Considerações acerca da prescrição de exercícios pliométricos no tênis de campo |
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Consultoria Esportiva Performance One Pós-Graduado em Bases Fisiológicas e Metodológicas do Treinamento Desportivo Universidade Federal de São Paulo |
Adriano Vretaros professorav@bol.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 56 - Enero de 2003 |
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Introdução
A literatura acerca de treinamento desportivo enfocando o método pliométrico é muito vasta. Diversos autores que estudam os componentes da força no desporto tem reportado sua bagagem de contribuição acerca dos benefícios que a pliometria proporciona no rendimento dos atletas nas suas diferentes modalidades.Analisando estas pesquisas, nota-se a falta de um direcionamento específico para uma determinada modalidade em questão. Talvez, esse fato deva-se a uma visão conservadora de alguns pesquisadores, como também, possam existir receios em buscar novos espectros da pliometria em um único desporto. Inúmeras controvérsias cerceiam a maioria dos estudos científicos referentes ao trabalho pliométrico.
Entre as exigências inerentes aos componentes da força no tênis de campo competitivo encontramos a força explosiva e a força rápida. Torna-se evidente tais solicitações da força nos membros superiores e nos membros inferiores dos tenistas. Contudo, ao abordarmos as pesquisas cientificas, bem como algumas obras, notamos a escassez de trabalhos envolvendo a pliometria no tênis de campo.
Levando em consideração as questões supra citadas, este estudo tem como objetivo rever os conceitos da pliometria e propor aspectos metodológicos de implementação no tênis de campo.
Pliometria
O termo pliometria é derivado do vocabulário grego pleytein cujo significado é aumentar, ou plio e metric (maior e medida) (DINTMAN et alii, 1999).Diferentes metodologias têm sido empregadas para denominar o método pliométrico, entre muitas: treinamento de elasticidade, treinamento reativo, treinamento excêntrico, treinamento de saltos e método de batida(WEINECK, 1991).
A força resultante do método pliométrico é regida pelo ciclo alongamento-encurtamento(KOMI, 1984). O ciclo alongamento-encurtamento baseia-se no acúmulo de energia potencial elástica. Conforme KAMIL & KNUTZEN (1999) se o componente elástico de um determinado grupo muscular for precedido por uma ação excêntrica(pré-alongamento) a ação concêntrica resultante geraria uma força maior.
Segundo UGRINOWITSH & BARBANTI (1998) para uma melhor compreensão da pliometria deve-se buscar entender os três elementos básicos que compõe a estrutura muscular: o elemento contrátil, os elementos elásticos em série e os elementos elásticos em paralelo. O elemento contrátil é a fonte geradora de energia, pois, é constituído pelo complexo actina-miosina. Os elementos elásticos em serie possuem a função de acúmulo e liberação da energia potencial elástica. Por último, os elementos elásticos em paralelo cuja constituição é derivada dos tecidos conectivos, respondem pela resistência ao movimento quando da ocorrência de um alongamento muscular.
Efeitos do treino pliométrico
Algumas pesquisas realizadas em diferentes modalidades têm apresentado os resultados de um trabalho pliométrico sobre outras variáveis que envolvam a força. Existe uma carência de pesquisas cientificas envolvendo pliometria no tênis de campo.Um conceito muito difundido erroneamente é a idéia de que a pliometria tem como objetivo somente a melhoria da impulsão vertical. Tal observação foi amplamente divulgada, pois, modalidades como o atletismo (saltos), basquete e voleibol foram os pioneiros no emprego de tais métodos. Portanto, neste estudo a pliometria deve ser considerada como uma estratégia de treinamento que visa melhorar e aperfeiçoar a eficiência da qualidade física potência. Do ponto de vista matemático, potência é igual ao produto da força versus a velocidade(potência=força x velocidade). Na concepção de BOMPA (2001) potência representa a capacidade de execução da força máxima no tempo mais curto.
No basquetebol juvenil de Portugal, SANTO et alii (1997) buscaram identificar os efeitos da pliometria sobre o destreinamento e variáveis específicas da força explosiva: a velocidade de 20 metros, agilidade, saltoS (estático e com contra-movimento) e potência mecânica dos membros inferires. O delineamento experimental envolvia três programas de pliometria distintos: saltos no lugar e saltos com deslocamentos (TS), saltos em profundidade (SP) e saltos com cargas adicionais (SCA) com duração de oito semanas. Concluíram que o treino pliométrico proposto garantia a manutenção dos ganhos da força explosiva e permitiam melhorias expressivas nos indicadores de força explosiva testados.
Na equipe de basquetebol júnior da Suécia, MATAVULJ et alii (2001) empregaram três diferentes regimes de pliometria nos atletas. O programa consistia em um grupo realizando saltos de 50cm (EG-50), o segundo grupo com 100cm (EG-100) e um grupo controle. O experimento foi conduzido por um período de seis semanas. Encontraram acréscimos nos valores de impulsão vertical e força dos músculos extensores.
No futebol, DIALLO et alii (2001) averiguaram os efeitos da pliometria durante dez semanas seguidas por um período de oito semanas de redução dos treinos sobre a performance de jogadores pré-adolescentes. Foram empregados vários tipos de exercícios pliométricos. Constataram nos testes envolvidos (impulsão vertical com contra-movimento, saltos por 15 segundos, velocidade de 20, 30, e 40 metros) que um programa de pliometria improvisa a performance, como também se consegue obter um efeito de manutenção durante a fase de redução do treinamento.
Em jogadores russos de voleibol, MASALGIN et alii (1990) estudaram a influencia do método de choque na força explosiva. O procedimento experimental consistia de dois grupos. O grupo submetido ao método de choque treinou durante quatro semanas consecutivas. Em contraste, o grupo controle foi submetido a um programa convencional de pliometria durante doze semanas. Os resultados demonstraram que o método de choque influencia efetivamente para o desenvolvimento da força explosiva propiciando uma rápida mobilização e recrutamento das unidades motoras envolvidas no movimento.
As diferentes metodologias utilizadas nos estudos, assim como, variações de faixa etária, testes empregados, acabam gerando algumas interpretações controversas.
Independente desses fatores, parece evidente supor que um programa de pliometria bem conduzido é o meio mais eficaz para potencializar as valências físicas força explosiva e força rápida.
Metodologia do treino pliométrico
Torna-se cada vez mais freqüente por parte dos treinadores levantar dúvidas a respeito de como edificar a estruturação dos processos e das cargas de treino da força explosiva. A elaboração e subseqüente confecção da planificação de um programa de treinamento físico que respeite a individualidade biológica e modalidade ao qual se insere o atleta é uma tarefa extremamente complexa.Neste aspecto, HARRE & LOTZ (1989) ao pesquisarem sobre o treinamento da força rápida, especulam que uma base sólida de força máxima seria a primeira etapa para formação da capacidade física força explosiva. Um nível apropriado de força máxima permite atingir elevadas prestações da força rápida.
Na visão de POLIQUIN (1991), a preparação a longo prazo da força requer uma progressão e variação dos métodos empregados. Para tanto, apresenta uma progressividade de tarefas composta de quatro etapas. Na primeira etapa, dá-se ênfase ao desenvolvimento geral incluindo o treino da força máxima, força veloz e resistência de força. Na segunda fase, potencializa-se o desenvolvimento da força máxima dos grupos musculares específicos. A terceira etapa orienta-se para a especificidade dos movimentos envolvidos na respectiva modalidade. Por fim, na quarta fase, o treinamento pliométrico surge como atividade complementar e mantêm-se durante o período de competição.
Analisando essas evidências, podemos sugerir que os programas de pliometria não devam se aplicados no início da preparação dos atletas. Somando-se a isto, devem existir adequações racionais durante a aplicabilidade da modulação nas dinâmicas das cargas, diferenciando os atletas iniciantes dos avançados.
Programa pliométrico no tenis de campo (PPTC)
Levando em consideração algumas pesquisa desenvolvidas sobre treinamento de força e pliometria consideradas relevantes (ALBERT, 2002; CHU, 1999; HEWETT et alii, 1999; MIL-HOMENS & SARDINHA, 1990; SANTO et alii, 1997; VERKHOSHANSKY, 1999; WILSON et alii, 1993), confeccionamos nosso programa direcionado para jogadores de tênis de campo.A proposta de programa pliométrico no tênis de campo (PPTC) envolve exercícios para os membros superiores e inferiores dos jogadores de tênis. O programa é dividido em três fases distintas, porém, inter-relacionadas. A fase 01 denominada adaptação pliométrica no tênis (APT) visa adequar o aparelho locomotor passivo do atleta para os programas pliométricos de maior intensidade. Na fase 02 (fundamentos pliométricos no tênis - FPT) são aproveitados alguns exercícios propostos na fase inicial, com uma solicitação maior em termos neuromusculares e também objetivando aprimorar a técnica dos saltos. Na última fase, com o aparato neuromuscular adequado com as atividades das fases anteriores, exigi-se níveis elevados de força explosiva(pliometria avançada no tênis - PAT.
A aplicação seriada das fases enumeradas segue de maneira gradual, levando-se em conta a estruturação proposta na planificação.
Quadro 01. Ordenação do Programa Pliométrico no Tênis de Campo
* altura barreiras: 50cm, *altura caixa saltos: 60-90cmFase 01. Adaptação pliométrica no tenis (APT)
Membros inferiores (MMII)
Saltos verticais no local;
Saltos verticais com deslocamento;
Saltos horizontais no local;
Saltos horizontais em deslocamento;
Saltos com uma perna no local;
Saltos com uma perna em deslocamento;
Saltos com giro de 180 graus.
Membros superiores (MMSS)
Flexão de braços no local;
Deslocamento "carrinho de mão";
Deslocamento "carrinho de mão" com flexão de braços.
Fase 02. Fundamentos pliométricos no tenis (FPT)
Membros inferiores (MMII)
Skeeping alternados com saltos verticais;
Skeepings alternados com saltos horizontais;
Skeepings alternados com saltos com uma perna;
Skeepings alternados com saltos giro de 180 graus;
Skeepings alternados com saltos de giro 360 graus;
Saltos sobre barreiras;
Skeepings alternados com saltos sobre barreiras.
Membros superiores (MMSS)
Flexão de braços com "batida de palma";
Deslocamento "carrinho de mão" com flexão de braços;
Flexão de braços com um braço.
Fase 03. Pliometria avançada no tenis (PAT)
Membros inferiores (MMII)
Saltos com uma perna na areia em deslocamento;
Saltos sêxtuplos na areia;
Saltos em profundidade;
Saltos sobre barreiras com uma perna;
Saltos em profundidade com queda em uma perna.
Membros superiores (MMSS)
Flexão de braços em profundidade;
Flexão de braços em profundidade com batidas de palma;
Flexão de braços em profundidade com queda em um só braço.
O tempo de duração de cada fase proposta no PPTC segue uma dinâmica pedagógica individual. Isso significa que conforme as variáveis de tempo de prática na modalidade, idade biológica, nível de treinamento, objetivos, tempo disponível, entre outros fatores, poder-se-ia realizar adequações necessárias orientadas a individualidade do jogador de tênis.
Cabe ressaltar que nos programas de treinamento pliométrico individualizado poderá ocorrer interferências fisiológicas de múltiplas causas. Portanto, cabe ao treinador o monitoramento do controle das cargas quantitativas e qualitativas no treino da força para uma eficaz evolução do atleta frente às exigências propostas.
Conclusão
No decorrer do desenvolvimento do programa de força em jogadores de tênis a pliometria torna-se a metodologia mais apropriada para potencializar a força rápida e explosiva.O PPTC é uma proposta pedagógica de implantação gradual da pliometria para tenistas.
Os treinadores de tênis podem empregar o PPTC durante a temporada ou em períodos específicos. Cabe aos mesmos avaliar individualmente as cargas de treino dos atletas, buscando com isso, a melhor forma de utilização.
Contudo, estudos adicionais são necessários para verificar o grau de transferência mecânica para ação motora específica da modalidade.
Referências bibliográficas
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MATAVULJ, D.; KUKOLJ, M.; UGARKOVIC, D.; TIHANYI, J.; JARIC, S. Effects of pliometric training on jumping performance in junior basketball players. Journal Sports Medicine and Physical Fitness, v.42, n.02, p.159-164; 2001.
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WILSON, G.J.; NEWTON R.U.; MURPHY, A.J.; HUMPRIES, B.J. The optimal training load for the development of dynamic athletic performance. Medicine Science Sports Exercise, v.25, n.11, p.1279-1286; 1993.
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