Querido professor Dimas (Antônio Maria Zacharias Bezerra de Araújo) e a educação física maranhense: uma biografia |
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*Professor de Educação Física do CEFET-MA; Mestre em Ciência da Informação; **Professora de Educação Física; Diretora Pedagógica da Escola de Natação "Viva Água"; ***Professora de História do Centro de Ensino Médio "Liceu Maranhense" |
Leopoldo Gil Dulcio Vaz* leopoldo@cefet-ma.br Denise Martins de Araujo** viva.agua@elo.com.br Delzuite Dantas Brito Vaz*** (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 48 - Mayo de 2002 |
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Introdução
A construção da biografia de Antônio Maria Zacharias Bezerra de Araújo - o PROFESSOR DIMAS - deve-se à dois acontecimentos recentes - falecimentos do Prof. Ronald da Silva Carvalho (06 de novembro de 2000) e do jornalista Dejard Ramos Martins (07 de novembro de 2000), e a perda que representavam para a memória da educação física e dos esportes maranhenses - assim como a morte de Mary Santos, de Rinaldi Maia, de Cecília Moreira, de Rubem Teixeira Goulart... -, sem que fosse ouvidos sobre o período de implantação da Educação Física escolar em Maranhão. Surgiu, então, a idéia de ouvir o Professor Dimas - sua história de vida - ao mesmo tempo em que resgatássemos esse período da História da Educação Física, dos Esportes e do Lazer em Maranhão.
O método de trabalho utilizado é a técnica da História Oral - que vem sendo muito utilizada, ultimamente, para a reconstrução da História da Educação Física, dos Esportes, do Lazer e da Dança.
História Oral é a designação que se dá "ao conjunto de técnicas utilizadas na coleção, preparo e utilização de memórias gravadas para servirem de fonte primária" (BROWNW e PIAZZA, citados por CORRÊA, 1978, p. 13). Já na definição de CAMARGO (citado por ALBERTI, 1990), é o "conjunto sistemático, diversificado e articulado de depoimentos gravados em torno de um tema", ou como ensino a própria ALBERTI (1990), é o "método de pesquisa ... que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participam de, ou testemunham, acontecimentos ...".
Ao decidir-se pelo emprego da técnica da história oral, como sendo o mais apropriado, estabeleceram-se também os tipos de fonte de dados, tendo em vista que a história oral vale-se de outras fontes, além das entrevistas (SILVA, GARCIA e FERRARI, 1989).
Foram utilizadas dois tipos de fontes de dados:
Reportagens de jornais, crônicas, relatos e literatura acadêmica, que nos permite o estudo do processo de implantação da educação física escolar e o desenvolvimento do esporte moderno em Maranhão;
Entrevistas com pessoas que viveram esses processos e tiveram um relacionamento com o Professor Dimas, no período de 1939 - data em que tomou o primeiro contato com um esporte - até os dias atuais.
Assim, "QUERIDO PROFESSOR DIMAS (Antônio Maria Zacharias Bezerra de Araújo) e a Educação Física maranhense : uma biografia (autorizada)" procura interpretar as contribuições desse professor para a educação física - e os esportes - maranhense e reinterpretar concepções históricas a partir de sua percepção e vivência.
Antônio Maria Zacharias Bezerra de Araújo, aliás, Dimas
Antes de iniciarmos a trajetória de vida do Professor Dimas, é bom que se esclareça a origem de seu apelido. Segundo o próprio Dimas, seu nome de família é "Tonho", que vem de Antônio [Antônio Maria Zacharias]; no Exercito, seu nome de guerra era "Zacharias"; quando retornou ao Maranhão, em 1954, passou a morar com o irmão. Seu irmão tinha uma loja - Casa Dimas -, e as pessoas ao perguntarem quem era, recebiam a resposta de que era o irmão do Dimas; então passaram a chamá-lo de Antônio Dimas. Começando a trabalhar com Educação Física, do dia para a noite passaram a chama-lo de Professor Dimas.
Antônio Maria Zacharias Bezerra de Araújo nasceu em 30 de julho de 1928 na cidade de Mirador, Estado do Maranhão. Filho legítimo de Fernando de Araújo Costa e Eloína Bezerra de Araújo, maranhenses. Eram sete irmãos.
Casado com Maria da Graça Martins de Araújo, com quem teve seis filhos biológicos, "fora os criados" : Maurício (engenheiro, e técnico de basquetebol) Viviane (professora de Educação Física); Denise (professora de Educação Física); Silvana (professora de Educação Física); Rildo (instrutor de natação); e Hélio (ligado ao teatro); dos filhos adotivos, sente muito orgulho de Letícia (cursa Medicina)
Os estudos e os primeiros contatos com os esportes e a educação física
Seu pai era fazendeiro, pequeno proprietário - criador de gado, plantava cana, mantinha um pequeno engenho, para o fabrico de rapadura. Sua infância, passada na fazenda localizada num lugar chamado Mumbuca, ficava 12 léguas a cavalo da cidade, pois não havia estradas. Na fazenda, tinha contato com cavalo, com boi, ajudando muito ao pai no serviço da roça, nos afazeres com o engenho de cana, com o fabrico da rapadura, com caça e as brincadeiras de crianças de fazenda.
Para estudar, tinha que ir para a casa de tios, na cidade. Os pais continuaram lá, na Fazenda Mumbuca. Aos 11 anos, em 1939, sua tia Delcina o trouxe para Mirador, para estudar. Daí, mudaram para Coroatá; depois, Timbiras e Coelho Neto, onde permaneceram até 1942. Seu primeiro contato com o esporte foi em Coroatá, já com 13 ou 14 anos; seu tio era o Prefeito. Fez amizades e teve sua primeira experiência em jogar futebol.
Quando estava no quarto ano, veio para São Luís, submeter-se ao exame de admissão - era1944 - no Colégio Ateneu Teixeira Mendes; não conseguindo passar, que sua base era muito pequena; então fez para o Colégio de São Luiz. Estudou um ano no Colégio São Luís, depois conseguindo transferência para o Liceu Maranhense, lá permanecendo até 47. Também estudou no Colégio Maranhense, dos Irmãos Maristas. Terminou o ginásio no Rio de Janeiro, no Colégio Frederico Ribeiro.
No Liceu começou a sua vida esportiva, participando do time de futebol, e tendo como professor de Educação Física, José Rosa. Esse professor foi quem despertou no jovem Tonho o gosto pela Educação Física. Participava até de demonstração de Educação Física; foi quando começou a se desenvolver - pegar corpo -; as aulas eram de Ginástica Geral e Calistenia; no Liceu, só futebol e ginástica de um modo geral, muitos exercícios acrobáticos, salto, mas sem as característica de ginástica - o nome era esse, ginástica acrobática.
É no Exército que continua a sua vocação esportiva, embora não tivesse experiência nenhuma antes; passou a se envolver mais com os esportes -, participava nas aulas de preparação física, com destaque; jogava futebol, bola militar, mas não chegou a ser destaque nenhum.
Antes de estudar no Liceu Maranhense, Dimas estudou no Marista e teve um primo distante, Eurípedes Bezerra, como professor de educação física Nas aulas de educação fisica, utilizava-se o método francês, a modalidade de ensino era: os exercícios preparatórios e propriamente ditos, constituía-se evoluções de marchas e depois os exercícios de saltar, trepar, levantar, e despertar, correr, atacar e defender e volta a calma, exercícios progressivos sem solução de continuidade. Era o mesmo método trazido pela Colônia Francesa, pela Missão Francesa em 1922, para o Brasil.
O Sargento Zacharias
Em 1948, Tonho já estava com 19 anos de idade, e serviu o Exército, no 24º Batalhão de Caçadores, unidade do Exército Brasileiro em São Luís. Deixa de ser "Tonho" e passa a ser "Zacharias", seu nome de guerra no Exército. Durante seu tempo de quartel, fez exame de admissão para a Escola de Sargentos. Já havia dado baixa, quando chegou a convocação: havia sido aprovado.
Segundo Dimas, naquela época, não tinha faculdade, não tinha nada, as opções dos maranhenses ou era ir para o comércio, ou trabalhar nas Forças Armadas. Ele foi para as Forças Armadas, mas não para a Escola de Oficiais, pois não tinha mais idade, nem tinha estudo - ainda não terminara o ginásio - cursara até a terceira série, no Liceu. Naquele ano de quartel, não estudou, perdendo mais um ano. A salvação foi a Escola de Sargentos; e de 200 candidatos, foram selecionados apenas 12. Em fevereiro de 49, pega um navio - da linha ITA - e viaja 12 dias e 12 noites, para o Rio de Janeiro
Dimas encontrou um conterrâneo, maranhense de Guimarães, no Rio de Janeiro: Ary Façanha de Sá, que já morara com ele na pensão da Rua Afonso Pena, quando ambos chegaram a São Luís para cursar o ginásio. Quando Dimas foi para o Rio de Janeiro, Ary já era estrela. A vida do jovem militar era muito diferente da do jovem estudante, por essa razão tinham pouco contato. Por ser militar, Dimas não tinha vida esportiva civil; só no Exército disputava campeonatos das Forças Armadas, chegando a participar de alguns jogos de Basquetebol em um time do bairro de Realengo.
Dimas faz uma carreira brilhante no Exército, como Sargento. Pertenceu ao Batalhão de Guarda Presidencial, onde começou a se destacar em tudo, não só nos esportes, mas na carreira, tendo subido muito rapidamente em prestígio com seus comandantes. Depois foi para a Polícia do Exército, onde passou a treinar sistematicamente, então melhorando não só nos 400 m, passando a correr também 1.500m e a partir daí a sua vida esportiva foi cada vez mais se ampliando.
Seu destaque mesmo foi no Atletismo e nas demonstrações de Educação Física. A PE dava demonstrações constante de ginástica Calistenica e ginástica acrobática. Dimas destacava-se na Pista de Aplicações Militares, era como uma atividade de preparação física, pois levara já alguma experiência daqui: corridas, e jogos de volei e basquete. No 24 BC, especializou-se em Tiro ao Alvo - fuzil -. Já no Rio de Janeiro, disputou o Campeonato das Forças Armadas, de tiro rápido de pistola - segundo lugar de todas as Forças Armadas, com uma pistola do dia a dia, de fazer patrulha.
O Pentatlo foi uma conseqüência dos seus pré-requisitos, pois quando terminou o curso de Educação Física, e voltou para a PE, a equipe já estava treinando, se preparando para este Pentatlo, e um dos sargentos caiu do cavalo, se machucou e teve que ser substituído, já estava próximo das provas; precisavam de uma pessoa para substituir aquele sargento que adoeceu. Como tinha vindo do curso de Educação Física, lá teve natação, esgrima, já tinha experiência de corrida e de tiro, faltava hipismo - cavalo -; sua experiência com cavalos vinha do sertão, correndo atrás de vaca; ainda teve a oportunidade de fazer uns dois cross-country, a cavalo, só para se adaptar, que nunca tinha montado num cavalão daquele - salto obstáculo, em altura e distância, são dois mil metros de cross-country -, então descia ladeira, subia ladeira, saltava; esgrima e natação, só havia feito no curso; não era nem nadador, nem lutador de esgrima, não era preparado para competir, mas mesmo assim o jogaram na fogueira... Saiu-se bem na prova de equitação - caiu uma vez só, porque o cavalo refugou em cima do obstáculo -,
"Vou para São Luís, criar galinha ..."
Dimas deu baixa no começo de 54, e retorna a São Luís, já como civil - Oficial do Exercito da reserva, mas sem nenhum direito a remuneração. Tendo conseguido registrar seu diploma no MEC, por intermédio de um advogado, chegando a São Luís seu meu primeiro emprego foi exatamente no Ateneu, como professor de Educação Física.
Sua pretensão era voltar àquela origem de fazendeiro, de criador, pois antes de retornar ao Maranhão fez - como pretendia, com o meu irmão, explorar agropecuária, - cursos de Agricultura, nas férias. Foi o primeiro maranhense que fez o Curso de Inseminação Artificial para Bovinos, na Fazenda Experimental do Governo, em Barão de Gil Paraná, em Vassouras; mas nunca utilizou. O negócio com o irmão não teve muito êxito; tentaram botar uma granja, uma vacaria, mas essa experiência não foi muito feliz.
Paralelamente, passou a trabalhar como professor de Educação Física, no Ateneu, na Academia de Comércio. Naquela época, a Educação Física se dava às 05:00 horas da manhã, com muita dificuldade, sem muita perspectiva; as atividades eram só calistenia e um joguinho, uma coisa, e a motivação era um pouco pequena, porque não tinha quadra, não tinha nada; as aulas eram dadas no campo do Moto, Campo do Santa Izabel.
Atuava também como Professor de Natação, no Jaguarema - foi o primeiro professor de natação do Jaguarema, em 55 ou 56. Lá foi a primeira escola de natação. Nessa época também começou a dar aula em duas piscinas que existiam aqui na época, da família Domingos, na Rua Grande; e a outra piscina era do senhor Almir Moraes Corrêa, perto da Igreja de São Vicente de Ferrer, que existe ate hoje a casa dele, no lado da Igreja.
Nessa mesma época, jogava Basquetebol pelo Moto Clube, no Campo do Santa Isabel. Em 54, foi seleção maranhense, indo disputar o Brasileiro em Recife - Dimas, Rubem Goulart; Antônio Bento; Vieirão, Major Vieira; Bebeto, também da Policia; Willame Najas...
Jogava voleibol menos, mas jogava ... não se lembrando de alguém que se destacasse, por exemplo, assim como tinha seis, sete clubes de basquetebol, não tinha de voleibol. O voleibol veio se destacar já mais para a frente, no Cassino Maranhense; Dimas lembra de algumas pessoas, que estavam sempre jogando - Murilo Gago, Rubem Goulart, Braga que jogava, Alemão, Mauro...
Passagem pelo Futebol - nessa época, era professor de dois colégios, do Jaguarema e jogava Basquetebol no Moto; e teve uma passagem pelo futebol também: foi Técnico da Seleção Maranhense de Futebol, mas só para dar o nome, não se lembrando se era um Campeonato Brasileiro, se era um campeonato regional; lembra que foram ao Pará e perderam
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