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A força. Alguns conceitos importantes

   
Licenciado em Educação Física e Desporto
Mestre em Alto Rendimento Desportivo (Comité Olímpico Espanhol)
Doutorando em Alto Rendimento Desportivo (Universidade Castilla-La Mancha)
Treinador e Preparador Físico de Ténis (Ard). Autor do livro - "O Ténis"
Preparador Físico de Basquetebol (Ard)
 
 
Mário António Cardoso Marques
http://www.cayolla.com
(Portugal)  
 

 

 

 

 
Resumo
    Este artigo faz uma reflexão simples sobre alguns conceitos importantes relacionados com a capacidade condicional Força, expondo alguns pressupostos fundamentais; bem como delimitar o seu conceito nas suas principais manifestações - subconceitos de Força.
    Unitermos: Força. Curva-força-tempo. Curva-força-velocidade. Força máxima. Força explosiva. Força útil.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 46 - Marzo de 2002

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1. A força como capacidade condicional

1.1. Conceito de força

    Segundo o ponto de vista da Física, força é a capacidade de um corpo alterar o seu estado de movimento ou de repouso, criando uma aceleração ou deformação do mesmo.

    No âmbito desportivo a força traduz a capacidade da musculatura produzir tensão, ou seja, aquilo a que vulgarmente denominamos por contracção muscular (Hertohg, et al., 1994).

    Segundo Vermeil e Helland (1997, pp. 49) a força "é a habilidade no combate ao adversário, na desaceleração e no alterar rapidamente de direcção, como um bloco entre o adversário e o contraste".

    Do ponto de vista fisiológico, a maior ou menor capacidade de produção de força estabelece uma relação directa com o número de pontes cruzadas de miosina que interaccionam com os filamentos de actina, com o número de sarcómeros, com o comprimento e o tipo de fibras musculares e com os factores inibidores ou facilitadores da actividade muscular.


1.2. A importância da força

    O trabalho da força é essencial para se atingirem elevadas performances durante a competição (Tenhonen, 1994). Assim, para Matvéiev (1991), os objectivos principais do treino de força são:

  • aumentar a capacidade de força e/ou assegurar a sua conservação em relação às particularidades das fases do treino;

  • educar as aptidões de força que correspondam às exigências de uma determinada modalidade.

    A primeira destas tarefas diz respeito à preparação da força geral, enquanto que a segunda refere-se à preparação da força especial. Assim, o trabalho da força serve para:

  • atingir um desenvolvimento global de todos os grupos musculares, considerado-os como um todo;

  • direccionar o trabalho da força para que este se coadune com as aptidões de força na modalidade de especialização.

    Por último é importante referir que o treino da força para algumas modalidades serve para evitar desequilíbrios na musculatura (Chandler et al., 1998). A este respeito, os autores citam o exemplo do ténis, onde existe claramente uma diferença de desenvolvimento nos dois braços, já que há claramente uma maior predominância de um braço relativamente ao outro, em termos de solicitação muscular.


1.3. Como se manifesta a força

    A força evoluciona num determinado tempo (FIG. 1) até conseguir expressar a sua maior magnitude (intensidade). Nasce assim o conceito de curva-força-tempo (Cf-t) que traduz a relação entre a força manifestada e o tempo necessário para a realizar (Häkkinen e Komi, 1985b).

    Esta curva serve para medirmos acções estáticas e dinâmicas e a força máxima estática a uma velocidade nula. Relativamente ao treino desportivo, pretende-se que o atleta produza força no menor tempo possível, sendo primário procurar que a curva de manifestação de força ilustrada no gráfico anterior se desloque para a esquerda (Harre e Lotz, 1988), o que significaria que o atleta teria produzido mais força em menos tempo (Fig. 2).

    Existe ainda uma outra curva (FIG. 3), aquilo a que denominamos por curva-força-velocidade (Cf-v). Aqui, a manifestação de força vê-se reflectida sobre uma determinada carga que suportamos e segundo a velocidade que descolamos essa mesma carga (Bosco et al. 1986; Aguado, et al., 1999).

    Como sabemos, a força e a velocidade têm uma relação inversa, isto é, à medida que aumentarmos a carga ou resistência a superar num determinado exercício a velocidade de deslocamento diminuirá (Raharinosy, 1988). Por outras palavras, quanto maior é a velocidade de um gesto desportivo, menos força teremos de aplicar. Aqui, não devemos confundir que quanto mais força tenhamos menos velozes seremos. Bem pelo contrário, se o treino for realizado correctamente, quanto mais força tivermos mais velocidade somos capazes de empregar. O que se pretende é que a curva força-velocidade (Bosco et al., 1986) se desloque para a direita (Fig. 4), o que significa que perante a mesma carga observaríamos uma maior velocidade, ou para a mesma velocidade deslocaríamos mais peso.

    Ao comparamos as duas curvas, rapidamente verificamos que existe uma relação entre ambas, pois o facto de produzirmos mais força em menos tempo é o mesmo que conseguir vencer a carga a uma maior velocidade (Badillo e Gorostiaga, 1995, 1999; Badillo, 2000a, 2001).


2. Alguns subconceitos de força

2.1. Força máxima

    É a capacidade que um músculo ou grupo muscular tem em realizar máximas tensões. A este respeito distinguimos ainda:

  • Força máxima isométrica ou estática (FIM) ou Pico Máximo de Força (PMF) - é a força realizada contra cargas insuperáveis, ou seja, não se observa qualquer tipo de movimento apesar de existir contracção muscular. Ao nível do treino desportivo a avaliação do PMF é muito comum e é medida na Cf-t. Esta medição é avaliada em Newtons dado que se viesse traduzida em quilogramas seria bastante imprecisa e não nos transmitiria uma informação adequado sobra a força produzida (Badillo, 2000a).

  • Força máxima dinâmica (FMD) - É realizada quando a resistência a vencer pode ser deslocada pelo menos uma vez e pode ser medida na Cf-t. Se dispusermos de instrumentos sofisticados, conseguimos medir a força em Newtons, caso contrário mediríamos em quilogramas. Caso realizássemos medições com cargas inferiores à FMD, obteríamos valores relativos em relação à FMD. Como consequência temos um outro conceito, força máxima dinâmica relativa (FMDR). Por fim, dentro deste conceito encontramos um outro, o de força útil ou funcional (Badillo, 2000a, 2000b, 2001). Para a maioria das modalidades desportivas o objectivo primário é desenvolver índices óptimos de FDM e não valores máximos da mesma (Badillo, 2000a). Assim sendo, a força útil deve ser medível em gestos competitivos, pois será aquela que iremos aplicar num gesto específico da modalidade desportiva, já que atletas apenas aplicam força num determinado tempo e a uma dada velocidade. A força útil deve ainda ser considerada como um valor da FMDR, já que se utilizássemos uma carga adicional num determinado gesto específico, a força que aplicávamos seria maior sempre superior, ainda que a performance ou resultado na própria competição fosse inferior (Badillo, 2000a).


2.2. Força explosiva

    A força explosiva (ou rápida) representa a relação entre a força expressada e o tempo necessário para a alcançar dita expressão (Badillo, 2000a). A manifestação da força por unidade de tempo, vem perfeitamente traduzida pelos incrementos de força na curva força-tempo (Bosco 1985, 1988, 2000). Assim, podemos medir a taxa de produção de força desde o início e em qualquer ponto desta curva, permitindo-nos ter tantos valores de força explosiva como o número de medições que se façam.

    Contrariamente ao que muitos possam pensar, durante o trabalho isométrico também podemos encontrar manifestações explosivas da força; porque ao nível interno constata-se que ocorrem velocidades elevadas na activação das unidades motoras (Badillo, 2000a). Por conseguinte, podemos dizer que a força explosiva pode ser máxima quando se obtém a máxima manifestação de força por unidade de tempo contra qualquer resistência. Neste caso, existe um ponto da curva-força-tempo onde a produção de força por unidade de tempo é máxima.


2.2.3. Força - resistência

    Grandes especialistas na área do treino da força são unânimes em afirmar que o treino da força-resistência é muito específico em cada modalidade, dificultando logo à partida a sua definição (Zatsiorsky, 1995, Manso, 1999). No entanto, podemos dizer que força resistência é a capacidade do organismo de resistência à fadiga, em caso da performance de força de longa duração (Weineck, 1989). Os critérios da força de resistência são a intensidade do estímulo (em percentagem da força máxima de contracção) e o volume do estímulo (total de repetições). Pode tomar-se para medida da força resistência, o tempo máximo (até uma queda expressa de capacidade) de trabalho com pesos externos de valor pré-determinado em relação às particularidades da modalidade ou à quantidade máxima de trabalho que o atleta é capaz de realizar durante um certo tempo. Como o nível de exigências de aptidões de força propriamente dita e de resistência é muito diferente de modalidade para modalidade, a definição da resistência à força tem particularidades próprias, em cada uma delas.


Bibliografía

  • Aguado, J; Rodriguéz, G; Elvira. L (1999). Consideraciones sobre conceptos e clasificaciones de la fuerza muscular desde el punto de vista mecánico. Consejo Superior de Deportes. Série ICD, nº21.

  • Badilllo, J.J (2000a). Concepto y Medida de la Fuerza Explosiva en el Deporte. Posibles Aplicaciones al entrenamiento. Entrenamiento Deportivo, Tomo XIV, n.º 1, 5-15.

  • Badilllo, J.J (2000b). Bases teóricas y experimentales para la aplicación del entrenamiento de fuerza al entrenamiento deportivo. INFOCOES. Vol. n.º 2, 13-14.

  • Badilllo, J.J (2001). Tendencias actuales en la investigación de las capacidades condicionales en ARD. Curso de doctorado. UCLM, Toledo.

  • Badilllo, J.J.; Gorostiaga, E. (1995). Fundamentos del entrenamiento de la fuerza. Zaragoza. Inde.

  • Badilllo, J.J.; Gorostiaga, E. (1999). Fundamentos del entrenamiento de la fuerza. Máster A.R.D., Módulo 2.2.2, COES-UAM, Madrid.

  • Bosco, C. (1985). L'effetto del pre-stiramento sul comportamento del muscolo scheletico e considerazioni fisiologiche sulla forza esplosiva. Atletica Studi, 1, 7-117.

  • Bosco, C. (1988). Valoraciones funcionales de la fuerza dinamica, de la fuerza explosiva i de la potencia anaeróbica aláctica con los test de Bosco. XI Congreso Mundial de la I.T.F.C.A. , Barcelona.

  • Bosco, T. (2000). La fuerza Muscular. Aspectos metodológicos. Editorial Inde.

  • Chandler, J.T.; Ellenbecker, T.S.; Roetert, E.P..(1998). Sport-Specific Muscle Strength. Imbalances in Tennis. Journal of National Strength and Conditioning Association., 20, 2, 7-10.

  • Garcia Manso, J.M (1999). La Fuerza. Madrid, Gymnos Editorial Deportiva.

  • Häkkinen, K.; Komi, P.V; Alén, M. (1985b). Changes in isometric force -and relaxation - time, electromyographic and muscle fibre characteristics of human skeletal muscle during strength training and detraining. Acta Physiol. Scand., 125, 573-585.

  • Harre, D.; Lotz, I.. (1988). El entrenamiento de la fuerza rápida. Revista de Entrenamiento Deportivo, Vol II, n.º. 3, 42-49.

  • Hertogh, C.; Chavet, P.; Gaviria, M.; Bernard, P.; Melin, B.; Jimenez, C.(1994). Méthodes de Mesure et Valeurs de Référence de la Puissance Maximale Développée lors D'Efforts Explosifs.. Cinesiologie, XXXIII, 157, 133-140.

  • Matvéiev, L. P. (1991). Fundamentos do Treino Desportivo. Livros Horizonte. Lisboa.

  • Raharinosy, A. (1988). Le point sur la plyométrie. Revue de l'AEFA, 107, 9-11.

  • Vermeil , A. ; Helland, E. (1997). La metodologia corretta. Coaching and Sport Science Journal. 2,2 49-55.

  • Weineck, J. (1989). Manual de treinamento esportivo. Editora Manole, São Paulo.

  • Zatsiorsky, V.M. (1995). Science and Practice of Strength Training. Champaign, Illinois. Human Kinetics.

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