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Refletindo sobre a consciência corporal e a imagem corporal para superar |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 49 - Junio de 2002 |
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Assim, as situações nas quais o aluno pode se exprimir de maneira original ou criativa admitem um potencial emocional delicado que pode perfeitamente pender para reforçar ou prejudicar o processo de aprendizagem.
Diante do exposto, pensamos que seja necessário e coerente compreender e ajudar as pessoas, para que não hajam barreiras psicológicas, impedindo que estes interajam com a água de modo completo. Para tanto, é imprescindível que identifiquemos e possamos entender como o medo surge para que então saibamos como lidar com ele.
Para SHAW & D’ANGOUR (2001) a razão mais comum de como surgem os medos é que a criança percebe inconscientemente os temores presentes nos pais ou nos responsáveis primários e os internaliza. Quando essas pessoas demonstram ansiedade acerca de estarem na água, ou demonstram preocupação de que a criança corre perigo, essas apreensões são transmitidas inadvertidamente para a criança.
Outros fatores possíveis, estão subordinados ao imenso impacto psicológico dessas mensagens. Por exemplo, o bebê em crescimento pode recuar, ante o desconforto de estar com frio e molhado, mas isso tende a transformar-se em medo da água apenas se a experiência é associada a sentimentos infelizes de insegurança.
Muitos adultos que expressam ansiedade quanto à natação relacionam seus temores a experiências infelizes na infância. “(...) essas experiências podem ser tão traumáticas que produzem reações fóbicas à água, difíceis de superar”; SHAW & D’ANGOUR (2001, p. 54).
Para CATTEAU & GAROFF (1988, p. 101), as inibições podem-se ligar às conseqüências desagradáveis de uma atividade anterior que podemos citar: estado ligado à lembrança de uma experiência infeliz vivida fisicamente; estado ligado à uma experiência infeliz da qual o indivíduo perdeu a lembrança mas que deixou traços subconscientes; estado a uma “experiência” não vivida fisicamente mas formada por referências verbais, pela atitude dos próximos que, conscientemente ou não, associam toda relação com a água a uma passagem inevitavelmente catastrófica.
Podemos dizer que quando estamos com medo, todo o nosso corpo registra a resposta de diferentes maneiras que podem ser facilmente reconhecidas como por exemplo o coração batendo acelerado, boca seca, frio na barriga, etc. Essas reações, acompanham alterações fisiológicas na nossa estrutura músculo-esquelética e na liberação de substâncias químicas na corrente sangüínea. Segundo SHAW & D’ANGOUR (2001, p. 59) “essas reações são uma forma de o corpo preparar-se para lutar, paralisar a atividade ou fugir”. Diante disso, talvez não seja muito útil dizer a uma pessoa paralizada de medo na água frases como: “não tenha medo”.
Outro acontecimento que ocorre com freqüência frente ao perigo é a tendência de contrair os músculos de nosso corpo, desempenhando um papel crucial e importantíssimo na aprendizagem da natação, já que como sabemos, o corpo tenso tende a afundar no meio líquido.
Assim, nas reações frente as diferentes circunstâncias de perigo, “(...) temos a tendência de contrair os músculos de nosso pescoço involuntariamente, fazendo com que a cabeça lance-se para trás. As reações musculares que acompanham este reflexo incluem levantar os ombros, tensionar os braços, enrijecer o tórax e flexionar os músculos das pernas para que nossos joelhos fiquem firmes”; SHAW & D’ANGOUR (2001, p. 60).
Consideramos provável, portanto, que a aprendizagem da natação deva passar por uma análise precisa das relações que se estabelecem entre o homem e o meio líquido, levando em conta ainda, pressupostos cognitivos, afetivos e motores, que venham unir-se a um desempenho que se fará acessível à todos.
Quanto às pessoas que não procuram a natação como atividade física, existem algumas razões comuns - ou desculpas - dadas para evitarem o contato com o meio, a qual podem ser atribuídas a diferentes crenças como: estou despreparado ou jamais serei capaz de nadar. Essas crenças combinam-se para criar atitudes negativas, que dificultam o progresso. Assim, é importante trabalhar no sentido de que os pensamentos negativos não se traduzam em reações destrutivas.
Podemos considerar que há várias técnicas que auxiliam a combater pensamentos negativos. A maioria delas inclui pensar positivo ou visualizar os acontecimentos de modo igualmente positivo, entretanto é no momento em que as pessoas “aprendem a tomar consciência e a inibir as reações psicofísicas automáticas que acompanham essas crenças (...)” é que passam a “(...) explorar e descobrir uma forma de solução”; SHAW & D’ANGOUR (2001, p. 69).
O desenvolvimento da consciência, é diante disso, fundamental para uma mudança de nossos padrões de comportamento e desenvolvimento de novas habilidades aquáticas. Segundo SHAW & D’ANGOUR (2001, p. 69) “a familiarização com as sensações novas e inicialmente desconfortáveis, a exploração de soluções práticas para superar a ansiedade, a auto-conscientização quanto às reações habituais e o redirecionamento da atenção para o uso, em vez de remoer pensamentos negativos”, são as principais etapas para uma superação.
Entretanto, muitas pessoas conseguem nadar apesar de seus medos, mas, com muita freqüência, ainda demonstram falta de destreza ou tensão residual. Quase todos nós ainda somos influenciados por experiências precoces, que bloqueiam nosso progresso na água. Se aprendermos a apreciar os efeitos limitadores, podemos perceber a possibilidade de obter um prazer muito mais pleno com a natação, mudando toda a nossa abordagem.
Considerações finaisDurante o processo de reflexão sobre o homem e as relações que estabelece com o meio aquático, surgiram muitas questões. Algumas fáceis de serem percebidas, outras difíceis de serem abordadas, pois estão ligadas ao que há de mais delicado no ser humano - sentimentos e emoções.
Não foi pretensão desse estudo esgotar esse assunto, mas sim, abrir novos caminhos de reflexões para uma nova prática da natação. Uma maneira, pela qual, o homem passa estar plenamente envolvido na atividade, onde o principal objetivo deve ser de o nadador sentir-se bem ao nadar; onde ele possa “ver” ou perceber a água como uma aliada, usufruindo e reconhecendo assim, as suas propriedades naturais e o prazer de se estar envolvido por ela.
Tendo em vista, o ser humano como sendo extremamente complexo, acreditamos que ao nadar, nosso corpo não é “friamente” comandado pela mente. A capacidade dela para guiar o corpo sofre grande influência das nossas sensações, emoções e dos nossos pensamentos. Por isso, devemos buscar estabelecer uma boa relação com a água - uma relação de prazer e bem-estar.
Se ao contrário essa vivência estabelecer uma sensação de “tortura” ou de “obrigação”, os benefícios da atividade são limitados ou simplesmente não existem.
Acreditamos que na maioria dos nadadores, as características de medo estão presentes em maior ou menor grau. Para SHAW & D’ANGOUR (2001, p. 73), “seus efeitos vão desde uma falta de destreza óbvia e debilitadora até uma relutância para explorar plenamente o potencial da água e obter prazer”. Entretanto, com abordagem e apoio corretos, a confiança e o conforto na água podem ser (re)adquiridos, basta cada sujeito aceitar o desafio.
Entendemos que todos os aspectos dos sujeitos devem ser respeitado e as suas sensações e emoções devem ser levadas em consideração pelo instrutor, para que essa atividade traga maior benefícios tanto físicos como principalmente emocionais aos praticantes.
Concordamos com SHAW & D’ANGOUR (2001, p.140) quando nos aponta uma nova versão para a natação, uma natação voltada ao prazer ao bem-estar:
A natação pode ser uma fonte de auto-descoberta, crescimento pessoal e capacitação. Trata-se de uma nova abordagem que nos ensina a tomar consciência de nós mesmos, a relacionar a água com nossa integridade orgânica e com o equilíbrio, a nos sentirmos à vontade na água, a compreender e utilizar suas propriedades generosas, a descobrir suas conexões íntimas com os ritmos de nossas vidas. Tudo isso desperta em nós a possibilidade de vivenciar diversas sensações até então não vividas e de descobrir um prazer indefinível e sem precedentes”.
Referências bibliográficas
CATTEAU, Raymond e GAROFF, Gérard. O Ensino da Natação. São Paulo: Manole, 1988. 381 p.
CUNHA, Darkson S. da. Aprenda e Ensine a Nadar. Santa Maria: UFSC, 1983. 114 p.
DAMASCENO, Leonardo G. Natação, Cultura e Imaginário Social. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, n°18, p. 98-102, jan. 1997.
GONÇALVES, Maria A. S. Sentir, Pensar, Agir: Corporeidade e Educação. 4 ed. São Paulo: Papirus, 2000. 197 p.
MARQUES, C. L. da S. e ANDRADE, C. M. “Eu aprendi a Nadar”... Percepção de Idosos Acerca da Conquista da Aprendizagem da Natação - Em busca de uma reflexão pedagógica. Cad. ADULTO, Santa Maria, n°5, p. 109-133, 2000.
NORONHA, Rômulo. Nadar é Preciso. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1985. 112 p.
OLIVIER, Giovanina G. de Freitas. Um Olhar Sobre o Esquema Corporal, a Imagem Corporal, a Consciência Corporal e a Corporeidade. Campinas; Úeltima atualização em 1998. Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas.
http://www.unicamp.br/fef/Gente/alunos/pos/nina/tesem.htmlSHAW, Steven e D’ANGOUR, Armand. A Arte de Nadar. São Paulo: Manole, 2001. 147 p.
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