Análise do nível de atividade física nas casas de repouso e instituições filantrópicas (asilos) do Distrito Federal |
|||
*Universidade Católica de Brasília **Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Brasil) |
Gislane Ferreira de Melo* Aguinis de Cássia Mendonça* Adriana Giavoni* Alberto Saturno Madureira** gislane.ferreira@terra.com.br |
|
|
|
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 9 - N° 62 - Julio de 2003 |
1 / 1
Introdução
É notório nos dias de hoje, o crescimento no número de pessoas que atingem a terceira idade em todas as sociedades do mundo. Neste artigo entenderemos por esta, os indivíduos da faixa etária acima de 60 anos (OMS).
Conforme o IBGE (2000), a população idosa brasileira apresenta 50% de idosos entre 60 a 69 anos, 36% entre 70 e 79 anos e 14% acima de 80 anos.
Existem várias razões de explicar este crescimento que vem ocorrendo tanto em países de primeiro mundo, quanto em países em desenvolvimento. Uma das principais razões para este acontecimento é, sem dúvida, além do controle das doenças infecto-contagiosas, a diminuição nas últimas duas décadas da incidência de enfermidades cardiovasculares, em particular enfermidades coronárias e acidentes vasculares cerebral, que são as maiores causas das morbi-mortalidade no mundo (SHEPARD, 1991).
A principal conseqüência desse envelhecimento mundial é que os idosos impõem uma carga substancial para a economia nacional, já que grandes partes dos recursos médicos são desviadas para eles. Alguns autores (FOURNIER, 1989; DUCHARME, 1992; VERAS, 1992) afirmam que o envelhecimento populacional é um fenômeno que gera novas demandas para os serviços de saúde e aumentos substanciais nos custos de programas médicos e sociais.
Apesar do crescente número de idosos, os problemas atuais enfrentados por aqueles que não têm uma situação financeira desejável são variados e complexos. Nas gerações que nos antecederam, a atividade agrícola predominava, praticamente não existindo a aposentadoria. As pessoas trabalhavam em conjunto com a família até o esgotamento de suas condições físicas. Em muitos casos a mesma residência era compartilhada por três gerações. Quando uma pessoa ficava incapacitada, tinha toda a família ao seu redor e havia sempre alguém por perto para propiciar-lhe cuidados.
Essa situação mudou com a Revolução Industrial. O trabalho das fábricas nos grandes centros atraiu o trabalhador do campo em grande proporção. O núcleo básico das famílias de três gerações (avós - pais - filhos) passou a duas gerações. Os trabalhadores mais velhos começam a se aposentar, por não poderem mais competir com a força de trabalho mais jovem.
O idoso ao ter a percepção de todos estes fatos naturais; de que sua presença com filhos e netos não lhe permite desfrutar dos mínimos padrões conquistados, mantém o desejo de ser livre e de possuir seu espaço, na sua individualidade.
Aqueles, os quais possuem condições financeiras dignas de uma vida de trabalho, conseguem ter sua casa própria e/ou ainda, viver em flats e hotéis. Porém, aqueles que não tiveram estas oportunidades acabam sempre sendo encaminhados às casas de repouso ou asilos subsidiados pelo governo ou entidades filantrópicas.
Segundo Benedetti, et. al. (2001), estas instituições não realizam atividades ocupacionais durante o dia, e ainda, os idosos, devido ao declínio do organismo, dão preferência à atividades menos exigentes e que requeiram menor esforço, acontecendo com isso, um fenômeno interessante que termina convertendo-se em um ciclo vicioso: à medida em que há o incremento da idade, o indivíduo tende-se a tornar menos ativo, por conseguinte suas capacidades físicas diminuem, começa a aparecer o sentimento de velhice, que pode por sua vez causar stress, depressão e levar a uma redução da atividade física e, conseqüentemente, à aparição de doenças crônico degenerativas, que por si só, contribui para o envelhecimento. Mais que a doença crônica, é o desuso das funções fisiológicas que pode gerar mais problemas. A maioria dos efeitos do envelhecimento ocorre por imobilidade e má adaptação e não por doença crônica (MATSUDO, 1997).
Grandes partes das evidências epidemiológicas sustentam um efeito positivo de um estilo de vida ativo e/ou do envolvimento dos indivíduos em programas de atividade física e exercício na prevenção e minimização dos efeitos deletérios do envelhecimento. Os cientistas enfatizam cada vez mais a necessidade de que a atividade física seja parte fundamental dos programas mundiais de promoção da saúde. Não se pode pensar hoje em dia em "prevenir" ou minimizar os efeitos do envelhecimento sem que além das medidas gerais de saúde se inclua a atividade física. (MATSUDO, 2000).
Frente a estas constatações foi proposto o presente estudo com o objetivo de analisar e investigar o nível de atividade física nas casas de repouso e asilos do Distrito Federal, que apesar de ser novo, está vendo sua população envelhecer-se. São hoje mais de 114 mil pessoas na faixa etária acima de 60 anos espalhados em todo o plano piloto e cidades satélites (CODEPLAN, 2001).
MetodologiaAmostra: a população neste estudo é caracterizada por instituições filantrópicas (asilos) (09) e casas de repouso particulares (02) do Distrito Federal. Devido ao número de instituições optou-se por trabalhar com toda a população. Segue abaixo Quadro I (Numero de idosos por localidades e instituição atendentes no Distrito Federal).
QUADRO I - Número de Idosos por localidade, número de Instituições e atendimentos
Instrumento e Procedimentos: Foi feita inicialmente, uma entrevista pelo telefone e posteriormente, uma visita "in loco" com os supervisores destas instituições para complementação e confirmação dos dados. A entrevista foi montada, a partir dos aspectos que eram mais relevantes para a pesquisa. As questões formuladas foram as seguintes:
Vocês possuem algum espaço para o desenvolvimento de atividades físicas orientadas?
Existe algum plano de trabalho em relação à prática de atividade física orientada?
Vocês realizam algum tipo de atividade física com os idosos?
A instituição possui hoje um profissional de Educação Física?
Níveis de Atividade Física:
A análise do nível de atividade física foi assim proposta:
0 (zero) = não possui qualquer programa de atividade física
1 (um) = possui qualquer programa de atividade física
Resultados e discussãoObservou-se que 100% das instituições não possuíam qualquer tipo de programa de trabalho ou planejamento semanal para a realização de atividades físicas com seus idosos, caracterizando-se com o nível 0 (zero) de atividade física.
Com relação ao espaço físico, somente 18% das instituições tinham um local em que se poderia realizar alguma atividade física além dos valores de repouso (1 a 3 METs), e destas, apenas 9% possuía uma quadra de esportes.
Quanto a realização de algum tipo de atividade física, a resposta mais encontrada (63,5%) foi que só ofereciam esta atividade se por acaso houvesse uma pessoa que durante as visitas fosse trabalhar como voluntário. Foi dito que quando um voluntário se fazia presente as atividades mais oferecidas eram biodança, yoga e recreação em salas fechadas, as outras quatro instituições não tinham qualquer tipo de atividade, pois a maioria dos seus internos são acamados.
Nenhuma das instituições investigada possui um profissional de Educação Física em seu quadro funcional.
Para além das questões investigadas foi possível verificar, durante a visita ao local, que nas instituições particulares, onde o valor mensal é em média de R$1.500,00 (hum mil e quinhentos reais), havia fisioterapeuta, assistente social, dentista, médico, psicólogo e terapeuta ocupacional, que talvez pudessem realizar atividades de caráter metabólico mais ativo e, em três instituições filantrópicas verificou-se um convênio com faculdades de fisioterapia onde acadêmicos realizavam estágio curricular e extracurricular voluntário.
É notória a falta de uma programação a cerca da atividade física para os idosos internos de Brasília e Distrito Federal.
Falta compreensão do por quê deste fenômeno, pois sabedores da importância da atividade física para a manutenção da saúde, auto-estima e melhoria das qualidades físicas (força, equilíbrio, flexibilidade, tempo de reação, etc), questiona-se porque não trabalhar sistematicamente nestas instituições?
Se há outros profissionais realizando estágios curriculares e extracurriculares, por quê os estudantes de Educação Física das Universidades do DF ainda não começaram seus estágios neste tipo de instituição?
Segundo Nascimento e Silva (1998), as instituições filantrópicas continuam sendo, conforme cita FERNANDES (1986), pré-cemitérios, pois não há pessoal treinado para trabalhar com esta população, e a falta de assistência nestes locais é imensa.
ConclusãoConclui-se com esta investigação que as casa e asilos que atendem a população idosa no Distrito Federal não possuem locais, profissionais e nem, tão pouco, planos orientados de atividade física.
Com o presente estudo constatou-se a necessidade da formulação de um programa de atividades físicas, para que haja uma modificação na rotina destes indivíduos, mesmo não existindo um local específico para isto, utilizando as áreas abertas e salas que estas instituições possuem.
A prática de atividade física atua como forma de prevenção e reabilitação da saúde do idoso fortalecendo os elementos da aptidão física (resistência, equilíbrio, flexibilidade e força), onde se acredita que esta melhora esta associada diretamente a independência e a autonomia do idoso mantendo por mais tempo a execução das atividades diárias de vida, tanto físicas, quanto as instrumentais (GOBBI, 1997; LEE et al., 1995; SHEPHARD, 1991; SKELTON et al., 1995).
Corroborando nossos resultados, em um estudo realizado com pessoas asiladas em Santa Catarina, BENEDETTI & PETROSKI (1999) concluíram que um programa de atividade física orientada em cinco meses proporcionou uma melhora significativa na aptidão física dos indivíduos inseridos nas atividades em relação a aqueles que estiveram no grupo controle.
Para FERNANDES (1990) uma alternativa viável poderia ser o trabalho das instituições ligadas às universidades. Esta opção seria de grande valia para ambos os lados: a universidade teria na população idosa, um campo de estágio e preparação para os estudantes de educação física e, as instituições beneficiar-se-iam com a prestação de serviços profissionais de melhor qualidade, como atividade física orientada e lazer.
Referências bibliográficas
BENEDETTI, Tânia Rosane Bertoldo; PETROSKI, Édio Luiz. Idosos asilados e a prática da atividade física. Revista Brasileira Atividade Física e Saúde, v. 4, nº 3 . Londrina, 1999.
DUCHARME, F. Impact du soutien conjugal et des stratégies adaptatives sur le bien-être des conjoints agés. Rapport de Recherche, Université de Montreal, 1992.
FERNANDES F. S. O que pode a cidade fazer pelos seus idosos. Maturidade, v. 6, pags. 11 - 80, 1990.
FOURNIER J. Vieillir aux Etats Unis. Vieillir à Travers le Monde. Quebec, Les presses de I'université de Montreal, 1992.
GOBBI, S. Atividade Física para pessoas idosas e recomendações da Organização Mundial da Saúde em 1996. Revista Brasileira Atividade Física e Saúde. V. 2, nº 2, pags 41-49, Londrina 1997.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro, 2000.
MARINS, M.J.S; ANGERAMI, E.L.S. Problemas dos idosos na alta hospitalar. In: Gerontologia 2:678-74, 1996.
MATSUDO, S. e MATSUDO V. Prescrição e benefícios da atividade física na terceira idade. Revista Brasileira Ciência e Movimento, outubro de 2000. Brasília.
MATSUDO, Sandra. IN: Atividades físicas para a terceira idade. Coord. Alfredo Faria Júnior et al. Brasília: SESI-DN, 1997
MATSUDO, Sandra. IN: Atividades físicas para a Terceira Idade. Coord. Alfredo Faria Júnior et al. Brasília: SESI-DN, 1997.
MATSUDO, Sandra., MATSUDO, Vitor Rodrigues, BARROS NETO, Turíbio Leite. Impacto do Envelhecimento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e metabólicas da aptidão física. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, V. 8 n. 4 pag. 21-32. Setembro, 2000.
NASCIMENTO, E. e SILVA, B. A relação familiar e o idoso. Gerontologia 4 (2): 75-78, 1996.
SHEPHARD, R.J. Exercício e Envelhecimento. Revista Brasileira Ciência e Movimento. V. 5, nº 4 pags: 49 - 56, São Paulo, 1991
VERAS, R. P. A servey of the health of erderly people in Rio de Janeiro, Brasil. PhD Thesis. Univerty of London, 1992.
revista
digital · Año 9 · N° 62 | Buenos Aires, Julio 2003 |