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1. Introdução

    O conceito de saúde vem sofrendo uma reformulação nos últimos anos a nível mundial. A Organização Mundial da Saúde define a mesma como sendo um completo, estado de bem estar físico e mental, e não apenas à ausência de doenças ou enfermidades.

    Segundo Guedes (1997), muitas doenças são conseqüências de maus hábitos de alimentarão e falta de atividade física. Não se deve admitir que jovens (crianças e adolescentes) apresentem índice de crescimento aquém do esperado. ou quantidade de gordura corporal acima dos limites admissíveis .

    Nos dias atuais, ainda é comum avaliar a saúde através do índice peso / estatura, pelo qual as pessoas são classificadas de obesas ou desnutridas, sem considerar o real estado da composição corporal. A classificação pelo excesso de peso é vaga e errônea, uma vez que o peso é o resultado do somatório de gordura, músculos, ossos e outros tecidos.

    Segundo a Organização Mundial da Saúde, uma quantidade elevada do tecido adiposo no organismo pode ter um impacto sobre a saúde tão grave quanto o tabagismo. Existem algumas patologias que se associam ao excesso de peso, tais como: hipertensões, diabetes, arteriosclerose, complicações articulares, distúrbios psicológicos, entre outras doenças. Existe uma forte tendência de jovens com alto grau de adiposidade a se transformarem em adultos obesos.

    Estudos que fazem o acompanhamento das variáveis crescimento e composição corporal se caracterizam como importantes indicadores do estado de saúde de uma população, já que contribui na avaliação de possíveis deficiências nutricionais.

    O objetivo deste trabalho foi avaliar o crescimento e a composição corporal em integrantes da população jovens, residentes na cidade de Caratinga, relacionado com a idade cronológica e sexo, visando o desenvolvimento de um programa regular de avaliação do crescimento e composição corporal, possibilitando futuras comparações de resultados.

2. Materiais e métodos

2.1. Características da População

    A cidade de Caratinga localiza-se na porção leste do Estado de Minas Gerais, na região do Vale do Rio do Doce, distante 330 Km da capital do estado, Belo Horizonte. Sua área territorial é de aproximadamente de 1084 Km2, possui um clima tropical, com temperatura variando entre 27,5° e 16,6°C.

    Sua população está estimada em 60.000 habitantes sendo que seus jovens estão, em grande maioria, ligados à rede de ensino público. Neste estudo, a análise antropométrica foi feita em alunos de 11 a 14 anos, matriculados nas escolas da rede estadual.

2.2. Seleção da Amostra

    Uma amostragem estratificada aleatória foi elaborada com o objetivo de representar a população escolar da rede pública de ensino de Caratinga separando sexo e faixa etária.

    A amostragem foi feita, pegando-se o total de alunos regularmente matriculados no início do ano letivo de 1999, nos 08 estabelecimentos de ensino público, de 5ª a 8ª série do ensino fundamental. As informações sobre os alunos foram obtidas junto à 6a Secretaria Regional de Ensino de Caratinga, tendo como fonte o censo escolar de 1999, onde foi apresentado um total de 2.820 escolares de ambos os sexos. Após esta etapa, selecionou-se um estabelecimento de ensino por bairro, com o objetivo de se alcançar maior representatividade dos escolares de Caratinga. Para a escolha dos jovens dos estabelecimentos de ensino, procedeu-se um sorteio das turmas, para a composição da amostra. Foram avaliados 412 jovens nascidos entre 1985 a 1988.

    Este total corresponde a 20% do total de escolares das unidades de ensino selecionadas, distribuídos conforme a tabela 1.

TABELA 1- Número de escolares da rede pública de ensino da cidade de Caratinga, MG, por idade e sexo que compuseram a amostra do estudo.

    Os dados para o desenvolvimento do estudo foram coletados através de uma abordagem transversal, no período compreendido de agosto a outubro de 1999. A equipe de trabalho contou com por 4 componentes: um coordenador e três estagiários da Escola de Educação Física da FUNEC.

    Para proceder à coleta dos dados, foi estabelecido um contato com a direção das escolas selecionadas para apresentação do projeto de pesquisa. Para a coleta definitiva dos dados do projeto, foi solicitadas às escolas envolvidas uma listagem dos alunos, com informações em relação ao sexo e idade dos mesmos. Na seqüência, foram programados os dias para a realização das medidas.

    Para formação dos grupos etários, considerou-se apenas o ano de nascimento, tendo como base o ano da coleta de dados (1999). Assim os avaliados de 11 anos, corresponderam ao ano de 1988; os de 12 anos, ao ano de 1987; os de 13 anos, ao ano de 1986 e os de 14 anos, ao ano e 1985.

2.3. Coleta dos Dados

    Como variáveis de estudo foram relacionadas as informações sobre o crescimento e a composição corporal, além da idade e sexo. Com relação ao crescimento determinaram-se a estatura e o peso corporal. Para a avaliação da estatura, utilizou-se um estadiômetro de madeira com precisão de 0,1 cm, com um curso especialmente construído para esta finalidade. Para a determinação da estatura foi seguida a padronização de Marcondes et alli (1982), onde o indivíduo posicionava-se com os calcanhares, glúteos, dorso e cabeça encostados no plano vertical da escala.

    Para a determinação do peso corporal foi utilizada uma balança mecânica, marca Filizola, com precisão de 100g, seguindo padronização descrita por De Rose (1984).

    Pesaram-se os avaliados com um mínimo de roupa possível. Os meninos estavam utilizando somente uma peça de roupa e as meninas duas peças, as roupas não foram descontadas no resultado final. A balança foi calibrada e nivelada a cada dez pesagens.

    Para obtenção de mais informações sobre o crescimento das crianças, calculou-se o índice de massa corporal (IMC), através das medidas de estatura e peso corporal, mediante a relação matemática:

    Para análise da composição corporal, a medição das dobras cutâneas foi feita nas regiões tricipital e subescapular, seguindo técnica descrita por Harrison et al. (1988), utilizando um compasso tipo Harpenden.

    Para a interpretação das medidas, os procedimentos adotados por Guedes (1997) foram seguidos. A estimativa de gordura subcutânea foi determinada com base na espessura de cada dobra separadamente. A relação dobra cutânea subescapular / dobra cutânea tricipital foi determinada com o objetivo de representar a topografia da gordura localizada no tronco e nas extremidades do corpo. O somatório dos valores encontrados em ambas as regiões foi utilizado como indicador da gordura subcutânea total. A quantidade de gordura em relação ao peso corporal foi estimada a partir dos valores de espessuras das dobras cutâneas, determinadas em ambas as regiões (tricipital e subescapular), mediante o uso das equações idealizadas por Slaughter et al (1988). O componente da massa magra foi calculado por intermédio de subtração aritmética entre o peso corporal e a quantidade estimada de gordura.

    As medidas aritméticas e os desvios padrão foram obtidos e analisados.

3. Resultados

3.1. Dados do Crescimento

    A estatura apresentou um aumento progressivo e uniforme em ambos os sexos até a idade dos 12 anos. As meninas apresentaram maior índice de estatura. A partir dos 13 anos, há uma igualdade na estatura de ambos os sexos, sendo que aos 14 anos constatou-se a superação do sexo masculino em relação ao feminino. (Tabela 2 e Figura 1).

    Alguns pesquisadores, como Marcondes (1982), Bohme (1994) e Guerra (1999), consideram o surto pubertário como explicação da variação da curva, ocorrendo mais cedo no sexo feminino, confirmando o mesmo resultado obtido neste estudo.

TABELA 2 - Médias e desvios padrão da variável estatura dos escolares de ambos os sexos, de 11 a 14 anos, da cidade de Caratinga-MG.

    Em relação ao peso corporal, há em ambos os sexos um crescimento progressivo. Entre 11 e 13 anos o crescimento é mais acentuado no sexo feminino. Aos 14 anos inicia uma pequena desaceleração no aumento do peso corporal das meninas e um incremento no peso dos meninos, superando as meninas aos 14 anos (Tabela 3).

    Estes resultados confirmam dados apresentados por Guerra (1999), em estudo com amostra de população jovem de Timóteo, MG.

TABELA 3 - Médias e desvios padrão da variável peso corporal em escolares de ambos os sexos, de 11 a 14 anos, da cidade de Caratinga,MG.

    Para complementar as informações relativas ao crescimento dos jovens escolares de 11 a 14 anos, calcularam-se o Índice de Massa Corporal (ICM), sugerido por Guedes (1994).

    De acordo com a tabela 3, ao contrário das variáveis peso e estatura, as meninas apresentaram em toda a faixa etária amostrada valores de ICM superiores aos meninos. Aos 12 anos, houve um aumento no ritmo de crescimento das meninas. Nos meninos houve uma queda na curva, resultados estes confirmados por Guerra (1999).

TABELA 4 - Valores de índice de massa corporal, de escolares de ambos os sexos, de 11 a 14 anos, de Caratinga-MG

4. Dados da Composição Corporal

    Para a gordura relativa houve uma acentuada diferença entre os grupos amostrados (Tabela 5 e 6). As meninas com idade de 11 e 12 anos apresentaram sempre percentuais mais elevados em relação aos meninos, ratificando os resultados obtidos por Guedes (1985) e Guerra (1999).

    Aos 13 anos, inicia-se uma alteração mais acentuada na gordura relativa em comparação à Massa Corporal Magra (MCM). Nesta fase, os meninos apresentam uma diminuição no percentual de gordura e um aumento na massa magra. Ao contrário, as meninas apresentam um aumento gradual de gordura relativa e uma diminuição do crescimento da massa magra.

TABELA 5 - Valores médios da gordura relativa (%) e massa corporal magra (MCM), em escolares de ambos os sexos, de 11 a 14 anos, de Caratinga, MG.

TABELA 6 - Valores médios das dobras cutâneas, somatório, média e desvio padrão da variável gordura relativa, em escolares de ambos os sexos, de 11 a 14 anos, de Caratinga, MG.

5. Conclusão

    Tanto indivíduos do sexo feminino quanto masculino apresentam desenvolvimento semelhante em relação ao crescimento, peso corporal e estatura. As meninas apresentam estatura e peso corporais maiores que os meninos na faixa etária compreendida entre 11 e 13 anos, tornando-se menores aos 14 anos.

    As meninas obtiveram sempre maiores taxas de gordura relativa em relação aos meninos, principalmente após os 13 anos de idade. Nos meninos, com idade de 13 anos, ocorreu uma queda progressiva das taxas de gordura relativa.

    Em relação à Massa Corporal Magra (MCM), houve uma evolução progressiva em ambos os jovens até os 12 anos de idade. Nesta idade a Massa Corporal Magra é superior nas meninas. A partir dos 13 anos houve um aumento significativo na curva de crescimento (MCM) nos meninos, e uma redução nas meninas.

Bibliografia

• BÖHME. M. T. S. Aptidão física e crescimento físico de escolares de 7 a 14 anos de Viçosa, MG. Revista Mineira de Educação Física, v. 2/4,n.1/2, jan./ dez.. 1994/1996.

• DE ROSE, E. H. PIGATTO, E., DE ROSE. R. C. F. Cineantropometria, educação física e treinamento desportivo. Rio de Janeiro: FAE, Brasília: SEED,1984.

• GUEDES. D. P. Estudo do crescimento e desenvolvimento em escolares de 11 a 16 anos de idade de diferentes níveis sócio-econômico. Semina, v.8, n. 2, 1981.

• _____________, Composição corporal: princípios, técnicas e aplicações. Londrina, Associação dos professores de Educação Física, 1994.

• ______________, Crescimento, composição corporal e desempenho motor de crianças e adolescentes. São Paulo; CLR Baleiro, 1997.

• GUERRA, T.C., Avaliação antropométrica em escolares de 11 a 14 anos do município de Timóteo-MG. Coronel Fabriciano; Revista Doxa, v. 1, n. 1, p. 39-44, 1999.

• MARCONDES, E, et al. Crescimento e desenvolvimento pubertário em crianças e adolescentes brasileiros. I- Metodologia. São Paulo: Editora Brasileira de Ciências, 1982.

• PARIZKOVA, J. Gordura corporal e aptidão física. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1982.

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revista digital · Año 8 · N° 50 | Buenos Aires, Julio 2002   © 1997-2002 Derechos reservados