Educação Física em cursos pré-vestibulares: uma proposta |
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*Mestre em Ciências da Motricidade (Pedagogia da Motricidade Humana) **Doutorando em Ciências da Motricidade (Biodinâmica da Motricidade Humana) Universidade Estadual Paulista - UNESP - Rio Claro - SP (Brasil) Instituto Latinoamericano de Actividad Física Terapéutica (ILAFIT) |
Priscila Carneiro Valim* Gustavo Puggina Rogatto** priscila_valim@hotmail.com (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 53 - Octubre de 2002 |
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“O adolescente de hoje precisa aprender a querer, a empenhar-se em diferentes tarefas, a fazer um esforço
para ir até o fim. Aprender a querer é aprender a ser, a escolher uma via de desenvolvimento pessoal. Os jovens,
hoje, procuram ter e não ser. Os educadores devem leva-los a descobrir que só se possui realmente o que se
ganha em relação a si próprio, através do esforço sobre si para existir, posicionando-se como
pessoa face aos outros e fazendo assim um ato de liberdade.”
(POSTIC, 1995)Introdução
A Educação Física vem sendo uma atividade complementar e isolada nos currículos escolares. Como a Educação Artística e a Educação Moral e Cívica, a Educação Física não se ajusta aos critérios de divisão de conhecimento dos currículos das escolas de primeiro e segundo graus. Ao mesmo tempo contempla-se a ascensão das práticas esportivas e exercícios físicos realizados em academias de ginástica, clubes, escolinhas de esportes, e até mesmo o grande número de telespectadores (consumidores passivos) de programas de TV a cabo especializados. O que está acontecendo então?
A escola é um universo social e o local onde se desenvolvem as experiências sociais da criança e do jovem (POSTIC, 1995). Na escola é que se recebe parte importante da educação, e se existe um desinteresse na Educação Física Escolar, também por parte dos alunos e uma supervalorização de atividades externas, pode-se pensar que algo está errado, seja nos conteúdos, metodologias, ou estratégias relacionadas à Educação Física ensinada na escola.
A criança, ao decorrer da sua idade, vai progressivamente dando menos importância ao movimento compreendido aqui como uma atividade corporal contextualizada capaz de atingir objetivos educacionais dentro da escola, pelo maior acesso aos avanços tecnológicos e as facilidades proporcionadas pela sociedade em desenvolvimento, ou por conseqüência achar que em vários momentos de seu cotidiano este movimentar é desnecessário. Ao mesmo tempo, as aulas de Educação Física são “encaradas” como diferentes das outras aulas. Segundo BETTI (1992), apesar da deficiência da Educação Física na escola, deficiência esta percebida pelos alunos que “peneiram” os conhecimentos através de sua percepção, os alunos ainda conseguem sentir prazer em participar das aulas.
A Educação Física enquanto componente curricular de 1º e 2º graus deve, na opinião de BETTI (1996, pág.2), “introduzir e integrar o aluno na cultura corporal do movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transforma-la, instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, da dança e das ginásticas em benefício da sua qualidade de vida”. Na redação da LDB 9394/96 foi retirada a palavra “obrigatória”, mas a Educação Física não foi excluída das disciplinas curriculares do ensino médio. Nas escolas estaduais, as aulas de Educação Física são ministradas no mesmo período que as demais aulas, e em algumas escolas particulares, as aulas são realizadas fora do período (à noite, ou a carga horária concentrada em um dia, por exemplo, aos sábados) (BETTI, 1998). A mesma autora afirma que na maioria dos estabelecimentos, seja público ou privado, há uma maior utilização do conteúdo esportivo (o problema não é adotar o esporte como conteúdo, mas a forma como ele é transmitido). Do mesmo modo o conteúdo desenvolvido nos programas de Educação Física no ensino superior tem sido orientado através da prática de atividades técnico-desportivas, e não através da divulgação de conceitos e informações sobre a Educação Física propriamente dita (OLIVEIRA, 1988).
Existem poucos estudos sobre o ensino médio, e menos ainda no que diz respeito à Educação Física. VANNI (apud BETTI, 1998) salienta que pela decadência do ensino profissionalizante e a pouca atenção ao ensino médio público, emergem as escolas particulares e cursinhos, ainda por serem estudados.
A fase em que se encontram os alunos do ensino médio e de cursinhos é a adolescência. Cronologicamente esta fase compreende dos 11-13 anos aos 18-21 anos, variando entre os sexos, de cultura para cultura, e outros, e pode ser prolongada nas classes médias e altas pelo aumento da escolaridade e/ou da dependência econômica dos pais. Simples definição que prova a dificuldade de um consenso do que se escreve sobre o assunto. Alguns jovens podem permanecer nesta fase após os 21 anos, no conforto e segurança da casa dos pais (ZAGURY, 1996) fugindo das responsabilidades e das importantes decisões a serem tomadas em várias áreas sociais (profissão, relacionamentos, e outros) desta fase de transição entre a criança e o adulto.
É na escola que o jovem passa grande parte de seu tempo. A escola mantém o adolescente ocupado tirando-o da rua. Principalmente nas classes sociais mais favorecidas, o estudo é considerado o único “trabalho obrigatório” do jovem. A função do educador na escola é ajudar os alunos a construírem o seu projeto pessoal e profissional, durante o tempo que passa com eles, levando-os a analisarem-se nas diferentes situações, a conhecer a percepção dos outros acerca de seu comportamento e a encontrar o significado de sua ação (POSTIC. 1995). Assim o professor poderá ajudar o adolescente a assumir a sua responsabilidade nas escolhas a fazer, nas orientações e compromissos a tomar.
Os cursos pré-vestibular, que fazem ou não parte do ensino médio formal, entendidos como uma forma educacional direcionada a um exame específico para se alcançar uma vaga numa Universidade, se proliferam atualmente. Os cursinhos particulares ainda são em maior quantidade para os que podem pagar, aos que não podem restam cursinhos vinculados a algumas instituições públicas e às próprias escolas públicas que não conseguem suprir as exigências necessárias para a realização de uma prova de vestibular com chances de aprovação. Devemos nos atentar ao fato de que é neste local que se encontra uma boa parte de nossos jovens e a Educação Física, até então, não está atendendo esta área da educação.
O objetivo deste trabalho é propor uma possível Educação Física destinada aos estudantes de cursinhos pré-vestibular. Esta proposta se aplicada com sucesso poderia ser também adotada como uma possibilidade de Educação Física de ensino médio.
A Educação Física e o jovemPara que se possa propor algo novo em Educação Física destinada ao jovem é preciso anteriormente saber como o jovem entende o ensino da Educação Física e a sua situação no seu contexto atual. BETTI (1998) mostra com clareza, através de uma ampla revisão de vários estudos a respeito, situações atuais e relevantes referentes ao jovem estudante. Ela afirma que o desinteresse pela Educação Física Escolar inicia-se por volta da 7ª série e tem seu auge na terceira série do ensino médio; o jovem sente o esporte como uma necessidade, mas acha que deve ser praticado sem obrigatoriedade; as meninas associam a Educação Física com o desenvolvimento físico, educação do corpo e ginástica do que com esporte; com o aumento da idade e do nível de escolarização os jovens passam a considerar os exercícios repetitivos e cansativos; os adolescentes dispensados de aulas de Educação Física tomam esta decisão não somente por motivos de saúde, trabalho, ou choque de horário com outras disciplinas, mas por descontentamento com o conteúdo ou com a forma de atuação dos professores. Em resumo, o jovem que uma atividade física sem obrigação, motivante, diversificada e adequada a suas necessidades e disponibilidade. É exatamente o que ele encontra fora da escola em instituições diversas (parques, espaços públicos) ou que gostaria de praticar e não dispõe de tempo ou dinheiro. São práticas que poderiam ser também realizadas na escola enfocando um referencial educacional e com orientação adequada.
O quadro referencial da Educação Física no terceiro grau apresentado por GEBARA (1988) é o seguinte: a prática de algumas atividades esportivo-comunitárias, tais como “peladas”, jogging; esporte universitário vinculado aos diretórios acadêmicos; e esportes de alto rendimento assumidos por algumas universidades. A forma como tem sido pensada e praticada, a Educação Física no ensino superior repete as formas de atuação das atividades desenvolvidas no ensino médio.
A inexistência da prática de Educação Física incorporada na grade de disciplinas oferecidas em cursinhos pré-vestibular nos leva a falta de informações sobre este aspecto, então partindo das informações a respeito de estudantes do ensino médio e do ensino superior, pode-se ter uma idéia do perfil e necessidades do estudante de cursinho. Não há, no entanto, a pretensão aqui de solucionar os problemas enfrentados nos sistemas educacionais destinados aos jovens, mas no lugar de críticas ao que já existe, apenas trazer uma sugestão como uma possível contribuição para a Educação, que traga benefícios para esta parte da população através da Educação Física.
O ponto de partidaO sucesso de uma disciplina destinada ao jovem depende da interação entre professor e aluno. O professor deve manter os seus alunos cientes de sua intenção e sua preocupação para com eles na didática, no relacionamento e em outros aspectos do ensinar, pois os jovens são mais críticos em relação aos professores e sabem, pro exemplo, distinguir o professor que sabe o conteúdo do professor que sabe ensiná-lo (ZAGURY, 1996). “O desejo de aprender e de progredir nas ce no aluno quando ele sente que o professor se interessa por ele, como pessoa, e que acredita nas suas possibilidades de sucesso” (POSTIC, 1995, p.91).
A disciplina “Educação Física”, “Atividade Física”, “Movimento”, ou qualquer que seja a expressão para denominar a Educação Física destinada a cursinhos pré-vestibular, deve englobar atividades que requerem maior participação, com mais movimentos, que concentram maior número de motivos dos participantes, despertando interesse e desafio, o que na opinião de MACHADO (1997), por si só é estimulante e motivador. Esta prática deve ser contínua e ao mesmo tempo prazerosa, pois a relação da prática sistemática do exercício físico com a sensação acentuada de controle de si mesmo e das funções corporais, gera uma melhor percepção do estado geral de bem-estar (BAÑUELOS, 1999). Conseguir este bem-estar, que não só os jovens buscam, é voltar ao “equilíbrio” em meio a uma ebulição de transformações que normalmente ocorrem com o adolescente nesta fase, além de outros fatores agravantes. O estresse é um destes agravantes e por que não lidar com estes problemas através do movimento?
Muitos estudos comprovam os benefícios físicos e psicológicos proporcionados pela prática de atividade física regular. BAÑUELOS (1999) diz que a saúde psicológica se encontra vinculada com o chamado “estado geral de bem-estar percebido”, conceito estudado através de alguns parâmetros como a sensação subjetiva geral de bem-estar ou de satisfação com a vida, ou estados de ânimo e níveis de ansiedade. Neste ponto de vista, como se encontra um jovem, prestes a realizar um exame pré-vestibular? Quantas são as suas dúvidas à respeito da escolha de uma profissão, ou de seu futuro próximo? Como estariam então seu estado de ânimo, nível de ansiedade ou de estresse?
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