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Um estudo inicial sobre esportes de aventura
na natureza: o pára-quedismo

   
Professor Ms. - FADEP
Faculdade Educacional do Sudoeste do Paraná
 
 
José Francisco Grezzana
franciscog@wln.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    Este estudo insere-se na linha de pesquisa sobre os “temas transversais”, meio ambiente e saúde em benefício da Educação Física e a sua contribuição na educação ambiental, através da prática dos esportes de aventura na natureza, e ainda, sugere a possibilidade de um currículo escolar onde estes esportes podem ser a interação entre meio ambiente e saúde. O esporte de aventura na natureza objeto de estudo é o pára-quedismo. Os fatores psicológicos e fisiológicos que influenciam na prática dos esportes de aventura na natureza, são estudados com maior destaque, principalmente a ansiedade de estado, através da escala de ansiedade (CSAI-2), utilizada na pesquisa.
 
Abstract
    This work inserts itself in a kind of research related to the “transversal themes”, environment and health, as ways to better Physical Education and its contribution to environmental education through the practice of adventure sports in nature, and it still suggests the possibility of a school curriculum in which these sports may be the interaction between environment and health. Parachutism is the adventure sport in nature that is the aim of this study. The psychological and physiological factors that interfere in the practice of adventure sports in nature are studied with greater distinction, specially State Anxiety (CSAI-2).

Ponencia presentada en el IV Encuentro Deporte y Ciencias Sociales, Buenos Aires, noviembre de 2002
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 57 - Febrero de 2003

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Introdução

    Estudar o tema transversal (meio ambiente) a relação interdisciplinar entre as ciências e os esportes da natureza e escrever este artigo foi uma aventura apaixonante para um professor de Educação Física. Mas, sobretudo, um desafio. O que se quis foi possibilitar uma discussão inicial que incluísse os aspectos mais importantes do tema.

    O ponto de partida a Agenda 21 (www.mma.gov.br), da promoção do ensino, da conscientização e do treinamento, ao determinar providências quanto às questões do ensino relacionado ao meio ambiente sustentável, uma vez que ela, em seu capítulo 36, apresenta a necessidade de se aumentar a consciência pública, através de uma educação voltada para o meio ambiente.

    Com vistas aos profissionais de educação física, este estudo pode suscitar a possibilidade de incremento de seus objetivos educacionais e da intervenção no próprio processo educativo-ambiental. Quanto aos conteúdos e procedimentos, estes deverão ser elaborados em função das possibilidades e recursos de cada centro de ensino.

    A pesquisa aborda o fator psicológico ansiedade através de seus componentes cognitivo, somático e autoconfiança, sob o prisma da psicologia do esporte, e descreve ao final as diferenças e igualdades entre os grupos de pára-quedistas estudados.


Esporte de Aventura na Natureza uma discussão Inicial

    Como estamos vivendo um momento em que as ciências em geral, e as ciências humanas, em particular, tendem a buscar áreas de intersecção e formas de integrar o conhecimento acumulado, de modo a alcançar uma compreensão mais completa de seus objetos, a interdisciplinaridade têm forte apelo para o pensamento contemporâneo.

    Nesse prisma, PENTEADO (1994, p. 16) afirma que,

as questões ecológicas reclamam: de um lado, a necessidade de serem analisadas pelas Ciências Humanas que são as ciências capazes de nos aproximar da compreensão específica deste aspecto tão importante quanto desconsiderado na atualidade; de outro, a formação de uma consciência ambiental, trabalho a ser desenvolvido pela educação, através de professores portadores desta consciência e, portanto, portadores, em alguma medida, dos conhecimentos decorrentes de uma abordagem sócio-política da questão.

    Pode-se buscar em COSTA (2000, p. 7), uma interação lógica atual, entre os esportes de aventura e citação de PENTEADO (1994), pois o aumento da incerteza política, econômica, social e cultural, são próprios de um mundo globalizado e hiperindividualista.

    Quanto aos Parâmetros Curriculares Educacionais (PCN’s 1999, p. 65), deixam evidente a necessidade de aproximar o aluno do Ensino Médio à Educação Física de forma lúdica, educativa e contributiva para o processo de aprofundamento dos conhecimentos e objetivos.

    É neste contexto, através do conceito de cultura, que os PCN’s, tanto do Ensino Fundamental como do Ensino Médio, entendem a Educação Física ou ainda a definem como o produto da sociedade, da coletividade à qual os indivíduos pertencem, buscando o ambiente como razão do aumento de múltiplas atividades de momentos de lazer, afetivos e emotivos, possibilitando o surgimento e o fortalecimento de culturas esportivas, de promoção, recuperação e manutenção da saúde.

    Segundo COSTA (2000, p. 9), exercitar esses elementos sob a forma de jogos e esporte desperta no homem seus símbolos, fantasias e desejos de aventura.

    O entendimento que os PCN’s proporcionam quanto à Educação Física escolar está na possibilidade de todos os indivíduos poderem desenvolver suas potencialidades, seja no âmbito esportivo ou no recreativo, sem evidenciar o comportamento estratégico, mas tendo como característica o novo, o risco, o desafio, a aventura, etc.

    A reflexão que nos suscitam esses autores em relação à educação e ao meio é a influência da cultura no desenvolvimento cognitivo dos indivíduos. É nesta concepção que a Educação Física deve adotar uma perspectiva de metodologia de ensino e aprendizagem, aprofundando em importantes discussões nos aspectos éticos e sociais de preservação do meio ambiente.

    Durante a década de 80, a sociedade em geral se conscientizou sobre o problema do meio ambiente e nos anos 90 deveriam ser realizados os acordos internacionais, os grandes movimentos para superar a problemática do meio ambiente, mas, apesar de parecer recente essa preocupação com o meio ambiente, LEONTIEV, citado por OLIVEIRA (1993, p.98), já afirmava: a atividade humana é tomada como a unidade de análise mais adequada para compreensão de processos psicológicos, porque inclui tanto o indivíduo como seu ambiente, culturalmente definido.

    Não se pode deixar de observar, também, o que LYKKEN (Revista Veja, 1999, pp. 64 - 65) sugere: o espírito de aventura é um traço influenciado mais pelo ambiente em que a pessoa se cria do que pela genética.

    Em vista disso, a Agenda 21, (capitulo 36, 36.3) sugere que:

O ensino tem fundamental importância na promoção do desenvolvimento sustentável e para aumentar a capacidade do povo para abordar questões de meio ambiente e desenvolvimento. Ainda que o ensino básico sirva de fundamento para o ensino em matéria de ambiente e desenvolvimento, este último deve ser incorporado como parte essencial do aprendizado.

    Fica evidente que todas as questões interdisciplinares referentes ao meio ambiente fundamental e médio, com o intuito de criar uma consciência pública de educação ambiental. No nível universitário pode-se atrelar a necessidade da formação ao treinamento de profissionais nas várias disciplinas, principalmente da Educação Física, em virtude da possibilidade de aproximação de utilização de espaços extra-escolares para o desenvolvimento da habilidade de aprender.

    Falar de uma formação profissional ou da necessidade de criar disciplinas específicas nos currículos escolares para as atividades físicas de aventura na natureza pode parecer, antes de tudo, um campo carente de conhecimento, principalmente ao levar-se em consideração o conhecimento adquirido nos cursos de graduação em Educação Física.

    Esta afirmativa fica evidente quando se reporta à Carta Internacional de Educação para o Lazer, (1995) onde, em seu item 4.6, preconiza:

O Século XXI exige estruturas interdisciplinares inovadoras para oferecimento de serviços de lazer. Os atuais profissionais da área necessitam desenvolver currículos e modelos de capacitação de recursos humanos congruentes com as crescentes necessidades do futuro, preparando os profissionais de amanhã para o desenvolvimento de novas abordagens na oferta de serviços de lazer.

    Fundamentando esta necessidade de tornar ativo o tempo ocioso do indivíduo, através da educação e utilizando a Educação Física como disciplina para atingir estes objetivos, mostra-se evidente esta preocupação quando se preconiza nos PCN’s (1997 p. 29) do ensino fundamental, que o lazer e a disponibilidade de espaços para atividades lúdicas e esportivas são necessidades básicas e, por isso, direitos do cidadão.

    A Educação Física deve ser a disciplina em que as questões mais atuais, como a psicologia do esporte, os esportes de aventura na natureza, empreendedorismo possam influenciar os seus currículos e adaptá-los às permanentes mudanças pelo incessante surgimento de atividades esportivas e de lazer. É o campo próprio para se aplicarem os conteúdos de esportes da natureza, possibilitando ao indivíduo o aprofundamento dos conhecimentos em relação ao meio ambiente e às atividades físicas que se desenvolvem e remetendo este ser humano a busca de emoção, afeto e prazer de viver em harmonia com a natureza.

    CASTILLO, FAJARDO e FUNOLLET (1995) propõem um programa de educação ambiental, partindo de uma análise do desenho curricular, baseado no Departamento de Educação Generalidad de Cataluña, referente às atividades físicas no meio natural e o respeito pelo meio ambiente.

    Estabelecem três níveis de conteúdos curriculares, sendo que o primeiro aborda como a administração prescreve e estabelece como obrigatória a educação ambiental. Nesse contexto se pode fundamentar tendo como apoio a Agenda 21 (item D - 35.21), quanto ao desenvolvimento de capacidades e meios científicos, onde se estabelece como objetivo fundamental a melhoria da capacidade científica, em especial dos países em desenvolvimento, quanto ao ensino, treinamento e instalações para o desenvolvimento de recursos humanos em disciplinas científicas básicas e ciências relacionadas como o meio ambiente, utilizando, quando apropriado, os conhecimentos tradicionais e locais.

    O segundo nível para a elaboração e concretização desta educação corresponde aos professores de cada centro escolar, os quais devem incrementar e elaborar o currículo e a maneira de intervenção no processo educativo, de acordo com os critérios de seqüência dos conteúdos a trabalhar, seguindo os procedimentos e conceitos elaborados em função das possibilidades e recursos de cada centro acadêmico.

    É preciso considerar esta constatação para que se organize uma ação educativa que agrade tanto à criança como ao adolescente, podendo buscar em FREINET, citado por PIAGET (1972), a sua teoria e seu trabalho de Professor, quando, através da “Aula Passeio”, fez da escola um centro de atividades ambientais como uma alternativa de desenvolvimento dos interesses na formação social das crianças.

    No terceiro nível, CASTILLO, FAJARDO e FUNOLLET (1995), determinam as atividades esportivas e as estruturam em módulos. O professor deve procurar fornecer em todo o momento a interação entre o indivíduo e o esporte de aventura na natureza. Através de sua aprendizagem e sobre ele o aluno fará suas atividades esportivas da natureza e posteriormente as suas reflexões sobre os impactos que as mesmas práticas produzem sobre o meio ambiente, constituindo uma atitude pessoal com relação ao meio ambiente.

    Para COSTA (2000, p. 70), a prática dos esportes de aventura na natureza possibilitam a compreensão de uma educação ambiental, pela busca do entendimento entre o homem e o meio ambiente. “Na verdade, estava querendo compreender a mim mesmo”, (Niclevicz, 1994 p. 101, citado por Costa, 2000 p. 70).

    Portanto, as atividades físicas da natureza e os esportes de aventura, como qualquer outro tema relacionado com áreas desportivas, devem contar com a análise e interpretação de seu significado social pelos profissionais de Educação Física, “elemento do imaginário social” (BETTI, 1998, p. 16).


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