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Prescrição de exercícios físicos por meio da equação de freqüência cardíaca de reserva |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 54 - Noviembre de 2002 |
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A diferença média encontrada para os valores percentuais estimados pela FCR em relação aos valores médios do VO2máx não foram significativos. Foram observados tanto para o EC como para EPE valores médios de 6,53 e 8,64 bpm respectivamente.
DiscussãoCOPLAN et al. (1986) e SWAIN (1999) referenciam que a utilização de parâmetros fisiológicos para a prescrição de exercícios aeróbios ou anaeróbios, é baseada em recomendações da “American Heart Association (1990)” ou do “American College Sports Medicine (1998)”. Essas organizações usam como pontos para determinação das intensidades dos exercícios físicos os percentuais do consumo máximo de oxigênio e/ou da freqüência cardíaca máxima. Podemos obter estes parâmetros de duas formas: direta, com análise da troca de gases espirados ou por meio de protocolos indiretos, ou seja, por meio de equações de estimativa do VO2máx e da FCmáx (ARAÚJO, 1998; 2000). Poucos são os locais em que se pode contar com sistemas computadorizados de ergoespirometria para a determinação destes parâmetros fisiológicos de forma direta, assim, passa-se a utilizar equações de regressão (estimativa) para predizer o VO2máx e a FCmáx (KARVONEN et al., 1957; SHEFFIELD et al., 1978; COPLAN et al., 1986; MYERS et al., 1992; BABA & NISHIBATA et al., 1996; MESQUITA et al., 1996).
A equação recomendada pelo “American College Sports Medicine” (2000), para a prescrição do treinamento aeróbio, é a de KARVONEN et al. (1957) em razão de a mesma apresentar uma correlação direta entre os percentuais da FCmáx e os percentuais do VO2máx. Embora o estudo de KAVONEN et al. (1957) não tenha tido como objetivo verificar a correlação entre os percentuais da equação de FCR e os percentuais do VO2max para a prescrição das diferentes intensidades de treinamento; em alguns estudos, encontramos essa relação reportada (HOWLEY & FRANKS, 1992; POLLOCK & WILMORE,1993; PASSARO & GODOY, 1996; ROBERGS & ROBERTS, 1997; ACSM, 1998).
SWAIN et al. (1998) verificaram que a equação de FCR não apresenta uma correlação precisa com os percentuais do VO2máx, fato também verificado no presente estudo. Foi verificado que a equação FCR tende a subestimar a capacidade física em todas as intensidades estudadas, quando utilizada a freqüência cardíaca máxima real (FCmáx) obtida por meio de teste de esforço. Este comportamento é coerente com os relatados por BELMAN & GAESSER (1991), SWAIN & LEUTHOLTZ (1997) e SWAIN et al. (1998). O ponto divergente encontrado entre este estudo e o de SWAIN et al. (1998) está na correlação encontrada. O estudo de SWAIN et al. (1998) apresentou correlação de r = 0,99 com uma interseção significativa e diferente de zero (p <0,05), enquanto que no presente estudo, não foram encontradas correlações tão altas (r = 0,30 á 0,55). Tal diferença deveu-se, possivelmente, em virtude do objetivo do experimento, em que o presente estudo, procurou verificar a relação entre as diferentes intensidades para a prescrição do treinamento aeróbio, enquanto SWAIN & LEUTHOLTZ (1997) e SWAIN et al. (1998) teve como objetivo correlacionar todos os valores percentuais do VO2máx com os percentuais da FCR. A média de idade da amostra estudada por SWAIN & LEUTHOLTZ (1997) foi de 30 + 1,0 anos, e SWAIN et al. (1998), foi de 26 + 1,0 anos, em comparação a 21 + 2,28 anos. Neste estudo, essas diferenças são fatores relevantes que podem influenciar os resultados.
Outro ponto que pode contribuir para a diferença encontrada está relacionado ao tipo de protocolo de teste de esforço utilizado para obtenção dos parâmetros fisiológicos do experimento; o presente estudo utilizou um protocolo escalonado, com intervalo de tempo de um minuto para cada estágio, o que favorece um maior consumo de oxigênio além de um tempo de estabilização menor (ZAVALA & MAZZEI, 1996). A utilização de inclinações muito altas como proposto no protocolo de BRUCE et al. (1973), utilizado por SWAIN et al. (1998), favorece maior incidência de fadiga periférica. Segundo SERRA (1997), a utilização do protocolo de rampa apresenta uma maior reprodutibilidade além de um consumo máximo de oxigênio maior. O nível da aptidão cardiorrespiratória também parece ser um componente importante, além do que a relação entre os controles neurais envolvidos na regulação da freqüência cardíaca em relação ao consumo de oxigênio (GOLDSMITH et al. 1992; KJAER & SECHER, 1992; WILLIAMSON, 1995; DENADAI, 1995; NEGRÃO et al. 1996; SACKNOFF et al. 1994; BARROS 1996; ALONSO et al. 1998; FLOELICHER et al. 1998; ICHIRO et al. 1998; LIMA & KISS 1999; McARDLE et al., 1998; MIKKO et al. 1998; NEGRÃO & BARRETO 1998; POWERS & HOWLEYS, 2000). Isto pode ser evidenciado na correlação positiva encontrada entre os escores residuais e o condicionamento físico dos indivíduos estudados (figuras 03, e 04) ou seja, quanto maior a condição cardiorrespiratória, (VO2máx), maior é a tendência da equação de FCR em subestimar a capacidade física do indivíduo.
Figura 03 - Análise dos escores residuais dos percentuais FC (FCmáx real - FCR) a 50% do VO2máx (ml/kg.min-1).
Figura 04 - Análise dos escores residuais dos percentuais das FC (FCmáx real - FCR) a 80% do VO2máx (ml/kg.min-1).
80% VO2máx (ml/kg.min-1)
Conclusão
No presente estudo foi verificada a precisão da FCR para a prescrição das diferentes intensidades do exercício aeróbio. A relação direta entre os percentuais do VO2máx e os percentuais de FCR não foi encontrada nesta amostra, conforme relatos de alguns estudos anteriores. Constatou-se que a equação apresenta uma pequena tendência não significativa a subestimar as intensidades de treinamento aeróbio na amostra estudada em 4,3%. Essa tendência de subestimar poderá proporcionar uma maior faixa de segurança no momento da prescrição das zonas de treinamento. Desta forma, recomenda-se que a equação da FCR seja utilizada em conjunto com outros métodos como, por exemplo, a sensação subjetiva de esforço.
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