O passe em rugby: componentes críticas e aspectos metodológicos |
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Opção II - Rugby / Licenciatura em Ed. Física e Desporto Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro |
Helder Miguel Fernandes migas_utad@hotmail.com (Portugal) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 49 - Junio de 2002 |
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1. Introdução
Os objectivos e propósitos deste artigo, são delimitar e definir os tipos de passes existentes no jogo de Rugby, analisando as suas componentes críticas e erros mais frequentes, bem como apresentando os jogadores de cada posição específica que mais utilizam o tipo de passe em questão.
Segundo Constantin (1999), o Rugby é um jogo desportivo colectivo que ainda não conquistou um lugar na cultura desportiva do povo português, embora seja considerado de grande importância no meio escolar de alguns países europeus, ocupando por isso uma expressão significativa.
As diversas situações de jogo exigem um enorme trabalho colectivo, que além do desempenho das tarefas individuais específicas de cada um dos 15 jogadores, tornam esta modalidade rica em experiências passíveis de utilização pedagógica e como meio de sublimação da agressividade dos jovens.
Assim, no final deste estudo de revisão deveremos ser capazes de definir os diferentes tipos de passes, identificando os erros mais comuns e conhecendo exercícios que permitam a aprendizagem e correcção deste elemento técnico-táctico.
2. O passe em rugbyPara Biscombe e Drewett (1998) o objectivo do passe nesta modalidade é de num dado momento, criar superioridade numérica no ataque, tornando desta forma o ataque mais eficaz e eficiente. Assim, a velocidade do passe deve variar consoante o tipo de ataque a realizar: ataque aberto dos ¾ ou ataque penetrante/agrupado dos avançados.
Correctas execuções técnicas de passe e recepção de bola, conciliadas com outros elementos técnico-tácticos, irão permitir aos jogadores atingir o objectivo do jogo - alcançar a área de validação da equipa adversária, de modo a marcar ensaio.
Desta forma, o passe é a transmissão da bola com as mãos entre dois jogadores, pelo que a sua técnica impõe atenção para o portador e o receptor da bola. No Rugby, este gesto técnico possui uma característica própria: executa-se sempre para trás da linha do portador (linha paralela à linha de meta) e caso contrário, é considerado “passe em avant” o que se o adversário não tirar vantagem, é sancionado com formação ordenada, com introdução para a equipa não faltosa (Constantin, 1999).
O jogo de Rugby é um jogo de deslocamento e de movimentação de bola, pelo que se torna necessário dominar a técnica de passe, enquanto a equipa está a movimentar-se. Equipas que possuam jogadores que realizem correctamente esta acção técnico-táctica, causarão imensos problemas defensivos à equipa adversária. Todavia, um passe no timing certo impede a defesa de dominar o ataque, dado que sempre que a equipa em posse de bola muda o ponto de ataque, torna-se impossível fixar os atacantes. Equipas que recorrem a este estilo de jogo devem possuir grande capacidade física, técnico-táctica e psicológica, dado que no nível de jogo actual, cada vez mais existe uma menor diferença espacial (maior proximidade) entre atacantes e defesas.
Dado que a bola é continuadamente transmitida por jogadores que passam antes de serem placados, é de extrema importância que existam muitos atletas em apoio/suporte ao portador de bola. A principal estratégia é que desta forma, num dado momento, o ataque seja tão intenso que num espaço, os atacantes estejam em superioridade numérica em relação aos defesas. Assim, através de correctos passes e recepções o ataque consegue ultrapassar o sistema defensivo e atingir o objectivo do jogo - o ensaio.
Quando um jogador é portador da bola junto aos adversários, é mais seguro transportar a bola com as duas mãos junto ao peito. A partir desta posição, é possível realizar uma inumeridade de movimentos de passe. Esta posição também permite proteger a bola, quando um adversário tenta placar o portador da bola. No entanto e noutras situações, quando um jogador esta em corrida e liberto de oposição, este pode transportar a bola só com uma mão, estando o objecto de jogo junto à cintura do jogador. Esta posição permite ao jogador um balanço correcto, de modo a mais facilmente atingir a sua velocidade máxima com bola.
De acordo com Biscombe & Drewett (1998), apenas existem 3 tipos de passes no jogo de Rugby: (i) o passe lateral, que é direccionado para o lado ou para trás; (ii) o passe com cruzamento e (iii) o passe específico de avançados, que permite aos jogadores ultrapassaram os adversários através de uma brecha na linha defensiva ou através da circundação de um dos extremos dessa mesma linha defensiva. No entanto, existem outros tipos de passes, que derivaram do passe lateral e que também serão referenciados no decorrer deste trabalho.
Martin (1993) descreve a técnica do passe de uma forma resumida, nas seguintes fases:
2.1. A eficácia de passe
Um bom passe possui um elevado número de requisitos, pelo que certamente a precisão/exactidão é o mais importante. Consoante as exigências de jogo, um passe pode ser realizado com muita velocidade, ou por vezes, mais lento e também mais preciso. Torna-se mais importante realizar um passe com menos velocidade, mas que no entanto atinja o alvo pretendido. Um passe suave provoca que o receptor se direccione para a bola, mantendo o ataque em direcção à linha de meta e provocando com que a equipa adversária se acumule no ponto de ataque ofensivo, o que faz com que haja maior espaço não-defendido nos extremos da linha defensiva adversária.
No entanto, um passe com muita velocidade muitas vezes provoca um deslocamento lateral do receptor, afastando-o da linha de corrida mais eficaz, o que usualmente é paralelo à linha lateral. Este desvio lateral, facilita o processo de placagem defensiva e torna mais difícil a penetração ou circundação da linha defensiva, dado que diminui o espaço para além do extremo defensivo. À medida que os passes são correctamente executados, permitem aos receptores e apoiantes do portador da bola, fazer um melhor uso das opções atacantes disponíveis.
A altura a que o passe chega ao portador da bola, também é crucial. Se chega num ponto abaixo do peito, o receptor terá que olhar para baixo, para a agarrar. Isto significa que não olhará para o sistema defensivo, podendo perder uma oportunidade de ataque. Um passe alto, também possui o mesmo efeito (só que no sentido contrário) e também irá expor o receptor a uma placagem inevitável. O passe ideal chega ao receptor ao nível do peito, com a velocidade suficiente para cada situação e deve permitir ao receptor de bola proporcionar vantagem à equipa atacante.
É preciso ter em conta, que não existem formas correctas ou incorrectas de executar um passe (Biscombe & Drewett, 1998). Um atleta pode já ter desenvolvido um estilo que lhe permite realizar um passe adequado, que pode variar em altura, comprimento e velocidade. Caso isso não aconteça, deve-se proporcionar diferentes técnicas aos atletas durante o treino. Assim, o objectivo principal do treinador é desenvolver no atleta um estilo que vá de encontro à técnica standard e que lhe permita realizar passes com diferentes alturas, comprimentos, velocidades e direcções.
Durante o jogo, existem imensas oportunidades para os atacantes criarem espaços de jogo nos quais os apoiantes, poderão penetrar a linha defensiva adversária. A tarefa desses atletas nessa situação é identificarem previamente ao passe, possíveis espaços de penetração ou criarem superioridade numérica dos atacantes (2 x 1; 3 x 2;...).
Um factor-chave neste processo, é a atracção dos defesas em direcção ao portador da bola, de modo que este, antes que seja placado, transmita a bola a um jogador em seu apoio, que assim possui espaço para penetrar a linha defensiva (ver figuras).
Relativamente aos diversos tipos de passes existentes no jogo de Rugby, iremos apresentá-los, referindo as posições específicas que mais vezes recorrem a este gesto técnico.
2.2. Passe lateral
Este tipo de passe consiste na técnica mais utilizada pelos diferentes tipos de jogadores das diversas posições específicas. É um passe com poucas exigências técnicas e que deve ser o primeiro a ser introduzido na aprendizagem dos gestos técnicos de Rugby.
O portador da bola deve:
pegar na bola com as duas mãos colocadas sob ela;
olhar para o destinatário e orientar a sua linha de ombros para ele;
acompanhar a bola o mais longe possível (no fim os braços devem estar esticados e a bola deve ser dirigida com um impulso final dos dedos);
no momento do passe o atleta recua um pouco para o exterior, o que é um movimento importante para fixar o próprio defensor e após soltar a bola, trava a sua corrida.
O jogador receptor da bola deve:
enquadrar correctamente o companheiro portador da bola lateralmente e em profundidade (distância variável após o tipo de passe - ¾-s ou avançados), com máxima concentração para obter o momento ideal de passe;
olhar a bola e eventualmente pedi-la, orientando a linha de ombros para tal;
sair com os braços esticados e com as palmas das mãos abertas ao encontro da bola para poder fazer um bom amortecimento;
no momento do passe (antes de receber a bola) acelerar a corrida.
Elementos-chave:
os gestos correctos dos braços e das mãos;
inclinar o corpo para o exterior no momento do passe;
o jogador que vai receber a bola deve mostrar as mãos com os braços estendidos;
antes da recepção da bola deve aumentar imediatamente a velocidade de corrida.
Erros mais comuns:
travar a corrida no momento anterior à recepção da bola;
não olhar para o receptor da bola e este não pedir a bola ao portador da bola;
não avançar a perna contrária à direcção do passe, estando esta estendida;
não existe rotação do tronco, quando realiza o passe;
o passe não é direccionado para a zona da cintura do receptor;
a bola é passada com muitas oscilações.
2.2.1. Decomposição da acção técnico-táctica:
Outro aspecto a salientar, são as componentes críticas da recepção, que se definem nos seguintes parâmetros:
Em todos os tipos de passe, há que ter em conta um construto muito importante que é o momento de passe, que consiste no timing ideal para optar entre o passe ou manter a posse de bola. Para tal, o jogador tem que passar a bola no momento oportuno, fixando o adversário.
2.3. Passe com cruzamento
Este tipo de passe é frequentemente utilizado pelos avançados e tem como objectivo a fixação dos defesas e a desmarcação do futuro portador de bola (Constantin, 1999). No entanto e no jogo aberto, as linhas atrasadas também recorrem a esta acção técnico-táctica, com o intuito de criar superioridade numérica, ou até marcar ensaio.
Este passe permite uma mudança de direcção do ataque, bem como, provoca um momento de ocultação da bola, o que por sua vez provoca incertezas e indefinições nos defesas. Para executar este tipo de passe, o atleta tem que inicialmente correr em direcção ao adversário, de modo a atraí-lo na sua trajectória. No momento que este se aproximar da linha de corrida do portador da bola e estiver a uma proximidade de realizar placagem, o atacante altera a sua trajectória de corrida, cruzando com o colega que está em seu apoio. Assim que o portador de bola e o seu colega estiverem muito próximos, o primeiro deve rodar o seu tronco, tendo a bola à frente da sua cintura, de modo que esta fique direccionada para o colega apoiante. De seguida, tem que olhar para a zona alvo do receptor e transmitir a bola, com um pequeno impulso provocado pelos dedos, para a zona em frente da zona alvo (Biscombe & Drewett, 1998).
O passe suave permitirá ao receptor, acelerar para a bola e ao mesmo tempo manter os defesas no campo de visão do atacante/portador da bola. Após o passe, o ex-portador tem que rapidamente juntar-se ao ataque, como jogador de apoio, mesmo que inicialmente corra na direcção contrária do portador da bola.
Constantin (1999), ainda salienta os seguintes construtos na realização do passe com cruzamento:
colocação correcta (enquadramento) dos jogadores e corrida direita;
movimento sincronizado de cruzar (iniciado pelo portador da bola);
concentração e cuidado no passe para o movimento de sentido oposto do companheiro.
2.3.1. Decomposição da acção técnico-táctica:
2.4. Passe de avançados
Este tipo de passes é utilizado no ataque penetrante-agrupado e é feito com todos os avançados num corredor limitado, com largura máxima de 10 mt.. A distância óptima entre os jogadores implicados no passe é: (i) lateralmente: 1 a 2 mt.; e (ii) em profundidade: menos de 1 mt.. Esta pequena distância entre os jogadores impõe uma força moderada no impulso de passar a bola, mas é bastante importante a concentração máxima dos receptores, que na sua proximidade irão fazer pressão sobre o portador da bola, pelo que no momento da recepção, tem como função/tarefa acentuar a “corrida agressiva”, baixando o tronco para a frente (Constantin, 1999).
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