ou o peso corporal (Malina & Bouchard, 1991).
O corpo humano, para estudos da composição corporal, pode ser fracionado em quatro compartimentos: massa muscular (MM), massa gorda (MG), massa óssea (MO) e massa residual (MR). Neste último estão incluídos os diversos órgãos que formam o corpo humano, o sangue, a pele, o sistema nervoso etc (Pollock & Wilmore, 1993). Para fins mais didáticos, os autores sugerem o fracionamento do corpo humano em dois componentes: a massa corporal isenta de gordura (massa corporal magra) e a gordura corporal.
A gordura corporal, segundo Kacth & McArdle (1996), pode ser classificada no organismo humano sob duas formas. Primeiro: "gordura essencial", que consiste na gordura armazenada internamente nos principais órgãos, intestinos, músculos e nos tecidos ricos em lipídeos presentes no sistema nervoso central. Este tipo de gordura é indispensável para o funcionamento fisiológico satisfatório do organismo. Segundo: "gordura armazenada", a qual consiste na gordura estocada no tecido adiposo, internamente revestindo vários órgãos e em grande volume na camada de gordura subcutânea.
Já a massa magra representa, principalmente, o sistema muscular e esquelético. E seu peso é estabelecido a partir da proporção constante de água, sais minerais e matéria orgânica, incluindo uma quantidade não determinada de lipídios essenciais (Guedes & Guedes, 1998).
O excesso de gordura corporal, principalmente na região central do corpo, constitui-se em um fator de risco para a saúde da população na atualidade (Pollock & Wilmore, 1993, Heyward & Stolarczyk, 1996). Bray & Gray (1988); Katch & McArdle (1996); Despres et al. (1991); Assis et al. (1999) evidenciam a associação do excesso e da distribuição de peso, com o surgimento de doenças, tais como, as cardíacas, hipertensão, distúrbios do metabolismo dos lipídios e glicídios, doenças articulares, ósseas e renais, diabetes, asma e várias desordens pulmonares, que levam a um aumento da morbidade e redução da longevidade.
A quantificação e a distribuição da gordura corporal são elementos freqüentemente analisados em estudos da composição corporal, e que podem ser realizados por meio de diversas técnicas que envolvem procedimentos de determinação direta, indireta e duplamente indireta.
O método direto, segundo Katch & McArdle (1996), constitui a separação dos diversos componentes estruturais do corpo humano a fim de pesá-los e estabelecer relações entre eles e a massa corporal total.
Os métodos indiretos são aqueles onde não há a manipulação dos componentes separadamente, mas a partir de princípios químicos e físicos que visam a extrapolação das quantidades de gordura e massa magra. Entre esses métodos pode-se citar como métodos químicos a contagem de potássio radioativo (K40 e K42), diluição de óxido de deutério, excreção de creatinina urinária; com relação aos métodos físicos os mais conhecidos são o ultra-som, o raios x, a ressonância nuclear magnética e a densimetria.
Os métodos duplamente indiretos são aqueles validados a partir de um método indireto. Esses métodos são menos rigorosos, têm uma melhor aplicação prática e um menor custo financeiro, podendo ser aplicados em ambientes de campo e clínico (Monteiro & Fernandes Filho, 2002). Como exemplo, pode-se citar a antropometria, a análise de impedância bioelétrica (BIA) e a interactância de raios infravermelhos.
Nos últimos anos, vários desses métodos acima citados foram aperfeiçoados e selecionados para a utilização na avaliação da composição corporal e conseqüentemente na estimativa do percentual de gordura. Entre eles estão a impedância bioelétrica (BIA) e as técnicas antropométricas.
O método antropométrico utiliza-se de medidas de massa corporal, altura, diâmetros e comprimentos ósseos, espessuras das dobras cutâneas, circunferências, e alguns índices que avaliam o risco para propensão de doenças, no qual pode-se citar: índice de massa corporal (IMC) ou de Quetelet, índice de conicidade (IC) e índice da relação cintura e quadril (RCQ) (Manteiro & Fernandes Filho, 2002). E envolve o uso dessas medidas isoladas e/ou a combinação de algumas, em equação de regressão para estimar a densidade (D), tendo como critério os métodos laboratoriais. E a partir desta, a conversão para percentual de gordura.
As vantagens no uso das técnicas antropométricas são: significativa relação das medidas antropométricas com a densidade (D), obtidas através dos métodos laboratoriais; uso de equipamentos de baixo custo financeiro e a necessidade de pequeno espaço físico; a facilidade e a rapidez na coleta de dados; a não invasividade do método (Petroski, 2003).
A técnica da espessura da dobras cutâneas como procedimento no estudo da gordura corporal, está baseada no princípio de que existe uma significativa relação entre a gordura situada diretamente abaixo da pele (gordura subcutânea), a gordura interna e a densidade corporal (Kacth & McArdle, 1996). Grande parte da gordura total do corpo, aproximadamente a metade do conteúdo corporal total de gordura, está distribuída no tecido subcutâneo, ou seja, a gordura subcutânea representa uma importante amostra na quantidade total de gordura existente no corpo, o que torna a técnica uma valiosa opção para o estudo do percentual de gordura (%G) (Carvalho, 1998).
Com base na estreita relação existente entre a quantidade de gordura corporal total e subcutânea várias equações de regressões, principalmente de origem estrangeiras, têm sido propostas com a finalidade de estimar a densidade corporal a partir dos valores das dobras cutâneas. No Brasil, Guedes (1985), Petroski (1995) e Rodriguez-Añez (1997) destacaram-se ao desenvolverem equações antropométricas para a estimativa da densidade corporal, e Petroski & Pires Neto (1995, 1996) por validarem equações estrangeiras, a maioria de origem americana, entre as quais destacam-se as equações generalizadas de Jackson & Pollock (1978) e Jackson et al. (1980), e as equações específicas de Pollock et al. (1976), Sloan (1967), Faulkner (1968), Kacth & McArdle (1973) e Sloan et al. (1962).
A conversão da densidade corporal a partir dos valores das dobras cutâneas para percentual de gordura pode ser realizada através das equações de Siri (1961) e de Brozek et al. (1963) (Petroski, 1995).
Assim como a antropometria, a bioimpedância atualmente tem sido apresentada como uma alternativa rápida para a determinação da composição corporal, uma vez que é de fácil operação e relativamente confiável, podendo ser potencialmente usada no cálculo das estimativas de gordura corporal relativa.
O método da impedância bioelétrica baseia-se na condução de uma corrente elétrica de baixa intensidade no organismo. Os organismos vivos contêm fluidos intra e extracelulares que agem como condutores elétricos, e de membranas celulares que atuam como condensadores elétricos. O método da BIA baseia-se no princípio de que uma resistência a uma corrente elétrica está inversamente relacionada à distribuição da água corporal total e dos eletrólitos (Lukaski et al., 1986). Logo, o fluxo elétrico é facilitado através do tecido hidratado e da água extracelular em comparação com o tecido adiposo. Isso ocorre por causa do maior conteúdo de eletrólitos (conseqüentemente, de menor resistência elétrica) na massa corporal magra (Kacth & McArdle, 1996).
A impedância ou resistência corporal é mensurada através do envolvimento da lei de Ohms, onde a resistência (R) é igual à voltagem (V) dividido pela corrente (I), então: R = V / I (Baumgartner et al., 1990).
Em se tratando da aplicação da BIA no estudo da composição corporal, todos os analisadores (multi-freqüências ou freqüência fixa) são programados para emitirem um sinal de corrente elétrica de baixa intensidade. Dependendo do tipo de analisador, a intensidade da corrente pode variar de 500 µA a 800 µA (microAmpéres). Já a freqüência pode oscilar de 1 kHz (kilohertzs) a 1MHz (megahertzs), caso seja um analisador multi-freqüência ou a 50 kHz (kilohertzs) se for um analisador de freqüência fixa. Via de regra, a aplicação da BIA em humanos é operacionalizada pelos analisadores de freqüência fixa (Heyward & Stolarczyk, 1996).
No emprego deste estudo, utilizou-se o analisador de freqüência fixa bipedal de marca Tanita (Tanita Inc., Tokyo, Japan Model TF 700). A técnica da BIA requer o contato dos pés com dois eletrodos de metais localizados numa plataforma medidora. Essa plataforma medidora envia uma corrente de intensidade 500 µA (microAmpéres) a uma freqüência de 50 kHz (kilohertzs) através das pernas e tronco e possui um alcance de impedância de 150 a 900 W (Swartz et al., 2002).
O total da resistência é mensurado pelo contato dos dois eletrodos em cada pé, na plataforma medidora. Os eletrodos que entram em contato com cada pé são divididos em dois: eletrodo anterior e eletrodo posterior. A corrente é aplicada no eletrodo anterior, que fica em contato com a região plantar próximo as falanges, e a queda da voltagem é registrada no eletrodo posterior que está em contato com o calcanhar do avaliado (Swartz et al., 2002).
A impedância e a massa corporal são simultaneamente mensuradas assim que o avaliado coloca os pés em contato com os eletrodos na plataforma medidora. A massa corporal magra e a densidade são calculadas pelo uso das equações preditivas que já vem da fábrica instaladas no aparelho, assim como a conversão para percentual de gordura (Utter et al., 1999).
Heyward & Stolarczyl (1996) relatam cuidados que devem ser seguidos para uma melhor utilização da BIA: 1) evitar o consumo de álcool e cafeína 48h antes do teste; 2) não comer ou beber 4h antes do teste; 3) não realizar exercícios físicos de alta intensidade pelo menos 24 horas antes do teste; 4) suspender a ingestão de drogas ou medicamentos a base de diuréticos 7 dias antes do teste; 5) não executar o teste da BIA nos indivíduos do sexo feminino quando estes perceberem que estão retendo água durante o ciclo menstrual; 6) urinar trinta minutos antes da realização do teste.
Verifica-se na literatura inúmeras pesquisas comprovando a validade do uso da técnica da BIA para o cálculo do percentual de gordura (Lukaski et al.,1986; Morais et al., 1997; Ross et al., 1989; Baumgartner et al., 1998; Heymsfield et al., 1996; Utter et al., 1999; Swartz et al., 2002).
A avaliação do percentual de gordura (%G) tem sido uma prática bastante utilizada em academias para o controle de mudanças na composição corporal associadas ao efeito da nutrição e do exercício, para estimar o peso ideal, bem como, para identificar os riscos de saúde associados com o excesso ou falta de gordura corporal total. E em virtude dessa diversidade de utilização do percentual de gordura, o presente estudo teve por finalidade comparar o percentual de gordura (% G) mensurado por meio da impedância bioelétrica (BIA) e da antropometria em indivíduos praticantes de condicionamento físico do sexo masculino para verificar a possibilidade de utilização na academia de uma técnica alternativamente a outra.
Procedimentos metodológicosEste estudo caracterizou-se como uma pesquisa descritiva-comparativa, envolvendo indivíduos do sexo masculino, com a faixa etária de 20 a 60 anos, praticantes de condicionamento físico da Academia de Ginástica Bioforma na cidade de Florianópolis - SC.
Todos os indivíduos que participaram do estudo eram voluntários e praticavam exercícios físicos, duas a cinco vezes por semana num período mínimo de uma hora, que envolviam exercícios de força, de flexibilidade e de resistência aeróbica.
A amostra foi constituída por 83 indivíduos, selecionados de forma intencional, conforme a conveniência e os pré-requisitos (sexo e idade). Os indivíduos foram divididos em 4 faixas etárias: 20 a 30 anos, 31 a 40 anos, 41 a 50 anos e 51 a 60 anos, devido a diferença de percentual de gordura apresentado pela amostra.
As variáveis antropométricas coletadas foram: massa corporal (MC), estatura (ES), sete dobras cutâneas: subescapular (SE), tríceps (TR), peitoral (PE), axilar média (AXM), supra-ilíaca (SI), abdome (AB) e coxa (CX); dois perímetros: abdômen (PAB) e antebraço (PAT) e data de nascimento.
A estatura foi mensurada por meio de uma fita métrica, precisão de 0,1 cm, fixa à parede, com o ponto zero no nível do solo, seguindo os procedimentos adotados por Alvarez & Pavan (2003), assim como a massa corporal, mensurada por meio de uma balança digital, marca Tanita, com precisão de 100 gramas (g). As medidas das dobras cutâneas (SE, TR, PE, AXM, SI, AB e CX) foram realizadas por meio do adipômetro de marca Lange com precisão de 1 mm e pressão constante de 10 g/mm2, seguindo os procedimentos adotados por Benedetti et al. (2003). Os PAB e PAT foram mensurados com uma fita métrica Cardiomed de fabricação japonesa, com precisão de 0,1 cm e de acordo com os procedimentos adotados por Martins & Lopes (2003).
Para o cálculo da densidade corporal, utilizou-se a equação generalizada desenvolvida por Jackson & Pollock (1978) e validada por Petroski (1995), no qual utiliza sete dobras cutâneas, idade e perímetro do abdome e do antebraço (QUADRO 1). E O percentual de gordura (%G) para a técnica antropométrica foi estimado através da equação de SIRI (1961) %G = (495/D) - 450, onde %G = percentual de gordura; D = densidade (g/ml).
QUADRO 1 - Equação de Jackson & Pollock (1978) para a estimativa da densidade corporal
de homens com idades entre 18 e 61 anos.
Para a análise da Impedância bioelétrica utilizou-se o analisador de marca Tanita TF-700. Os dados da ES, PAB, idade e sexo do indivíduo são digitados no analisador, em seguida o avaliado coloca os dois pés na plataforma medidora e após alguns segundos o aparelho fornece os dados da MC e %G do indivíduo.
Todos os avaliados receberam explicações anteriores ao teste sobre o objetivo do trabalho bem como todas as orientações/recomendações descritas por Heyward & Stolarczyl (1996) necessárias para a realização da análise da BIA.
A análise dos dados foi realizada por meio da estatística descritiva para caracterizar a amostra e para verificar as diferenças entre o %G obtido pelas dobras cutâneas e pela BIA utilizou-se o teste "t" de student para grupos dependentes (p< 0,005). O programa de estatística SPSS 10.0 foi utilizado a fim de atender aos objetivos propostos para o presente estudo.
ResultadosOs valores descritivos das características físicas e da composição corporal estão apresentados na TABELA 2.
TABELA 2 - Valores médios e desvios padrões das características físicas, composição corporal por faixa etária.
Pode-se perceber que com o avançar da idade há um aumento da massa corporal, do IMC, com exceção da faixa etária 41 a 50 anos (25,7 kg/ m2) que praticamente se manteve estável em relação a faixa etária 31 a 40 anos (25,1 kg/m2), e uma diminuição da estatura.
Kacth & McArdle (1996) explicam que o aumento da gordura inicia na infância e cresce lentamente pela fase adulta, e que em média um homem de 20 anos adquire 250 a 500 g de gordura por ano até os 60 anos. E a diminuição da estatura ocorre em virtude de que com o passar dos anos há uma sobrecarga na coluna comprimindo os espaços intersticiais das vértebras.
Da análise dos resultados do total da amostra, a estatura (175,4 ± 6,7), a massa corporal (77,2 ± 12,6) e o percentual de gordura pela técnica das dobras cutâneas (17,2 ± 4,9), apresentaram-se semelhantes quando comparados com a média da população brasileira da região Sul, estimadas por Petroski (1995), no qual a estatura, a massa corporal e o percentual de gordura apresentaram os seguintes valores respectivamente 174,5 cm (± 6,8), 73,6 kg (±9,7) e 16,1 % (± 6,8).
A grande preocupação desse estudo foi verificar a possibilidade de usar de forma alternativa os métodos da BIA e das dobras cutâneas para estimar o percentual de gordura em indivíduos praticantes de condicionamento físico da academia Bioforma. Observa-se na TABELA 3 os valores da média, desvio padrão, da correlação e teste "t" de student da amostra, pelos procedimentos da BIA e das dobras cutâneas.
TABELA 3 - Teste "t" de student e correlação entre o %G estimado pela técnica
antropométrica e pela técnica da BIA .
*p<0,0001
Quando analisado os valores de correlação para o %G estimado pela técnica da BIA e pela técnica antropométrica das dobras cutâneas, verificou-se que as faixas etárias 20-30 anos, 31-40 anos, 51-60 anos e o total da amostra apresentaram correlação (r=0,821, r=0,694, r=0,683 e r= 0,703, respectivamente) significativa (p= 0.0001). Apenas a faixa etária de 41 a 50 anos não apresentou correlação entre as duas técnicas.
Evidenciou-se por meio do teste "t" pareado, que os valores do %G obtido pelo procedimento antropométrico das dobras cutâneas diferiu significativamente (p=0.0001) dos valores mensurado pela técnica da BIA para todas as faixas etárias.
A análise dos dados permite observar que a técnica da BIA apresentou valores superiores do %G quando comparada com a antropometria (faixa etária 20-30 anos - 22,58 x 13,17; 31 a 40 anos - 25,71 x 17,35; 41-50 anos - 25,39 x18,31; 51-60 anos - 27,29 x 20,58; total - 25,12 x 17,25). Esses resultados também foram confirmados nos estudos de Petroski et al. (1994) e Glaner et al. (1996), e Souza et al. (1996) citados por Carvalho (1998).
As explicações para os resultados encontrados nesse estudo fundamentam-se primeiramente, na balança de Impedância Bioelétrica usada para mensurar o percentual de gordura ser de origem japonesa, conseqüentemente a equação de predição para o cálculo do %G pode ser direcionada a população japonesa a qual possui hábitos e costumes diferentes da população brasileira, podendo ser inadequadas para a utilização da população brasileira.
As avaliações foram realizadas em diferentes períodos do dia, com predominância no final da manhã e início da noite. Durante o transcorrer das duas semanas de realização das avaliações deparou-se com temperaturas elevadíssimas em contraste com dias frios e chuvosos. Essas variações da temperatura do ambiente no período da realização das avaliações podem ter proporcionado erroneamente os resultados. Sabe-se que a queda da temperatura provoca uma diminuição no fluxo sangüíneo e/ou plasmático, em vista da redução do volume de água na corrente sangüínea. Nessas condições, torna-se possível obter um aumento da resistência mensurada através da impedância, provocando erros na estimativa do total de água corporal e conseqüentemente do %G.
Outro fato a destacar é a necessidade que todas as recomendações fossem seguidas, a fim de minimizar os erros na hora da estimativa do %G através do método da BIA, pois esse método é muito sensível as variações do estado hídrico do avaliado. O álcool, a cafeína, os diuréticos, a alimentação, a temperatura corporal e principalmente, a atividade física alteram significativamente os níveis de água corporal do indivíduo, o que pode causar informações incorretas da bioresistência, alterando assim os valores reais da massa corporal magra, bem como os demais componentes derivados dessa variável (Baumgartner, 1996).
Para a correta validação do teste, o fator mais importante a ser analisado é a quantidade de água corporal contida na massa corporal magra. Para que se esteja com os níveis normais de hidratação, tanto os indivíduos do sexo masculino quanto os do sexo feminino devem apresentar valores entre 68 % e 75 % de água na massa magra. Os valores acima de 75 % de água na massa magra indicam um estado de retenção hídrica, ao passo que índices abaixo de 68 % podem sugerir desidratação (Biodynamics, 1995). Tanto a desidratação como a superidratação afetam a concentração de eletrólitos corporais (Kacth & McArdle,1996). Tal desequilíbrio altera a corrente elétrica independentemente de alterações do teor da gordura corporal. Mais especificamente, a perda de água corporal diminui o grau de impedância, revelando assim, um percentual de gordura artificialmente menor, enquanto a superidratação produz um efeito contrário, quer dizer, valores mais elevados da impedância produzem percentual de gordura maior.
Conclusão
Os valores do percentual de gordura estimado pela técnica antropométrica foram: faixa etária de 20-30 anos 13,1 % (± 4,5); faixa etária 31-40 anos 17,3 % (± 4,0); faixa etária 41-50 anos 18,6 % (± 2,9); faixa etária 51-60 anos 20,5 % (± 4,9); e total da amostra 17,2 % (± 4,9).
Os valores do percentual de gordura estimado pela técnica da impedância bioelétrica foram: faixa etária 20-30 anos 22,5 % (± 5,4); faixa etária 31-40 anos 25,7 % (± 5,7); faixa etária 41-50 anos 25,3 % (± 4,5); faixa etária 51-60 anos 27,2 % (± 6,6); e total da amostra 25,1 % (± 5,7).
As faixas etárias de 20-30 anos, 31-40 anos, 51-60 anos e o total da amostra apresentaram correlação (p= 0.0001) entre as técnicas da BIA e da antropometria.
Quando comparados os valores do percentual de gordura apresentados pela técnica da BIA e pela técnica antropométrica das dobras cutâneas, observa-se diferenças significativa (p=0.0001), tendo a técnica da BIA fornecido valores superiores a técnica antropométrica.
Pode-se concluir que os dois procedimentos não podem ser usados de forma alternativa, pois as diferenças entre seus resultados implicam na prescrição de exercícios com objetivos específicos diferenciados.
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revista
digital · Año 9 · N° 64 | Buenos Aires, Septiembre 2003 |