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Proposta de uma política de lazer para o SESI-DR/MA - |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 51 - Agosto de 2002 |
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É ainda MOREIRA (1985) quem pergunta como fugir a um lazer, pela atividade física, que contém, em seus pressupostos básicos os de compensação e reajustamento do trabalho mecanizado ou de fuga da realidade? Analisando o conceito de lazer emitido por DUMAZEDIER, afirma que
"... na prática está presente a permissividade ao indivíduo, do lazer enquanto recuperação psicossomática, essencial à saúde do sistema capitalista. O tempo livre é utilizado pelo lazer como forma de compensação, ou melhor dizendo, como mecanismo de compensação criado pela sociedade industrial" 17 .
As atividades físicas de tempo livre funcionariam, então, como antídoto contra o tédio causado por um trabalho monótono e enfadonho, havendo necessidade de orientar o jovem para organizar sua vida de forma equilibrada e racionalizada de modo que a recuperação após o trabalho constitua uma preocupação constante no regime de vida cotidiana.
"A atividade física de compensação tem por objetivo geral suscitar, desenvolver e aprimorar as qualidades físicas do industriário, estimular o funcionamento de seus órgãos e, como objetivo especial, desenvolver excepcionalmente certas qualidades, que a natureza da profissão escolhida exige para um rendimento de trabalho maior e, ainda, dar ao organismo uma compensação de modo tal que as sinergias musculares, muito solicitadas durante o trabalho, possam obter para os seus músculos o relaxamento adequado, enquanto outras, cuja solicitação foi quase nula, sejam convenientemente solicitadas, de maneira a evitar a atrofia dos elementos componentes e, em conseqüência, a redução de sua capacidade" 18 .
DRAGAN (1981) analisando o repouso ativo comenta que
"o chamado repouso activo (actividades físicas cujas solicitações se dirigem a outros centros nervosos e a outros segmentos musculares ou funções ... a ginástica no local de trabalho, ou exercícios de yoga, etc ... representam hoje meios práticos bem codificados na recuperação, especialmente na prática desportiva" 19 .
Algumas empresas, considerando esta dificuldade, vem desenvolvendo programas de lazer, envolvendo atividades esportivas e sócio-culturais onde buscam atender às necessidades de todas as faixas etárias, envolvendo não só o trabalhador como sua família, promovendo o lazer com objetivos sociais e de integração dessa comunidade 20 .
Assim, as atividades físicas podem ocupar um papel importante no tempo livre do trabalhador, pois o comportamento humano varia consoante as múltiplas razões pelas quais os indivíduos realizam uma atividade, não existindo entre o jogo e o trabalho uma fronteira absoluta 21 .
A falta de habilitação apropriada para a utilização do lazer é lembrada por Robert MacIver 22 (, 1976), quando diz:
"Para muitos homens , o trabalho tornou-se uma rotina não muito onerosa, não muito compensadora, e de forma alguma absorvente - uma rotina diária até que a sineta toque e os torne novamente livres. Mas livres para que ? É uma libertação maravilhosa para aqueles que aprenderam a usá-la; há muitas formas de fazê-la. Mas é um grande vazio para aqueles que não aprenderam a usá-la".
MOREIRA (1985), em trabalho apresentado à Universidade de Campinas, após analisar o conceito de Dumazedier, afirma ser a função do "desenvolvimento da personalidade" a que deverá ocupar um papel preponderante na utilização do lazer, revertendo as funções de descanso e divertimento ao seu papel educativo-consciente onde espera, dessa forma, que o lazer possa se transformar em aprendizagem voluntária e prática de uma conduta criadora, em se tratando de execução de atividade física. O aspecto do aperfeiçoamento pessoal, além de representar uma simples distração ou uma forma de compensar a sedentariedade, pode também se tornar verdadeira atividade cultural 23 .
Educação para o Tempo LivreDUMAZEDIER (1979), quando da definição de lazer, estabelece três funções para este, sendo uma delas o desenvolvimento da personalidade e nesse sentido os objetivos do lazer e da educação se harmonizam 24 .
Aprender a usar o tempo livre significa, em última análise, educar-se para o lazer 25 ; a importância de ser o homem educado para, racionalmente, preparar para si mesmo uma arte de viver em que não se perca o equilíbrio necessário entre o trabalho e o lazer e em que se antecipe a vida de lazer:
"A família, a escola e todos os educadores, têm papel determinante a desempenhar quando da iniciação da criança numa atividade lúdica e ativa de lazer, na qual a freqüente contradição entre o ensino e a realidade necessita ser eliminada." 26 .
GAELZER (1985), em seu "Ensaio à liberdade: uma introdução ao estudo da educação para o tempo livre", citando Neulinger e Neulinger, afirma que não há concordância sobre o que significa "educação para o lazer", pois diferentes setores vêem o uso do tempo livre e o lazer de formas diferentes. Os educadores estão inclinados a pensar na educação para o lazer em termos de atividades extra-curriculares que levem ao uso proveitoso e digno do lazer. Alguns dizem que a educação para o tempo livre é questão de orientação, desperta interesses e habilidades mas existem opiniões diferentes como este é conseguido. Os religiosos dão ênfase à condução moral e aos valores espirituais do lazer.
Eles concordam com educadores, psicólogos, sociólogos e outros que estão interessados no desenvolvimento do caráter. Os psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais tratam com a personalidade, ou ajustamento e desajustamentos sociais e estão interessados na solução dos problemas derivados da falta de orientação para o tempo livre. Os psiquiatras enfocam o estresse, a estabilidade e a saúde mental. Os professores de educação física estão com a incumbência de promover bons hábitos de saúde, de educação e de lazer, através das atividades físicas, sejam elas lúdicas, esportivas, rítmicas ou gímnicas 27 .
HABERMAS 28 vê três formas de comportamento no tempo livre, estando estas relacionadas com o trabalho:
Regenerativa - neste processo o tempo livre serve para recuperar as forças depois de uma jornada fisicamente cansativa.
No início da industrialização esta forma de comportamento desempenhou um papel essencial: atualmente, a mesma se encontra tão somente em um grupo limitado de ocupações, já que muitas profissões não requerem esforço físico algum.
Suspensiva - nesta forma se executa durante o tempo livre um trabalho sem a determinação exógena e sem a desproporção da exigência do trabalho profissional.
Como exemplo dessa forma de comportamento se mencionam a continuação do trabalho profissional em forma de "trabalho negro", o compromisso com grupos religiosos, políticos ou ideológicos mediante a aceitação de cargos em associações correspondentes.
Compensativa - esta forma de comportamento tende à compensação psíquica das seqüelas nervosas do trabalho.
Como exemplo, assinala Habermas, a maior dedicação à família, ao aproveitamento dos modernos meios de satisfação do lazer proporcionado pela chamada indústria cultural e, finalmente, a ocupação em esporte e jogos.
Porém Habermas duvida de que na realidade possa dar-se esta possibilidade compensadora, pois estas áreas mostram características que se assemelham ao trabalho. A análise de Habermas mostra, ademais, que o incremento de horas livres, a redução da semana de trabalho ou a extensão das férias não são suficientes para proporcionar esse verdadeiro tempo livre ganho no transcurso do desenvolvimento industrial; também se necessitam trocas e medidas sociais (p. 99), no que concordam SANTIN (1987) 29 e CUNHA (1978).
Para HAAG (1981) o tempo livre tem sido determinado pelas formas fundamentais do comportamento de lazer regenerativo, suspensivo ou compensatório. Deve ser visto em relação com as tentativas educacionais de prepara o homem para que saiba dar um conteúdo adequado ao seu lazer.
A pedagogia do lazer, desenvolvida por OPACHOWSKI (in HAAG, 1981) põe em destaque a necessidade de abordar com medidas e intenções educativas o relevante fenômeno social do lazer, para garantir que o mesmo seja realmente um "tempo livre" para o homem (p. 101). Essa "pedagogia do lazer" se baseia em oito "teses", resumidas por HAAG (1981):
A pedagogia do lazer constitui uma forma culta de serviço especial que oferece ao indivíduo (desde a etapa pré-escolar até a formação do adulto) ajuda para prender, desencadear e tolerar as trocas individuais e sociais.
A pedagogia do lazer supõe uma atitude política ante um mundo não armonizável.
A pedagogia do lazer libera da identificação total com os afazeres (e com os afazeres desempenhados durante o tempo livre porém determinados pelo trabalho e por terceiros); da conseqüente idealização do trabalho e do predomínio absoluto do princípio de rendimento.
A pedagogia do lazer estimula ao indivíduo a auto-análise e a reflexão sobre si mesmo e sobre o lugar ocupado por ele no trabalho e no tempo livre.
A pedagogia do lazer vence a angústia, a penúria e a repressão; está aberto ao bem estar, ao lazer e ao desfrute dele mesmo.
A pedagogia do lazer assume uma atitude positiva frente à abundância e variedade das ofertas de consumo, evitando ao mesmo tempo a um permanente autocontrole, vigilância e distância crítica permanentes frente a indústria de lazer
A pedagogia do lazer proporciona segurança física, psíquica e social e uma nova economia da saúde.
A pedagogia do lazer melhora o estado de ânimo, e assim contribui a atingir o otimismo frente à vida e a fortalecer a autoconsciência." (p. 100-101).
KRAUS 30 afirma que o principal propósito da educação para o lazer como em qualquer forma de educação, é promover certas mudanças individuais desejáveis. Apresenta, então, um esquema de metas nem que estas mudanças podem ser estabelecidas em termos de:
Atitude: é essencial que se desenvolva um conhecimento da importância do lazer na sociedade e reconheça os valores significativos que eles podem trazer à sua vida ....
Conhecimento: atitudes positivas bem fundadas devem ser suplementadas pelo conhecimento individual; saber "como", "por que", e "onde" deve ocorrer a participação recreativa ...
Habilidades: o objetivo de ensinar técnicas não é somente o de conseguir que o indivíduo domine um certo número de atividades específicas, com a idéia de que ele necessariamente participará delas, em sua vida recreativa, na juventude e idade adulta; e ainda proporcionar certas habilidades básicas, para que ele possa participar dessas habilidades com um certo grau de competência, sucesso e prazer ...
Comportamento: qualquer das metas acima, atitude, conhecimento e habilidades, leva a esse último propósito que é o comportamento. A conseqüência da educação para o lazer dever ser a existência de um comportamento que é marcado pela capacidade de um bom julgamento pessoal, quando da seleção de atividades recreativas ...
O comportamento de lazer pode ser firmado e os hábitos de participação efetiva podem ser solidamente implantados se a empresa se esforçar em ensinar uma real participação nas atividades de tempo livre.
Para NAHRSTET 31 , as funções da educação para o tempo livre se sintetizam em:
Recuperação - renovação das energias através do descanso;
Compensação - elemento harmonizador diante das exigências e fracassos da vida de trabalho; a tarefa pedagógica da educação para o tempo livre é dar relevância às atividades que proporcionem a recreação e favorecer a visão cultural e intelectual;
Meditação - ato do indivíduo se questionar a respeito de sua existência e afirmação. Essa função só pode acontecer em momentos de lazer, em percepção contemplativa do indivíduo consigo mesmo levando-o à meditação; essa oportunidade que questiona o sentido da existência e a vida de liberdade e realização pessoal e social se torna possível no campo do tempo livre;
Emancipação - consiste na libertação pessoal de domínio e independência indispensáveis para a autonomia individual e social; nesse sentido, o tempo livre se transforma em tempo de liberdade. (p. 3).
"Talvez a forma mais pura de educação para o lazer seja: ensinar a gostar de fazer coisas, não para apresentação exterior, e sim por satisfação; isto não é novidade, ensinar através do jogo e do brinquedo é provavelmente a melhor maneira conhecida de aprendizagem." (GAELZER, 1985, p. 47)
Para essa autora, lazer "é a harmonia individual entre a atitude, o desenvolvimento integral e a disponibilidade de si mesmo. É um estado mental ativo associado a uma situação de liberdade, de habilidade e de prazer." (GAELZER, 1979, p. 54).
Concepção 32Os produtos e serviços do SESI na área social têm por finalidade, preponderantemente, a elevação da qualidade de vida do trabalhador brasileiro, com a empresa industrial se constituindo no locus privilegiado de realização dessas ações.
A preocupação predominante é ampliar a presença do SESI junto aos seus clientes e garantir que as ações envolvam os trabalhadores na sua relação profissional, gerando ganhos de produtividade, de qualidade e de melhoria da competitividade da indústria nacional.
Os programas na área da educação de jovens e adultos, visando à elevação do seu perfil de escolaridade; os programas de saúde, na sua concepção preventiva, contribuindo para a redução dos acidentes no trabalho e de doenças profissionais; a ênfase na redução do estresse por meio de programas de lazer, em todas as suas manifestações, no esporte, na convivência social, na cultura, nas artes, esses são os focos da Instituição, contribuindo para consolidar uma indústria mais saudável, na mais ampla acepção do termo.
Lazer e Qualidade de VidaCidadania se constrói com educação, alimentação, saúde, moradia, trabalho, direitos e deveres. O bem-estar de uma pessoa envolve, é claro, todos esses itens. Mas o lazer também é fundamental para que os trabalhadores possam recuperar as energias despendidas no cotidiano profissional.
Lazer, esporte, saúde e integração social são ações que se complementam. Os benefícios são percebidos pelas empresas e valorizados pela sociedade: melhoria da saúde, diminuição do estresse, do absenteísmo, dos acidentes no trabalho, mais disposição e integração entre os trabalhadores, além do resgate de valores e enriquecimento cultural.
No ambiente de trabalho, esses benefícios se transformam em produtividade e competitividade, bem como produzem trabalhadores mais felizes, participativos, cooperativos e com capacidade de respeitar as diversidades - habilidades cada vez mais valorizadas pelas organizações modernas.
Propor qualidade de vida por meio de ações de lazer significa dar oportunidade à riqueza do relacionamento humano vivenciado e fortalecer vínculos, despertando sentimentos de colaboração, de participação e de solidariedade. O SESI oferece seus serviços tanto no ambiente de trabalho quanto na sua rede de unidades - a maior da América Latina para atividades esportivas e culturais.
A estrutura do Sesi para o Lazer do Trabalhador e de seus Familiares
12 colônias de férias
17 estádios
144 clubes do trabalhador
177 auditórios/cinemas/teatros
220 ginásios de esportes
217 campos de futebol
358 alojamentos
419 piscinas
724 quadras esportivas
Objetivo Estratégico - Ampliar e dinamizar substancialmente as ações de lazer na empresa ou para a empresa, criando mecanismos inovadores para o aumento da produtividade e a melhoria da qualidade de vida do trabalhador
A área de Esporte e Lazer desenvolve projetos que abrangem desde a prevenção contra fatores de risco até a elevação da qualidade de vida dos trabalhadores e da comunidade.
Estar bem em todos os momentos. É assim que o SESI-DR/MA quer ver as pessoas. Por isso, propõem-se: criar e operacionalizar projetos que propiciam o desenvolvimento, divertimento e descanso do trabalhador e sua família.
Oferecer produtos e serviços na área de Lazer - socioculturais e esportivos.
PropostasO modelo organizacional proposto é o que se denomina de PAIE 33 , letras que representam as inicias de quatro termos distintos: Permanência, Apoio, Impacto, e Especial, considerando-se as seguintes variáveis 34 :
Periodicidade da ação
Porte do projeto/abrangência dos interesses culturais do lazer
Utilização de recursos humanos especializados
Grau de dependência administrativa
As ações de permanência são aquelas que ocorrem no dia-a-dia através de projetos simples de execução, normalmente com predominância clara em um dos interesses do lazer, e realizado segundo as características do contexto sociocultural local.
As ações de apoio, como o próprio nome diz, devem dar sustentação à motivação da programação permanente, fazendo uma ponte entre essa e os eventos de impacto.
As ações de impacto ocorrem a duas vezes ao ano, com grande conotação de festa, abrangendo de maneira temática os mais diversos interesses do lazer, com equipe multi-profissional e gerenciamento centralizado dada a complexidade das providências exigidas para sua execução.
Nos casos dos eventos especiais, os mesmos possuem características semelhantes aos eventos de impacto, ressalvando-se a sua periodicidade esporádica, de acordo com algum grande acontecimento.
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