Do lúdico á especialização: análise da importância de um programa de estimulação motora como meio de desenvolvimento da valência física velocidade utilizada no voleibol |
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*Acadêmica de Educação Física **Acadêmico de Educação Física ***Mestrando em Desenvolvimento da Criança CUMSB/RJ ****Mestrando em treinamento desportivo UNIG/RJ Escola de Educação Física de Caratinga - Caratinga - MG (Brasil) |
Kelly Aparecida do Nascimento* Jorge Gabriel Mafia Feira** Vagner Maciel Freris*** Alexandre Henriques de Paula**** kelly@funec.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 56 - Enero de 2003 |
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Introduçâo
O voleibol teve inicio em 1895, pelo professor William Morgan nos EUA e chegou no Brasil por volta em 1915. Segundo DUARTE (2000) inicialmente ele era praticado como uma atividade recreativa, com regras bem diferentes das atuais e com pouca técnica e nenhuma tática. Nesta época a preparação física não era considerada pelos treinadores como um fator determinante da performance.
O voleibol caracteriza-se pela presença constante de movimentações, onde as ações rápidas e as manifestações ocorrem sem permitir intervalos para recuperação. Dessa forma, TEIXEIRA et alli (1998), ressalta que o aperfeiçoamento das capacidades físicas e atividades musculares
O profissional de Educação Física que trabalha com a faixa etária - idade escolar precoce (6/7 até 10) deverá ter como objetivos gerais propiciar a maior quantidade possível de vivências motoras, aumentando assim, o repertório motor dessas crianças que estão em ampla formação.
"È por meio do movimento que a criança vivência novas experiências,, desenvolve suas habilidades motoras que podem auxiliar na aprendizagem, na criatividade e socialização" (FRANCO, 2002)
Para ECKERT (1993) apud FRANCO (2002) professores de Educação Física podem contribuir de forma marcante para o processo de desenvolvimento,, assegurando que as crianças sejam encorajadas a participar em atividades apropriadas a seu desenvolvimento neuromotor. È através dos comandos do professor que a criança se estrutura tornando mais capacitado, pois este deve oferecer experiências que pode ir de encontro com suas necessidades.
Para VERDERI (1999) apud RODRIGUES (2002) as situações lúdicas que as atividades recreativas favorecem, o real e a fantasia que os alunos vivenciam são contextos bastantes favoráveis para o processo de construção, permitem o exercício de infinitos movimentos espontâneos
Na sua execução específica , o voleibol se manifesta com uma série de movimentos complexos e todos solicitados de forma rápida, portanto trata-se de um esporte o qual necessita aperfeiçoar as várias capacidades físicas de forma satisfatória.
GRECO et alli diferenciam as valências físicas em:
No referido estudo iremos enfatizar a valência física mista - velocidade, que é designada assim por apresentar-se inter-relacionada com as capacidades motoras e coordenativas. A velocidade é uma valência física muito importante para o jogador de voleibol, constituindo-se em um aspecto para o desenvolvimento das outras capacidades, e além disso deve ser treinada desde a infância. Portanto consideramos necessário o enfoque nessa capacidade.
Revisão de literaturaCaracterísticas psicofísicas de crianças em idade escolar precoce
Ao se trabalhar na educação infantil necessita de conhecimentos básicos relacionados com as particularidades psicofísicas dessa faixa etária. Esse conhecimento permite a proporcionar um desenvolvimento de acordo com a idade e características correspondentes aos desejos e às necessidades das crianças.As crianças em idade escolar precoce caracterizam-se por um comportamento de movimentos inicialmente impetuosos que, no fim dessa fase, fica reduzido a um volume normal. A expressão dessa alegria motora trasbordante é um imensurável interesse pelo esporte. Nesse período o número de crianças que ingressam nas escolinhas esportivas é espantoso.
As crianças dessa faixa etária apresentam-se com bom equilíbrio físico, atitude otimista, despreocupação, mas assimilação isenta de crítica , de conhecimentos e habilidades. Possuem uma capacidade de concentração aumentada em relação as às outras crianças. Ainda apresentam maior capacidade de diferenciação de movimentos e de uma aquisição refinada de informações.
GALLAHUE et alli (2001) ressalta que essa é uma fase muito favorável à aprendizagem, entretanto, a capacidade já muito desenvolvida de aprender, num piscar de olhos novos movimentos, não é acompanhada por uma faculdade correspondente de fixar os movimentos aprendidos. A preponderância, ainda presente, dos processos emotivos, associada aos importantes fenômenos de irradiação dos processos de controle pelos centros nervosos, acaba facilmente num "apagamento" dos anéis motores característicos de qualquer movimento e torna mais difícil sua conservação. Por esse motivo, o mesmo autor ressalta que tudo que é ensinado a pouco deve ser repetido muitas vezes para que possa fazer parte dos engramas motores da criança.
Tais características psicofísicas são extremamente favoráveis para a aquisição das habilidades motoras . A extensão do repertório motor e a melhoria das capacidades de coordenação são os pontos principais da formação esportiva da idade escolar precoce. As bases deverão ser exploradas para ensinar um grande número de técnicas básicas com coordenação grosseira , para refiná-las em seguida.
"O entusiasmo esportivo das crianças também deve ser utilizado através de uma prática motivadora e acompanhada de numerosas sensações de êxito, para desenvolver nelas atitudes e hábitos que garantam, com prosseguimento, uma atividade esportiva extensa à vida inteira" (WEINECK, 1986: 41).
A estimulação motora através do lúdico
"A palavra lúdico vem do latim ludus e significa brincar. Neste brincar estão incluídos os jogos, brinquedos e divertimentos e é relativa também , a conduta daquele que joga, que brinca e que se diverte".(OLIVEIRA, 2002:32)Para SILVA (1992) apud FRANCO (2002), ao longo das atividades físicas a criança vive uma motricidade total, ao por em jogo todos os seus componentes: Motores, Afetivos e Cognitivos. Sendo que estas informações provêm de uma infinidade de estímulos como: O seu próprio corpo ; o meio ambiente e os objetos utilizados.
O estimulação da velocidade na infância apresenta uma forma peculiar, e irá mais a frente otimizar o treinamento do voleibol, à vista que, os atletas de voleibol necessitam muito dessa capacidade. Podemos observar isso ressaltando uma situação em que o atletas não tem a velocidade de decisão, podendo atrapalhar a tática do jogo, pois no momento de se dar uma manchete fica em dúvida entre esta e o toque. É preciso decidir sobre a formação de um objetivo e a decisão para levar a efeito plenamente determinadas ações.
Nesse período de gradientes máximos de aumento das capacidades de velocidade, que é a idade escolar precoce, um papel importante cabe não somente às condições favoráveis que os processos nervosos oferecem para a mobilidade,, mas ainda às condições de alavanca; é preciso então levar em conta o desenvolvimento geral dos fatores físicos da "performance", recorrendo mais a exercícios que empreguem velocidade.
Destacando que o estimulação para essa idade se dá de forma lúdica, é indicado atividades que a criança está habituada a executar, o brincar propriamente dito, para que ela desenvolva essa valência de forma prazerosa.
Considerando a necessidade acentuada de movimento, a necessidade de mudar freqüentemente de atividade lúdica e os dados fisiológicos da criança, os meios de estimulação devem ser adaptados a ela em quantidade e em qualidade.
É preciso também tomar cuidado em escolher bem a distância percorrida e o número de repetições: as distâncias devem ser curtas e percorridas em condições constantemente variáveis.
Os meios de estimulação à escolha são os seguintes:
Todos os tipos de repetição de corrida
Todos os jogos de perseguição e de captura.
Todos os gêneros de revezamento pendulares, ir e voltar, em pista circular e á americana.
Jogos de reação e partida.
Todas as variedades de queimada.
Corrida de perseguição.
Ação de saltitar de um tapete para o outro (com instrução de força de explosão).
Jogos de mudança de lugar (quatro cantinhos).
Situações de treino do mini-voleibol que, progressivamente concentrem-se num refinamento maior da capacidade, logicamente numa perspectiva lúdica.
As atividades citadas acima não pretendem ser exaustiva. Seu objetivo é demonstrar as possibilidades de um método de instrução variável da velocidade (e as capacidades que a condicionam), que venham mais tarde contribuir para um desempenho satisfatório da criança no desporto voleibol.
Compreendendo a valência física velocidade como forma de rendimento
Entende-se por velocidade "a capacidade, em razão da mobilidade do sistema neuromuscular e do potencial da musculatura para o desenvolvimento da força de executar ações motoras em curtos intervalos, a partir de aptidões disponíveis do condicionamento" (FREY, 1977 apud WEINECK 1999).No esporte voleibol, NIKITUNSKIN et alli (1994) delimita esse conceito, ressaltando que velocidade é a capacidade do atleta de avaliar rapidamente a situação, tomar a decisão adequada, deslocar-se para a zona onde se desenvolve a jogada e, por fim, executar ações técnicas e táticas rápidas, quer na defesa quer no ataque.
A velocidade no esporte manifesta-se de diferentes formas, e é classificada em dois grupos:
Velocidade pura: dependentes do SNC e fatores genéticos, só pode ser treinada minimamente, e ocorre, nos esportes apenas em desempenhos altamente curtos e explosivos ou com resistências externas mínimas. WEINECK (1999) subdividi-as em velocidade de reação, velocidade de freqüência de movimentos e velocidade ação. "As velocidades puras podem ser sensivelmente melhoradas, especialmente através do treinamento na idade pré-escolar até a pré-adolescência." (WEINECK, 1999: 382).
Velocidades complexas: É dependente de outras capacidades funcionais como força e resistência, podemos dizer que ela encontra-se na região limítrofe entre a velocidade e a resistência ou a força. Segundo WEINECK (1999) a velocidade complexa compreende a resistência de força rápida, velocidade de força e resistência de velocidade máxima. "As possibilidades de desenvolvê-las por treinamento são muito menos restritas do que o desenvolvimento das formas puras de velocidade." (WERCHOSHANSKJI, 1998 apud ELLIOTT et alli 2000).
"No voleibol destaca-se três tipos principais de velocidade: a velocidade de reação, velocidade de resistência e velocidade de deslocamento" NASCIMENTO, 2000: 91).
A primeira é fundamental e necessária para o atleta poder avaliar rapidamente a situação e fazer uma opção adequada realizando-a antes do adversário. A velocidade de resistência ocorre na execução de alguns movimentos referentes à técnica do voleibol. A última, velocidade de deslocamento, é constituída por movimentos rápidos executados em toda área da quadra, concentrados na bola, com ações técnicas e táticas.
A velocidade é uma capacidade física muito importante para o praticante de voleibol, à vista que, os fundamentos necessários fazem surgir as manifestações da velocidade, que não se limitam apenas nos deslocamentos e saídas de velocidade, abrangendo também o mecanismo cognitivo de reconhecimento dos procedimentos possíveis de execução mais adequada, à situação na qual o jogador se encontra. A velocidade no voleibol é uma capacidade múltipla, não depende somente de agir e reagir rápido, mas principalmente o reconhecimento e a utilização rápida de certa situação.
"A velocidade é um fator de desempenho físico, que sofre perdas visíveis com a idade, portanto quanto mais cedo ela for trabalhada, melhor será sua eficiência".(WEINECK, 1999: 382). ISRAEL (1977) apud WEINECK (1999), enfatiza um pouco mais essa questão, admitindo a possibilidade de que o perfil definitivo das bases fisiológicas da velocidade seja estabelecido muito cedo. O que não foi desenvolvido em tempo útil não pode ser recuperado depois. Essas constatações destacam a importância de sua instrução tão precoce quando possível desse fator físico da performance. ZAKHAROV(1992), complementa a posição dos autores citados acima, ressaltando que um adulto não treinado pode, por intermédio de um treinamento apropriado, melhorar seu desempenho de 15 a 20%, destaca também que outros casos são exceções e que as diferenças na distribuição das fibras musculares e no modelo de inervação são geneticamente fixados e o treinamento pode apenas modificar o volume (por aumento da seção transversal) ou a capacidade de coordenação, mas não a distribuição percentual das fibras. Podemos observar que as posturas acima tomam um mesmo sentido, e que o último autor acredita na melhora de uma porcentagem do desempenho a partir do treinamento.
A célula muscular apresenta vários tipos de fibras, entre elas encontramos as FT fibra e a ST fibra. A primeira é a fibra branca , mais grossa e mais veloz. Este tipo de fibra é exigido no trabalho muscular intenso e forçado. A fibra ST vermelhas são lentas, e exigidas no trabalho muscular com pouca intensidade. A disposição e a porcentagem das diferentes fibras musculares, como já foi ressaltado, são fixadas geneticamente. Portanto quanto menos fibras FT tem um atleta, mais longo será o preparo físico para um esporte que exija trabalho muscular forçado. Segundo MCARDLE et alli (1998) é interessante notar que as crianças, em comparação com os adultos, apresentam um percentual maior de fibras "intermediárias". O percentual dessas fibras em meninos é maior do que nas meninas e em adultos esse percentual é muito pequeno. Destaca ainda que crianças precocemente treinadas em velocidade apresentam um aumento das fibras FT, pois as fibras intermediárias transformam-se em fibras FT, atingindo um potencial para velocidade melhor do que o herdado geneticamente.
"Numa perspectiva motora, é importante fornecer à criança estímulos suficientes para o desenvolvimento de suas estruturas em rede e também para a formação plástica de suas áreas cerebrais, que são de grande importância para o seu potencial funcional posterior." (PICKENHAIN, 1979 apud WEINECK, 1986). Se faltarem esse estímulos ou não forem fornecidas em quantidade suficiente , a infra-estrutura das estruturas cerebrais atingidas será menos elaborada, resultando numa menor maturação funcional. De qualquer maneira é importante que se treine a velocidade, de acordo com o período adequado e antes do completo desenvolvimento do sistema nervoso central, que se dá por volta da primeira adolescência, a fim de tentar ampliar o espaço geneticamente destinado ao indivíduo.
O referido estudo é relevante para os profissionais de Educação física, principalmente para os iniciantes, para perceberem as particularidades da estimulação precoce da valência velocidade para as crianças, pois como ressalta CLAPARÉDE (1937) apud WEINECK (1986), crianças não são adultos em miniatura, nem suas atividades esportivas um treinamento para adultos reduzidos. Ao contrário do adulto, as crianças encontram-se ainda em crescimento e, por isso, submetidos a um grande número de modificações e de particularidade de desenvolvimento que determinam conseqüências correspondentes para o "treinamento" destes.
Conclusão
A criança que é estimulada desde cedo a desenvolver sua valência física velocidade, terá maior possibilidade de obter sucesso posteriormente no desempenho do voleibol, portanto, considera-se necessário que seja feito um trabalho estruturado de base, com atividades lúdicas e que esse trabalho baseie-se principalmente no desenvolvimento do sistema neuromuscular, ou seja, dirigido para o aperfeiçoamento da velocidade dos movimentos, o qual, nos leva a crer que a velocidade é a capacidade de maior importância dentro da preparação do voleibol.
Bibliografia
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FRANCO, Viviane De Oliveira. A influência da educação física escolar no desenvolvimento psicomotor de crianças de 6 a 8 anos. Monografia, EFISC, 2002.
GALLAHU, D. OSMUN, John C. Compreendendo o desenvolvimento motor: Bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo, Phorte editora, 2003.
GRECO, P.J., BENDA, R.N. Iniciação esportiva universal: da aprendizagem motora ao treinamento técnico. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
MCARDLE, W. D., KATCH, F. i., KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 4º edição. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 1998.
NIKITIUK, V. G. Sistema de preparação desportiva de reserva. Moscou: Fisculture e Sport, 1994.
OLIVEIRA, Daniela Rust De. A influência da atividade recreativa como fator profilático na degradação social de crianças em situação de risco da cidade de Caratinga - Mg .Monografia, EFISC, 2002.
RODRIGUES, Ana Paula. A importância das atividades recreativas no desenvolvimento psicomotor em crianças de 4 a 6 anos. Monografia, EFISC, 2002.
TEIXEIRA, Márcio, GOMES, Antônio Carlos. Aspectos da preparação física no voleibol de alto rendimento. In Revista Treinamento Desportivo. Londrina, v. 3, nº2, pág.105- 111. 1998
WEINECK, Jüngen. Manual de treinamento desportivo. São Paulo: Manole 1986.
WEINECK, Jüngen. Treinamento ideal. 9º edição. São Paulo, Manole, 1999.
ZAKHAROV, Andrei, GOMES, Antônio Carlos. Ciência do treinamento desportivo. 1º edição. Rio de Janeiro. Grupo palestra esporte, 1992.
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revista digital · Año 8 · N° 56 | Buenos Aires, Enero 2003
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