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Do amor grego à paixão nacional:
masculinidade homoeroticidade no futebol brasileiro
Marcel Freitas

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 55 - Diciembre de 2002

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    No que diz respeito à nossa sociedade, ele toma o Futebol, o carnaval e a umbanda como exemplos de fenômenos tipicamente brasileiros, por isso estes acontecimentos nos possibilitam uma sensação de imensidão, de totalidade, já que nos liga completamente a um corpo social bem maior. E a partir do Futebol brasileiro também podemos entender melhor o que Roberto Da Matta diz quando se refere à dicotomia público/privado, ou nos seus próprios termos, rua/casa. O Futebol no Brasil é uma instituição social basicamente masculina e bastante presente no mundo social público, ou seja, não se restringe a um seleto grupo de participantes. Isso aponta para um aspecto curioso das relações de gênero em sociedades patriarcais e falocêntricas: freqüentemente o que é ‘masculino’ - próprio dos homens - é geral, porém, o que é feminino - típico do mundo das mulheres - diz respeito somente a ‘elas’. Em outras palavras, não possuímos nenhum fenômeno/instituição6 social coletiva de caráter eminentemente feminino que é tão público e positivamente valorizado quanto o Futebol; ou seja, o masculino, a masculinidade, a virilidade enfim não cabe ser definida como um gueto, pois o gueto é próprio do que é específico, restrito e do que deve ser controlado: nas questões de gênero, seriam as mulheres (heterossexuais, bissexuais e lésbicas), os gays e os travestis.

    Raciocínio semelhante ao desenvolvido por Da Matta a respeito do Futebol brasileiro é o de Clifford Geertz acerca da briga de galos na ilha de Bali. Para Geertz, aquele fenômeno social nada mais é do que uma expressão clara da cultura local. Desta forma ele estabelece que: “Uma imagem, uma ficção, um modelo, uma metáfora, a briga de galos é um meio de expressão, sua função não é nem aliviar as paixões sociais nem exacerbá-las (embora ela faça um pouco de cada coisa), mas exibí-la em meio a penas, ao sangue, às multidões (...)” (GEERTZ, 1978:311).

    Assim como o jogo de Futebol traduz o contexto simbólico brasileiro, a briga de galos em Bali revelaria o inconsciente sócio-cultural daquele povo. “(...) Bali se revela numa rinha de galos. É apenas na aparência que os galos brigam ali - na verdade, são os homens que se defrontam” (1978:283).

    Destarte, de maneira similar Da Matta projeta no Futebol brasileiro os dramas, paixões e estereótipos peculiares à sociedade brasileira como um todo. Isso porque na maior parte das vezes a vivência da realidade subjetiva e os significados sociais da cultura não são conscientes para grande parte dos sujeitos sociais, e podemos perceber isso claramente em relação ao Futebol brasileiro, pois como nos aponta SOUZA (1996), o Futebol pode ser visto como uma espécie de condensador da identidade brasileira em vários aspectos, entre eles, as relações de gênero (a proeminência quase que total da figura masculina, a pilhéria em relação a tudo que diz respeito ao feminino).

    Ao pesquisar o Futebol brasileiro também GUEDES (1977) percebeu dois conjuntos opostos de representações e valores, oposição essa inconsciente para os atores envolvidos: de um lado há tudo aquilo que se associa ao masculino - coragem, espírito de luta e de camaradagem, ‘invasão’, posição ofensiva. De outro lado coloca-se tudo aquilo que preconceituosamente a sociedade atribui ao feminino, sendo características apenas do time adversário, jamais do ‘nosso’: covardia, espírito ardiloso, falsidade, inércia, ‘receptividade’, posição defensiva. Desta forma seu olhar corrobora a perspectiva de Marcos Souza, “(...) não se pode definir o que é o povo pelo Futebol. Porém, pode-se perceber aspectos relacionados à nação no Futebol” (SOUZA, 1996:139).

    Esta atribuição de aspectos ligados ao feminino à torcida adversária é clara e nos permite fazer a seguinte interpretação: o ‘nosso’ grupo é mais ‘macho’ que o grupo do ‘outro’ caso o ‘nosso’ time tenha vencido. Neste sistema simbólico a cooperação entre iguais é questão de honra, bem como a repulsa pelo ‘diferente’ - explicitamente ligado à mulher e ao feminino em geral. Através disso podemos ver como a masculinidade é relativa (neste universo, em termos caricaturais, se é mais ou menos ‘macho’ dependendo do resultado do jogo...) e como a feminilidade é tomada como ‘o estranho’ por excelência. Neste sentido, “vencer um inimigo no Futebol significa uma auto-afirmação simbólica da própria potência” (SOUZA, 1996:140), ou ainda, “(...) o confronto simulado com uma bola, entre duas comunidades representadas por elementos masculinos, que é inclusive compartilhado pelos torcedores, constitui uma forma de ritual viril” (SOUZA, 1996:135).

    Assim sendo, processos psicanalíticos como a denegação e a transferência podem ser recorrentes neste universo. SOUZA também compreende o Futebol como uma forma de exibição exacerbada dos atributos da masculinidade, um dos processos pelos quais a masculinidade nacional se reafirma, cabendo à mulher um mero papel secundário. A agressividade - típica da ‘virilidade mediterrânea’ - se faz acompanhar de um sadismo ostensivo em relação ao time adversário (menos másculo), perdedor (e por isso foi feminilizado). “É comum os torcedores enaltecerem a sua imagem de masculinidade, em detrimento de uma suposta falta de virilidade, passividade e feminilização dos adversários, principalmente nas suas manifestações coletivas, como nos xingamentos, (...) a mulher também é vista como algo que deve ficar fora do Futebol” (SOUZA, 1996:145).

    Como a identidade masculina se constitui por conformação ao modelo viril vigente - o homem ‘deve’ ser ativo, dominante, violento, hierárquico e repelir o feminino de sua subjetividade - isso seria necessariamente típico em quase todas as relações entre homens, todavia mais explícito nos esportes em geral como aponta o mesmo cientista, “(...) na relação entre homens é comum a busca da vitória física, ou simbólica, de um homem sobre o outro, o que não acontece na relação entre as mulheres. Às mulheres são endereçados outros jogos” (1996:141).

    Então, de modo geral, o homem precisa aniquilar7 o outro para afirmar sua identidade neste sistema de gênero, ao passo que a mulher deve sempre se mostrar disposta a ceder, a cuidar, a servir. As interações masculinas enfatizam a dominação e ao mesmo tempo o narcisismo, a adoração por si e por suas próprias capacidades, as interações femininas por seu turno enfatizam as ligações afetivas e altruístas. Isso corrobora a asserção de Umberto ECO (apud SOUZA), para quem o Futebol é equivalente à ‘brincadeira de casinha’ das meninas, pois atua como fator de socialização dos meninos de acordo com ‘lugares’ e padrões sociais pré-estabelecidos.

    Assim sendo, a ‘simpatia’ (no sentido estrito do termo, ‘sofrer com’) é a tônica das interações ali efetivadas. Em recente trabalho também argumentamos a respeito dessas características nos grupos de adolescentes masculinos (FREITAS, 1997). acreditamos então que tais aspectos - identificação narcísica e fortes vínculos afetivos - podem ainda ser mais reforçados quando um objetivo comum permeia os componentes do grupo; neste caso aqui tratado, seria a dedicação e o apreço - que pode variar da mais sutil admiração ao mais doentio dos fanatismos - por um clube de Futebol.

    Um outro conceito que é importante ser definido é o de ‘homoerótico’/homoerotismo: estes serão utilizados na perspectiva que Jurandir Freire. COSTA (1992) elabora. Este autor o define como sendo algo bem mais amplo que 'homossexualidade', ou seja, é uma noção mais flexível e que descreve mais convenientemente a diversidade das práticas ou desejos de homens same-sex oriented, mas também pode ser verificada em homens bissexuais ou mesmo em heterossexuais. Além disso, esta categoria teórica traz a vantagem de não possuir um vínculo imediato com a identidade do sujeito ou de grupo, como o termo ‘homossexual’. Em outros termos, situando-se entre a homofilia (aspecto psicológico) e entre a homossexualidade (aspecto comportamental) é uma esfera sócio-individual da realidade mais ampla que aqueles dois aspectos anteriormente citados, de certa forma fundindo-os; ou seja, uma interação coletiva ou interpessoal homoerótica apresentaria desejo, corporalidade, afetividade, Gozo8 de diferentes maneiras e em graus diferenciados. Esta definição fornece uma visão bem ampla das práticas e representações que concernem à sexualidade direcionada para pessoas do mesmo sexo; ou seja, congrega desde o comportamento sexual em si mesmo até a afetividade e/ou atração sexual latente e/ou inconsciente dirigida a pessoas do mesmo sexo.


Considerações Finais

    Em síntese, muitos destes efeitos da estigmatização - tantos sócio-culturais quanto psíquicos - foram percebidos por Sandra AZEREDO (1997) e sua equipe de pesquisadoras(es) quando examinaram a vida e a subjetividade de prostitutas na ‘zona’ de Belo Horizonte. Fica flagrante, pela análise do trabalho desta autora, que o outro no âmbito do feminino é a ‘puta’, assim como temos afirmado neste projeto que o outro no universo masculino é o ‘viado’. Ela então nos sensibiliza para o fato de que tal atribuição/projeção de caracteres sociais negativos/pejorativos a esta(e) outra(o), enfim, seu engendramento social, tem efeitos importantes na ação do Eu (‘mulher honesta’/‘homem macho’), não somente na ação deste outro.

    Acrescentamos que estamos cientes que outros espaços sociais também apresentam afetividade/sexualidade entre homens (presídios, mosteiros, etc.), entretanto, o que justifica esta investigação é o caráter recorrente das frases, gestos, rimas, insultos dirigidos aos torcedores rivais e que trazem conteúdo sexual (e agressivo) e ao mesmo tempo a ‘quase obsessiva’ necessidade da parte dos dirigentes, técnicos e jogadores de Futebol em assegurar veementemente que ‘ali’ é lugar de ‘macho’, de ‘homem’. A questão que permanece, então, é se esta tão intensa necessidade de exorcizar algo não aponta para sua existência e como estabelece Michel FOUCAULT (1976) a respeito do controle social da sexualidade na modernidade, ao invés de escamotear termina por explicitar mais ainda o fenômeno. Assim sendo, processos psíquicos tais como a denegação podem ser associados a estes torcedores, sendo que a denegação é um aspecto psicológico que pode ser associado ao recalcamento e que afirma algo através da sua negação enérgica (CHEMANA, 1995).


Notas

  1. Fotos de jogadores em interação uns com os outros que eram deliberadamente associadas pela redação da revista com mensagens de caráter sexual/afetivo ou então de caráter sexual/agressivo.

  2. Publicação brasileira voltada principalmente para o público gay masculino morador dos grandes aglomerados urbanos do Brasil e pertencente sobretudo às classes A, B e C nos moldes da revista americana “Advocate”. Trazia reportagens, artigos e algumas fotos de caráter erótico. Existiu de 1995 a 1999.

  3. Entendemos que as idéias ‘androcêntrico’, ‘falocêntrico’ e ‘patriarquia’ podem ser utilizadas neste trabalho de modo eqüipotente, se referindo a sociedades com as seguintes características: há uma maior importância, tanto efetiva quanto simbólica, para tudo aquilo que se relaciona ao masculino e à virilidade, sendo que os homens possuem mais prestígio, poder e privilégios em detrimento das mulheres e de outros homens não viris, ou seja, afeminados (PAGLIA, 1992; LERNER, 1986). A nosso ver, a distinção destas nomenclaturas é de cunho epistemológico, ou seja, cada uma é mais empregada em uma área das Ciências Humanas, a saber, Antropologia, Psicologia e Sociologia/Ciência Política respectivamente, mas se referem essencialmente ao mesmo tipo de sistema social.

  4. Entidade coletiva abstrata balizadora das identidades individuais e dos comportamentos dos homens, mas não realizada completamente em nenhum homem concreto. Basicamente, em sociedades patriarcais, se define pelo papel ativo nas relações sexuais, pela pouca manifestação afetiva entre homens, por algum grau de agressividade nas relações de gênero (principalmente simbólica, mas não raro também se manifesta fisicamente), pelo caráter público, pela distribuição hierárquica desigual de poder e prestígio social nas interações com o feminino, onde ocupa, geralmente, o pólo dominante/privilegiado.

  5. Elucidamos que usaremos intercambiavelmente as categorias homossocial, mais utilizada na teoria sociológica, e monossexual. O primeiro conceito diz respeito a interações coletivas face a face (típicas dos pequenos grupos) acontecidas entre pessoas do mesmo ‘sexo’. Deste modo, seriam relações homossociais aquelas acontecidas em conventos, presídios, concentrações de jogadores(as), etc. o conceito de monossexual, por seu turno, diz respeito a fenômenos e/ou fatos que se caracterizam pela presença de sujeitos do mesmo ‘sexo’. O primeiro conceito trás a desvantagem de que pode ser ‘confundido’ com homossexualidade, e de modo algum representam a mesma coisa.

  6. Como vimos frisando desde o início deste plano de estudo, esta pesquisa se situa na interface da Psicologia Social com a Antropologia Cultural, terrenos onde os estudos de gênero são abundantes. Portanto, empregaremos os conceitos de ‘fenômeno social’ (peculiar das Ciências Sociais) e de ‘instituição social’ (típico das abordagens psicológicas) para nos referirmos ao Futebol no Brasil. Estes conceitos não são idênticos, porém, tendo em vista a interdisciplinaridade e o diálogo propostos entre as duas áreas, podem ser utilizados de modo equivalente, pois os fenômenos sociais podem ser definidos como “(...) componentes da vida social que, quando ajustados uns aos outros, formam um padrão mais ou menos estável” (BROOM, 1979:17). E o conceito de instituição social pode ser assim demarcado: “Um modo de associação que está a serviço de interesses amplos, e não estreitos, e assim o faz de modo ordeiro e duradouro. (...) A palavra instituição também se aplica a práticas, a maneiras estabelecidas de fazer as coisas” (BROOM, 1979:54).

  7. Mesmo que na maior parte das vezes essa aniquilação não seja física e real - confrontos entre torcidas ou entre homens num bar nem sempre chegam às vias de fato - a aniquilação é simbólica: ao chamar o outro de viado/bicha se está dizendo que ele, enquanto homem, deixou de existir, pode continuar a existir enquanto ser humano, mas agora inferior, já que foi feminilizado, tornado mulher.

  8. Grafamos este conceito em letra maiúscula tal como é veiculado pela literatura psicanalítica, que pretende demonstrar que ele não se reduz ao ‘orgasmo’ fisiológico puramente.


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