A influência dos pais no rendimento da criança em competições |
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Preparador Físico das categorias de base de futebol - S. C. Corinthians Paulista UniFMU - Centro Universitário UniFMU |
Daniel Leite Portella dlportella@uol.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 57 - Febrero de 2003 |
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Introdução
A família é a primeira comunidade em que um indivíduo, logo após o nascimento, é inserido e segundo ALTAMAM (2001), no início da vida, o bebê e os pais estão num relacionamento muito próximo, não existe ainda para o bebê uma diferenciação entre ele e os pais.
A autora ainda sugere que é necessário que seja assim, pois é esta proximidade que mantém a mãe e o pai tão atentos e disponíveis para atender as necessidades do bebê. A partir desta primeira relação, ela relata que a criança vai começar a se diferenciar dos pais e poder se ver separada deles, com uma existência própria, mas para que isto ocorra, será necessário algum tempo para o amadurecimento da criança. Se essa separação, não for feita com atenção a criança pode sofrer conseqüências no futuro em vários aspectos como desenvolvimento psicológico e formação da própria personalidade.
Porém, essa atenção dos pais com as crianças é característica de uma família contemporânea e nem sempre foi assim. Para entender essa família teremos que nos reportar a estudos como o de ARIÉS (1981) constatando que com o decorrer dos séculos essa comunidade passou por transformações que são consideradas muito mais que uma evolução, mas, uma revolução. Para chegar aos moldes da família contemporânea, muita coisa mudou em relação ao comportamento intrafamiliar e extra-familiar. Os pais assumiram um papel diferenciado em relação ao de antigamente, no contexto familiar e com o tempo , passaram a ter um outro tipo de influência psicológica no desenvolvimento dos filhos (KELLERHALS 1984). Essa influência na qual é referida anteriormente, é citada como fonte de benefícios ou malefícios.
No entanto, algumas dessas "mudanças evolutivas" não proporcionam apenas aspectos positivos. De acordo com NAIME (2001), essas mudanças trouxeram uma aproximação em alguns casos e um afastamento do núcleo celular da família em outros. Se buscarmos a formação de uma tribo indígena, veremos que o conhecimento era passado pelos mais velhos, ou seja pelo sábio ou pajé da tribo. A criança acabava aprendendo através de um contato direto com a pessoa mais velha que era responsável pela família, a tribo. Até seus sete anos permanecia perto de sua mãe e irmãos, ora brincando ora ajudando os menores, mas esse é o caso das tribo indígenas que por sinal estão em extinção.
Segundo POSTER (1979), a evolução nunca pára, e a família em geral deixou de proporcionar o contexto de apoio emocional que outrora fornecia. Os pais realmente passaram a ter influência psicológica diferenciada e continuam exercendo-a sobre a criança, porém, o autor coloca que essa influência, começou a ser um tanto quanto nociva em alguns casos no excesso de cobrança ou na expectativa sobre os filhos. Sendo assim, a criança pode não ter uma base para lidar com certas situações e não encontrar esse referencial nos pais.
Como vamos abordar o rendimento nos esportes, contaremos com a Psicologia dos Esportes, que de acordo com FILHO (2000), a Psicologia dos Esportes é uma ramificação da Psicologia e estuda cientificamente os aspectos psicológicos que estão associados a participação e performance nos esportes, exercícios e outras atividades físicas. A Psicologia dos Esportes tem dois objetivos principais, segundo WEINBERG & GOULD (1995): 1) ajudar os atletas a usar os princípios psicológicos para melhorar sua performance e seu desenvolvimento no esporte. 2) compreender como a participação em atividades físicas, esporte, jogos e exercícios afeta o desenvolvimento psicológico, saúde e bem-estar ao longo da vida.
O início da vida desportiva de uma criança, é representado por um triângulo de relações da iniciação desportiva descrito por MEDINA (2000), figura 1.
Nos esportes de base, há uma divisão de categorias por idade até chegar a categoria adulta. O atleta estará inserido e envolvido nesse triângulo, sendo, provavelmente, o vértice mais forte do triângulo os pais; pois segundo BARBANTI (1992) a criança até doze anos de idade é um reflexo do meio em que vive e sua família acaba sendo um dos meios com maior tempo de inserção da criança. Conforme os atletas vão se desenvolvendo fisicamente, eles também desenvolvem-se emocional e psicologicamente (BONJARDIM et al 1979), porém, a maior parte que chega com sucesso na categoria adulta, tem uma estabilidade psicológica muito desenvolvida e esse desenvolvimento pode ser conseqüência da relação dos pais com os filhos.
ObjetivoEsse trabalho tem como objetivo realizar um levantamento bibliográfico sobre o tema família; analisando a influência da mesma no psicológico e emocional do atleta de base com o auxílio de alguns autores da área e entender quanto a influência da família sobre o atleta em formação pode ser negativa ou positiva, no rendimento nas competições atuais e também nas futuras competições que terá de enfrentar.
História da famíliaARIÉS (1981), utilizou a iconografia, análise de quadros e figuras desenhadas e pintadas sobre um tema, para realizar um estudo sobre a família, onde constata-se aspectos diferenciados.
Segundo o autor, a partir do século XIV, tem-se conhecimento de estudos iconográficos sobre a família. Ela era representada através do calendário. Conforme os meses do ano a família tinha obrigações diferentes entre elas e entre as diferentes classes sociais. Sempre nas representações o homem aparece sozinho e nunca é mencionado nem a mulher nem a criança. Contudo, no século XV e XVI, a evolução da iconografia em relação ao tema da família é significativo. A análise continua sendo pelo calendário, mas, a representação da mulher aparece, discretamente, ao fundo trabalhando na roca. Entre os camponeses as mulheres começam a fazer alguns trabalhos no campo, como auxílio na colheita e pela primeira vez surge a criança, que está no campo perto da mãe. Essa imagem da criança antes do século XVI não existia.
ARIÉS (1981) constata apenas no século XVII houve a inclusão dos filhos nas relações sociais, contudo, havendo ainda um despojo quanto à imagem deles. A relação pais e filhos é destacada como nula até o século XVI. Relatos de afeto acontece apenas em meados do século XVIII
Segundo estudos de ARIÉS citado por MACHADO (1997), a família teve mudanças no seu interesse dentro da sociedade, mudanças essas que acarretaram grande influência no papel da criança e sua relação com os pais.
O autor coloca que antes da burguesia, as famílias eram compostas por inúmeros membros e eram chamadas de primeiro modelo. Entre os séculos XVI e XIX, surgiu a família nucleada ou segundo modelo. Esse modelo tem quatro subdivisões na história, de acordo com o autor:
Família Aristocrática (séc. XVI e XVII) - Os pais que decidiam o casamento dos filhos, a relação era calcada na hierarquia aristocrática e os papéis eram impostos por rígidas tradições, a privacidade dos membros da família não era respeitada a não ser a do pai, as crianças eram levadas a outros castelos para serem criadas por amas de criação e o primeiro contato da criança não era com os pais e sim com alguém que era estranho ao lar.
Família Camponesa (séc. XVI e XVII) - Era baseada na vida cotidiana das aldeias, ou seja, a família era a própria aldeia (comunidade), a relação entre os componentes da família era superficial, sem qualquer intimidade, a mãe cuidava dos filhos, da casa, da horta por longas horas e era auxiliado por moças de fora do grupo familiar.
Família Burguesa (séc. XIX) - Nova intensidade emocional e valor de privacidade até então inéditos, os filhos recebem novos valores, a mãe é responsável pela educação dos filhos para que eles tenham um lugar de respeito na sociedade e os pais cuidam do custeio dos estudos, dessa forma, a esposa consegue ficar mais tempo com as crianças formando assim um laço afetivo entre eles influenciando diretamente na construção da moral dentro das regras daquela sociedade,
Família da Classe Trabalhadora (Revolução Industrial) - Essa família desenvolveu-se sob condições de angústia social e econômica, contudo no decorrer do tempo ela assemelhou-se ao modelo da burguesa. Em um primeiro estágio, todos os integrantes da família trabalhavam nas fábricas deixando os filhos nas ruas, sem dar muita atenção para as relações entre pais e filhos. Em um segundo estágio, foi resgatado o estilo da família burguesa e a domesticidade voltou a prevalecer.
A família contemporânea, que é oriunda da família burguesa, é denominada por POSTER (1979), como neo-burguesa. Nota-se uma certa indiferença dos pais em relação aos filhos. Os pais têm mais complacência e empatia deixando os filhos criar seu próprio ritmo (ARIÉS 1981). Os valores burgueses foram intensificados na contemporânea, porém, algumas mudanças na sociedade refletem a situação da família contemporânea, como por exemplo a valorização da mulher no mercado de trabalho, a divisão das responsabilidades, nas funções dos papéis sexuais e do casamento, a violência urbana, união de homossexuais, preconceitos, os movimentos políticos e ideológicos. Todas essas mudanças começaram na família burguesa e criaram força para nortear a família contemporânea. A família com o tempo deixou de ser anucleada e passou a ser nucleada (ARIÉS 1981).
Passando para a família contemporânea, vemos uma distorção do que é imaginado como característica dessa família. Imaginava-se uma família contemporânea, com características da burguesa, fosse um núcleo unido, porém, estudos mostram que houve uma mudança nessa perspectiva. GOLDSCHEIDER & WAITE (1991), relatam a quebra do modelo de família tradicional onde o pai é quem se responsabiliza por trazer o dinheiro da casa e a mãe fica arrumando a casa e cuidando dos filhos, esses por sua vez são dependentes dos pais. O estereótipo se desfez e com ele a relação dos pais com os filhos mudaram.
A universidade de Trinity em San Antônio no Texas, EUA; mostra-nos alguns números coletados nos lares norte-americanos comparando o núcleo familiar nas décadas de 60/70 com o núcleo familiar da década de 90, veja algumas diferenças significativas:
Em 1970, 85% das crianças menores de idade moravam com os pais; na década de 90 esse número caiu para 70% núcleo familiar tradicional (citado anteriormente) tem porcentagem menor que 10% na década de 90 enquanto que na década de 60 esse número era cinco vezes maior
Atualmente, 45% das famílias americanas são compostas por mães solteiras e sustentam a casa sem qualquer auxílio
Esses são alguns números que mostram a direção que tomou a família contemporânea, diferente daquela perspectiva feita através dos relatos das transformações da família.
Relação pais e filhosSem dúvida nenhuma, a família teve uma grande mudança no núcleo familiar o que afetou a função e participação dos integrantes desse núcleo. Pode-se notar que as relações pais e filhos também tendem a mudanças, já que essa relação está largamente ligado à capacidade da família de controlar o destino das crianças e as funções do grupo familiar (KELLERHALLS 1984). A família contemporânea, também chamada de família nuclear, segundo o autor é dividida em família fusão e família associação. Nesses dois tipos existem características peculiares no que diz respeito a expectativa sobre a criança e sobre a relação dos pais com os filhos. Na família fusão, o autor descreve o domínio do romantismo, os cônjuges vivem um para o outro e o filho é o símbolo dessa união amorosa, assim espera-se dele uma relação gratificante através de sua dependência. Na família associação, é descrito o casamento apenas como um meio para alcançar seus objetivos individuais havendo uma certa distância entre o casal. A criança é vista como um novo parceiro para quem se deseja independência, autonomia e originalidade, os pais não sujeitam seus desejos a ela, sendo uma relação mais ponderada ou para outras pessoas uma relação mais fria do que na família fusão.
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