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Análise estatística do desempenho técnico coletivo no basquetebol
Dante De Rose Junior, Alexandre Gaspar y Marcello Siniscalchi

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 49 - Junio de 2002

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    Comparando-se cada um dos indicadores em função do mando de jogo, observam-se as seguintes diferenças estatisticamente significativas:

  • (p <0.01) - pontos feitos, bloqueios de arremessos e bolas recuperadas;

  • (p <0.02) - total de rebotes, bolas perdidas e assistências;

  • (p <0.03) - arremessos de 3 pts convertidos;

  • (p <0.04) - rebotes de defesa e

  • (p <0.05) - aproveitamento total de arremessos

    Esses resultados mostram claramente quão importante é a eficiência no aproveitamento de arremessos (mesmo não havendo diferenças significativas nos 2 pontos e nos lances-livres) para a definição do resultado, juntamente com os rebotes de defesa pois, assegurando a posse de bola após arremesso não convertido pelo adversário, a equipe eficiente leva grande vantagem sobre aquela que mesmo tendo obtido um bom número de rebotes não consegue transformar a posse de bola em cesta.

Resultado final do jogo

    Os resultados, de certa forma, repetiram-se quando a análise é feita considerando-se as equipes que venceram e as equipes que foram derrotadas (TABELA 3).

Tabela 3: Médias de cada indicador de jogo dos 210 jogos do Campeonato Paulista de Basquetebol Masculino - 2001 (Geral e Equipes Vitoriosas e Derrotadas)

    As equipes vitoriosas, evidentemente, apresentam maior eficiência em quase todos os indicadores de jogo. Esta fato pode ser observado principalmente nas porcentagens de aproveitamento de arremessos e no aproveitamento geral das equipes. Merece destaque o número de tentativas de 3 pontos das equipes perdedoras. Em média ele é ligeiramente maior do que o número de tentativas das vencedoras, possibilitando uma maior número de pontos. No entanto o aproveitamento das vencedoras é significativamente maior, o que destaca ainda mais a importância da eficiência em detrimento ao volume de jogo (quantidade de arremessos executados em um jogo - pontos possíveis).

    Como se observa na tabela 4, não há praticamente diferenças entre os pontos possíveis das equipes vencedoras e perdedoras, mas o aproveitamento das vencedoras é significativamente maior.

    As equipes derrotadas também perdem um número maior de bolas e são mais faltosas, aumentando a possibilidade de lances-livres para as equipes vencedoras, que associado ao bom aproveitamento, aumentam ainda mais sua eficiência ofensiva. Nas bolas perdidas e nas faltas a diferença foi estatisticamente significativa (p <0.03 e p<0.05, respectivamente).

    Nos demais indicadores de jogo houve uma diferença estatisticamente significativa (p <0.01) em favor das equipes vencedoras: pontos feitos, aproveitamento, 3 pts (arrremessos convertidos e %), 2 pts (arremessos tentados, convertidos e %), lances-livres (arremessos tentados, convertidos e %), rebotes de defesa e total de rebotes, bloqueios de arremessos, bolas recuperadas e assistências.

    Esses resultados encontram similaridade com os resultados encontrados por Sampaio (1998) ao analisar os jogos da Liga Portuguesa de Basquetebol.

Diferença de pontos

    A TABELA 4 mostra a quantidade de jogos e o percentual dos mesmos em relação às diferenças de pontos no resultado final.

Tabela 4: Número de jogos por categorias em função da diferença de pontos nos jogos do Campeonato Paulista Masculino - 2001

    Pelos resultados apresentados na tabela 4, cerca de 51% dos jogos apresentaram resultados com diferenças de até 10 pontos, que no basquetebol pode ser considerado como um resultado equilibrado definido por pequenos detalhes ou situações específicas do jogo. Somente 19,5% dos jogos foram definidos por uma faixa acima de 20 pontos, atestando que houve equilíbrio na maioria das partidas.

    Um estudo mais aprofundado dos fatores que possam ter contribuído para essa situação são demonstrados nas TABELAS 5 e 6, nas quais observam-se as médias de cada um dos indicadores de jogo para equipes vitoriosas e derrotadas em função da diferença de pontos.

Tabela 5: Médias de indicadores de jogo de Equipes Vitoriosas e Derrotadas, em função da diferença de pontos (pts, aproveitamento geral e arremessos)

Tabela 6: Médias de indicadores de jogo de Equipes Vitoriosas e Derrotadas, em função da diferença de pontos (rebotes, bloqueios, bolas recuperadas, assistências, bolas perdidas e faltas)

    A partir dos resultados da TABELA 5 que mostra os resultados dos indicadores de jogo diretamente relacionados com a obtenção de pontos em uma partida de basquetebol (arremessos tentados e convertidos, percentual de acertos, pontos possíveis e feitos e aproveitamento) pode-se inferir que com qualquer diferença no resultado final, a eficiência no aproveitamento dos arremessos foi fundamental para a obtenção das vitórias, em detrimento ao volume de jogo. O aproveitamento geral foi um diferencial importante nas quatro categorias de jogos, apresentando médias favoráveis às equipes vitoriosas, com diferenças estatisticamente significativas (p <0.01). Esta diferença tornou-se mais evidente com o aumento da diferença de pontos. Nos jogos com diferença acima de 20 pontos a probabilidade associada a esse indicador foi de p <0.001.

    É interessante notar que, nos jogos com diferenças até 10 pontos, as equipes derrotadas apresentaram maior volume de jogo, mas com aproveitamento significativamente menor do que as equipes vitoriosas. Nos jogos com diferenças acima de 10 pontos, as equipes vitoriosas se destacaram em todos os indicadores de arremessos, com médias significativamente maiores do que as médias das equipes derrotadas.

    Este resultado mostra que, nos jogos mais equilibrados, a eficiência nos arremessos é mais importante que o volume. Esta condição não interfere no resultado de jogos com diferenças maiores que 10 pontos. Os resultados encontrados podem ser analisados pelos técnicos no sentido de organizar seus ataque de forma mais equilibrada, procurando por uma seleção mais adequada dos arremessos, desde que haja um percentual de acertos considerado adequado (3 pontos em torno de 38%; 2 pontos em torno de 55% e lances-livres em torno de 73%).

    No indicadores de jogo mostrados na TABELA 6, observou-se que o rebote de defesa parece ser aquele que mais se relaciona com as vitórias, pois com qualquer diferença de pontos as médias das equipes vitoriosas foram significativamente maiores do que as médias das equipes derrotadas. Isto sugere que a combinação deste indicador (que define a posse de bola de uma equipe) com os indicadores relacionados ao aproveitamento dos arremessos pode ser um fator poderoso na determinação das vitórias.

    Esta tendência repete-se em relação às bolas recuperadas, com exceção dos jogos com diferenças até 3 pontos, e às assistências que, em todas as categorias de jogos, apresentaram médias significativamente maiores para as equipes vitoriosas.

    Em um dos indicadores que é considerado negativo para a eficiência de uma equipe (bolas perdidas), não houve diferenças estatisticamente significativas nos jogos com diferenças até 10 pontos, inclusive com resultados muito próximos entre equipes vitoriosas e derrotadas, mostrando, mais uma vez, o grande equilíbrio nessas partidas. As diferenças entre as médias tornaram-se evidentes à medida que aumentou a diferença de pontos, sempre mostrando que esses indicadores predominam nas equipes derrotadas.

    Em relação às faltas (outro indicador negativo de eficiência) há uma predominância do número de faltas para as equipes derrotadas, com diferenças estatisticamente significativas em jogos com diferenças de 4 a 10 pontos. No caso dos jogos com diferença acima de 20 pontos, inverte-se a tendência. As equipes vitoriosas são mais faltosas (mas não com diferenças significativas), mostrando que, talvez pela diferença dilatada no resultado pudesse ter ocorrido um relaxamento por parte da defesa, propiciando uma maior número de faltas.

    Os resultados encontrados assemelham-se aos resultados do estudo de Sampaio (1998) com equipes do Campeonato Português.

Relação entre os indicadores de jogo e classificação final das equipes

    A TABELA 7 mostra a classificação das equipes em cada um dos indicadores e a classificação média (CM) obtida pela média dos postos dos indicadores de cada equipe. Considerando-se a classificação média, obteve-se um coeficiente de correlação (rs) igual a 0,86, mostrando haver forte relação entre a eficiência global da equipe e sua classificação final.

Tabela 7: Classificação das equipes em função de cada indicador de jogo e da média de postos de todos os indicadores (CM)

* Classificação invertida - os postos mais baixos indicam menor incidência do s indicadores

    Considerando-se cada um dos indicadores de jogo foram encontradas fortes correlações da classificação final com os seguintes indicadores de jogo: pontos feitos (rs = 0,84), aproveitamento (rs = 0,79), bolas recuperadas e assistências (rs = 0,74) e % de lances-livres (rs = 0,70). As porcentagens de acertos de 3 pontos e de 2 pontos apresentaram uma correlação moderada, porém importante (0,56 e 0,60, respectivamente).

    Este resultado indica o quanto é importante a eficiência nos arremessos, refletida pelo melhor aproveitamento das equipes melhores classificadas, consolidando a idéia de que o importante é ter eficiência no aproveitamento, em detrimento do volume de jogo (quantidade de arremessos tentados) e também a manutenção de uma boa eficiência nos demais indicadores, confirmando a afirmativa de Brandão et alii (2001) de que há uma forte relação entre os indicadores ofensivos e a classificação final das equipes.


Conclusões

    Após a análise dos resultados deste estudo pode-se chegar às seguintes conclusões:

Em relação ao “mando de jogo”:

    Houve predominância das equipes mandantes sobre as visitantes em número de jogos vencidos (130 - 80)

    As equipes mandantes obtiveram médias superiores e com diferenças estatisticamente significativas nos seguintes indicadores de jogo: p <0.01 - pontos feitos, bloqueios e bolas recuperadas; p <0.02 - total de rebotes e assistências; p <0.03 - 3 pontos convertidos; p <0.04 - rebotes de defesa; p <0.04 - aproveitamento geral

    As equipes mandantes obtiveram médias superiores mas sem diferenças estatisticamente significativas nos seguintes indicadores de jogos: tentativas e % de 3 pontos; tentativas, acertos e % de 2 pontos; % de lances- livres; rebotes de ataque

    As equipes visitantes obtiveram médias superiores e com diferenças estatisticamente significativas nas bolas perdidas (p <0.02). Considere-se este resultado como negativo, pois a perda de bolas é um fator que constata a falta de eficiência da equipe na retenção de posse de bola, diminuindo suas possibilidades de arremesso

    Não houve diferenças na média das faltas cometidas. Este fato é interessante pois é comum haver a idéia de que a equipe mandante é favorecida pela arbitragem nesse indicador de jogo.

Em relação ao “resultado final” e à “diferença de pontos”

    Houve uma predominância de jogos com resultados cujas diferenças variaram de 4 a 10 pontos (34%). Considerando-se os jogos com diferenças até 3 pontos esse valor sobe a 51%, atestando haver um equilíbrio considerável entre as equipes

    O aproveitamento médio das equipes vitoriosas foi de: 52% (geral); 38% (3 pts); 56% (2 pts) e 73% (lances livres). O aproveitamento médio das equipes derrotadas foi de: 45% (geral); 31% (3 pts); 49% (2 pts) e 69% (lances livres).

    O aproveitamento geral foi fator diferencial em jogos com qualquer diferença, dentro das categorias propostas, em detrimento do volume de jogo (pontos possíveis). As diferenças foram estatisticamente significativas (p <0.01)

    Nos jogos com diferença até 10 pontos, as equipes derrotadas tiveram médias superiores no indicador “pontos possíveis”, mas com aproveitamento significativamente menor (p <0.01)

    Nos jogos com diferenças acima de 20 pontos, os indicadores de arremessos (tentativas, acertos e %) favoreceram as equipes vitoriosas, com médias significativamente maiores (p <0.01)

    As médias de rebote de defesa foram maiores (com diferenças estatisticamente significativas - p <0.01) nas equipes vitoriosas em qualquer categoria de jogo

    Esta tendência manteve-se em relação às assistências e às bolas recuperadas. Neste caso há exceção nos jogos com diferenças até 3 pontos

    Nos jogos mais equilibrados (diferenças até 10 pontos), não houve diferenças significativas em relação às bolas perdidas. Nos jogos com diferenças acima de 10 pontos as equipes derrotadas apresentaram médias superiores nesse indicador, com diferenças estatisticamente significativas (p <0.01)

    A média de faltas nos jogos mais equilibrados foi significativamente maior para as equipes derrotas. Esta tendência inverteu-se à medida que aumentou a diferença de pontos nos jogos, ficando significativamente maior para as equipes vitoriosas, nos jogos com diferenças maiores que 20 pontos.

Em relação à classificação final das equipes:

    Os indicadores que mais se correlacionam com a classificação final foram: pontos feitos (rs = 0,84), aproveitamento (rs = 0,79), bolas recuperadas e assistências (rs = 0,74) e % de lances-livres (rs = 0,70). As porcentagens de acertos de 3 pontos e de 2 pontos apresentaram uma correlação moderada, porém importante (0,56 e 0,60, respectivamente).

    Considerando-se o conjunto dos postos dos indicadores houve uma correlação muito importante (rs = 0.86)


Considerações finais

    Ao concluir este estudo, ficou claro que muitos dos resultados encontrados ratificam alguns dos conceitos que estão presentes no cotidiano do basquetebol mas que, nem sempre, são apoiados em dados estatisticamente significativos.

    Procurou-se realizar análises simples e objetivas para facilitar o entendimento do estudo, propiciando a técnicos e atletas seu uso e aplicação nos treinamentos e jogos para melhora do desempenho individual e coletivo.

    Outras análises estatísticas mais sofisticadas poderão contribuir para o aprofundamento dos estudos nessa área, assim como o estabelecimento de diferentes relações como as comparações entre masculino e feminino, posições específicas, equipes classificadas e não classificadas para as fases finais dos campeonatos, entre outras.

    Essas variáveis serão objeto de novas abordagens sobre este tema tão interessante e importante relacionado à prática do basquetebol.


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