Efeitos da imobilização prolongada e atividade física | |||
*Universidade de Brasília- UnB Mestre em Educação pela Universidade Católica de Brasília Doutoranda em Ciências da Saúde pela UnB. **Universidade de Brasília - UnB Doutor em Ciências Pedagógicas pelo Instituto Central Estadual de Cultura Física de Moscou - Rússia. Diretor Instituto Latinoamericano de Atividade Física Terapéutica-ILAFiT |
Prof. Ms. Ana Cláudia Raposo* Prof. Dr. Ramón F. Alonso López** ana.melo@terra.com.br aft200153@uol.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 50 - Julio de 2002 |
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Introdução
Os benefícios alcançados com a prática regular do exercício físico são mundialmente conhecidos, principalmente em relação ao ganho de força e resistência muscular, melhoria da flexibilidade articular, alterações na composição corporal, redução do risco de traumatismo músculo-esqueléticos e melhoria do condicionamento cardiovascular (Power e Hower, 1997; Oliveira e col., 1999; Hanson, 2002).
SESC (2001) relaciona a melhora do condicionamento cardiovascular a algumas das adaptações promovidas como a maior eficiência do sistema cardiorespiratório; diminuição da freqüência cardíaca (FC) de repouso; diminuição da pressão arterial de repouso, dentre outros.
Apesar destes benefícios, por muito tempo os médicos prescreveram imobilidade e repouso no leito para uma variedade de restrições médicas. Os efeitos adversos da imobilidade podem ser uma co-morbidade comum em pacientes com doença crônica.
A falta de atividade física seja por sedentarismo ou por impossibilidade física pode levar o indivíduo ao descondicionamento físico global tornando-o suscetível a uma serie de fatores de risco para a saúde como o aumento de pressão arterial, aumento do peso corporal e diminuição da flexibilidade.
As causas da imobilização podem ser variadas como uma fratura óssea, uma lesão medular ou outra doença, porém os efeitos do período de imobilização seja esta no leito, em uma cadeira de rodas ou com aparelhos gessados, são prejudiciais a qualquer pessoa.
As complicações da imobilização podem surgir no sistema osteomuscular, no tecido conjuntivo, tecido ósseo, tecido articular, Sistema Respiratório, Sistema Metabólico e sistemas gastrointestinais (Artiles e col., 1997; Rowland, 1999).
Os efeitos da imobilização nos dizeres de Oliveira et al (1999) são definidos como uma redução na capacidade funcional de todos os sistemas, demonstrando que os efeitos do repouso prolongado são espalhados por todo o corpo. A prevenção de tais complicações deve ser o principio básico de qualquer plano de tratamento, que para bons resultados, deve ter início precoce.
Uma outra definição, citada por Luiz (1993) relata que a síndrome do desudo é o estado em que um indivíduo se encontra com risco de deteriorar os sistemas corporais como resultado da inatividade musculo-esquelética prescrita ou inevitável.
Imobilidade pode alterar também o estado emocional de um indivíduo, pois os pacientes imóveis podem apresentar ansiedade, apatia, depressão, labilidade emocional, isolamento social dentre outros (Krasnoff, 1999).
A utilização de exercícios físicos em pacientes imobilizados tem o objetivo de minimizar os efeitos negativos do imobilismo, tempo de internação e melhorando sua qualidade de vida, mesmo posterior a sua enfermidade (Booth, 1982; Delisa, 1993). Sistemas acometidos pela Imobilização prolongada
O Sistema ostemuscular, de acordo com Oliveria e col. (1999) e Krasnnoff (1999), geralmente é o mais acometido pelo imobilismo. A prevenção do imobilismo neste sistema, por não causar limitações funcionais no início da imobilização, por vezes são negligenciados. Oliveira e col. (1999) destaca que as limitações funcionais no sistema osteomuscular podem prejudicar as transferências, posturas e movimentos no leito e em cadeira de rodas; dificultar atividade de vida diária e de vida profissional; complicar cuidados gerais de enfermagem como posicionamento e higiene; alterar e dificultar o padrão de marcha ou até a impossibilitar e aumentar o risco de formação de úlceras de decúbito (escaras), prolongando assim o tempo de hospitalização.
A pressão constante, particularmente em proeminências ósseas como o sacro, trocantérios, tuberosidade isquiática e calcanhares, comprimem e obstruem o fluxo sangüíneo causando isquemia ou anemia local do tecido ( Krasnoff,1999).
Uma vez instalada as úlceras de pressão, estas podem ser infectadas, sendo estas difíceis de sarar, podendo levar a complicações sérias como uma infecção óssea (osteomielite) ou a uma infecção generalizada que pode ocasionar o óbito do paciente.
As contraturas podem ser outro efeito da imobilização, podendo envolver os músculos e outros tecidos moles que rodeiam a articulação provocando atrofia e incompetência funcional pelo desuso. Este efeito não é apenas a redução do tamanho do músculo, mas também uma redução no movimento funcional, alongamento, resistência e coordenação (Krasnoff, 1999; Booth, 1982).
As contraturas ocorrem quando os músculos não têm a atividade necessária para manter a integridade de suas funções, quando as forças musculares não estão equilibradas, em músculos onde o antagonista é mais forte, na presença de espasticidade, ou sob a associação destes fatores.
Autores como Booth (1982), Oliveira et al (1999) e Krasnoff (1999) ressaltam que o imobilismo no tecido muscular pode ser responsável por alterações musculares como a redução no nível de glicogênio e ATP e redução da resistência muscular. Esta pode comprometer a irrigação sangüínea com conseqüente diminuição na capacidade oxidativa e também a atrofia das fibras muscular tipo I e II.
A redução das contrações musculares nos membros inferiores facilita a estase venosa em partes do corpo que reduzem a velocidade da circulação venosa. Este fator somado à pressão constante do peso do corpo no leito, compressão de capilares e aumento da pressão interna dos capilares, hipercoagulabilidades do sangue, aumento da resistência das veias. A Trombose venosa profunda (TVP) pode evoluir para uma embolia pulmonar e até o óbito (Krasnoff,1999).
Oliveira e col., 1999 ressaltam ainda que em longos períodos de imobilidade há uma redução progressiva do volume sangüíneo plasmático, tendo a máxima redução em torno do 6° dia de imobilização, com um aumento da viscosidade sangüínea e maior risco de fenômenos troboembólicos. Como Medidas de prevenção das complicações tromboembólicas, Oliveira e col. (1999) citam o uso profilático de heparina, compressão externa intermitente dos membros inferiores, envoltórios elásticos, exercícios ativos e mobilização precoce.
Além destas alterações, o imobilismo ainda é responsável pela redução da força muscular de 10 a 15% por semana, reduzindo assim o torque e incoordenação pela fraqueza generalizada, resultando em má qualidade de movimento ( MacNeil, 2002; Oliveira e col. 1999).
Booth (1982) cita como efeito da imobilização a redução da síntese protéica, que pode ser observada já na sexta hora de imobilização. Este autor ressalta ainda que esta provavelmente é a primeira causa de atrofia muscular.
No tecido articular Oliveira e col. (1999) apontam como conseqüência do imobilismo o espessamento da sinovia e fibrose articular, pois com a inatividade o líquido sinovial que nutre e lubrifica a articulação não circula, gerando uma nutrição deficiente, ocasionando uma atrofia da cartilagem com proliferação do tecido fibrogorduroso.
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