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Estado de saúde dos saltadores de alto nível do Atletismo
submetido a programa específico de treinamento

   
* UniABC - Universidade do Grande ABC - Santo André - S. Paulo
** Instituto Superior de Cultura Física “Manuel Fajardo” - La Habana
(Brasil y Cuba)
 
 
Kiyoshi Takahashi*-**
Silmara Gandolfe*
Jose Luis Germano**

kiyoshi@uniabc.br
 

 

 

 

 
Resumo
    A proposta desta investigação de natureza descritiva teve como objetivo analisar as variáveis que determinam as condições físicas e da saúde dos saltadores de alto nível submetidos a um programa de treinamento organizado com conteúdos somente específicos da modalidade atlética. Teve como sujeitos 5 atletas do clube São Caetano do Sul, sendo 2 atletas do sexo feminino, saltadoras de altura e 3 do sexo masculino, saltadores de distância e triplo, classificados entre os 10 melhores do ranking anual brasileiro na sua categoria Como instrumentos de medida foram utilizados uma ficha anamnese, um frequencímetro de marca Polar modelo S610 para monitorar a frequência cardíaca, um esfignomanometro Sanny; mensuração da composição corporal e VO2máx através dos dados inseridos no Software Sapaf 4.0. Os valores médios de estatura e peso corporal foram de 1.75m. e 62,50 kg respectivamente no feminino e de 1.87m. e 79,13 kg. respectivamente no masculino; o índice de gordura de 20.05% no feminino e 9.46% no masculino e o peso magro de 49.95kg. no feminino e de 71.60 kg. no masculino. A média de frequência cardíaca (FC) em repouso foi de 65 bpm (feminino) e de 63 bpm (masculino). Nos treinamentos a média da FC máxima atingiu 200 bpm nas atletas e 210 bpm nos atletas; e na competição a média da FC máxima foi de 224 bpm nas atletas e de 205 nos atletas. A média de VO2máx encontrado foi de 40.2 no feminino e de 43.5 no masculino. Estes resultados indicam que os atletas de alto rendimento, submetidos ao treinamento específico da modalidade mantém seu nível de saúde e aptidão física cardiorespiratória.
    Palavras chave: Aptidão física. Treinamento esportivo. Especificidade.

Abstract:
    The purpose of this descriptive investigation was to analyze the variables which determine health and physical conditions of high level jumpers submitted to a training program scheduled only with specific loads of training. The sample was constituted by five athletes of S. Caetano do Sul athletic club: 2 female high jumpers and 3 male, long and triple jumpers. As measures instrument were used an anamnesis sheet, a Polar toolkit heart rate monitor, a Sanny sphygnomanometer, a measurement of body composition and maximal VO2. Data were processed in the SAPAF 4.0 software. The average height and weight of females were 1.75 m and 62,50 kg, respectively; for males the values were 1,87 m and 79.13 kg. The fat percentage in females was 20.05% and in males 9.46%; it was detected a lean weight of 49.95 kg for females and 71.60 kg for males. The average of rest FC was 65 (females) and 63 (males). On training, the average of maximum FC in females was 200 and in males 210. Considering the competition by itself, the average of maximum FC was 224 (females) and 205 (males). VO2max for females was 40.2 ml/kg/min and 43.5 ml/kg/min for males. The results showed that high level athletes submitted to a specific training can support their health and physical fitness.
    Key words: Physical fitness. Sports training. Specificity.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 50 - Julio de 2002

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Introdução

    Atualmente, no atletismo, as competições estão distribuídas de tal forma que se estendem por 9 a 10 meses durante o ano. E, para atender a essa necessidade, estudiosos e treinadores tem procurado novas formas de estruturação do treinamento que busca ao mesmo tempo garantir a adaptação dos atletas às cargas que lhe são impostas como também permitir a estes competir na sua melhor forma desportiva durante toda a temporada atlética.

    Neste sentido, vários autores (Forteza, 1999; Gandolfe e Takahashi, 2001; Granell y Cervera, 2001; Portmann, 1996; Verkhoshanski, 2001) sustentam que a especificidade do treinamento é o princípio básico para os atletas de alto nível melhorar o seu desempenho na potência de execução dos exercícios competitivos e ainda prolongar a sua forma esportiva por todo o macrociclo competitivo.

    Para Foss e Keteyian (2000), o nível de especificidade do treinamento estabelece que os exercícios utilizados durante um esquema de treinamento devem simular o mais aproximadamente possível os padrões de movimento necessários para realizar a tarefa atlética específica.

    Desta forma, as direções do treinamento dos saltadores de alto nível atualmente estão voltadas para conteúdos somente do tipo anaeróbio como aquelas que desenvolvem a coordenação neuromuscular, a rapidez, a velocidade e principalmente a potência explosiva.

    Por outro lado, existe uma forte preocupação com relação à manutenção do estado de saúde dos atletas. Assim, levanta-se a questão: é possível manter o nível de aptidão física, impressas na aptidão cárdio circulatória, no consumo máximo de oxigênio, na composição da massa corporal total e no peso corporal livre de gordura através da especificidade do treinamento?

    Frontera e col. (2001), citam Caspersen et al. (1985), e o US Departament of Health and Human Services (1991), relatam que tanto a saúde quanto a condição física devem resultar de prescrições de exercício; onde a saúde é definida como bem estar físico e emocional (não só ausência de doença) e condicionamento físico é algo que as pessoas possuem ou atingem, como a energia aeróbia, a resistência muscular, a força muscular, composição corporal e flexibilidade.

    Assim, este estudo tem como objetivo analisar as variáveis que determinam as condições físicas e da saúde e, nos padrões de referência da qualidade de vida dos saltadores de alto nível submetidos a um programa de treinamento que envolve somente cargas com conteúdos específicos para o desenvolvimento da sua modalidade atlética.


Metodologia

    Nesta pesquisa de natureza descritiva, foram avaliados 5 atletas do clube São Caetano do Sul, sendo 2 atletas do sexo feminino, saltadoras de altura e 3 do sexo masculino, saltadores de distância e triplo, classificados entre os 10 melhores do ranking anual brasileiro na sua categoria.

    Para a coleta de dados, foram utilizados:

  • uma ficha anamnese, para registro dos dados pessoais e resultados das medidas antropométricas e funcionais;

  • mensuração da composição corporal através das medidas de estatura, peso, circunferência de quadril e abdômen, e protocolo de 7 dobras cutâneas de Guedes (1998);

  • mensuração da frequência cardíaca (FC) em repouso e em esforço de treinamento e competição através de um frequencímetro de marca Polar tipo S610;

  • verificação da pressão arterial antes e imediatamente após o teste de VO2máx na esteira ergométrica através de um esfignomanometro de marca Sanny;

  • mensuração do VO2máx, pelo método indireto em esteira ergométrica de marca Johson modelo Jet 7000, através de protocolo de Balke, descrito por Molinari (2000);

  • os dados de mensuração da composição corporal e consumo máximo de oxigênio foram inseridos no Software Sapaf 4.0 - Sistema de avaliação e prescrição da atividade física para análise.

    Os dados foram coletados no próprio local de treinamento dos atletas, no Clube São José em São Caetano do Sul e o teste de VO2máx realizado em uma academia, sendo os resultados apresentados a seguir em forma de tabelas.


Resultados e Discussão

    Foss e Keteyian (2000), relatam que o VO2máx medido em um zagueiro corredor profissional da liga nacional de futebol americano na sua terceira década de vida, foi de 45.2 ml/kg/min. Esse valor representa um nível extremamente comum de aptidão aeróbia. No entanto, de forma alguma a análise da potência aeróbia conclui que ele não era um grande atleta, uma vez que muitos o consideram como um dos maiores zagueiros corredores de todos os tempos. Isto segundo os autores demonstra que, o VO2­máx. de 45.2. ml/kg/min indica a especificidade do treinamento, pois como atleta, ele passava a maior parte do seu treinamento envolvido com manobras do tipo anaeróbias.

    Assim, ao avaliar as condições de saúde e a aptidão física dos saltadores de alto nível, de acordo com Pollock e Wilmore (1993), no que se refere a composição corporal, as atletas do sexo feminino possuem um percentual de adiposidade significativamente maior que os atletas do sexo masculino. Segundo os autores, as atletas de saltos e corridas sobre barreiras de elite apresentam um percentual de gordura de 20.7%; as corredoras de velocidade 19.3%; os atletas de elite do sexo masculino, de forma geral, apresentam um percentual de gordura 8.8% e os velocistas 5,4%.

    A tabela 01 mostra os valores absolutos e médios de estatura, peso corporal, % de gordura e massa magra dos atletas avaliados neste estudo.

Tabela 01. Valores absolutos e médios de estatura, peso corporal,
% de gordura e massa magra dos atletas.

    Ao comparar estes valores, podemos verificar que a média dos resultados encontrados estão próximos dos atletas de elite, apresentados pelos autores citados acima.

    Por outro lado, a frequência cardíaca (FC) é normalmente utilizada por diversos profissionais envolvidos no esporte para o controle da atividade física. Além disso, vários autores tem demonstrado que existe uma correlação linear entre a frequência cardíaca e o consumo máximo de oxigênio, ou seja, quanto maior for o VO2 ou a intensidade do exercício, mais elevada será a FC (Foss e Keteyian, 2000; Frontera e col., 2001; MacArdle, Katch e Katch, 1998; Pollock e Wilmore, 1993).

    De acordo com Platonov e Bulatova (2001), a FC habitualmente registra no estado de repouso em indivíduos não atletas 70 - 80 batimentos por minuto (bpm) e em esportistas altamente treinados nas modalidades de resistência, são registrados índices mais baixos em relação as pessoas não treinadas, chegando a cair para 40 - 50 e até 30 - 40 bpm.

    Para Frontera e col.(2001), em indivíduos não treinados, a FC em repouso é geralmente de 60 a 100 bpm.

    Pollock e Wilmore (1993), mostram as diferenças entre as FC de repouso entre grupos de homens sedentários e treinados. Os sedentários de 18-28 anos apresentam uma FC de repouso de 65 bpm e os atletas treinados do mesmo grupo etário apresentam uma FC de repouso de 54 bpm. Ainda, os autores relatam que os valores das mulheres são em média 5 - 10 bpm mais elevados que dos homens.

    As médias de FC de repouso encontradas neste estudo, (tabela 02) estão de acordo com os dados relatados por Pollock e Wilmore, (1993) para grupo de homens sedentários e, todos os atletas apresentaram uma notável média de FC de repouso, abaixo dos valores estimados para pessoas não atletas, segundo Platonov e Bulatova (2001).

Tabela 02. Valores absolutos e médios de frequência cardíaca de repouso
e em esforço dos atletas.

    Nas cargas máximas de trabalho, Platonov e Bulatova (2001), relatam que a FC dos não atletas não supera 175 - 190 bpm. Já os fundistas, marchadores e esquiadores podem alcançar uma FC de 210 - 230 bpm. Ainda, os autores relatam que nas cargas especialmente intensas e de curta duração existem registros de casos em que a frequência cardíaca atinge 250 batimentos por minuto.

    Sharkey (1998), ressalta que a FC máxima varia entre os indivíduos e diminui com a idade. Para Frontera e col.(2001), as FC máximas típicas são de 190 a 200 em adultos jovens e de 140 a 160 em adultos mais velhos.

    A tabela 02 mostra que a FC em esforços de treinamento e de competição, atingiram valores médios acima de 200 bpm, mas a média registrada durante o tempo total do treinamento que dura em média 2:30 horas, foi de 133 no feminino e 129 no masculino e na competição foi de 127 no feminino e 138 no masculino. Isto pode ser facilmente explicado pelo princípio da especificidade, onde as direções do treinamento na preparação dos saltadores de alto nível para as competições estão voltadas a fontes de energia anaeróbia alática e utilização de fibras de contração rápida.

    Em relação ao consumo máximo de oxigênio, Gorayeb e Barros Neto (1999), consideram como principal indicador da aptidão física cardiorrespiratória, e pode ser quantificados com precisão através dos testes de potência aeróbia. Estes autores, após estudos realizados, elaboraram uma tabela de classificação da aptidão cardiorrespiratória, de onde tomaremos como referência, o VO2máx de indivíduos sedentários e de corredores de 20 a 29 anos de idade, do sexo masculino e feminino, demonstrados na tabela abaixo:

Tabela 03. Classificação do VO2 máx de indivíduos sedentários e corredores de 20 a
29 anos de idade, masculino e feminino, adaptado de Barros Neto e col. (1999).

    De acordo com Pollock e Wilmore (1993), o VO2máx registrado por indivíduos sedentários de 18-28 anos é de 45 ml/kg/min, dos velocistas de 18-24 anos de idade, é de 58 ml/kg/min, enquanto os corredores de fundo da mesma idade apresentam um VO2máx de 75 ml/kg/min. Sharkey (1998) relata que as mulheres jovens apresentam uma média de 15 a 25% menos na capacidade aeróbia comparados aos homens jovens.

Tabela 04.Resultados obtidos pelos atletas no teste indireto de VO2máx.

    Os valores de VO2máx dos atletas encontrados neste estudo e mostrados na tabela 04, são semelhantes aos citados por Pollock e Wilmore, (1993) para grupo de indivíduos sedentários e quando comparados com sedentários de 20 a 29 anos de idade na tabela de Gorayeb e Barros Neto (1999), apresentam uma classificação regular para os atletas do sexo masculino e bom para as atletas do sexo feminino.

    Platonov e Bulatova (2001), quantificam a intensidade do trabalho através dos índices de consumo de oxigênio, que pode ser facilitada com o registro dos dados da frequência cardíaca, no quadro abaixo:

    As cargas nos limites de 90% ou mais altos do VO2max estão ligadas a trabalhos de fontes anaeróbias de energia utilizando as fibras de contração rápida e, se a intensidade da carga não supera o limiar anaeróbio, por exemplo com 60-70% do VO2max, neste tipo de trabalho utiliza-se fundamentalmente as fibras de contração lenta, decisivo para desenvolver a resistência a fadiga em um trabalho prolongado. Da mesma forma, os autores salientam que, nas modalidades de potência explosiva, os atletas de alto nível possuem uma velocidade de degradação dos fosfatos de alta energia muito mais elevada para executar um trabalhos de máxima intensidade, ou seja, quando a intensidade do trabalho não supera 60% dos valores limite de consumo de oxigênio, a concentração de ATP e CP nos músculos se reduz de maneira insignificante, e registra uma considerável diminuição de ATP e CP quando a intensidade do trabalho supera em 75 - 80% do nível máximo de VO2.


Conclusão

    Diante dos resultados encontrados podemos concluir que, através da especificidade do treinamento é possível manter o estado de saúde e a aptidão física dos saltadores de alto nível, uma vez que: a composição corporal dos atletas avaliados é comparável ao dos atletas de elite de classe internacional; os atletas apresentam uma bradicardia de repouso, que propicia uma melhor eficiência funcional miocárdio; o VO2máx encontrado é compatível aos indivíduos sedentários com uma boa condição física cardiorespiratória.


Referências bibliográficas

  • Forteza, A R. Direcciones del entrenamiento deportivo - metodologia de la preparación del deportista, Ed. Científico Técnica, La Habana, 1999.

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  • Gandolfe, S. e Takahashi, K. Novo sistema de preparação de saltadores de alto nível. In: Anais do 1º Congresso científico ciência e qualidadede de vida, Santo André, 2001, p.82.

  • Ghorayeb, N. e Barros Neto, T. O exercício: preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos, S.Paulo, Ed. Atheneu, 1999.

  • Granell, J. C. y Cervera, V. R. Teoria y planificación del entrenamiento deportivo, Barcelona, Pai do Tribo, 2001.

  • Guedes, D. P. e Guedes, J. E. R. P. Controle do peso corporal, Londrina, Mediograf, 1998.

  • MacArdle, W. D.; Katch, F. I. Katch, V. L. Fisiologia do exercício. 4ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara, 1998.

  • Molinari, B. Avaliação médica e física para atletas e praticantes de atividade física. S. Paulo, Roca, 2000.

  • Pollock, M. L. e Wilmore, J. H. Exercícios na saúde e na doença - avaliação e prescrição para prevenção e realibitação, 2ª ed., Rio de Janeiro, Medsi, 1993.

  • Platonov, V. y Bulatova, M.M. La preparación física, 4ª edición, Barcelona, ed. Pai do Tribo, 2001.

  • Portmann, M. Planificação e periodização dos programas de treino e de competição, Treino Desportivo, nº07:15-20, Lisboa, 1989.

  • Sharkey, B. J. Condicionamento físico e saúde, 4ª ed. Porto Alegra, Artmed, 1998.

  • Verhoshanski, Y. V. Treinamento desportivo - teoria e metodologia, Porto Alegra, Artmed, 2001.

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